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Viagem de formatura de escola de Blumenau vira pesadelo com alunos contaminados por água de hotel em Governador Celso Ramos

Mãe alega que a filha não recebeu medicamentos e que precisou buscá-la no hotel e encaminhá-la ao hospital; agência diz que adolescentes foram atendidos e medicados no hotel

Colaborou Marlos Glatz

Estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental de uma escola de Blumenau, foram contaminados durante viagem de final de ano a Governador Celso Ramos, na Grande Florianópolis. Tratava-se de uma viagem de formatura, com cerca de 40 alunos, que ocorreu entre os dias 23 a 25 de outubro. Depois disso, foi identificado que a água do Águas de Palmas Resort e Hotel estava imprópria.

O destino foi a praia de Palmas, que anualmente recebe estudantes prestes a encerrar o Ensino Fundamental. A agência Bertoldi Viagens e Turismo foi contratada e ficou responsável pela viagem. A empresa se manifestou. O pronunciamento consta no final da reportagem.

A viagem estava marcada para o dia 23 de outubro, uma quarta-feira. Na noite de quinta-feira, 24, uma aluna avisou a mãe que estava passando mal. De acordo com a moradora do bairro Fortaleza, que não quis se identificar, por volta das 19h de quinta-feira os alunos começaram a passar mal. Eles apresentaram sintomas semelhantes: diarreia, náusea, vômitos, mal estar e fraqueza.

Segundo ela, a medida que os alunos passavam mal eles se encaminhavam ao saguão do hotel, que em determinado momento teria colocado colchões para acomodar os adolescentes ali mesmo.

“Minha filha foi mandando mensagens desde o primeiro momento em que ela começou a passar mal. Lá pelas 22h ela já tinha vomitado três vezes e estava bem fraca, falou que estava no saguão do hotel e que tentaria dormir um pouco. Ela ainda falou que havia uma médica que estaria indo ao hotel, o que me tranquilizou, não pensei que fosse tão grave pois ninguém nos comunicou”, relata a mãe para a reportagem do jornal O Município Blumenau.

Mais tarde, perto de 1h da madrugada, a mãe conta que a filha ainda não havia sido atendida por nenhum profissional de saúde. A jovem ainda teria relatado para a mãe em áudios que teria vomitado oito vezes.

“Consegui conversar com a diretora da escola, que estava viajando junto, e perguntei o por que ela não tinha sido atendida ainda. Ela informou que eles estavam acionando o seguro viagem e na medida que eles iam liberando, as crianças eram atendidas, mas dando preferência aos casos mais graves”, relembra.

A mãe decidiu sair de Blumenau e ir até o hotel, uma viagem que durou cerca de 2 horas, para acompanhar o caso da filha. “Cheguei no hotel perto das 3h30 e me assustei com o que eu vi. As crianças estavam extremamente desidratadas, desmaiando. Algumas haviam sido separadas para irem de van para um hospital. A médica fez uma triagem, mas a minha filha não foi selecionada. Encontrei minha filha no hotel com uma receita na mão, mas ninguém providenciou medicação alegando que Governador Celso Ramos não tinha farmácia aberta”, relata.

Ela decidiu levar a filha até o hospital em Balneário Camboriú e no caminho a adolescente ainda vomitou mais duas vezes. Segundo ela, as outras crianças teriam sido levadas para um hospital em São José.

“Nenhum pai foi informado que o filho estava sendo levado ao hospital, nem pela escola, nem pela agência de viagem, nem pelo hotel. Conhecendo alguns pais de crianças, eu fui ligando para eles para informar e eles foram atrás. O que nos deixa indignados como pais de alunos que estão em uma excursão de escola é que não fomos avisados. Eu soube que muitos pais nem ficaram sabendo, só quando o aluno voltou de ônibus para a escola no outro dia”, desabafa a mãe.

