Capa: O arquiteto Hans Broos em dois momentos de sua vida. Décadas de 1960 e 2010, respectivamente.

Um mestre

Conheci Hans Broos devagarzinho. O primeiro contato aconteceu em um sarau de arte. Foi efêmero, ainda na década de 1990, Depois, na metade da outra década, na UFSC, durante o curso de Mestrado, participei de debates sobre sua vastíssima obra, pouco estudada no meu próprio curso de Arquitetura em nossa cidade. Na UFSC, percebi o quanto Broos era respeitado no meio académico no Brasil Curiosa e movida por uma crescente admiração, fui pesquisar sua obra, espalhada não somente no Brasil, mas na Europa também, Em Blumenau, comecei a observar suas obras, tão próximas de nós. No entanto, aqui, poucos sabem que a Igreja Luterana da Itoupava Seca é uma obra sua, que a Associação da Hering é uma obra sua, que o grande complexo fabril da Hering foi ampliado e organizado por Broos e seu amigo paisagista Roberto Burle Marx.
Um dia, no ano de 2010, soube que o arquiteto estava de volta à cidade que o acolhera quando es- colheu o Brasil para morar. Que ele retornara para sua casa no Bairro Boa Vista. Fui visitá-lo. Encantada com sua simplicidade de explanação e entendimento, s a filosofia sua e consciência sobre a importância da integração da arquitetura à natureza, percebi que sua obra era uma nuance do homem e de seu modo de viver e ver o mundo. Sua obra transpirava a delicadeza que o concreto armado necessitava para a plena harmonização de sua intervenção com os elementos da paisagem natural.
Sinto-me lisonjeada por ter tido a oportunidade de, um dia, na caminhada profissional, ter conversado com esse mestre, mesmo que tenha sido por tão pouco tempo.
Ah…ele amava as montanhas! – Arquiteta Angelina Wittmann. Publicado em matéria no JSC de 24 de agosto de 2011 – noticiando sua passagem.

Na residência de Hans Broos – Blumenau. Dia da entrevista com a equipe do Jornal de Santa Catarina. O arquiteto já estava doente.

Hans Broos faleceu sozinho, em um dia chuvoso, em um Lar de Idosos, no dia 23 de agosto de 2011, na cidade de Blumenau. Havia meia dúzia de pessoas em seu velório, ocorrido no Cemitério Jardim da Saudade, no bairro Fortaleza. Não se completou um dia e o corpo do arquiteto Hans Broos foi conduzido para Balneário Camboriú, para ser cremado. Não tínhamos conhecimento de quem estava por trás das providências. Foi tudo muito rápido.
Saímos do local mediante a solidão desse momento de despedidas e dos acontecimentos durante todo o último ano e meio de sua vida, temendo que Hans Broos pudesse ser esquecido. Resgatamos e organizamos, nesse mesmo dia de sua morte, todo o material possível que tínhamos para colocar sua obra e vida on line, e informamos o JSC, com o objetivo de que jamais fosse esquecido, como já tínhamos feito um tempo atrás, em que foi feita uma matéria sobre ele, assinada pela jornalista Wania Bittencourt.

Matéria especial, nossa sugestão, do JSC de 7 e 8 de agosto de 2010. Em 10 de outubro Hans Broos completou 89 anos e estava doente. Pouco tempo depois, ele foi levado ao Lar de Idosos, onde faleceu em 2011. Enquanto ainda residia em sua casa, foi perdendo paulatinamente a memória.

Ao longo do tempo fomos enriquecendo esse material com informações de outras pesquisas sobre um dos nomes mais importantes da arquitetura moderna no Brasil.

Hans Broos

Hans Broos nasceu em Gross-Lomnitz, em 10 de outubro de 1921, que até então fazia parte da Áustria – através do Império Austro-húngaro (por isso considerado austríaco por muitos). Atualmente, como uma cidade eslovaca, a cidade natal de Hans Broos é nominada de Veľká Lomnica, e pertence ao distrito de Kežmarok, na região de Prešov. Tem 19,12 km² de área e sua população (2018) foi estimada em 4.890 habitantes.

Elisabeth Broos, mãe do arquiteto.

Seu pai, Johann Broos, era de família alemã e foi mestre marceneiro. Com ele teve os primeiros contatos com o desenho. Sua mãe foi Elisabeth Mock-Broos. Hans Broos teve dois irmãos: Mathias e Adalbert Boos.

Um dos poucos momentos em que os três irmãos estiveram juntos.

Adalbert Broos era o mais jovem dos três irmãos, e foi morto em um trem, durante a II Guerra Mundial. Hans Broos sempre comentava sobre as montanhas, sendo esclarecido por um leitor nosso de que ele se reportava à cadeia Hohe Tatra, localizada entre a Eslováquia e a Polônia. Broos sempre comentava da proximidade de sua cidade com a cidade natal do Papa João Paulo II.

A família Broos deixou a Tchecoslováquia e mudou-se para a Alemanha Ocidental, por motivação política.

A família chegou até o território, onde atualmente está a Eslováquia, porque seu bisavô lutou contra o avanço dos turco-otomanos na Europa. Com isso, ele e outros receberam do Império Austro-Húngaro terras em Gross-Lomnitz e Eisdorf.

Cidade natal de Hans Broos – Veľká Lomnica e pertence ao distrito de Kežmarok, na região de Prešov.

Hans Broos desenhava muito bem, desde tenra idade. Iniciou a faculdade de Arquitetura na Universidade de Praga – Tchecoslováquia. Quando se iniciou a Segunda Guerra Mundial, forçosamente mudou-se com a família para a Alemanha, cidade de Braunschweig, na Baixa Saxônia, às margens do rio Oker. Em 1948, concluiu o curso de Engenheiro-Arquiteto na Universidade Técnica de Braunschweig.

Nasci na Áustria, de família alemã. Entrei na universidade em Praga, onde dei os meus primeiros passos como aluno de arquitetura. Terminei o curso na Alemanha por causa da guerra, e em Braunschweig colaborei na reconstrução da cidade. Hans Broos – SERAPIÃO, 2005.

Friedrich Wilhelm Kraemer e Mies van der Rohe,| Chicago, 1955.

Na Universidade Técnica de Braunschweig é nomeado assistente do Professor Friedrich Wilhelm Krämer, na cátedra de Grandes Composições. Nesse período, Broos participa da elaboração de projetos culturais, industriais, públicos, voltados para o Urbanismo, área para a qual muito contribuiu, inclusive no Brasil, onde quase nada sobre essas obras é conhecido. Em Braunschweig, trabalhou especificamente em obras de reconstrução de prédios históricos e praças na cidade pós-Segunda Guerra Mundial.

