Sete anos sem Herbert Holetz: relembre legado de defensor do cinema em Blumenau
Eu nunca conheci o seu Holetz. Não tive essa sorte. Se conhecesse, certamente seríamos amigos. Pelo menos, faria de tudo para que isso acontecesse. Sei que ele queria ter um milhão de amigos. Para uma não-blumenauense como eu, recém-chegada na cidade no mesmo ano do seu falecimento, há sete anos, não demorou muito para que o nome de Herbert Holetz chegasse até meus ouvidos, por sua intensa cinefilia. Por […]
Eu nunca conheci o seu Holetz. Não tive essa sorte. Se conhecesse, certamente seríamos amigos. Pelo menos, faria de tudo para que isso acontecesse. Sei que ele queria ter um milhão de amigos. Para uma não-blumenauense como eu, recém-chegada na cidade no mesmo ano do seu falecimento, há sete anos, não demorou muito para que o nome de Herbert Holetz chegasse até meus ouvidos, por sua intensa cinefilia.
Por meio dos relatos de amigos, fui conhecendo um pouco mais sobre a figura de Holetz. As lembranças frequentemente o associam às atividades do fabuloso Cine Busch, que por tanto tempo despertou a paixão dos blumenauenses pela sétima arte. Muito desta história foi contada pela querida amiga e jornalista Magali Moser, autora do livro “A Vida pelo Cinema: Herbert Holetz entre a Realidade e a Ficção”.
A amizade de Seu Holetz com o senhor Busch começou ainda no início da década de 1950. Lá no Cine Busch, ele começou como lanterninha. É impossível não o associar à imagem do menino Totó, que passava cada minuto que podia no Cinema Paradiso. Na sua trajetória, ele passou de lanterninha para bilheteiro, e de bilheteiro para gerente, até o fechamento do estabelecimento, em 1993. Sem dúvidas, uma perda imensurável.
O cine Busch merece uma coluna à parte, porque é simplesmente maravilhoso saber que Blumenau foi uma das cidades pioneiras do país nas exibições cinematográficas, ainda por volta de 1900.
A história de Blumenau é bastante perpassada pela do Cine Busch, e isso demonstra o valor que já se deu à cultura cinematográfica nesta cidade, e que agora, para além de algumas exceções pontuais (o CineArte incluso), ficamos, infelizmente, muito à mercê dos cinemas comerciais dos shoppings, que visam unicamente o lucro, e não a emancipação do espectador, nem tampouco a paixão pelo cinema.
Após o período no Cine Busch, seu Holetz dedicou seus últimos 15 anos à coordenação das sessões de cinema do CineArte, em funcionamento até hoje na Secretaria de Cultura (atualmente paralisadas por conta do distanciamento físico). Quem conviveu com ele tinha sempre a oportunidade de aprender mais sobre cinema, e sobre o que é ter amor pela sétima arte.
Além de cinéfilo, seu Holetz era um grande apoiador da cultura em Blumenau. É justíssimo que, desde 2018, o Fundo Municipal de Apoio à Cultura tenha recebido o nome de Prêmio Hebert Holetz, pensando a disseminação das atividades culturais na nossa região.
Eu tenho saudade de alguém que eu nunca conheci. Queria ter tido a oportunidade de conversar com seu Holetz, falando com ele sobre como cinema, para mim, também é cinema de rua. Que concordo com ele quando ele diz que cinema é um instrumento cultural poderoso, que sabe nos divertir, ao mesmo tempo que nos transforma, que sabe nos fazer rir, bem como nos fazer chorar. Que representa um espaço crítico, de resistência e fala muito sobre variados tipos de pensamento sobre o mundo. Queria poder agradecer por tantos anos de defesa do cinema. Só me resta escrever daqui: muito obrigada!
Para concluir, aproveito que estamos em ano de eleições municipais para perguntar: em algum dos 12 programas de governo que temos para a Prefeitura de Blumenau, há algum plano efetivo para o fortalecimento do cinema em nossa cidade, tanto em nível de produção quanto de disseminação, democratizando o acesso, difundindo filmes necessários, proporcionando festivais e mostras, pensando formação de público? Alguma das candidaturas se comprometerá em apoiar o legado do Seu Holetz?
Estou certa de que, independentemente de partido, com um trabalho contínuo de apoio ao cinema, Blumenau pode voltar a ter o pioneirismo de outrora, não apenas em âmbito regional ou catarinense, mas também nacional, afinal, estamos falando de uma das cidades-médias com maior potencial na América do Sul. Dificilmente algo alegraria mais a Seu Holetz do que ver o cinema respeitado e verdadeiramente contemplado em Blumenau.
Como sugestão, deixo esse curta-metragem intitulado ‘Cine Holetz’, realizado durante a oficina de Produção Audiovisual no 1º FAÇA – Festival Audiovisual Catarinense, em abril de 2012: