Vizinhos cuidam de idosos debilitados enquanto aguardam assistência social de Blumenau
Filha do casal, que mora em Piçarras, não atende ligações do casal
Os blumenauenses Valmor e Neuza Girardi não sabem mais a quem recorrer. Desde quinta-feira, 18, eles têm cuidado dos vizinhos idosos. Alcides e Genoveva Azevedo, de 88 e 87 anos, estão debilitados e sem conseguirem comer ou se cuidarem. Eles moram na rua Romão Manoel Patrício, no bairro Água Verde.
De acordo com os vizinhos, tudo começou na quarta-feira, 17, quando Genoveva resolveu cuidar do amplo jardim. “Eu ainda comentei com meu marido: eu com 66 não tenho esse pique dela. No dia seguinte, os dois estavam acamados. Da última vez que ela foi internada ele também ficou de cama. Acho que é muito sensível”, conta Neuza.
A filha do casal, que tem por volta de 60 anos, mora em Piçarras. Os dois já tentaram contato com ela, mas sem sucesso. A Assistência Social de Blumenau chegou a conversar com ela, mas a responsável não se dispôs a vir cuidar dos pais.
“Nos 16 anos que moramos aqui, vimos a filha duas vezes. Em ambas ocasiões, os dois estavam internados. Até onde sabemos eles têm plano de saúde, mas precisamos dela para acionar e poder hospitalizar os dois, porque eles precisam de soro”, explica a vizinha.
Ambos sofrem também com deficiência auditiva, especialmente Genoveva. Foi Alcides quem ligou para o casal para pedir ajuda. Por conta dos degraus que levam ao banheiro, eles não conseguem acessar o cômodo. Neuza prepara caldos e papinhas para eles, mas eles comem pouco.
“No máximo cinco colheradas cada vez. Eu colho algumas laranjas limas do pé deles e faço suco. Mas eles não estão se alimentando bem. Quando cheguei aqui, encontrei comida embolorada na cozinha. O que eu consigo fazer é trocar a roupa de cama e manter a dignidade deles. Mas sou transplantada, então também não posso me movimentar muito” desabafa.
Felizmente, o casal já foi vacinado contra o coronavírus e testados para doença, com resultado negativo, então os vizinhos correm menos risco. Porém, continuam cobrando que o município tome providências para ajudar os idosos.
“Assumimos a responsabilidade porque não queremos ver um vizinho morrendo sem assistência. A minha indignação é que a prefeitura deveria estar fazendo isso. Eu falo para assistência social que é urgente, mas ninguém dá importância. Tá faltando humanidade dessa administração”, desabafa Valmor.
Ele conta que já esteve no Ambulatório Geral do bairro algumas vezes, pedindo ajuda. A enfermeira responsável pelas visitas na rua chegou a ir ao local e reforçar que a situação é crítica. Mas apesar das promessas, o Cras ainda não foi ao local.
“Já tentei ligar mais de dez vezes no Cras, mas ninguém atende. Liguei para o Disque 100. Passei todas informações, mas a ligação caiu e não me atenderam mais. Sempre fui bem atendido no posto, mas a parte social deixa muito a desejar. Fico revoltado”, complementou o vizinho.
Desesperado, o casal chegou a ligar para o Samu, mas o órgão afirmou que só poderia intervir em casos de urgência. Os vizinhos levaram então os idosos ao AG, mas o médico apenas receitou um remédio para fraqueza e os liberou.
Em visita à casa, foi possível ouvir Genoveva pedindo ajuda aos vizinhos. “Não vejo ninguém ainda. Chama alguém! Chama alguém”, clamava a idosa, que não consegue levantar da cama.
A reportagem entrou em contato com a assessoria da Assistência Social de Blumenau, que informou que uma equipe do Centro de Referência da Assistência Social (Cras) passou no local e agora encaminhou também a situação para o atendimento da Secretaria Municipal de Saúde.
O jornal também tentou contato com a filha do casal, mas não recebeu nenhuma resposta.