Veganismo como negócio: aumento na demanda provoca mudança nos cardápios de restaurantes de Blumenau
Ascensão do setor é grande, mas ainda não acompanha demanda do público
Já a pesquisa do Ibope Inteligência de 2018 apontou que 14% da população se autodeclara vegetariana, um crescimento de 75% em relação a 2012. Isso representava quase 30 milhões de brasileiros para a população da época.
Santa Catarina, inclusive, foi o berço do primeiro delivery de alimentos vegetarianos do país. O Veggi foi criado em Florianópolis e já conseguiu o aporte de quase R$ 1 milhão a partir de um financiamento coletivo com investidores e passou atender em SP e RJ. Ainda assim, o setor segue em constante ascensão e ainda não consegue atender todo o público da região.
“De início fazia apenas hambúrgueres congelados, mas com o tempo fui fazendo coxinha de jaca, pão com bolinho e bolos. Nunca planejamos abrir um restaurante, mas as vendas foram aumentando, nos ofereceram esse espaço e acabamos comprando. O negócio foi crescendo aos poucos”, conta Vanessa.
A empresa começou com quatro integrantes, incluindo a mãe de Vanessa que é sócia da dupla. Atualmente a equipe conta com nove pessoas e atende no almoço e café da tarde de segunda a sexta, oferece feijoada vegana aos sábados e realiza noites especiais de lanches variados nas sextas-feiras.
O espaço que começou pequeno e com poucas mesas, passou pela primeira expansão no fim de 2019. A pandemia acabou atrasando as maiores reformas, que estão sendo realizadas neste ano. A cozinha, que mal dava conta da demanda, mais do que triplicou de tamanho.
“Notamos que a rotatividade do público aumentou. Antes conhecíamos a maioria dos clientes, atualmente atendemos muitas pessoas de fora. Acredito que termos outros restaurantes e opções industrializadas incentiva o veganismo”, ressalta Eduardo.
“Antes eu tinha que ficar explicando o que era e não tinha restaurantes para ir. Isso melhorou. Porém, sinto que temos muitos estabelecimentos que ainda não se atualizaram a esse público. Ou oferecem apenas opções sem carne. Acabam perdendo clientes com isso, porque se vou sair com a família ou amigos escolhemos um local onde eu possa comer também”, alerta.
Em 2019 Sophia fez intercâmbio em uma pequena cidade de Portugal e comenta que lá era comum encontrar pratos típicos adaptados para veganos nos restaurantes, o que não encontra para os turistas que vêm à Blumenau.
“Aqui temos uma cultura alemã muito forte, mas se um vegetariano visita a Vila Germânica só encontra hambúrguer. Poderiam preparar uma batata recheada vegana ou um cachorro quente típico com salsicha vegana. Os turistas não têm uma experiência completa”, critica.
“Oito anos atrás a empresa trabalhava com 40 produtos entre tofu, cogumelo, brotos e tomatinhos. Quando comecei a namorar o Junior percebi o potencial no público vegano, que já era maioria. Mesmo não sendo veganos percebemos que eles precisavam de mais opções e hoje estamos com mais de 300 produtos”, conta Tuani Carolina Lang, 28, que assumiu a empresa ao lado do companheiro.
Para ela, o trunfo da empresa é ter conquistado clientes fiéis que, mesmo não sendo vegetarianos, experimentam os produtos e acabam tendo mais opções fora das tradicionais. Apesar de oferecer muitos produtos industrializados, a Funghi do Vale opta por opções mais saudáveis.
“Oferecemos opções suficientes para estar na alimentação dos nossos clientes do café da manhã até a janta. Vemos que o nicho está crescendo bastante e a cada mês temos cerca de 30 novos clientes. Alguns chegam a fazer um tipo de ‘compra do mês’ com a gente”, conta Junior.
A marca também leva alternativas veganas para municípios menores que não possuem as opções em mercados. Todo o atendimento é feito de forma remota, com um catálogo online e atendimento pelo WhatsApp. Um e-commerce também será lançado em breve para facilitar as compras, já que os clientes ativos ultrapassam 570 pessoas e empresas.
“Os restaurantes precisam entender que precisam ter opções para os clientes chegarem neles. Muitos até compram os cogumelos e o tofu, mas não sabem como usar. Queremos fazer esse movimento acontecer mostrando que temos opções e como usá-las”, explica Tuani.
“Sempre preciso pesquisar antes e já precisei mudar o local. Também já fui mal atendida em um restaurante quando pedi para adaptar o prato para mim, sendo que já haviam feito isso antes. Outra coisa que sinto falta são opções de lanche da tarde, como em padarias ou cafeterias”, comenta.
Natural de Rodeio, ela fazia graduação em Ibirama quando se tornou vegana em 2015. Por estar em uma cidade com poucas opções industrializadas, acabou se adaptando a cozinhar em casa. Se queria uma opção diferente como coxinha ou hambúrguer, preparava sozinha.
“Aqui em Blumenau já encontro esses produtos prontos, além de muitas marcas tradicionais criando alternativas veganas. Porém, quanto aos restaurantes da cidade sinto que houve uma grande evolução nos últimos anos que recentemente estagnou”, opina.
A plataforma, que também funciona como site, reúne um catálogo de restaurantes com opções vegetarianas e veganas. Nela também é possível realizar os pedidos, facilitando a experiência do cliente.
“A adesão dos restaurantes já começou muito boa desde o início e melhorou com o lançamento do sistema, já que viram que não era apenas uma ideia no papel. Atualmente estamos com 7 restaurantes e conversando com novos, além de indústrias do setor”, conta Jorge.
“Não cobramos taxa de adesão ou mensalidade, apenas uma taxa bem baixa pelas vendas feitas dentro do app. Mas os restaurantes que querem apenas divulgar as opções podem usar a plataforma. Apenas fazemos uma triagem para verificar se tudo é realmente vegano ou vegetariano”, detalha.
Em duas semanas de lançamento, mais de 100 pessoas se cadastraram e 80 usuários já começaram a usar a plataforma. Atualmente o sistema atende apenas Blumenau, mas logo planeja expandir para a região – com potencial para se tornar nacional.
“A Anna está focada no marketing e eu em aprimorar a tecnologia. Estou buscando incubadoras e aceleradoras para que o Tem Veg se associe ao que chamam de Smart Money e possa crescer como empresa. Vemos muito potencial na plataforma”, explica o desenvolvedor.
“Percebi que tinha muitas opções veganas em Blumenau, mas não havia marmitas baratas para atender quem trabalha e não tem tempo para cozinhar. Por isso nosso ticket médio é R$ 20”, explica Bruna Costa, que divide a empresa com o esposo Meicke Toscano e a mãe Cleia Costa.
Cleia, de 43 anos, veio do Norte brasileiro há cerca de um mês. Natural de Manaus (AM), ela foi vegetariana durante maior parte da vida. Chegou a comer carne no início da vida adulta, mas há 10 anos segue uma dieta vegetal.
“Quem nunca provou uma comida vegana saborosa tem essa impressão de que será ruim. Mas estou preparando as marmitas apenas com a experiência que tenho em casa e estão elogiando muito”, comemora a cozinheira.
A filha Bruna fica responsável pela divulgação da empresa e da marca e o genro Meicke é motorista de aplicativo, então acaba naturalmente conversando com passageiros sobre as opções da cidade e conhecendo as promoções em mercados e feiras da cidade.
“Me surpreendo com o feedback das pessoas porque não faço nada extraordinário. Só comida caseira usando temperos naturais. Quero induzir o público que não é vegetariano a provar e perceber que não precisa ter preconceito”, ressalta Cleia.