Universidade Técnica de Braunschweig. Fonte: Wikipédia.

Quem queria chegar à faculdade de arquitetura tinha que aprender profissões práticas, como carpinteiro e pedreiro. Além disso, tínhamos de viajar e conhecer a Europa: a torre de Pisa, na Itália, a Grécia. O ensino era mais prático. O que me ajudou muito no Brasil foi justamente o fato de que, como arquiteto e engenheiro, eu sabia fazer alvenaria, fundações etc. Hans Broos – SERAPIÃO, 2005

Em 1949, formado, muda-se para Karlsruhe onde começa a trabalhar como assistente do professor Egon Eiermann na Universidade Técnica da cidade. O arquiteto Hans Broos chamava Eiermann de “o homem da reconstrução da Alemanha”, pós guerra. Participou, então, de diversos projetos e obras de reconstrução em várias cidades alemãs, principalmente, em Berlim. Entre eles: Rádio emissora de Stuttgart (1951), o Laboratório Ciba (1952) e a reconstrução de Lübeck, onde teve seu próprio escritório.

Olivetti Towers in Frankfurt/Main – Egon Eiermann in 1967 – 1972. Fonte: TECNOLUMEN.
Egon Eiermann in 1967 – 1972. Fonte:TECNOLUMEN.
Estes módulos com malhas quadradas lembram aqueles existentes no edifício da administração da Cia. Hering do Bom Retiro, Blumenau SC.
Igualmente há similaridades com obras fabris de Broos executadas Brasil.

O volumoso trabalho envolvendo a arquitetura histórica através da recuperação das cidades alemãs, período pós-guerra, levou Broos a uma reflexão sobre sua produção arquitetônica. Desejou fazer algo destoante da tipologia e linguagem que vinha produzindo e, também, que tivesse a alma da contemporaneidade, diferentemente da arquitetura histórica, e, ainda, que atendesse à nova realidade do homem pós-guerra e suas aspirações no espaço e dentro deste recorte de tempo.

Sua contribuição para o resgate de cidades demolidas no período pós-guerra foi imensurável, mas desafiante, quanto a definir uma nova linguagem e uso de novos materiais contemporâneos para a época. Segundo suas próprias palavras: “Não queria mais só olhar para o passado, mas para o futuro”.

Com a anuência do professor Eiermann, convidou Le Corbusier para proferir uma palestra na Universidade Karlsruhe, onde o conheceu.

O professor que, para mim, foi o responsável pela intensificação do pensamento, da imaginação, nem era arquiteto: chamava-se Egon Eiermann e trabalhava para a UFA, produtora de filmes em Berlim. Cheguei a ser assistente de Eiermann – fizemos a reconstrução de um velho templo em Berlim. Um dia, ele me perguntou: “O que vamos dizer hoje aos alunos? ”. Eu lhe disse que falasse sobre Le Corbusier. Como ele não conhecia Corbusier, enviou-me à Suíça para que eu trouxesse as novidades. Hans Broos – SERAPIÃO, 2005.

Muitos dos nomes da arquitetura alemã, como Walter Gropius, Mies van der Rohe, Marcel Breuer, Konrad Waschmann, já haviam emigrado para os Estados Unidos. Assim como muitos outros jovens arquitetos europeus, tais como Adolf Franz Heep, Lina Bo Bardi, Victor Reif.

O jovem arquiteto Hans Broos, que já tinha conhecimento da produção arquitetônica brasileira e com o novo material – concreto armado – que o engenheiro blumenauense, Emil Heinrich Baumgart, ajudara a popularizar e tecnicamente viabilizar o uso, decide morar no Brasil.

Hans Broos tinha a opinião de que este jovem país apresentava ambiente ideal para novas ideias, nova arquitetura.

“As notícias sobre a arquitetura brasileira eram tão convincentes que resolvi conhecer de perto essas experiências” – Hans Broos – SERAPIÃO, 2005.

Quando fez este comentário, aludia ao catálogo da exposição Brazil Builds, do MoMAMuseu de Arte Moderna de Nova York, realizada em 1943, no qual apresentava a tradicional e a nova arquitetura brasileira, através da ilustração do edifício-sede do antigo Ministério de Educação e Saúde (1937-1942), do arquiteto e urbanista Lúcio Costa e sua equipe, o marco precursor desta arquitetura.

O projeto estrutural do Edifício do Ministério da Educação e saúde foi projeto do engenheiro blumenauense Emil Heinrich Baumgart – que trouxe o concreto armado para o Brasil e é neto do pioneiro Emil Odebrecht. Emil Odebrecht abriu estradas e caminhos no interior de Santa Catarina no Século XIX.

“Na época em que comecei, a grande inovação da tecnologia foi a passagem da pedra para o concreto. Não existia igreja ou capela que não fosse de pedra, se possível de pedra natural. Até que houve a descoberta de materiais resistentes, descobertos pela mistura da cal. Conhecia-se o cimento, e com adição de óleo de baleia ele fica mais resistente. Mas na minha época houve justamente a luta para esse novo material – o concreto. Le Corbusier aplicou isso, mas estava praticamente na mesma situação dramática que eu. Cheguei ao Brasil justamente na hora em que o concreto era novo, praticamente pronto para ser aproveitado.” Hans Broos – SERAPIÃO, 2005.

No Brasil

“A Europa é pequena e na época era comum que os países estivessem em guerra. Não existiu geração que não tenha passado pela guerra. E pensei comigo: em vez de esperar a próxima guerra, vou conhecer o mundo. Então cheguei ao Brasil.” Hans Broos – SERAPIÃO, 2005.

Em 1954, com 33 anos de idade, Hans Broos viaja para o Sul do Brasil, e se hospeda na residência de Gertrud Hering Gross, escritora, artista, filha do pioneiro Hermann Hering e foi nesse momento que Hans Broos conheceu Freya Gross – casada com Ralph Bruno Gross, filho de Gertrud e também era vizinha da residência de sua sogra.

Residência de Gertrud Hering Gross, onde Hans Broos se hospedou quando chegou ao Brasil.
A foto anterior foi feita em uma das janelas do edifício localizado em frente do Casarão Gross.

“O senhor conhecia alguém por aqui?
Não. Só tinha contato por carta com conhecidos de Blumenau. O Brasil era o novo mundo. Um território enorme, natural, intacto e muito humano. Nunca tinha tido contato com a arquitetura brasileira.” Hans Broos – SERAPIÃO, 2005.

