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A história do Casarão Scarduelli, construído por Gustav Salinger em Blumenau

Capa: O Casarão Scardueli, de propriedade de Olindo Scardueli, foi construído em 1912,  início do século XX. A tipologia histórica de estilo eclético com predominância neoclássica, foi construída em etapas. Vem sendo restaurado desde 2012,  com certa dificuldade, pela família Scardueli.

Cônsul Honorário alemão em Blumenau Gustav Salinger, primeiro proprietário da Casa Scardueli.

O Casarão Scardueli fez parte de uma centralidade solidificada junto à segunda ponte construída sobre o rio Itajaí-Açu, no início do século a XX – ponte Lauro Müller.
O casarão foi construído por Gustav Salinger, comerciante, industrial e Cônsul Honorário da Alemanha em Blumenau. Era proprietário de uma rede de lojas e indústrias, como a conhecida Loja Salinger, onde também trabalhava Peter Christian Feddersen, que adquirira o terreno em 1902, juntamente com dois outros investidores. A loja-matriz de Salinger, que possuía inúmeras filiais, estava situada na localidade de Altona, atual bairro Itoupava Seca, em Blumenau. Salinger também possuía uma importadora junto ao porto fluvial no rio Itajaí Açu, e inúmeras filiais de suas lojas no interior da Colônia Blumenau.

Nota fiscal de compras feitas por Emmanuele Agostini na filial da loja de Gustav Salinger – de Timbó, em 15 de outubro de 1912 – ano da construção do Casarão Scardueli.
Casa Salinger & Cia. e residência de Peter Christian Feddersen, Altona – atual Itoupava Seca -Ano 1890. A edificação ainda não tinha a presença do Dachgaube no telhado/sótão.
Casa Salinger – Itoupava Seca Blumenau. Matriz da lojas Salinger – Propriedade da FURB – 2018.

Peter Christian Feddersen foi um dos idealizadores e o principal agente da construção da Ferrovia EFSC, cujo primeiro trecho foi inaugurado em 1909. Feddersen e outras lideranças de Blumenau, como Friedrich Wilhelm Busch Sênior, também tinham interesses na região do Salto e, principalmente, na energia elétrica que este poderia fornecer.

Visionariamente, tinham muito interesse na construção da ponte sobre o rio Itajaí-Açu, interligando as duas margens, próximo à comunidade de Badenfurt (segunda povoação da Colônia Blumenau). Idealizaram, então, a construção da Usina Hidrelétrica do Salto.

