Por Stêvão Limana

Por muito tempo os vinhos brasileiros foram estigmatizados e até desprezados por boa parte dos consumidores locais. No entanto, este cenário já pode ser considerado como passado. As bebidas produzidas por aqui tornaram-se referência e conservam muita história, superação e qualidade. 

Dentro deste movimento de efervescência da cultura vitivinícola nacional, têm muitas pessoas que fazem vinhos espetaculares da maneira tradicional; mas, também existem aqueles que investem na inovação para surpreender o público, como é o caso da Garbo Enologia Criativa

A vinícola foi criada em 2015 e está localizada em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. O projeto é liderado por três “grandes amigos”, Andrei Bellé, Guilherme Caio e Jhonatan Marini. O trio está junto desde 2005; foram colegas de escola e, posteriormente, na faculdade de enologia. A história começou quando, em “um belo dia”, eles resolveram juntar os esforços no intuito de criar vinhos da própria autoria e identidade trazendo novos estilos, mas sem perder a essência da tradição clássica.

“O conceito criativo parte de um ponto de vista nosso, em que entendemos que o papel do enólogo é central na construção do vinho, principalmente no seu estilo. Desta forma, buscamos, a partir de uma base clássica, trazer coisas novas para a vinificação, como é o caso dos blends inusitados, variedades novas e formas de maturação distintas”, comenta Andrei. 

A Garbo possui 19 rótulos diferentes de vinhos. São brancos mais leves, espumantes tradicionais ou sur-lie e tintos irreverentes! Os rótulos possuem desenhos bem peculiares que ajudam a “contar” qual é a experiência que cada um quer transmitir.

O interessante é que o processo de produção exibe tanta qualidade, mas vai na contramão das vinícolas tradicionais. O grupo elabora os seus vinhos de forma “cigana” em vinícolas parceiras, ou seja, aluga espaços e equipamentos e as uvas são compradas com fornecedores. Mas, é claro! Tudo passa pela curadoria da “gurizada”.

Para detalhar mais sobre os vinhos, escolhi um de cada categoria; já adianto que são vinhos que eu gosto muito e que sempre preciso repor na minha adega.

 Inquieto: um tinto para ninguém colocar defeito

Geralmente, os vinhos da serra gaúcha trazem uma acidez mais intensa e taninos bem expressivos a cada gole. Para quem não está acostumado, por vezes, são mais “difíceis” de beber; eu sou um desses, prefiro vinhos mais tranquilos e aromáticos. 

Quando fui até à sede da Garbo, o primeiro que experimentei foi o Inquieto. Um vinho jovem e com um potencial incrível. Ele leva na composição cerca de 92% da uva Merlot, cultivada em Cotiporã com maturação de 12 meses em barricas de carvalho, e 8% de Sauvignon Blanc. Isso, mesmo! Você não leu errado, uva tinta misturada com uva branca. 

Ao beber pela primeira vez, a combinação faz seu cérebro ficar alguns segundos tentando entender a explosão de sabores em boca. A Merlot leva vivacidade e a Sauvignon Blanc, frescor.

No olfato, os aromas de frutas vermelhas vão, com certeza, perfumar sua taça e fazer você querer servir mais um pouco!

Este é o vinho embaixador da Garbo e muito em conta para o que oferece; custa em torno de R$ 170.

Akis Riesling: um branco envelhecido em barricas de Acácia 

O Akis destaca uma das uvas brancas que mais se adaptaram ao terroir gaúcho: a riesling itálico. O vinho é muito elegante e original, com a predominância de aromas de capim-limão, pera e melão.

Mesmo com a passagem de três meses por barricas, o Akis, no paladar, transmite frescor, cremosidade e frutas tropicais.

A inovação neste rótulo foi utilizar barricas feitas de Acácia, uma árvore típica da vegetação do sul do Brasil, e não as tradicionais de carvalho francês ou americano.

-É um coringa para qualquer situação! Cada exemplar pode ser adquirido por R$ 141,90.

Evoluto: um espumante para paladares exigentes

O espumante Evoluto da vinícola Garbo é uma das melhores opções de espumantes da serra gaúcha. Vinificado pelo método tradicional (Champenoise), possui na composição as uvas Chardonnay e Pinot Noir com 24 meses de maturação, as mesmas características encontradas nos Champagnes. 

Por ser da categoria Sur Lie, as leveduras oriundas da segunda fermentação não são retiradas na garrafa, portanto, o vinho está em constante evolução; se renova e se aperfeiçoa com o passar do tempo.

No paladar a cremosidade e a acidez estão muito equilibradas e fazem ser uma bebida “redonda”. No olfato há a predominância de frutas secas e torrefação.

Este não é um espumante para abrir em festas ou comemorações do final do ano; é um vinho perfeito para à mesa, principalmente para pratos que destacam frutos-do-mar ou peixes. Custa R$ 165,90.

A entrada no mercado catarinense

No início de 2023 a Garbo fez um “tour” pelas principais cidades de Santa Catarina. Os enólogos visitaram lojas de vinhos parceiras nas cidades de Blumenau, Itajaí, Canoinhas e Florianópolis, onde realizaram palestras e jantares harmonizados.

Os vinhos podem ser comprados nas empresas parceiras ou no próprio site.

Andrei e Jonathan também estiveram comigo no podcast No Mundo do Vinho, para quem se interessar, vou deixar o vídeo abaixo. A conversa é muito boa e vale a pena conferir!