Após relato de transfobia no Teatro Carlos Gomes, vítima afirma ser atacada diariamente em Blumenau

Emily registrou denúncias após situação ocorrida durante o Fitub

A professora Emily Jandt, de 24 anos, tem sofrido diariamente com a transfobia desde a última sexta-feira, 8. Na segunda noite do Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau (Fitub), ela estava usando o banheiro quando foi atacada por outra mulher.

Entre uma peça de teatro e outra, a vítima foi para o banheiro com uma amiga. Enquanto Emily retocava a maquiagem no espelho, Alice entrou em uma cabine. Foi neste meio tempo que uma senhora abriu a porta e começou a falar “tem um homem no banheiro”.

“Eu falei pra ela ‘meu amor, que homem você tá vendo aqui? Só tem uma travesti. Esse banheiro é meu e vou usar ele também’. Ela avisava para outras mulheres na rua não entrarem repetindo que tinha um homem no banheiro, mas acabou entrando”, conta a vítima.

Neste meio tempo, Emily saiu do banheiro constrangida com a situação. Já Alice, percebendo o que estava acontecendo, tentou conversar com a senhora explicando que ela estava sendo transfóbica e que elas iriam acionar a segurança. Foi quando outras mulheres teriam ajudado a agressora a se esconder e fugir, impedindo que ela fosse identificada.

Apesar de o Brasil não contar com uma lei específica que proteja as pessoas trans e travestis neste quesito, o Supremo Tribunal Federal determina que elas têm o direito de usarem o banheiro do gênero com o qual se identificam. O crime de transfobia pode render entre um e três anos de prisão, além de multa.

Indignação

Junto da namorada, Emily tentou encontrar a mulher que a agrediu, mas sem sucesso. Após falarem com a organização do evento, elas foram instruídas a enviar um e-mail para o Fitub. Sentindo-se pouco acolhidas, elas decidiram assistir à peça e voltar para casa.

Para Emily, a principal crítica está na dificuldade do festival e do teatro em lidarem com o caso. Afinal, ela relata que ela mesma, assim como outras amigas travestis, já foram vítima de transfobia no local.

“Achei um tremendo despreparo e falta de responsabilidade. Não souberam lidar com a situação e ficou tudo pra gente resolver sozinha. Registrei denúncia no Disque 100, para levar o caso ao Ministério Público, e um boletim de ocorrência online”, conta.

Um exemplo foram os panfletos que puderam ser encontrados nos banheiros do teatro no domingo, último dia do festival. No material estadual era possível encontrar orientações para evitar casos de discriminação, como o sofrido por Emily.

“Podia estar lá desde o início. Mas só colocaram porque alguém sofreu violência. O evento diz se propor a ser um espaço de diversidade, mas não senti inclusão para mim ali dentro. Não foi um espaço seguro. Se não fosse o apelo popular, nada disso teria acontecido”, denuncia.

Emily acredita que ter levado o caso para as redes sociais e para a mídia é o que causou a reação da organização. Ela também está sendo amparada legalmente pela sua advogada e por Rosane Magaly Martins, advogada do grupo Mães pela Diversidade.

“Estou morando em Blumenau desde janeiro. Todos os dias sofro transfobia na rua, na farmácia, no mercado, na padaria. Essa cidade me violenta todos os dias“, desabafa.

Festival abriu espaço para vítima

Durante o sábado, Emily recebeu uma ligação do coordenador do festival, Fábio Hostert. A proposta foi que a vítima teria dois momentos para expor a situação que viveu, denunciar o crime publicamente e tentar educar a população.

“Eu estava bem ansiosa com a ideia de voltar para o espaço, ainda mais sabendo da carga de ter que falar sobre minha violência para muitas pessoas que não estavam nem vendo o que eu passei como uma violência. Quando fizemos a fala no coral da Furb víamos muitas pessoas torcendo a cara”, relata.

Fábio concorda que o público mais conservador foi menos receptivo à situação. “Muita gente acredita que a reação delas é exagero, que é mimimi. Mas as pessoas precisam ter contato com pessoas LGBT. A informação ta aí. Ser preconceituoso hoje em dia é uma escolha“, opina.

O coordenador reforça que, se tratando de um ambiente democrático, é impossível controlar a reação de cada um no público. Entretanto, considera obrigação do evento de manter essa ponte e levar pessoas trans, pretas e de outras minorias para os holofotes.

“Num próximo evento queremos pensar em formas de evitar isso. Seja oferecendo um banheiro de identidade livre, se for da vontade delas usarem, ou ter um acompanhamento da equipe para intervir na hora caso haja outro caso do tipo”, comenta Fábio.

Desde então, Emily comenta estar sentindo que precisa reviver a situação todos os dias. Seja relatando ela ou lidando com comentários preconceituosos de quem não compreende sua situação. “É um ciclo, parece que eu quem estou errada por expor a violência que sofri”, comenta.

Confira a nota completa do Teatro Carlos Gomes

O Teatro Carlos Gomes informa que não compactua com nenhum tipo de discriminação ou preconceito. O espaço é um local de pluralidade e aberto a todos. A busca é por sempre oferecer um ambiente seguro ao público que prestigia os eventos.

O Teatro Carlos Gomes informa que está ciente dos fatos ocorridos ontem durante a 32° Fitub – Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau e que lamenta profundamente o ocorrido.

Os fatos já estão sendo apurados e a direção e equipe, tanto do Teatro Carlos Gomes como do Fitub, estão em contato com as pessoas afetadas pelo episódio ocorrido e à disposição para auxiliar no que for preciso.

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