O coronel Feddersen possuía terras nas imediações do Salto e, entre elas, adquiridas em 1902, estava o chão do Casarão Scardueli.
Tinha, assim, todo interesse no desenvolvimento desse local. Para atestar sua proposta de construção da ponte no local, Feddersen contou com o parecer técnico de Heinrich Krohberger e Emil Odebrecht. O parecer atestava que se a ponte fosse construída na centralidade da Colônia Blumenau, custaria três vezes mais o valor da ponte do Salto, a primeira sobre o rio Itajaí-Açu, depois da ponte ferroviária construída em Ibirama, considerada a primeira. E assim aconteceu. A ponte foi construída, sendo que a cabeceira da margem direita está praticamente “encostada” no Casarão Scardueli.
“Existe uma transmissão oral na família Odebrecht, de que o engenheiro Emil Odebrecht, após exaustivas explorações do leito do rio dentro da cidade de Blumenau, chegou à conclusão de que o leito rochoso no local onde está a dita ponte, seria o lugar ideal e menos oneroso para a construção da mesma.” – Via Correspondência Eletrônica – 21/11/2013 Renate S. Odebrecht
Em síntese, o local era geograficamente estratégico e interessante aos investidores da época: estava próximo à nucleação de Badenfurt e Salto; não sofria com as inundações periódicas do rio Itajaí-Açu; e estava próximo ao local onde havia um desnível nesse rio – corredeiras.
Com isso, havia planos para a construção da hidrelétrica e fornecer energia elétrica para alimentar a indústria que surgia na região, que foi inaugurada em dezembro de 1914. E para concluir, a ponte nesse local seria mais barato 1/3 do custo de uma ponte construída em qualquer outra parte do rio na região.
Seus pilares foram levantados sobre pedras maciças presentes no local, o qual foi analisado pelo engenheiro Emil Odebrecht. Foi batizada de Ponte Lauro Müller. O projeto é datado de 1896, e sua construção foi autorizada no governo republicano de Hercílio Luz, que iniciou a construção dos pilares em 1898. A ponte foi inaugurada em 1913, já com a presença do Casarão Scardueli. Nascia uma povoação mediante a presença de infraestrutura e também do Casarão Scardueli, que ainda não possuía a volumetria atualmente conhecida.
Naturalmente foi construída a Usina do Salto, obra iniciada em 1912, quando também foi construído o Casarão Scardueli, e entrou em operação dois dias antes do Natal de 1914.
Usina do Salto – durante pesquisa em 2014.
20 anos atrás, data correta da inauguração da Usina do Salto – no interior do edifício histórico.
A equipe técnica responsável pela construção da Usina do Salto fez suas casas no entorno próximo ao Casarão Scardueli e à Ponte Lauro Müller, solidificando uma pequena nucleação. Construíram usando a técnica enxaimel, estando uma delas entre as mais belas casas desse tipo ainda presentes na paisagem de Blumenau, denominada Casa dos Engenheiros, em referência aos que trabalharam na obra da usina.
Localiza-se na Rua Estrela, e entre suas principais características está a de ser uma das primeiras casas geminadas de Blumenau, e também uma raridade construída com a técnica construtiva enxaimel. Nela residiam duas famílias.
Casa dos Engenheiros, geminada, construída com o uso da técnica construtiva enxaimel. Até bem pouco tempo, ainda mantinha o uso residencial.
Dentro desse contexto espacial e geográfico, está o Casarão Scardueli, construído nas terras do coronel Feddersen, e cujo primeiro proprietário foi o Cônsul Honorário da Alemanha em Blumenau e forte negociante e industrial Gustav Salinger. Lembrando que Salinger tinha estreitos laços de confiança e amizade com o coronel Feddersen, ex-funcionário e depois sócio do Comercial Salinger. De acordo com documento histórico do 1° Ofício do Registro de Imóveis, Feddersen, João Damasceno Pinto Mendonça e João de Sá Pereira adquiriram o terreno em 1902.
A edificação histórica recebeu a denominação “Scardueli”, em homenagem ao seu atual proprietário – Olindo Scardueli, proprietário do imóvel há quase 50 anos e residente em Witmarsum. Desde 2012, de maneira intermitente e conforme consegue bancar com recursos próprios, Scardueli vem restaurando o Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau. De acordo com sua filha, Elenir Maria Scardueli, adquiriram o imóvel em 1974, para investir.

Tombamento

O Casarão Scarduelli, à R. Bahia, n° 2220, foi tombado pela Prefeitura Municipal de Blumenau-SC por sua importância cultural para a cidade.

Prefeitura Municipal de Blumenau-SC
GPH – Gerência de Patrimônio Histórico
Nome Atribuído: Imóvel à R. Bahia, n° 2220
Localização: R. Bahia, n° 2220 – Blumenau-SC
Processo de Tombamento: Processo n° 020−T−2008
Resolução de Tombamento: Decreto n° 8.830, de 02/12/2008
Inscrição no Livro do Tombo: V. 1, n° 18

Sistema viário atual além de impermeabilizar o solo, impacta a história desse casarão, que na sua forma predominantemente original era pavimentada com paralelepípedos. Ano 1988.
Fotografia de 19 de dezembro de 2023.

Cadastro Projeto Memorvale

O Casarão Scardueli faz parte do Cadastro Memorvale, no qual estão fichadas 1100 unidades, parte da história da cidade de Blumenau e região. Seu cadastro é de julho de 1988.

Localização – Casarão Scardueli

Região e bairros adjacentes.
Principais elementos da povoação do início do século XX.
Localização da Casa Scardueli e entorno imediato.

