Vencendo o machismo com sororidade e ajuda dos passageiros
Motorista há 13 anos da rota mais movimentada do transporte coletivo de Blumenau, a linha Troncal 10, Clarice Weege confirma que foi difícil começar na carreira por ser mulher. Hoje aos 43 anos de idade, ela recorda como foi assumir o espaço atrás do volante aos 30, quando ainda era comum sofrer com a resistência […]
Motorista há 13 anos da rota mais movimentada do transporte coletivo de Blumenau, a linha Troncal 10, Clarice Weege confirma que foi difícil começar na carreira por ser mulher. Hoje aos 43 anos de idade, ela recorda como foi assumir o espaço atrás do volante aos 30, quando ainda era comum sofrer com a resistência dos colegas.
“Nunca sofri nenhum assédio, mas sim preconceito por ser mulher. No início, foi um pouco difícil, porque sempre tem machismo. Acham que lugar de mulher é atrás do fogão”, conta. Antes de trabalhar como motorista de ônibus, a blumenauense trabalhava em uma função mais “tradicional” para as mulheres na cidade: como costureira.
Sendo mulher, Clarice vivenciou situações nas quais a sororidade (empatia com outras mulheres) se mostrou necessária e fundamental. Em um ônibus com a cobradora grávida, certa vez, ela precisou acudir a gestante que começou a sentir fortes dores durante uma viagem. O apoio de uma passageira também foi primordial naquela ocasião.
“Tive que prestar socorro rapidamente. Parei em um ponto de ônibus e pedi para os passageiros descerem e pegarem o próximo (ônibus). Uma das passageiras se ofereceu para ir junto no hospital porque o ônibus não chegava na porta do pronto-socorro. Graças a Deus, deu tudo certo”, recorda.
Em 2013, houve um atentado onde diversos ônibus foram queimados em Blumenau. Clarice foi uma das pessoas que presenciou aqueles momentos de tensão. “Enfrentei com medo, pois não sabia se o próximo (ônibus) a ser queimado poderia ser o que eu trabalhava ou um no qual a minha família estivesse dentro”, recorda.
Na opinião de Clarice, a qualidade do transporte coletivo na cidade precisa de melhorias. “Não temos linhas e horários suficientes. Os ônibus estão cheios, principalmente, no horário de pico. Muitas pessoas deixaram de usar ônibus por causa da demora ou da superlotação”, argumenta.
Parceria de passageiros nas horas difíceis
A parceria com os passageiros é um ponto importante nas memórias de Clarice. Não apenas em momentos bons, mas também nos difíceis. Ela recorda quando, em uma madrugada, foi escalada para dirigir pela linha Itapuí, que passa pela Rua Engenheiro Odebrecht, e precisou de auxílio para manobrar o veículo.
“Chovia muito, e a estrada de chão ficou muito lisa. O ônibus não subiu, e tive que pedir ajuda a um dos passageiros para ajudar a manobrar o ônibus até um local seguro para fazer a volta e seguir viagem”, conta.
Com essa ajuda, Clarice conseguiu resolver o problema. Apesar dos desafios cotidianos de quem conduz um ônibus pela cidade, ela considera a tarefa de dirigir pelas ruas de Blumenau tranquila. Assim como a relação com os colegas, que vê como amigos. Fora do banco de motorista, Clarice se dedica à família e a cuidar de si mesma.
“Minha rotina diária é bem apurada, mas sempre tiro um tempo para mim. Faço academia e gosto de jogar bola. Tenho dois filhos: a Ana Paula, de 26 anos, que já é casada, e o Lucas Eduardo, de 20, que é solteiro. Meu marido é super parceiro. Sempre me apoiou em tudo”, explica.