A mãe ainda alega que as crianças não foram medicadas no hotel e que a médica só teria liberado eles para ir ao hospital por volta de 4h20 e que essa demora teria ocorrido devido a liberação no seguro viagem. Ela também critica a escola e alega que eles não informaram aos pais que os filhos estavam passando mal e que teriam que ser conduzidos ao hospital. “Foi um descaso total, eu estive no hotel e vi tudo”, lamenta a mãe.

Mais relatos sobre o ocorrido na viagem de formatura

Segundo uma outra mãe, que conversou com a reportagem, a filha é diagnosticada com retocolite ulcerativa – uma doença inflamatória intestinal crônica que afeta o revestimento interno do cólon e do reto. Ela foi retirada do chalé que estava em um carrinho de bagagem, já que não conseguia caminhar, e levada ao saguão, onde a direção da escola e os responsáveis pela agência de viagem organizaram um atendimento improvisado para os alunos.

“Fomos informados de que estavam sendo medicados, mas isso não aconteceu. Minha filha só foi removida para o hospital às 5h da manhã e começou a ser atendida por volta das 7h, após horas de desidratação severa”, afirmou a mãe.

A mãe reclama porque, segundo ela e a filha, em nenhum momento o hotel forneceu água mineral em garrafa para os adolescentes, exceto se eles a comprassem. Ela também relatou que não foi bem tratada e não obteve explicações por parte do hotel quando foi até o local.

Após o ocorrido com os alunos da escola de Blumenau, o hotel ainda teria recebido excursão de outros colégios, entre eles alguns de Brusque, cujos alunos também passaram mal e precisaram ser hospitalizados.

Pais estudam tomar medidas após a situação

Diante do ocorrido, os pais têm trocado diversas informações em um grupo de conversa para tomar uma medida. A mãe relata que a agência responsável pela viagem chegou a oferecer aos pais o reembolso parcial das diárias.

“É menos da metade do valor investido. Alguns pais aceitaram, outros não, como é o meu caso. Entendo que a viagem como um todo não foi aproveitada e que ela deve ser reembolsada integralmente. Também entendo que houve muitas falhas por parte da agência, pois havia seguro viagem e em nenhum momento recebemos a apólice do seguro, o que ele cobre e o que pode ser solicitado. Os pais não foram informados, sendo que a maioria possui plano de saúde e poderia levar o filho para ser atendido na mesma noite, sem ficar esperando madrugada adentro um seguro viagem ser aprovado”, relata.

A mãe comenta que também está no grupo dos pais de alunos de Brusque, que pretendem apresentar uma denúncia ao Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC), conforme reportagem publicada pelo jornal O Município.

Posicionamento da agência de viagem

Em conversa com a reportagem do jornal O Município Blumenau, Augusto Tomelin, diretor da agência Bertoldi Viagens e Turismo, diz que ainda na noite de quinta-feira, 24, a agência foi procurada por um aluno que não estava se sentindo bem. Segundo ele, isso ocorre com certa frequência nessas viagens, geralmente com alunos que tomam muito sol. Eles deixaram o adolescente em repouso e depois receberam mais relatos de outros alunos que apresentavam o mesmo sintoma, perto das 20h.

Augusto afirma que a partir disso foi acionado o seguro viagem. “Acionamos o seguro viagem e pedimos para que um médico fosse até o hotel para prestar atendimento aos alunos e saber efetivamente o que estava acontecendo. Tivemos uma quantidade muito grande de alunos que começaram a passar mal, atendemos 32 alunos”, relata.

Ele enfatiza que a médica atendeu aluno por aluno. “Todos eles receberam soro especial para desidratação e foi dado remédio para enjoo. Tivemos uma quantidade muito grande de alunos com o mesmo sintoma ao mesmo tempo”, diz o diretor, que ainda afirma que os primeiros medicamentos foram ministrados ainda no hotel.

