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“Todo acidente com morte que a gente atende ali é por imprudência”

Policial rodoviário que perdeu filho na SC-108 critica decisão da Justiça e apresenta vídeo do acidente

Nildo e Geovane Pasta, pai e filho, dividem o mesmo local de trabalho: o posto da Polícia Militar Rodoviária (PMRv) no bairro Itoupava Central. Na madrugada de domingo, 9, Geovane foi acordado pelos colegas de profissão com a notícia de uma tragédia: o irmão, Gean Pasta, 31 anos, morreu em um acidente de trânsito no trecho municipal da mesma rodovia: a SC-108.

Ainda abalados com a perda do filho e irmão, justamente na região onde trabalham (Nildo há 24 anos e Geovane, há quase três), os policiais questionam a decisão do juiz Juliano Rafael Bogo, que libertou durante audiência de custódia o motorista envolvido na batida.

A caminhonete de Gilmar Jandre, 51 anos, atingiu a motocicleta que Gean conduzia. Jandre é policial militar reformado e fez o teste do bafômetro após a colisão, que indicou que ele estava embriagado.

Em entrevista, Nildo e Geovane contam que Gean, que vivia em Blumenau, tinha uma filha de seis anos. Ele morava com os pais e a irmã mais nova, advogada que auxiliará o Ministério Público no processo de acusação, e estava voltando para casa depois de um encontro com amigos e a namorada.

Nadine Duwe/O Município Blumenau

Depois de tantos anos presenciando mortes na SC-108, como está sendo lidar com a tragédia dentro de sua própria casa?

Nildo Pasta: Está sendo difícil, muito difícil (voz embargada). Minha esposa está arrasada, não deixamos ela sozinha um minuto.

Qual o sentimento da família ao saber que o outro motorista vai responder em liberdade?

Geovane Pasta: É o sentimento de revolta, né? Porque, querendo ou não, há uma diferença entre casos que a gente vê aí, que certos motoristas acabam presos, outros com menos gravidade até respondem em liberdade, mas saem cheios de restrição. Enquanto com ele (Jandre) não houve sequer uma medida cautelar. Resumindo: a gente mal tinha recebido o corpo do meu irmão e o cara já estava praticamente na rua. Qual é a garantia que ele não vai fazer de novo? Essa é a pergunta que fica.

Nildo: Por que o juiz não esperou o laudo ficar pronto para tomar uma decisão? Tem vídeo do acidente (abaixo)… Não deu seis horas depois do processo pronto na delegacia e ele já estava solto.

Ficou a sensação de impunidade…

Geovane: A questão é como os casos são tratados. Qual a segurança que a população tem quanto a isso? A pergunta que fica é: que segurança e que mensagem são passadas? Se um caso é tratado de um jeito e outro caso é tratado de outro.

Como policial rodoviário e agora também vítima, o que senhor tem a dizer às pessoas que trafegam pela rodovia?

Nildo: Tomem mais cuidado e obedeçam às regras de trânsito. Todo o acidente com morte que a gente atende ali é por imprudência.

O que é preciso fazer para evitar tantas tragédias na SC-108?

Geovane:
Na minha opinião, é a certeza da punição. É a única coisa que faz a pessoa mudar o jeito de agir. É ter certeza que se ela fizer vai pagar por aquilo.

Nildo: O Código Penal é um só. Em 37 anos de polícia, recentemente que comecei a ver essa coisa de ‘interpretação do juiz’. Está bem escrito lá. Se eu te matar é tanto tempo de reclusão, tanto tempo disso, daquilo… Matou, matou. Tirou a vida de uma pessoa, tem que pagar.

Vocês tiveram acesso a um vídeo que mostra o momento do acidente?

Geovane:
Sim. Se você está lá no local a visão é ainda melhor de quem vem, porque o vídeo é mais de lado. No vídeo tu consegue ver a moto durante sete segundos. Ele viu a moto.

Nildo: Se ele (Jandre) quisesse ter feito a coisa certa, teria pegado o retorno que fica a alguns metros dali. Ele nem usou o acostamento.