Ele não permaneceu por muito tempo na residência de Gertrud Gross, porque – nesse mesmo ano até 1957, atuou como assistente do professor Lucas Mayerhofer, contribuiu com o estudo e a restauração das ruínas das Missões Jesuíticas no Rio Grande do Sul. Segundo Broos, foi neste período, que que teve a oportunidade real de conhecer muitos arquitetos brasileiros.

A Faculdade Nacional de Arquitetura foi o principal centro de formação de arquitetura do país até a década de 1950 e recebia alunos de todo o Brasil. Nesse período, foi importante para sua experiência, porque lhe proporcionou uma vasta rede de contatos e a oportunidade de elaborar projetos em diversas regiões do país.

Em 9 de maio de 1963 Ralph Bruno Gross, nascido em Blumenau em 13 de junho de 1907, faleceu com 55 anos de idade. Freya Gross ficou viúva com a idade de 46 anos.

Tampo de mesa de centro com a obra de Freya, residência de Hans Broos – São Paulo.

Nesse tempo fazia 9 anos que o arquiteto Hans Broos estava no Brasil e contava 42 anos incompletos. Gertrud Hering Gross ainda era viva e quando partiu, em 1968, o arquiteto Hans Broos mudou-se definitivamente para a cidade de São Paulo e Freya era viúva há 5 anos.
Na mesma década em que Hans Broos chegou à região e à cidade de Blumenau – década de 1950, Freya conheceu o trabalho de arte sacra do artista, escultor e ceramista italiano Angelo Tanzini, que residia na região e também viveu em Minas Gerais, tendo retornado para a Itália na década de 1960. Com Tanzini, Freya conheceu técnicas diversificadas de arte, desde a escolha da argila, as etapas e cuidados até a queima, no ofício de cerâmica. Este conhecimento despertou em si a arte da cerâmica, tornando-a uma referência – não somente em Blumenau, mas no Brasil, pois acompanhou a arquitetura de Hans Broos.

Os painéis cerâmicos permitem a interação entre a arte e a arquitetura, e assim aconteceu entre a arte de Freya e a arquitetura de Hans Broos, e especialmente com eles, unindo-os. Quando a conhecemos em seu ateliê, na década de 1990 e também a ele, pessoalmente, durante um sarau cultural, ela o apresentou como seu namorado, foi quando o conhecemos pessoalmente.

Sua casa no bairro do Morumbi, em São Paulo, um dos seus mais belos projetos em concreto e vidro, foi construída no período entre 1970/78.

Casa e ateliê de Hans Broos – Morumbi – São Paulo.

Mas antes de se decidir por residir em São Paulo, o arquiteto havia recebido o conselho de Rivadávia Wollstein, professor universitário, para transferir-se para o Rio de Janeiro (então capital do Brasil). Hans Broos assinou o projeto da casa de Rivadávia.

No Rio, Hans Broos iniciou o processo de convalidação de seu diploma, na Faculdade Nacional de Arquitetura (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro) para que pudesse realmente atuar efetivamente como arquiteto no país. Em seu trabalho de convalidação, estudou a arquitetura dos açorianos no litoral catarinense, tendo originalmente como título: “Açorianos”. O texto foi inicialmente publicado datilografado, num total de 40 exemplares. Trabalho executado por uma senhora da cidade de Blumenau, com fotos e ilustrações de Broos.

Recebemos de suas mãos, um exemplar autografado.

O livro Construções Antigas em Santa Catarina (Editora Cultura e Movimento, Fundação Cultural de Blumenau e Editora da UFSC) foi uma reedição daquele texto original, reescrito e revisado pelo jornalista Orlando Maretti e publicado no segundo semestre de 2002. Hans Broos narra a história da confecção da primeira edição.

O arquiteto não ficou com nenhum exemplar, e somente em 1995, segundo Maretti, é que o arquiteto, em visita a uma biblioteca de São Paulo, pôde reaver um exemplar daquela edição datilografada. Maretti procurou respeitar o estilo do autor, usado na primeira edição, e explicou-nos que atualizara a linguagem.

“Foram dois ou três anos. Fui educado por jesuítas e franciscanos e quando cheguei ao Brasil procurei esse mesmo tipo de organização religiosa. Encontrei no Rio de Janeiro Dom Lucas Mayerhofer, o grande reconstrutor das missões jesuíticas do Sul e fui assistente dele. Ele sabia que eu era formado, me convidou para dar aula.” Hans Broos – SERAPIÃO, 2005.

De 1954 a 1957 atua como assistente do professor Lucas Mayerhofer, com quem colabora no estudo e restauração das ruínas das Missões Jesuíticas no Rio Grande do Sul. Segundo Broos, foi neste período que pôde conhecer muitos arquitetos brasileiros. A Faculdade Nacional de Arquitetura foi o principal centro de formação de arquitetura do país até a década de 1950, e recebia alunos de todo o Brasil. Nesse período, foi importante para sua experiência, porque lhe proporcionou uma vasta rede de contatos e a oportunidade de elaborar projetos em diversas regiões do país

Em 1968, Hans Broos se estabeleceu definitivamente na cidade de São Paulo. Sua casa no bairro do Morumbi, um dos seus mais belos projetos em concreto e vidro, foi construída no período 1970/78, em um terreno de acentuado declive – seus preferidos para criar. Seus jardins foram projetados e executados por seu parceiro e amigo em diversos projetos, o paisagista Roberto Burle Marx. Somente nos anos finais de sua atividade o arquiteto concentrou seu trabalho à residência, que fica na parte alta do terreno e tem entrada pela rua Oscar de Almeida. Durante muitos anos a empresa Hans Broos Escritório de Arquitetura funcionou numa casa próxima à ponte Morumbi.

Hans Broos e o paisagista Roberto Burle Marx.

“O ensino hoje é preparativo para acompanhar a evolução tecnológica e um símbolo disso é o computador, que não pensa. Esqueceram que o arquiteto, no passado tinha, que fazer trabalhos manuais. Temos que engolir esse passado para conhecer seu valor, e assim enfrentar o presente.” Hans Broos – SERAPIÃO, 2005.

Nas últimas conversas que tivemos com o arquiteto Hans Broos mencionou e falou muito sobre D. Agnelo Rossi. Jamais o esqueceu e tornaram-se amigos.

