VÍDEO – Família de Gaspar relata traumas após sofrer agressões em bloqueio na BR-470

Vídeo viralizou nas redes sociais e Paulo decidiu entrar com processo

Morador do Vale do Itajaí há oito anos, o baiano Paulo Henrique Oliveira Novaes, 28 anos, decidiu aproveitar o último feriado de Finados, 2, para levar a irmã e as sobrinhas pequenas para conhecer o litoral catarinense. Entretanto, a experiência se tornou traumática após a família ser agredida em um bloqueio feito por manifestantes na BR-470.

A irmã de Paulo tem duas filhas, uma de 4 anos e outra de 4 meses. A mulher, de 25 anos, veio morar com o irmão, que se mudou para Gaspar recentemente, há quatro meses. “Já chegamos bem”, ironizou dele. Antes, ele morou em Pomerode e Indaial.

Paulo decidiu aproveitar a folga que recebeu da empresa para ir a Navegantes. Ao chegar na BR-470 a partir da saída de Gaspar, ele se deparou com um primeiro bloqueio. Porém, ao verem que havia crianças no carro, os manifestantes deixaram ele passar.

“Eles tiraram os cones e eu peguei a rodovia sentido litoral. Chegando no Baú Baixo, vi dois paletes e parei o carro. Pedi licença para duas moças que estavam paradas, mas elas deram as costas. Foi então que vieram manifestantes que estavam do outro lado do bloqueio”, relata Paulo.

Segundo ele, os homens estavam com copos de cerveja na mão e pareciam alterados. Paulo então tentou explicar a eles que estava indo para o litoral.

“Eu falei que não tinha nada contra eles se manifestarem, mas que já tinham proibido fechar rodovias. Mas eles insistiam que a PRF tinha parabenizado o ato deles e que, se quisesse passar, precisava ligar pra polícia. Quando vi mais homens vindo, pedi pra minha irmã começar a gravar”, conta.

Agressões

De acordo com o relato da vítima, um dos paletes foi retirado para que um carro que vinha do litoral para Gaspar passasse. Ele então aproveitou o espaço para ir para o litoral. Entretanto, um dos homens pegou o palete e bateu contra o para-brisa do carro de Paulo.

“Foi nisso que eles começaram a jogar pedras no meu carro. Quando vi que pegou na janela da neném, parei. Nosso medo era que nos matassem. Quando abri a porta começaram a jogar pedras em mim. Sofri cortes e escoriações. Eu também joguei pedras de volta, para tentar me defender”, assume.

Ainda de acordo com Paulo, o homem que bateu com o palete no para-brisa percebeu que a irmã dele estava gravando e correu para cima dela. Ele teria empurrado ela para pegar o celular.

“Ele chutou o celular pra mulher dele pegar e levar pra longe. Meu medo era que fosse uma emboscada, para eu ir buscar e eles me matarem. Pedi o celular explicando que era pra trabalho, que já bastava o prejuízo que me deram”, continua.

Xenofobia

Um fato que chamou a atenção de Paulo é que não havia carros em fila quando ele chegou ao bloqueio, por volta das 12h30. Ele acredita que outros carros puderam passar, mas que ao perceberem o sotaque baiano da família tenham decidido impedi-los.

“Só pararam de jogar pedras porque uma mulher que estava com eles parou na frente do carro pedindo para pararem, por causa das meninas. Pra mim, aqueles caras não podiam estar vivendo em sociedade, deveriam estar presos, pois não pensaram nem nas crianças”, desabafa.

Após o susto, a família desistiu de ir para o litoral. Paulo ressalta que, além de terem perdido a vontade, era impossível ir longe com o carro naquele estado. “O para-brisa estava tão quebrado que eu mal enxergava. Passei as últimas semanas indo atrás para consertar”.

Janela onde bebê estava no carro. | Foto: Arquivo pessoal

“Elas estão traumatizadas”

As duas meninas, sobrinhas de Paulo, foram as mais afetadas pelo caso. O tio relata que elas ficaram traumatizadas e ainda estão aprendendo a lidar com a situação. A bebê de 4 meses passou dias com a pele irritada, após ter sido atingida pelos estilhaços.

“Minha irmã chegou a levar ela no médico. Ela foi medicada e passou alguns dias sem nem conseguir tomar banho sem chorar. Estamos levando elas no parque para brincar, pra ver se esquecem”, detalha.

@paulosylvesttre @Santa Catarina ♬ som original – Paulo Sylvesttre

Já a de 4 anos, Paulo diz ter criado traumas de homens com o mesmo porte físico do agressor. “Os primeiros três dias ela ficou em choque. Se ela fica em casa, fica falando nisso e começa a ficar nervosa. Mas se vê um homem parecido com ele na rua, já acha que é o que tentou quebrar o carro do tio dela”, explica.

Advogado está acompanhando o caso

Em choque com a situação, Paulo publicou vídeos da agressão e do estado do carro no TikTok. Uma das publicações já ultrapassa 4,5 milhões de visualizações. Foi a partir do incentivo das pessoas que assistiram aos vídeos que ele decidiu buscar um advogado.

“Nem ia botar na justiça, mas as pessoas me indicaram a não deixar em vão. Até mesmo pessoas que votaram no Bolsonaro. Eu não tenho partido, nem votei no segundo turno. Independente de quem ganhar vou ter que trabalhar oito horas por dia de qualquer forma. Mas aqueles homens quase me mataram e tiraram o sustento de uma família”, conta.

De acordo com o advogado Tiago Ristow, contratado pela família, um dos agressores já foi identificado e as informações já foram repassadas à Polícia Civil. Paulo e a defesa trabalham, agora, para identificar os outros envolvidos.

Uma notícia-crime ainda deve ser ajuizada, pedindo um inquérito policial para investigar os eventuais crimes cometidos pelos manifestantes. O advogado também pedirá uma indenização, para reparar os prejuízos materiais e morais.

“Nada justifica a agressão física e moral que vitimou Paulo Henrique e sua família. O direito de manifestação, no caso, ultrapassou em muito o conceito constitucional de ‘reunião pacífica’. Cabe à cada cidadão, mesmo em tempo de crises, descontentamento, e divergência política, medir suas ações, notadamente aquelas nutridas por angústia, raiva e desespero, afinal, somos todos cidadãos de uma mesma nação”, ressaltou o advogado.

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