Josué de Souza

Cientista social e professor, é autor do livro Religião, Política e Poder, pela EdiFurb.

“Blumenau precisa aprender que não somos uma ilha”

Colunista analisa isolamento político da cidade e a ausência de investimentos dos governos estadual e federal

Blumenau precisa apreender que não somos uma ilha

A explicação mais conhecida do processo de desenvolvimento da região de Blumenau é a da professora Maria Luiza Renaux Hering no livro Colonização e Indústria no Vale do Itajaí. Segundo a já falecida historiadora, o processo de desenvolvimento da região deu-se por uma espécie de ética social que combinava disciplina econômica, moderação social e autocontrole.

Essas características, combinadas com o isolamento geográfico, forçaram a desenvolver aqui uma economia voltada para uma dinâmica local. O isolamento geográfico também estaria baseado na autossuficiência e na ausência do estado nacional.

A explicação da historiadora já foi criticada e não é a única produzida por estudiosos e intelectuais do desenvolvimento local. Porém, a explicação de Maria Luiza Renaux caiu no senso comum e transformou-se em uma espécie de mito fundador da cidade. Nos identificamos assim, meio ensimesmados, acreditando que somos diferentes do restante do Brasil e que a política ou qualquer solução pública é negativa e deve ser desconsiderada.

Uma espécie de paraíso germânico. A terra sem males, de um povo disciplinado onde o sectarismo social político é presente, não só com o restante do país, mas também por vezes entre grupos e classes sociais. Talvez aí encontra-se a gênese do inexplicável fenômeno de que hoje, depois de 168 anos, ainda não temos uma sede própria para o parlamento municipal.

Não estou aqui negando que algumas características acima sejam importantes. Porém, algumas de nossas atitudes talvez devam ser relativizadas ou reconsideradas, sobretudo, a ideia de que somos uma ilha social e política e que não precisamos dialogar com o restante do estado ou do país.

Outra ideia é a de que os temas e problemas públicos não devam ser debatidos com todos. Aliás, problemas públicos se resolvem ampliando a arena pública e ouvindo todos, indistintamente.

Essa negação da política teve uma demonstração no último pleito eleitoral. Nossas lideranças empresariais fizeram uma campanha aberta contra a política local. Sem debate interno e escolhendo apenas algumas pautas, como: “BR-470, sem duplicação não tem reeleição”. A duplicação da rodovia sem dúvida é uma pauta importante, porém, a estratégia jogou contra a cidade.

O resultado foi que, mesmo tendo um deputado estadual nativo da região como o mais votado do estado, nossa representação política é a menor da história. Não só em números de deputados, mas também de efetivação de recursos. Não conseguimos, agora, depois da eleição, nem ao menos ter garantido que nossa região fosse incluída, pelo governo do estado, entre as prioridades de investimentos.

Não iremos retomar nosso desenvolvimento apenas com recursos próprios e sem a participação do Estado ou da União. Nossas lideranças precisam, acima de tudo, apreender a dialogar. Precisamos fortalecer o mecanismo de debate público na cidade. A Câmara de Vereadores é a principal, mesmo que, porventura não gostemos da configuração atual dela.

As entidades de classe e órgãos de defesa de profissão são importantes, mas representam apenas um segmento da sociedade, mesmo que seus membros tenham ligações pessoais com alguma autoridade estadual ou elas representem o conjunto da sociedade.

O pacto dever ser público, assim conseguiremos ter voz frente ao Estado e a União. Devemos debater a cidade de forma moderna, democrática e republicana ou continuaremos a ser uma cidade de interior, regidos por coronéis, comandantes e mitos.

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