Registramos essas conversas em vídeos, e percebemos a importância do arcebispo Rossi na produção de Hans Broos na área do Urbanismo. O arcebispo Rossi contratou o arquiteto Hans Broos para fazer muitos trabalhos em São Paulo, e este jamais o esqueceu, assim como a oportunidade que teve de projetar cidadelas inteiras a partir de um projeto em escala maior.

Agnelo Rossi

Agnelo Rosse nasceu no dia 4 de maio de 1913, no distrito de Joaquim Egídio, na cidade de Campinas – SP, e faleceu em 1995. Seus pais foram Vicenzo Rossi – Comendador da Ordem do Santo Sepulcro e Vittória Colombo. Teve um irmão somente – Miguel Rossi.
Realizou seus primeiros estudos em Valinhos – SP. Em 26 de janeiro de 1926, ingressou no Seminário Menor Diocesano Santa Maria de Campinas, onde também fez o curso de Filosofia. Em 15 de outubro de 1933, viajou para Roma, onde permaneceu 5 meses no Colégio Pio Latino-americano. Em 4 de abril de 1934, foi um dos 33 alunos fundadores do Pontíficio Colégio Pio Brasileiro, no qual recebeu a matrícula N° 1. Cursou seus estudos na Teologiana Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
Sua ordenação aconteceu na presença do cardeal Luigi Traglia, bispo auxiliar de Roma e aconteceu no dia 27 de março de 1937 na Arquibasílica de São João Latrão, em Roma.
Foi o 16° Bispo de São Paulo, 4° Arcebispo e 2° Cardeal. É considerado o maior expoente da igreja católica brasileira. Tornou-se Sercardeal-Decano do Colégio Cardinalício.
Sua vida religiosa foi intensa e sua biografia, extensa. Hans Broos falou dele e sobre ele até seus últimos momentos. Dizia que o arcebispo Rossi compreendia a importância da
arquitetura e realmente fora um mecenas.

Epílogo

Depois de conhecermos pessoalmente o arquiteto Hans Broos, nosso interesse por sua obra naturalmente aconteceu. Ouvimos falar sobre seu legado e vida na Universidade Federal de Santa Catarina participando de mesas redondas. Na universidade de nossa formação, a FURB, não fomos apresentados ao arquiteto, nem obra e nem vida.

Mostrávamos o funcionamento do notebook e sem querer foi feita essa foto. Ele não aceitava muito bem essa nova ferramenta. Amava os croquis.

Em 2008 soubemos que estava em sua casa, no bairro Boa Vista. Tivemos a vontade de ir até o local. Recebeu-nos gentilmente e conversamos muito. Não tínhamos noção que passava por momentos não muito bons. Havia perdido sua companheira de trabalho e de vida, de mais de 35 anos, Freya Schmalz Gross.
Antigos funcionários das casas de Freya e Broos comentaram conosco que eles estavam sempre juntos, na residência do arquiteto, em Blumenau, na chácara e na residência de São Paulo, sem nunca se preocuparem em oficializar sua união.

Hans Broos, em outubro de 2010 – no seu último aniversário e sem a presença de Freya, com um dos seus amigos/colaboradores, que trabalhava para os dois havia muito tempo. Contava-nos como viviam os dois na chácara e na casa, e de como ela tomava conta dele.
Em um evento, no qual foi tombada sua obra inacabada de Rio do Sul – a sede da Prefeitura Municipal. Já se encontrava com a saúda debilitada.

Sua companheira Freya, faleceu em 5 de novembro de 2008, e isso foi um gatilho para uma série de problemas com sua saúde; destes surgiram outros, principalmente, com o inventário. O arquiteto, que já contava com mais de 80 anos, não foi mais o mesmo; afinal, ele e Freya Gross desenvolveram inúmeros trabalhos juntos e dividiram uma vida. Quando ela faleceu, deixou um vazio e uma grande tristeza no companheiro, que adoeceu e não mais recuperou plenamente a saúde, tendo tido uma sequência de pequenos derrames que comprometeram suas funções. Somente após sua morte do arquiteto, encontramos sua família na Alemanha. Até então, aqueles que o cercavam afirmavam que o arquiteto não tinha família. Sua triste situação despertou o interesse de pessoas externas, supostos “amigos”, muito conhecidos na sociedade blumenauense, que disputaram entre si, até mesmo pelas vias judiciais, as propriedades do arquiteto Hans Broos e também os cuidados do arquiteto, como tutores. Fomos envolvidos, como muitos o foram, para formalizar suas intenções diante da Justiça. Houve muita confusão. Foram criadas narrativas que disputavam a opinião pública em um processo, no qual foi disputado o próprio arquiteto que se encontrava doente.
Hans Broos se encontrava muito doente e muitos falavam coisas diferentes, confundindo muito o pequeno grupo que realmente estava disposto a ajudar. Deixaremos somente o registro desse momento, como algo que poderá ser, eventualmente, contado em outra ocasião. Como parte da História.
Em 2010, um grupo de pessoas organizou uma festa em seu 89° aniversário para poucas pessoas. Fomos convidados.

Depois dessa data, ele perdeu a memória e não mais nos reconhecia. Havia uma “briga judicial” e não tínhamos certeza de nada, diante da “guerra” de informações sobre os bens do nobre arquiteto. Hans Broos foi internado em um Lar de Idosos, onde o renomado arquiteto faleceu em 23 de agosto de 2011, sozinho. Restou-nos escrever esta história, iniciada no mesmo dia de seu falecimento. Seu nome deveria ser registrado para a História, como também sua obra criada no Brasil.

Parte de sua Produção Arquitetônica e Urbanística

São aproximadamente 400 projetos realizados no Brasil e cerca de 100 obras construídas. Sua produção abrange obras religiosas, industriais, edifícios públicos, projetos urbanísticos e residenciais.

“Uma das primeiras obras que me deram foi a igreja de São Bonifácio, na Vila Mariana, em São Paulo. Fui convidado para fazer o desenho do templo da comunidade alemã de São Paulo. Depois de conhecer o terreno, desenhei por toda uma noite. Três dias depois chegou a notícia de que eu havia ganho a concorrência. Uma série de projetos estavam concorrendo, fui o último a apresentar e ganhei. Meu croqui é igual à igreja como foi executada, de concreto. Foi uma revolução. As pessoas diziam: “Esse alemão propôs uma igreja de concreto, imagine o desastre”. Não sei de que forma intercedeu em meu favor o então cardeal arcebispo Dom Agnelo Rossi. Acabei ficando muito próximo dele.” Hans Broos – SERAPIÃO, 2005.