Arquitetura – Casarão Scardueli

Arquitetura do início do século XX esta, especificamente, construída em 1912, é uma tipologia eclética com predominância neoclássica, característica das edificações construídas pelas lideranças do início deste século. Entre os casarões que já estudamos, apresenta o decorativismo e cimalhas semelhantes às do Casarão Fiedler, da Itoupavazinha.
Relembrando que a definição das classes sociais na região, a partir do pioneiro colono e da produção social bem esquematizada na publicação de Vilmar Vidor: Indústria e urbanização no nordeste de Santa Catarina, os novos e bem- sucedidos comerciantes do Vale do Itajaí no início do século XX adotavam, em suas novas construções, os novos estilos internacionais vigentes – art decó e eclético. As construções dos comerciantes de então seguiam a tendência internacional vigente na arte e na arquitetura da virada do século XIX para o século XX.
No caso do Casarão Scardueli, dotado de uma linguagem eclética, com fortes traços neoclássicos, tal como muitas outras edificações, construídas com tipologia semelhante, também reporta ao período da virada dos século XIX para o XX, mais para o início do século XX.
No caso do Casarão Scardueli, dotado de uma linguagem eclética, com fortes traços neoclássicos, tal como muitas outras edificações, construídas com tipologia semelhante, também se reporta ao período da virada do século XIX para o XX, mais para o início do século XX.
Em todo o Vale do Itajaí, essas casas mostram certa semelhança, e são pontos focais importantes dentro do seu entorno imediato e região.
A linguagem artística arquitetônica predominante do Casarão Scardueli se reporta à arquitetura adotada pelos comerciantes e industriais que se destacaram dentro da comunidade colonial e entre os colonos da Colônia Blumenau do início do século XX. Sendo esta uma edificação construída por Gustav Salinger, observam-se singularidades e semelhanças entre alguns elementos decorativos dela com os da matriz da loja de Salinger em Altona.

As linhas são retas, com destaque para a simetria clássica. Sua fachada frontal é marcada pela presença do Dachgaube da casa urbana construída nas primeiras décadas em Blumenau e região. Esta, ladeada aos dois lados por um par de janelas decoradas pelas características das cimalhas do classicismo. As portas de madeira entalhada possuem bandeiras – meio para obter o acesso à luz natural e também para compor proporções dos elementos formadores das fachadas.
A cumeeira do telhado característico, com duas águas com inclinação usual das construções pioneiras (45%), é alinhada paralelamente à estrada. Na região, esta é outra característica da construção pioneira alemã. Telhado coberto com telhas cerâmicas planas – ou o conhecido rabo de castor. Há a presença da mansarda, que é o aproveitamento do sótão, igualmente, característica das edificações construídas pelos imigrantes alemães e seus descendentes, como também há a do keller – o porão.

Casarão Scardueli em 19 de dezembro de 2023.

A História

O Casarão Scardueli foi construído, no momento em que se iniciava a construção da Usina Força e Luz, próximo à ponte Lauro Müller, na Rua Bahia, N° 2220, bairro Salto, Blumenau. O terreno tem uma área de 6.947,90m2.

Área atual do terreno.

Para compreender a evolução da povoação na região do Salto, destacando o Casarão Scardueli, é preciso conhecer os atores históricos e suas movimentações na região.
O Casarão Scardueli pertenceu ao Cônsul Honorário da Alemanha em Blumenau e comerciante, Gustav Salinger. Foi construído dentro do novo modo e estilo da arquitetura internacional e compunha com a casa dos Engenheiros da Usina do Salto, construída com a técnica construtiva enxaimel e outras também construídas nesse período, na região.
Em 1945, o Casarão Scardueli foi repassado para Emília Reif (nascida em Blumenau, em 21 de junho de 1901, filha de Emilio Reif [1869–1935] e de Lucie Caroline Anna Wilhelmine Adelheid Seeliger), a partir de uma partilha de bens, quando esta se desquitou de Richard Barg. Richard e Emília se casaram em 12 de setembro de 1923 e não tiveram filhos. Emília Reif recebeu a propriedade, como parte da partilha do patrimônio em 1945, após 22 anos de casamento. Evento raro para a época e pelos indícios, o casal não teve filhos e Emília não se casou novamente.
Ao contrário do que lemos em vários registros sobre o Casarão Scardueli, mesmo em páginas de órgão oficiais, até esta data em que Emília se tornou proprietária, em 1945, a casa tinha somente uso residencial. Sem descendentes, Emília vendeu o casarão com contrato de usufruto.
Em 30 de agosto de 1974, o marceneiro Olindo Scardueli e o agricultor Leopoldo Scottini, ambos residentes em Witmarsum, adquiriram a casa. Scardueli adquiriu 2/3 da propriedade e Scottini 1/3, sendo que Emília Reif permaneceria no local com o direito de usufruto e de nele residir, como também fazer uso do jardim enquanto vivesse.
Em 23 de fevereiro de 1985, Emília Reif faleceu no Hospital Santa Catarina, com a idade de 84 anos

Certidão de óbito de Emília Reif.

