Tal pai, tal filho: filhos contam como é se inspirar e trabalhar junto ao pai

Dia dos Pais é apenas mais uma data de união entre eles

Muitas famílias aproveitam o domingo de Dia dos Pais para se reunir. Entretanto, para algumas delas, é apenas mais uma data em que estão juntos. Apesar de a tradição estar cada dia mais distante, muitos filhos e filhas ainda acabam seguindo o caminho dos pais e trabalhando junto deles.

É o caso de Túlio, que além de trabalhar no escritório de advocacia do pai em Blumenau, também mora com ele. E ele não é o único. Os outros dois filhos do advogado Marcelo Ramos também já atuaram no local.

Eu não pensava em ser advogado, mas sempre acompanhava meu pai no escritório e em audiências em outra cidade. Quando decidi fazer Direito ele ficou surpreso, mas feliz. E desde o início de 2009 trabalho com ele”, conta Túlio, que atualmente tem 31 anos.

Túlio (esq.) e a irmã Vanessa, que atuava no escritório até começar um mestrado em Florianópolis, ao lado do pai Marcelo. | Foto: Arquivo pessoal

Túlio admite que no início a adaptação foi complicada, mas que a experiência que herdou no escritório do pai facilitou muito a carreira acadêmica. “Nos atendimentos você normalmente assiste acadêmicos mais velhos atendendo antes de começar. Eu já comecei direto, porque já fazia no escritório”, exemplifica.

Para o pai, que atualmente está com 55 anos, essa troca é recíproca. Apesar de assumir que às vezes é difícil lidar com as “correções” que os filhos trazem das formações recentes, ele ressalta que aprende muito com eles.

“Eles aprendem com a experiência, mas as especializações deles me ensinaram muito também. O Túlio me ensinou muito sobre prática processual, por exemplo. Quem traz a inovação, são eles”, ressalta Marcelo.

Ainda assim, o advogado deixa claro que nunca pressionou os filhos a seguirem o caminho dele. Pelo contrário, até porque ele mesmo contrariou o pai na escolha e precisou lutar muito para conquistar o diploma. “Meu pai sempre quis os filhos engenheiros. Tudo menos advogado e médico”, fala aos risos.

Sócios por acaso

Querendo fugir da responsabilidade de manter a facção dos pais, Ana Letícia Knuth cursou Arquitetura e Urbanismo na Furb. Apesar de seguir trabalhando na área, aos 30 anos ela é sócia deles e agradece pela trajetória não planejada.

Tudo começou por acaso. O pai Alcides Knuth, hoje com 61, trabalhou por quase três décadas como contador. Após cansar da profissão, ele decidiu ajudar a esposa a abrir uma facção em Gaspar.

“Hoje coloco a mão na massa. Compro a malha, vou para a facção, talho o tecido… gosto mesmo é do trabalho braçal. Minha esposa que fica com a papelada”, conta aos risos.

O casal chegou a ter uma fábrica com 60 funcionários, mas com o tempo a empresa foi reduzindo. Na mesma época, a filha única estava em Florianópolis fazendo mestrado e precisava de uma fonte de renda.

“Como não estava aqui, não tinha como atender os clientes da região, então começamos a Be Cult. De início vendíamos apenas em feirinhas, mas com o tempo a marca foi crescendo e hoje temos nossa loja física”, conta Ana Letícia.

Primeiras vendas da Be Cult foram realizadas na Feirinha da Servidão, em Blumenau. | Foto: Arquivo pessoal

O plano era que a marca fosse passageira, até o retorno dela para Gaspar, mas deu tão certo que os pais fecharam a outra fábrica para se dedicar apenas à Be Cult e Ana Letícia se decidiu se dividir entre os dois empregos.

“Hoje fazemos menos peças do que quando tínhamos fábrica, mas com um valor agregado maior. Antes vendíamos para os lojistas e hoje vendemos direto ao consumidor. Não temos descanso, porque levamos o trabalho para casa, mas é mais leve”, explica Alcides.

Ainda assim, Ana Letícia ressalta que a família nunca briga por conta do trabalho. Às vezes é necessário apaziguar alguns desentendimentos, mas como eles estão sempre juntos elas não duram muito tempo.

“O que acontece é um pegar no pé do outro por alguma decisão ou sugestão. ‘Eu falei que ia ficar melhor nessa cor. Eu sabia que ia vender bem e você não quis fazer mais peças’. Coisas do tipo”, brinca.

Tecnologia

Após decidir chamar o Brasil de casa, se casar e ter dois filhos, o libanês Zaher Mohamad Ghazi El Hassan, 51, se estabeleceu na Mouts TI, que foi fundada em Blumenau em 2018. Alguns anos depois, ele percebeu que precisava de uma pessoa para um projeto e que um dos filhos tinha a qualificação necessária.

“Eu coloquei ele com outro gestor e falei: ‘Eu não conheço como ele é [no trabalho]. Você acompanha e me dá seu feedback’. Depois de algumas semanas ele falou ‘O teu menino é bom’. Tenho muito orgulho de ouvir isso”, conta.

Zaher com os filhos. | Foto: Arquivo pessoal

Samir El Hassan, de 25 anos, planejava cursar Nutrição. Entretanto, a convivência com o pai e a paixão por games incentivaram ele a estudar para ser desenvolvedor de sistemas. Mesmo não trabalhando diretamente para o pai, eles seguem na mesma empresa mesmo morando em cidades diferentes.

Zaher está atualmente em Florianópolis, enquanto Samir vive em São Paulo. Muitos dos encontros, a maioria virtuais, são para falar sobre tecnologia. Mesmo entendendo que ela mudou muito nas décadas que separam eles.

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