“Houve outro episódio interessante. Como a igreja era de concreto, todos tinham medo da vibração. Já estavam prontas a plataforma principal e duas paredes laterais, quando procurei um engenheiro acústico para resolver o problema. E me indicaram o engenheiro Paulo Maluf. Ele disse: “Isso precisa de Eucatex”. Eu respondi que não era possível, pois parte do concreto tem um alto-relevo realizado com painéis plásticos. Mas ele insistiu. Então propus uma aposta: disse que inventaria algo que fizesse funcionar a acústica. Ele topou. Lembrei minhas viagens para a Grécia, onde os teatros são de mármore e embaixo é oco, e a acústica é perfeita. Então construí na igreja um teto de duas camadas e fiz buracos em cima, a vibração passa por lá. Funcionou como nos teatros gregos.” Hans Broos – SERAPIÃO, 2005.

Algumas de suas obras:

Cia Hering – Blumenau SC

Em Blumenau, a principal obra industrial e a mais discutida pela crítica especializada, é a sede da Cia. Hering (1968-1972).
Integração da Arquitetura Brutalista – do concreto – com tipologias históricas e com o entorno natural, a partir de um conjunto harmônico, o qual reflete tempos diferentes. Resultado: uma obra de arte a partir do espaço natural e do espaço modificado pelo homem.

Escalas – Referencias a partir da perspectiva.
Edifício da Administração – Cia Hering, Bom Retiro – Blumenau.
Projeto paisagístico de Burle Marx. Teto verde sobre o edifício o refeitório da Cia Hering, Bom Retiro – Blumenau.
Cia Hering. Bom Retiro – Blumenau.

Paróquia de São Bonifácio (1966) Vila Mariana – São Paulo SP

Em São Paulo, a obra que se destaca é a primeira igreja edificada em concreto aparente no Brasil – a Paróquia de São Bonifácio (1966), Vila Mariana. A Igreja de São Bonifácio, que foi sede da Missão Católica Alemã. Anexos à igreja havia três ou quatro apartamentos, um para o pároco e outros para os sacerdotes alemães de passagem pelo Brasil. O projeto recebeu o prêmio Rino Levi, como melhor obra do ano. Foi nessa ocasião que o arquiteto recebeu o convite para trabalhar na equipe do engenheiro Paulo Maluf; por vários motivos, na época, não aceitou.

“Eu sempre fiz prédios individuais, em princípio muitos mosteiros e fábricas, que, de fato, são projetos parecidos. Se o projeto de uma fábrica é bom, os operários se sentem como uma comunidade, e o mesmo ocorre em uma igreja. Quando isso não acontece, só tem briga e poeira.” Hans Broos – SERAPIÃO, 2005.

Malharia Tecanor, da Hering Nordeste (1978-1983)

Malharia Tecanor, da Hering Nordeste (1978-1983), é outra obra de destaque. Foi executada na cidade de Paulista, na região metropolitana de Recife-PE, distinguida pelo IAB/SP com o Prêmio Anual para edifícios industriais.

Visivelmente, suas características volumétricas nos fizeram crer que o projeto de D Hering fosse igualmente de autoria do arquiteto, o que foi esclarecido por uma pessoa que trabalhou na equipe de Egon Belz, ex-desenhista da equipe de Broos, que era projeto de Belz. É visível a semelhança do mestre e seu aprendiz, ainda mais que D Hering conta com a presença da arte de Freya Gross estampada em cerâmica.

Reformulação urbana de cidade de Olinda PE

Assessorou Francisco Brennand a organizar o ateliê em Recife, onde este tinha o escritório dentro de um forno de cerâmica, inspirando Hans Broos a usar a cerâmica em vários de seus projetos, com na abadia de Santa Maria, em São Paulo (1976) e na sua casa, também em São Paulo (1987), inspirando artistas plásticos e colegas de todo o Brasil.
Participou na reformulação urbana de cidade de Olinda.

“Em Olinda, fiz urbanismo. As ruas, as partes da cidade eram adaptadas à natureza. A vista da cidade como um todo era formidável. Ao norte as coisas mais antigas, por exemplo, os mosteiros e as obras antigas de referência, como o palácio do governo, são obras de arte. Ajudei na recuperação delas, e cheguei ao interior do estado. Morei em Olinda por muito tempo.” Hans Broos – SERAPIÃO, 2005.

Em Olinda, ainda, trabalhou com Gilberto Freire no desenvolvimento da filosofia, palestras reuniões. Em seus arquivos, existem muitos desenhos e fotografias deste período. Ainda em Olinda, projetou um aeroporto particular para um empresário que produzia cordas para navios e no interior do estado de Pernambuco; e assinou o projeto de uma prefeitura usando a técnica da taipa.

Fábrica da Faber-Castell – São Carlos SP

Plano Diretor do Parque Fabril da Matriz – Blumenau SC

O parque fabril da Cia. Hering de Blumenau foi feito ao longo de mais de 30 anos, por meio dos projetos de Hans Broos. O arquiteto projetou um plano diretor para a ampliação da fábrica localizada em Blumenau, no bairro Bom Retiro.

Matriz Cia Hering – Vale do Bom Retiro, Blumenau.

Hans Broos, ao projetar o plano diretor da Cia. Hering, incluiu a ampliação fabril com diversas novas edificações, nas quais foi usado como material dominante o concreto armado aparente, integrando-as de maneira harmoniosa com construções históricas, parte da célula inicial do parque fabril com construções antigas, desde o ano de 1880. A proposta do conjunto priorizou não interferir no meio ambiente natural pré-existente, como também no meio pré-existente construído. Para isso, trabalhou em parceria – seu projeto era complementado com projeto de paisagismo assinado por seu amigo Burle Marx, com a participação de Aziz Ab´Saber, no qual a intervenção envolvia o macroambiente.

O arquiteto Hans Broos, percebendo que o vale era estreito para a construção de novos conjuntos industriais, como teria feito a direção da Cia. Hering na época, propôs construir pequenas unidades em cidades e bairros próximos: Encano, Água Verde, Ibirama, Rodeio, Indaial e Benedito Novo.
Hans Broos também assinou o projeto das fábricas de São Paulo e de Pernambuco, o qual, porém, não foi construído fielmente. O conjunto edificado continua em ótimo estado de conservação.