Elenir Maria Scardueli, filha de Olindo Scardueli, está à frente do restauro do Casarão Scardueli. Em 2 de dezembro de 2008, sob o decreto n° 8830, o patrimônio arquitetônico Casarão Scardueli, localizado na Rua Bahia n°2220, bairro Salto, foi tombado pelo Patrimônio Histórico Arquitetônico, Paisagístico e Cultural do Município e devidamente descrito no Livro de Tombo.

A família buscou – e ainda busca – alternativas para obtenção de recursos, a fim de custear sua recuperação, a qual segue a originalidade arquitetônica na medida do possível. Após anos de ter tido uso misto – comercial e residencial -sob contrato de aluguel, e nunca ter passado por ampla reforma, o casarão apresentava estado de conservação ruim.

Ano de 2014.
Ano de 2014.
Ano de 2014.
Observar o sistema viário atual. Ano de 2014.

Conversamos com Elenir Maria Scardueli sobre um fundo existente conhecido para apoiar com recursos os proprietários, o conhecido Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau – FUMPACE, existente deste 1994, junto ao Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau – COPE, ela desconhecia a existência desse apoio, como muitos dos proprietários na cidade de Blumenau o desconhecem, devido à ausência de divulgação.

Fotografria da obra feita por Elenir Maria Scadueli.

Vamos compreender o funcionamento desse fundo que pode auxiliar proprietários que não estão conseguindo meios econômicos para manter seu imóvel cadastrado como Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau.

Lei Complementar N° 794 de 19 de abril de 2011

A família Scardueli, vem restaurando com dificuldade um patrimônio que pertence a Blumenau de maneira atemporal e que foi propriedade de Gustav Salinger, formando um conjunto de valor histórico imensurável – com a Usina do Salto e a Casa dos Engenheiros.

Casarão Scardueli fotografado da Casa dos Engenheiros em 2015 – já se encontrava em processo de restauração.

Os Scarduelis e muitos blumenauenses proprietários de imóveis tombados, de grande valor histórico para a cidade, região e Santa Catarina, e que nem sempre têm condições de mantê-los em bom estado de conservação devido aos valores, têm uma opção que existe desde 1995.
Em 1994/1995 foi criada a Lei Complementar N° 79, legislação ainda vigente no tempo presente com outra nomenclatura, para destinar apoio a essas situações.
Atualmente, existe a Lei Complementar N° 794, originada da Lei Complementar 79, sancionada pelo ex-prefeito de Blumenau Renato de Mello Vianna em 22 de outubro de 1994, segundo orientação do presidente do IPUUB, professor e arquiteto Vilmar Vidor.
A Lei Complementar 79 foi regulamentada pelo Decreto n° 5.100, de 8 de março de 1995. Seu objetivo foi criar um programa de proteção e valorização do patrimônio histórico arquitetônico de Blumenau. Para isso, concedia – e ainda concede – poucos o sabem, incentivos tributários ao proprietário que esteja contemplado no Cadastro do Patrimônio Histórico Arquitetônico da cidade, como é o caso do Casarão Scardueli.

Para pleno funcionamento da Lei Complementar n° 79, foi criado o Conselho Municipal de Patrimônio Histórico Arquitetônico e o Fundo Municipal de Conservação do Patrimônio Histórico Arquitetônico, atual Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau – FUMPACE.
Nós fizemos parte deste momento histórico para o Patrimônio Histórico Arquitetônico de Blumenau, e atuamos como conselheira da primeira formação do Conselho, atual COPE, em que eram analisados projetos dos proprietários que reivindicavam auxílio de custo para a manutenção de sua edificação tombada e pertencente ao Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau. E muitos o recebiam.

Primeira Formação do “COPE”, na época Conselho Municipal de Patrimônio Histórico Arquitetônico – após sua criação. Destes conselheiros, continuam nesse cargo, no momento: Sueli Maria Vanzuita Petry, Angelina Wittmann e Valdecir Mengarda.

Desde a época da gestão e trabalho do arquiteto e professor Vilmar Vidor, idealizador da Lei Complementar N° 79 e que deu origem a esta, Lei de 2011, N° 794, existe este fundo de apoio aos proprietários de imóveis tombados no município de Blumenau.

Participamos deste trabalho como estagiária de arquitetura. A comunidade tinha interesse em demolir uma tipologia de igreja construída no estilo neogótico. Houve um trabalho de conscientização e depois, de auxílio com valores e técnico, por parte da Prefeitura Municipal de Blumenau.

