César Wolff: “Planejar e controlar o processo eleitoral também é uma função do eleitor”
Colunista defende que participação dos munícipes é essencial para evitar candidatos paraquedistas
Chega de candidatos paraquedistas; política é coisa séria.
Em ano de eleições é fundamental que os munícipes debatam como serão os debates. Sim, planejar e controlar o processo eleitoral também é uma função do eleitor. Não é verdade que a campanha eleitoral pertença aos candidatos. Muito pelo contrário, é um período de provas em que os julgadores somos nós, eleitores. Portanto, o ritmo, o conteúdo e qualidade dos debates devem ser ditados pela sociedade.
É importante que se reflita sobre esses aspectos, porque a prevalecer o que vem ocorrendo no país, é previsível que se estabeleça uma polarização reducionista entre aqueles que se dizem alinhados a um espectro político da direita e de esquerda. E isso precisa ser evitado. Bem entendido, a identificação ideológica é salutar, pois revela atitude e transparência do candidato para com o eleitor. O que deve ser evitado é o deslocamento dos debates para temas que, no mais das vezes, são completamente estéreis no âmbito do desenvolvimento das cidades.
Isso pode parecer até uma obviedade, mas a experiência revela que a classe política tem evitado adentrar nos temos polêmicos locais. O desvio para os embates da política nacional é uma fuga – e, diga-se, covarde. Só tem lugar no manual da velha política onde se formaram os políticos pasteurizados, hábeis em agradar a tudo e a todos, mas a manter tudo como dantes no Quartel de Abrantes.
E quais seriam então os temas locais a se discutir? Isso é fácil. Não precisa ser cientista político para descobrir. Afinal as pessoas vivem nas cidades e não nos Estados ou na União Federal. Tudo o quanto influencia no cotidiano dos munícipes é tema local e apropriado para essas Eleições 2020.
Em Blumenau, por exemplo, tem lugar a discussão sobre a ligação Velha-Garcia, local e construção de novas pontes, anel viário, ar-condicionado nos ônibus e pontualidade desse serviço, criação de vagas de embarque e desembarque para motoristas de aplicativo, plantio de árvores em ruas e avenidas, obra da margem esquerda e Prainha, vagas em creche, incentivo ao empreendedorismo e à vocação das empresas para área da tecnologia da informação e de gêneros alimentícios da grife Blumenau, turismo de negócios, urbanização e segurança dos bolsões de pobreza, desativação do Presídio Regional de Blumenau, despoluição do Rio Itajaí-Açu e sua navegabilidade, concessão da rodoviária e operacionalidade do aeroporto, além das estratégias fundamentais na busca pela excelência de um ensino público de qualidade.
Ter a consciência de que 45 dias de disputa eleitoral também serão insuficientes para tantos assuntos é o primeiro passo. A responsabilidade de trazer esses enfrentamentos à tona é de todos nós, em particular, e da imprensa, em geral. Especialmente agora em que a legislação flexibilizou em muito a chamadas pré-candidaturas, não há motivo para se perder tempo. Assim também se evitará a velha prática político-partidária de escolher candidatos de última hora, que caem no processo eleitoral como que paraquedistas e assim escapam do bom e necessário debate desses temas vitais.
P.S.: A expressão paraquedistas aqui utilizada se dá apenas em razão da força de hábito. Diferentemente dos políticos aventureiros, narcisistas e despreparados, dos quais estamos saturados, paraquedistas planejam, estudam, ensaiam e revisam várias vezes suas ações, especialmente a chegado ao solo.