Abadia de Santa Maria

Sede Celesc – Florianópolis SC

Prefeitura de Rio do Sul SC (este projeto nunca foi terminado)

Residência Dieter Hering – Blumenau SC

Igreja de Itoupava seca – Blumenau SC

Residência Abel Gernsbach Blumenau SC

Residência Curt Zadrozny Blumenau SC

Residência Hans Prayon  Blumenau SC

Residência Helmut Baumgarten Rio do Sul SC

Residência Gottardi  Rio do Sul SC

Curiosidades – Após a nossa publicação on line sobre Hans Broos

Em 2012, os dois coros do C.C. 25 de Julho de Blumenau estiveram visitando o Mosteiro São Bento em Vinhedo-SP. O projeto do mosteiro foi assinado pelo arquiteto Hans Broos. Registramos o momento em que os dois coros cantaram Haleluia, de Händel, do Oratório “O Messias”, acompanhados pelos acordes do órgão da capela do Mosteiro São Bento, projetado e executado pelo organeiro alemão e na época, cantor de um dos coros, Georg Jann.

Documentário eslovaco da vida e obra do arquiteto Hans Broos 2017/2020

O artigo que publicamos sobre um pouco da vida e da obra de Hans Broos foi acessado de muitos locais, inclusive da Europa. A equipe, formada pelo diretor eslovaco Ladislav Kabos ou Ladislav Kaboš, a produtora Darina Smrzová e a tradutora e formada em cinema, Zuzana Bielikov, acessou o material e o escolheu para nova pauta – a produção de um documentário sobre a obra e vida do arquiteto, cuja cidade natal, atualmente, é parte do território da Eslováquia.
Ladislav Kaboš entrou em contato com sua conterrânea que reside no Brasil – Zuzana Bielikov – e ela nos procurou para obter mais informações.

O diretor Ladislav Kaboš e a produtora Darina Smrzová, em Blumenau.

Correspondência eletrônica de 1° de dezembro de 2016

“Boa tarde, Angelina,Tudo bom?
O meu nome e Zuzana Bielikova e sou da Eslovaquia. Nasci lá, e dois anos atrás mudei para Brasil onde agora vivo com o meu marido.
Eu me formei na área de cinema e agora estou colaborando como diretor Ladislav Kabos que esta fazendo documentário sobre Hans Broos. Ele achou o seu blog onde você escreve muito sobre a comunidade Alemanha no Brasil e fala também sobre Hans Broos. Pois queremos preguntar se você gostaria de colaborar e participar no filme documentário sobre ele.
Estou disposta se você teria qualquer duvida.
Obrigada.
Atenciosamente,
Zuzana Bielikova”

Diretor eslovaco Ladislav Kaboš.

Em maio de 2017 nos encontramos com a equipe do diretor Ladislav Kaboš, Darina Smrzová e Zuzana Bielikov em Blumenau, para as primeiras filmagens. Listamos os locais das obras de Hans Broos na cidade e também o de sua última morada, no bairro Boa Vista.
O diretor eslovaco Ladislav Kaboš, nasceu na mesma região de Hans Broos – Presov – atual território da Eslováquia, no dia 16 de junho de 1953. Sua formação aconteceu na cidade de Praga, onde trabalha, atualmente, produzindo documentários de personalidades históricas e também relacionados a arte, especialmente música e arquitetura. Lembramos que foi na cidade de Praga que o arquiteto Hans Broos iniciou seus estudos de arquitetura, os quais foram interrompidos no início da 2ª Guerra Mundial.

A Ficha Técnica do Documentário

Título: O Arquiteto da Poética Bruta – Architekt Drsnej Poetiky

Equipe Técnica
Filmagem: 70 min
Mestre: DCP 2K – áudio original eslovaco / 5.1, Blu ray, DVD, MP4
Acessibilidade: a partir dos 12 anos
Gênero: Documentário
Diretor e roteiro: Ladislav Kaboš
Dramaturgia: Martin Peterich, Dagmar Ditrichová, Svatava Maria Kabošová
Diretor de fotografia: Martin Šec │Strih: Michal Kondrla, Darina Smržová
Música: Vladimír João Martinka 
Som: Bohumil Martiná, Eperties: Imrichos Serraglio 
Produtor: Darina Smržová
Co-produtores: Tibor Horváth, Michael Kaboš, Pedro Rosa
Produtor: EDIT Studio, Eslováquia
Co-produtores: RTVS Rádio e Televisão da Eslováquia, KABOS Film & Media, República Tcheca, EMBAÚBA Produções, Brasil
Tradutoras:
Dana Stopkova,
Zuzana Bielikov. 
Atores:
Hans Broos: Imrich Boréros
Hans Broos Jr.: Joo Antonio Carvalho Seraglio
Jenny Abel
Bernardo Brasil Bielschowsky
Karine Daufenbach
Orlando Maretti
Cristiano Mascaro
Angelina Wittmann

A equipe do documentário – 2017

O diretor Ladislav Kaboš, filmando imagens no interior do Museu da Cia. Hering.
Equipe do documentário, filmando externas sobre o teto verde do refeitório da Cia. Hering.
O diretor Ladislav Kaboš, filmando externas na Cia. Hering.
Equipe no Museu da Cia Hering.
O diretor Ladislav Kaboš, filmando imagens externas da Igreja Luterana de Itoupava Seca.
O diretor Ladislav Kaboš fazendo imagens no interior da Igreja Luterana de Itoupava Seca.
A tradutora Zuzana Bielikova, a produtora Darina Smrzová e o diretor Ladislav Kaboš no ponto mais alto do Edifício de Administração da Cia Hering.

Em 2017 ficou confirmado que a equipe retornaria ao Brasil – Blumenau e a outras duas ou três cidades do país, em 2018, para terminar a coleta de materiais e informações para, então, lançar o documentário da obra e vida do arquiteto Hans Broos no mês de dezembro daquele mesmo ano, o que não aconteceu. O material era muito vasto e retornaram em junho de 2019, dois anos depois.

A equipe do documentário – 2019

Dois anos após o primeiro encontro da primeira parte da filmagem, a equipe retornou ao Brasil para terminar o Documentário “Architekt Drsnej Poetiky”“Arquiteto da Poética Bruta”. Estivemos com a equipe de filmagens sob a coordenação do Diretor eslovaco Ladislav Kaboš, por três dias, para as últimas filmagens, das últimas imagens, em: São Paulo (capital e interior), Florianópolis e Blumenau.
As filmagens em Florianópolis aconteceram no Morro das Pedras e na Praia da Armação, somente em 2019.

Filmagens no litoral, Armação – Florianópolis SC.