Portanto, a Lei N° 794 existe para legitimar o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau – COPE e o Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau – FUMPACE, amplamente divulgada e de conhecimento de parte da sociedade interessada, no século XX. Naquele tempo, os proprietários eram organizados em uma Associação de Moradores de Imóveis Antigos e possuíam uma cadeira cativa nos Conselhos da Prefeitura Municipal de Blumenau, principalmente no COPE.
Para ler sobre o assunto, acessar: Da Associação dos Proprietários de Imóveis Antigos – Instituto Bertha Blumenau – Instituto Histórico de Blumenau – IHB

Lei Complementar N° 794 – em 2023 (atual)

O Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau – COPE, órgão de caráter permanente, de natureza deliberativa e consultiva, integrante da estrutura administrativa municipal, vinculado à Secretaria Municipal de Planejamento Urbano, é responsável pela Política de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau, e será composto de forma paritária, com representantes do Poder Executivo e da Sociedade Civil. (Redação dada pela Lei Complementar 1257/2019)
Compete ao COPE:

I – fixar critérios, definir diretrizes e estratégias para a implementação da Política de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau, observada a legislação que rege a matéria;

II – decidir sobre o tombamento de imóveis considerados como Patrimônio Cultural;

III – sugerir ao Chefe do Executivo a formalização de convênios, contratos e acordos em nome do FUMPACE, observadas as formalidades legais;

IV – deliberar sobre a proposta orçamentária, as metas anuais e plurianuais e sobre os planos de aplicação de recursos do FUMPACE, bem como controlar sua aplicação e execução, em consonância com a legislação pertinente;

V – deliberar, acompanhar e fiscalizar a aplicação dos recursos do FUMPACE, solicitando, caso necessário, o auxílio da Secretaria Municipal da Fazenda;

VI – analisar e deliberar sobre os projetos para edificação dos bens imóveis classificados como P3;

VII – cumprir e fazer cumprir, no âmbito municipal, a Política de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado do Município, bem como toda a legislação pertinente;

VIII – convocar, através da maioria de seus membros, justificando por escrito ao Presidente do COPE, reunião extraordinária;

IX – promover e articular, quando necessário, reuniões com os demais Conselhos existentes no Município;

X – emitir resoluções de suas decisões;

XI – aprovar o Regimento Interno e promover suas alterações, quando necessário, que será homologado por ato do Poder Executivo;

CAPÍTULO III

Do Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau – FUMPACE

Seção I
Da Natureza, Gestão e Competência

O Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau – FUMPACE, órgão de natureza contábil, tem como objetivo centralizar e gerenciar os recursos orçamentários para a restauração, preservação e utilização dos bens de interesse cultural, vinculado à Secretaria Municipal de Planejamento Urbano, que lhe dará estrutura de execução e controle contábeis, sendo o Secretário Municipal de Planejamento Urbano, o ordenador de despesas.

Parágrafo único. A movimentação bancária dos recursos do FUMPACE será realizada em conjunto pelo Secretário Municipal de Planejamento Urbano e pelo Diretor de Planejamento Urbano. (Redação dada pela Lei Complementar nº 1257/2019)

Os recursos do FUMPACE, em consonância com as diretrizes e normas do COPE e demais legislações que regem a matéria, serão aplicados, obrigatoriamente, na proteção, conservação e restauração dos bens de Patrimônio Cultural Edificados, tombados pelo Município, especialmente em:

I – ajuda financeira aos proprietários de imóveis tombados que, comprovadamente não tenham condições para fazê-lo, para preservação do Patrimônio Cultural Edificado – PCE tombado, na forma do regulamento.

II – campanhas, palestras, cursos e material de divulgação e valorização sobre a importância dos bens culturais constantes do acervo da cidade;

III – estudos, levantamentos, projetos e execução de obras de proteção, conservação e restauração do Patrimônio Cultural Edificado – PCE tombado, de propriedade do Município de Blumenau, na forma de regulamento. (Redação acrescida pela Lei Complementar nº 1443/2022)

Os Scarduelis poderiam buscar auxílio no FUMPACE. Sua solicitação, como a dos demais interessados analisados no COPE, contando com representantes da sociedade civil e governamental. Os conselheiros do COPE poderão observar que os trabalhos de restauro do Patrimônio Cultural Edificado do Município, a Casa Scardueli, prosseguiram somente até 2015, motivados, novamente, pela escassez de recursos. Foram retomados lentamente em 2021, com recursos próprios, sem boa perspectiva para o futuro.

