Cinco características dos luteranos que moldaram a Blumenau de hoje

Legado de Martin Luther, que há 500 anos reformou a igreja cristã, está presente no cotidiano da cidade

Há 500 dias igrejas luteranas de todo o mundo estão promovendo atividades para comemorar o marco de 500 anos da Reforma Protestante. Em Blumenau, no dia 31, haverá um culto na paróquia Martin Luther, às 19h30. No dia 10 de novembro será inaugurado um busto em homenagem ao fundador da igreja atrás do Monumento do Imigrante, no Centro.

A data foi lembrada ao longo do mês em sessões solenes na Assembleia Legislativa de Santa Catarina e Câmara de Vereadores de Blumenau. O Vale do Itajaí é considerado o principal centro luterano do estado que, junto com o Rio Grande do Sul, concentra a maior parte dos cerca de 1,5 milhão de fiéis da igreja no país.

Em 31 de outubro de 1517, o monge Martin Luther fixou na porta de sua igreja, na cidade de Wittenberg (Alemanha), as 95 teses sobre questões teológicas que deram origem à nova religião cristã, inicialmente identificada como “protestante”. Em 1850, Blumenau recebeu os primeiros imigrantes, luteranos, que deixaram fincados na colônia os princípios e fundamentos da igreja alemã.

Desde a chegada dos conterrâneos, o fundador da cidade, Hermann Bruno Otto Blumenau, reunia-se com eles no Galpão dos Imigrantes para celebrarem o culto. Conforme o município foi nascendo, cresceu também a influência da religião em vários aspectos da nova Blumenau.

Abaixo, listamos cinco características locais que têm origem no jeito luterano de enxergar o mundo. Tivemos ajuda da diretor do Arquivo Histórico de Blumenau, Sueli Petry, do pastor da Paróquia Blumenau Centro, Flávio Luiz Peiter, e do vice-pastor sinodal de Blumenau, Sigfrid Baade. Confira:

1) Ênfase à educação
Relatórios escritos por Hermann Blumenau apontam que o colonizador solicitou professores ao governo brasileiro. Sem sucesso, a própria comunidade luterana abraçou a causa, instituindo, com a liderança do pastor Rudolph Hesse, as sociedades escolares.

A influência protestante na educação blumenauense é tão grande que até o começo de 1900 existiam mais de 100 escolas particulares de ensino de língua alemã. Elas contavam com a participação das comunidades evangélicas, muitas delas em funcionamento até hoje, como Barão do Rio Branco e Princesa Isabel.

Sueli conta que nessa época o pastor Hermann Faulhaber chegou a escrever um livro em alemão sobre a história do Brasil para poder ensinar às crianças, já que o governo não mandava nenhum tipo de material didático.

“Essa liga igreja-escola-família é muito forte, e vem de toda essa bagagem”, conclui.

2) A necessidade de poupar
A fama de “alemão mão de vaca”, que até hoje é motivo de brincadeiras na região, advém dos tempos de colonização. Sueli explica que a necessidade de economizar era muito grande nas famílias luteranas, mesmo na fase de industrialização:

“Essa questão é fruto das dificuldades que essas pessoas passaram para construir aqui, para formar seu patrimônio. Eles vieram sem nada e não existia um banco para financiar as dívidas feitas. Compraram terras e tinham prazos para pagar. Quando as indústrias surgem, o imigrante vai para o mercado industrial, mas nunca esquecendo que tem que economizar”.

3) Desenvolvimento econômico
Tanto Hermann Bruno Otto Blumenau quantos os 17 primeiros imigrantes eram luteranos. O desenvolvimento inicial da colônia, e a expansão econômica que viria a seguir, têm relação direta com a ética protestante, em que o trabalho tem protagonismo. Os primeiros comércios e indústrias locais eram administradas por protestantes.

“Eles foram um dos primeiros embriões do processo do desenvolvimento econômico da nossa cidade. Têm muita participação no processo de colonização que se estendeu aos tempos contemporâneos”, afirma Sueli.

Família
A preocupação e rigidez com a formação dos filhos era a principal marca no comportamento das famílias luteranas nos tempos de colônia. Segundo o pastor Flávio, esse cuidado e a importância da união familiar perdura até hoje entre os luteranos:

“Os valores da educação dos filhos são essenciais para a participação na igreja. Precisamos formar bons cidadãos, que tenham ética e respeito pelo próximo, que tenham cuidado com o outro”.

Conforme a professora Suely Petry, também os aspectos econômicos emergiam dos núcleos familiares. Em casa, as mulheres ajudavam a construir uma poupança doméstica vendendo ovos, queijo e manteiga para a vizinhança.

5) Saúde conquistada em comunidade
Foram as mulheres da Evangelischer Frauenverein (Sociedade de Senhoras Evangélicas), organização com mais de 100 anos de existência, as responsáveis pela criação da maternidade Johannastift, em 1923, a primeira de Blumenau. Com doações de empresas, o prédio onde hoje funciona a Casa do Comércio foi erguido para prestar assistências às parturientes.

Willy Sievert/Especial

Os evangélicos também investiram na construção do Hospital de Santa Catarina, que abriu as portas no ano de 1920.

6) Solidariedade
O pastor Sigfrid Baade conta que há 60 anos o grupo caritativo presta apoio à sociedade arrecadando alimentos e roupas para famílias carentes e mobilizando-se em catástrofes, como as enchentes que atingem a cidade esporadicamente.

Essa característica tão blumenauense têm também o envolvimento da cultura luterana.

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