Participamos desta parte das filmagens diretamente com o ator que representou Hans Broos: Imrich Boréros, na Praia da Armação – Florianópolis SC.

Com a equipe do documentário – Florianópolis.
Com a equipe do documentário sobre o terraço do edifício da Administração – Cia Hering, Bom Retiro – Blumenau SC.
Trabalhos de filmagem nas sacadas do edifício da Administração – Cia Hering, Bom Retiro – Blumenau SC.
Equipe do documentário – Blumenau SC.

Curiosamente, no ano em que se completaram 10 anos da morte do arquiteto Hans Broos e 100 anos de seu nascimento, o documentário sobre sua obra e vida foi apresentado às pessoas pela primeira vez – em 2021. Era para acontecer antes, mas a pandemia mundial do Covid-19, não permitiu.
O documentário é Architekt Drsnej Poetiky – em português, Arquiteto da Poética Bruta, filmado na Eslováquia, na Alemanha e no Brasil. Na Alemanha foi possível também, por conta de nossa publicação. O único sobrinho de Hans Broos o viu. Mais bem detalhado depois.
A primeira estreia aconteceu em 15 de setembro de 2021, às 17h, no festival de cinema Cinematik, em Piešťany. De acordo com o diretor Ladislav Kaboš, foi um sucesso e despertou um bom debate após o término de sua exibição, com boa participação dos presentes.

A estreia oficial do documentário Arquiteto da Poética Bruta – Architekt Drsnej Poetiky – aconteceu em 5 de outubro de 2021, em Bratislava. O documentário dirigido por Ladislav Kaboš, sobre a vida e obra de Hans Broos foi selecionado para dois festivais: Rotterdam e Nova York. Houve outras estreias na Europa e há previsão para ser apresentado no Brasil, com estreias previstas para as cidades de Blumenau, Florianópolis e São Paulo.

Estreia de distribuição na República Eslovaca: 10/07/2021
Filmagem: 70 min
Mestre: DCP 2K – áudio original eslovaco / 5.1, Blu ray, DVD, MP4
Acessibilidade: a partir dos 12 anos
Gênero: Documentário
Diretor e roteiro: Ladislav Kaboš
Dramaturgia: Martin Peterich, Dagmar Ditrichová, Svatava Maria Kabošová
Diretor de fotografia: Martin Šec │Strih: Michal Kondrla, Darina Smržová
Música: Vladimír João Martinka 
Som: Bohumil Martiná, Eperties: Imrichos Serraglio 
Produtor: Darina Smržová
Co-produtores: Tibor Horváth, Michael Kaboš, Pedro Rosa
Produtor: EDIT Studio, Eslováquia
Co-produtores: RTVS Rádio e Televisão da Eslováquia, KABOS Film & Media, República Tcheca, EMBAÚBA Produções, Brasil
© 2021

Contato da Família do Arquiteto Hans Broos da Alemanha

Hans Broos possuía herdeiros legais, questão que não era confirmada no momento da “disputa” pelo arquiteto e por seus bens. Hans-Peter Boos reside com sua família em Berlin.

Em 19 de janeiro de 2018, uma brasileira que reside em Berlim – capital da Alemanha, entrou em contato conosco pelas redes sociais, dizendo que seu marido – Waldemar Botte, também arquiteto, tinha um colega de trabalho que solicitou a ela, Marcella – por intermédio do marido – que traduzisse o diálogo de um vídeo do YouTube, publicado em nosso canal, pois, segundo o colega de Waldemar, o entrevistado era seu tio, que residira no Brasil – o arquiteto Hans Broos.
Abaixo, parte do conteúdo e uma gravação em vídeo feita em 2010 com o arquiteto Hans Broos, na ocasião com 89 anos de idade, em que ele citou os familiares que haviam ficado na Europa.
A brasileira Marcella, que reside em Berlim, nos enviou a seguinte mensagem:

“Olá Angelina,
Tudo bem? Eu encontrei você pelo YouTube (na verdade um colega) e queria perguntar se você tem mais informações sobre o arquiteto Hans Broos. Eu moro na Alemanha, em Berlin, e um colega de trabalho do meu marido é sobrinho do senhor Broos. O pai dele era irmão do senhor Hans Broos e já faleceu. Quando meu marido comentou com o colega dele que eu era brasileira ele ficou muito feliz porque achou seu vídeo entrevistando o senhor Broos no YouTube, mas não entendia nada. Ele se emocionou muito com o vídeo e pediu para eu traduzir. Ele nunca foi ao Brasil, mas conhece a história do tio.
Você tem mais informações sobre o senhor Broos? Com quem ele morava? Com quem passou seus últimos dias? O que fazia na sua velhice? O sobrinho dele ia ficar muito feliz com qualquer informação. Se tiver outras fotos ou vídeos dele, ele também ia se emocionar muito.
Desde já muito obrigada,
Marcella

Ainda não tínhamos certeza de que se tratava realmente do sobrinho do arquiteto Hans Broos, o qual, de acordo com Marcella, está com 62 anos incompletos, e se chama Peter Broos. O sobrinho estava com o paradeiro desconhecido, e no Brasil afirmavam que o arquiteto não tinha mais familiares.
Pedimos para Marcella que entrasse em contato com Peter, através de seu marido – Waldemar, e lhe solicitasse seu endereço eletrônico, para que pudéssemos nos comunicar diretamente.
Simultaneamente, sentimos que deveríamos entrar em contato com a equipe da Eslováquia que está produzindo o documentário sobre a vida e obra do arquiteto Hans Broos. Falamos com Darina Smrzova – editora da equipe de filmagens e que reside em Bratislava. Entramos em contato com a editora no mesmo dia 19 de janeiro, à noite.
Nós e Darina revisamos as informações da família do arquiteto juntas, via web, e ficamos um pouco confusas, pois os dados não eram exatamente os mesmos. Por exemplo, a equipe tentava sem sucesso encontrar o sobrinho do arquiteto Hans Broos em Berlin, com o nome que haviam conseguido encontrar em suas pesquisas em Blumenau – (?) Klaus-Peter Brosz, nascido em 12/12/1956. O nome não coincidia com o do colega de Waldemar Botte.
Recebemos o endereço eletrônico de Hans-Peter Broos e escrevemos para ele com algumas perguntas, e também enviamos fotografias. Fizemos referência ao documentário que estava sendo feito sobre a vida e obra de seu tio, e lhe pedimos permissão para repassar seu contato à equipe eslovaca.
Concluímos, após análise de alguns dados trocados, que as informações que tínhamos sobre o arquiteto e sua família não estavam totalmente corretas. A equipe do documentário buscava o paradeiro e contato com o sobrinho de Hans Broos de Berlin há algum tempo, mas sem sucesso. Restaram muitas dúvidas sobre o laço familiar de Hans-Peter Broos e Hans Broos.
Recebemos a primeira correspondência eletrônica de Hans-Peter Broos no dia 23 de janeiro de 2018. Em seguida, enviamos algumas informações do arquiteto via correspondência eletrônica. Quando recebemos algumas fotografias do arquiteto Hans Broos e familiares, esvaiu-se toda e qualquer dúvida sobre Hans-Peter Broos ser sobrinho do arquiteto. De fato, era seu sobrinho.
Recebemos uma correspondência eletrônica de Hans-Peter no dia 7 de fevereiro, que foi muito esclarecedora. Nesta, também autorizou o repasse de seu contato a Darina Smrzova, editora da equipe eslovaca do documentário.