Os trabalhos de restauro tiveram início em 2012, sob a coordenação de Elenir Maria Scardueli e o acompanhamento atento do pai, Olindo Scardueli, e da mãe, Cecília, de Witmarsum.
Elenir não somente coordena, como também participa diretamente da obra, “metendo a mão na massa”, como ilustram os vídeos.
Quando a reforma foi iniciada, constatou-se que a estrutura é autoportante, sendo que a estrutura do telhado segue a técnica da estrutura enxaimel. Tal estrutura foi detalhadamente resgatada, com troca e enxertos de madeira que se encontravam danificadas. Grande parte da estrutura do telhado foi trocada sem tirar o telhado, com o auxílio de escoras.
Durante a reforma, Elenir Maria Scardueli esclareceu que perceberam a técnica construtiva da casa e de como ela foi construída e ampliada em etapas dentro de distintos recortes de tempo. Mostrou-nos, in loco, anexos construídos em tempos diferentes, como Dachgaube e varanda coberta, lateral, posteriormente fechada.
A reforma da casa se iniciou com uma equipe diferente daquela que trabalha no tempo presente. De acordo com a atual coordenadora dos trabalhos, Elenir Maria Scardueli, essa primeira equipe, aparentemente, não compreendeu o significado de restauro e de como se fazia um restauro.

Em 2015, a família parou o restauro por falta de recursos.

Em 2015, com a escassez de recursos a obra parou, sendo que, em 2021, os trabalhos foram retomados lentamente.
Em 19 de novembro de 2023, 11 anos após o início do restauro, passávamos na frente da edificação histórica – que há décadas nos faz parar para observá-la – e nos chamou a atenção a movimentação existente no local. Paramos para conversar e conhecemos Elenir Maria Scardueli. Convidou-nos para conhecer o local, explicando as dificuldades. Seu pai está com 89 anos e não esmorece, acompanhado todo o trabalho. Falou-nos sobre o processo todo e, atendendo ao nosso pedido, enviou-nos imagens do restauro que, com certa dificuldade, ocorre com recursos próprios desde o ano de 2012.

Fotografia de Elenir Maria Scardueli.

As imagens comunicam

A filha de Olindo Scardueli, Elenir Maria, que além de coordenar a obra, manter seu pai informado, também coloca a mão na massa e participa da equipe que trabalha no patrimônio arquitetônico, registrando todo o processo.

2017

2023

Detalhes e Memória da obra de Restauro – Por Elenir Maria Scardueli.

Feliz Natal e boas festas!
Retornamos na 2° semana de janeiro de 2024.
Um Registro para a História.

Referências

  • AMARAL, Max Tavares d´. Contribuição à história da colonização alemã do Vale do Itajaí. São Paulo: Instituto Hans Staden, 1950.
  • DEEKE, José. Traçado dos primeiros lotes Coloniais da Colônia Blumenau. 1864. In: FUNDAÇÃO CULTURAL DE BLUMENAU. Arquivo Histórico José Ferreira da Silva. Colônia Blumenau. Mapas.
  • DEEKE, José. O município de Blumenau e a história de seu desenvolvimento. Blumenau : Nova Letra, 1995. 295 p. il.
  • GERLACH, Gilberto Schmidt. Colônia Blumenau no Sul do Brasil / Gilberto Schmidt-Gerlach, Bruno Kilian Kadletz, Marcondes Marchetti, pesquisa; Gilberto Schmidt-Gerlach, organização; tradução Pedro Jungmann. – São José: Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. 2 t. (400 p.): il., retrs.
  • SANTIAGO, Nelson Marcelo; PETRY, Sueli Maria Vanzuita; FERREIRA, Cristina. ACIB: 100 anos construindo Blumenau. Florianópolis: Expressão, 2001. 205 p, il.
  • SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau. Florianópolis: EDEME, 1972. 380p. il.
    VIDOR, Vilmar. Indústria e urbanização no nordeste de Santa Catarina. Blumenau: Ed. da FURB, 1995. 248p, il.
  • WETTSTEIN, Phil. Brasilien und die Deutsch-brasilieniche Kolonie Blumenau. Leipzig, Verlag von Friedrich Engelmann, 1907.
  • WITTMANN, Angelina C. R. A Ferrovia no Vale do Itajaí – Estrada de Ferro Santa Catarina. Blumenau: Edifurb, 2020. 304p. il.
  • ZUEGUE, Harry. Quem era Peter Christiano Feddersen. Blumenau em Cadernos, Blumenau, tomo 16, n. 2, p.37- 41, fev. 1975.

Leituras complementares – Para acessar – Clicar sobre os títulos:

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
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