Blumenau mantém número de transplantes de órgãos acima da média mesmo com pandemia
Operações que não são tão urgentes foram adiadas, mas poucos pacientes foram afetados
Médicos estafados, falta de leitos e cirurgias canceladas foram apenas alguns dos percalços que os hospitais enfrentaram durante mais de um ano de pandemia. Ainda assim, os transplantes de órgãos em Santa Catarina conseguiram sobreviver com uma redução de apenas 16%.
O índice não é à toa. O estado sempre foi destaque na doação de órgãos e conseguiu manter 40 doadores por milhão de habitantes em 2020 – no ano anterior, o número era de 48. Ainda assim, está muito acima da média nacional, que é de 15 doadores por milhão.
Apesar de uma redução significativa, a Chefe do Setor de Transplante Hepático do Serviço de Transplantes do Hospital Santa Isabel, dra. Maíra Silva de Godoy, aponta que muitas operações que deixaram de acontecer não eram tão urgentes.
“Pacientes renais, por exemplo, conseguem aguardar mais tempo por conta da hemodiálise. Já no cado de uma crise hepática, não tem máquina que funcione como o fígado desses pacientes”, exemplifica.
Outro fator que foi considerado é o receio de alguns pacientes em passarem por uma operação em meio à pandemia. Caso eles estejam em uma situação estável, a equipe repassa o órgão para um próximo paciente e aguarda um momento mais tranquilo.
“A redução de operações não foi significativa ao ponto de prejudicar quem estava na fila. A dificuldade foi organizar a logística hospitalar, mas como nosso foco é em transplantes, temos disponibilidade de UTI e temos uma ala própria, fizemos funcionar”, relata a médica.
Pacientes pós-Covid podem doar?
Como Santa Catarina possui uma cultura bem estabelecida de doação de órgãos, os números não caíram tanto nesse último ano. O que mudou foi o procedimento, já que todos os pacientes que podem passar pelo processo precisam ser testados contra o coronavírus.
Já dentre as 553 vítimas da Covid-19 em Blumenau, a doação se complica. Pelas normas do Ministério da Saúde, a doação só pode ocorrer 30 dias depois da infecção e sem nenhuma complicação. Além de, é claro, o vírus não estar mais ativo no organismo.
A regra vale para qualquer doença infectocontagiosa, o que faz com que seja difícil conseguir aproveitar os órgãos dos contaminados. Dra. Maíra relata que houve casos em Santa Catarina, mas nenhum em Blumenau que ela teve conhecimento.
Capital dos transplantes em SC
Enquanto o transplante de córneas é encontrado em alguns hospitais e o de rins é realizado também pela Associação Renal Vida, os demais transplantes passam pelo Hospital Santa Isabel.
Leia também: Emenda de deputado federal pode tirar do papel construção de ambulatório de transplantes em Blumenau
Segundo a dra. Maíra , os dois momentos nos quais os transplantes precisaram serem realmente suspensos no hospital somaram cerca de três semanas. Por conta do destaque estadual nas operações, a instituição está prestes a completar o 1.500º transplante de fígado.
“Estamos em contagem regressiva, com 1.498 operações. É uma marca super importante, especialmente neste período. Apenas três ou quatro equipes do Brasil todo já realizaram mais de mil transplantes hepáticos em sua história”, conta médica..
Realizando as operações desde o século passado, a instituição rendeu à Blumenau o título de capital estadual dos transplantes de órgãos em 2019. Confira abaixo o número de cirurgias realizadas desde 1980.