“(…)Ich freue mich darauf, von Ihnen zu hören. Ich hatte die Woche zuvor schon geschrieben, aber etwas hat nicht funktioniert.
Also werde ich es nochmal versuchen. Ich wollte dir ein paar Dinge über meine Familie und meine Beziehung zu meinem Onkel erzählen.
Ich weiß nicht, ob Onkel uns etwas über uns erzählt hat. Ich wurde 1956 geboren, also bin ich alt, ich bin verheiratet, ich habe zwei Kinder und zwei Enkelkinder. Leider kannte ich meinen Großvater Johann und Hans Vater nicht, weil er vor meiner Geburt starb. Meine Großmutter Elisabeth ist alt genug dafür. Ich glaube sie starb 1983, sie war eine Urgroßmutter für mich und ich verbrachte viel Zeit in meiner Jugend. Sie war immer sehr traurig, als ein Brief aus dem fernen Brasilien kam, weil ihr Sohn so weit weg war. Für mich war er immer ein großartiges Vorbild und meine Eltern haben immer gesagt, lass mich ein Beispiel von meinem Onkel nehmen. Das hat leider nicht funktioniert, denn bei mir reichte es für ein handwerkliches Training. Leider ist ein Teil meiner Familie, nach der Vertreibung der Tatra, in dem Teil Deutschlands gelandet, der die Welt geschlossen hat, was mit dem Kontakt schwierig war. Meine Großmutter und mein Vater haben viel nach der alten Heimat gefragt. Mein Vater Mathias mit starb sehr früh vor 40 Jahren, als er erst 53 Jahre alt war. Mein Bruder Wolfgang, der starb, wurde ebenfalls 56 Jahre alt. Er war verheiratet, hatte aber keine Kinder. Der Kontakt mit Hans war tatsächlich durch meine Mutter, sowohl per Brief als auch per Telefon. Das letzte Mal über einen Pastor glaube ich an Blumenau, aber leider ist meine Mutter schon seit vier Jahren tot. Hans jüngster Bruder, Adalbert, ist bereits vor ein paar Jahren gestorben. Er war auch verheiratet und hatte keine Kinder. Du siehst, ich bin der Letzte. (…)” – Hans-Peter Broos.

Hans-Peter mencionou que, para toda a família, Hans Broos era um exemplo e sempre era citado por seus pais, para o tomarem como exemplo de vida. Hans-Peter não completou sua formação, como seu tio. Parte da família de Hans Broos foi expulsa pelo regime político do local em que viviam (atual Eslováquia), por conta da 2ª Guerra Mundial. Mudaram-se para a Alemanha, onde o arquiteto terminou seus estudos de arquitetura. Parte da família permaneceu na região em que hoje é a Eslováquia, e todos perderam contato. Disse que seu pai – Mathias – irmão do arquiteto Hans Broos, e seu avô, Johann Broos, sempre perguntavam sobre a antiga pátria. Seu pai, Mathias, morreu há muito tempo – mais de 40 anos -, com a idade de 53 anos. O irmão de Hans-Peter, que se chamava Wolfgang, morreu com 56 anos. Era casado e não tinha filhos. A mãe de Hans-Peter, esposa de Mathias, sempre manteve contato com o arquiteto Hans Broos no Brasil, por telefone. Ela faleceu em 2014. O irmão mais novo de Hans Broos, Adalbert, é falecido, e também não deixou filhos. Hans-Peter disse que ele é o último que pode falar sobre a história da família.

Hans Broos e a mãe de Hans-Peter. Acervo Hans-Peter Broos.
Hans Broos com família na Alemanha. Acervo Hans-Peter Broos.

Com o contato do sobrinho do arquiteto, Hans-Peter Broos, a equipe eslovaca do documentário da vida e obra de Hans Broos esteve em Berlim no dia 23 de fevereiro de 2018, momento em que entrou em contato com a história de Hans Broos na Alemanha, a partir de seu único familiar vivo, seu sobrinho Hans-Peter Broos.

Berlin em 23 de fevereiro de 2018. Gravações para o documentário.

A ponte foi construída. Acabamos de receber mensagem de Hans-Peter Broos que a pesquisadora Karine Daufenbach, em pesquisa pela Europa, entrou em contato com ele e sua família e conversaram. Aguardemos o que publicará, e também, aguardemos o lançamento do documentário da vida e obra de Hans Broos no Brasil e em Blumenau.

Um registro para a História.

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twitter)

Referências

  • DAUFENBACH, Karine. A modernidade em Hans Broos. Orientador: Bruna, Paulo Julio Valentino (Catálogo USP). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – USP. São Paulo, 2011.
  • KHAN, ZohraLe Corbusier and a legacy that goes beyond championing modern architecture.     Stir World. 5 de outubro de 2020. Disponível em: https://www.stirworld.com/inspire-people-le-corbusier-and-a-legacy-that-goes-beyond-championing-modern-architecture. Acesso em: 22 de março de 20024 – 20h10.
  • PEREIRA, Daniela. Perda Concreta. Jornal de Santa Catarina, 24 de agosto de 2011. Blumenau.
  • SERAPIÃO, Fernando Serapião. Hans Broos.   Projeto Design. Edição 302, abril de 2005.
  • TECNOLUMEN. Egon Eiermann – Formative Architect of the Post-War Period. Disponível: https://tecnolumen.com/magazine/egon-eiermann . Acessível em: 22 de março de 2024 – 13h44
  • WITTMANN, Angelina. Opinião – Um Mestre. Jornal de Santa Catarina, 24 de agosto de 2011. Blumenau

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