De acordo com ele, a médica prestou os primeiros atendimentos aos alunos e após ela finalizar, alguns foram conduzidos ao Hospital Unimed, em Florianópolis. Outros alunos foram levados pela manhã na UPA de Governador Celso Ramos. Além disso, alguns pais também optaram por buscar os filhos no hotel. Augusto também afirma que as medicações receitadas pela médica foram adquiridas na manhã seguinte, visto que Governador Celso Ramos não tinha uma farmácia aberta, e alguns foram entregues no hotel e outros na chegada na escola.

“Prestamos esse atendimento, mas não sabíamos exatamente o que estava acontecendo, tinha uma suspeita de que era algo relacionado a água, pois eu me alimentei lá e não tive problemas, várias pessoas tinham se alimentado lá e não tiveram problemas. Uma coisa que esses alunos tinham em comum era que eles beberam água da torneira”, explica o diretor da agência de viagem.

Ele afirma que após os primeiros relatos, a equipe começou a ligar para os pais, mas conforme aumentou a quantidade de alunos enfermos, não foi possível ligar para todos os responsáveis. “A nossa prioridade foi prestar atendimento aos alunos”, diz. No entanto, Augusto destaca que muitos pais ficaram sabendo por outros, por participarem de um grupo e compartilharem as informações lá.

Augusto ainda ressalta que entrou em contato com a Vigilância Sanitária para buscar respostas sobre o que teria ocorrido no local e afirma que teve muita dificuldade para ter um retorno do órgão. “O hotel nos encaminhou, na semana seguinte, uma liberação da Vigilância Sanitária, dizendo que estiveram no hotel e que haviam verificado tudo, caixa d’água, alimentação e afins, e liberaram o hotel, tanto é que eles receberam outros grupos depois do nosso. Depois dessa liberação o hotel recebeu mais grupos e os alunos tiveram o mesmo problema, aí o hotel fechou e foram atrás”, diz.

De acordo com o diretor da Bertoldi Viagens e Turismo, a Samae encaminhou um ofício informando que a água fornecida ao hotel estava imprópria para consumo. A informação foi divulgada no dia 7 de novembro.

Augusto diz que a agência entrou em contato com todos os pais de alunos que tiveram problemas no hotel, até mesmo aqueles que passaram mal após o fim da viagem. Segundo ele, a empresa negociou o reembolso parcial do pacote de viagem, de quase 50% do valor pago, além do reembolso dos medicamentos que foram adquiridos.

“Tivemos alguns pais que solicitaram o reembolso integral, e esses casos foram encaminhados para o jurídico para verificar de que forma vamos proceder. Diretamente, nós também somos vítimas, pois o causador foi o Samae, que não nos prestou nenhum atendimento e nós temos o hotel, que na medida do possível está nos auxiliando com as devoluções”, esclarece.

A agência de viagem já está em contato com um advogado para entrar com uma medida judicial contra o Samae, “pois eles forneceram uma água imprópria para consumo”. Augusto também frisa que não tinha conhecimento de nenhum caso semelhante no hotel antes da viagem dos alunos de Blumenau. “Estamos prestando todo apoio necessário para atender os alunos”, diz.

Segundo ele, foram encaminhados diversos e-mails para a prefeitura solicitando uma resposta sobre a situação, mas ele não teve retorno sobre o caso. Ele ainda afirma que a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive) deve publicar em breve os laudos que vão apontar o local da contaminação e de que forma aconteceu. “Estamos esperando essa resposta para poder entrar com as medidas jurídicas”, destaca.

Nota da Prefeitura de Governador Celso Ramos

Na última semana, a Prefeitura de Governador Celso Ramos publicou uma nota nas redes sociais sobre o aumento de casos de gastroenterite em um empreendimento hoteleiro localizado no município. Confira a nota:

Pronunciamento do hotel

A reportagem de O Município Blumenau entrou em contato com o Águas de Palmas Resort e Hotel nesta segunda-feira, 18. A recepção informou que o gerente não estava no hotel e que poderia retornar nesta terça-feira, 19. A reportagem tentou contato novamente, mas não teve retorno. Desta forma, até o fechamento da reportagem, o hotel não se manifestou. O espaço segue aberto para pronunciamento.

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