Capa: Uma tradição – Encontro de Cantores 1977, Blumenau, na noite de abertura, contando com a presença do governador de Santa Catarina, Antônio Carlos Konder Reis, Vice Governador Marcos Henrique Buechler, o Cônsul Honorário da Alemanha em Blumenau, Hans Prayon e o Presidente do C.C. 25 de Julho de Blumenau, Harold Letzow. O filho de Marcos Henrique Buechler é um dos atuais cantores do Coro Masculino Liederkranz.

O Canto Coral

O canto coral evoluiu dentro de um grande recorte de tempo histórico, na história das Civilizações. Foram encontrados registros em antigos documentos do Egito e da Mesopotâmia, onde é mostrado a prática coral ligada aos cultos religiosos e às danças sagradas daqueles povos. O canto coral se desenvolveu e se diversificou, além da religião. Inicialmente, somente a música sacra era permitida. Depois a música profana começou a ocupar seus espaços. Irmandades surgiam e se dedicavam exclusivamente à música.

Para essas, o importante não era somente cantar, mas também, estudar. Surgiram escolas de canto, cujos aprendizes eram Dormitoriales – que dormiam nas escolas e que também eram responsáveis pelos serviços da igreja e por grupos externos de amadores.

Os coros de escolas também assumiam compromissos com o canto coral e figural. A expressão máxima da forma coral é atingida no alto Barroco com J.S.Bach e Haendel. A Paixão e a Cantata são, juntamente com o Oratório, os gêneros mais cultivados na época e a função do coro não era mais exclusivamente litúrgica.

A partir dessa época criam associações de canto (associação de cantores – como aconteceu na região do Vale do Itajaí no século XIX) e outras agremiações congêneres que visavam a prática do canto coral. A partir de então inúmeras escolas, fundações, conservatórios, são fundados visando a restauração e renovação da prática coral.

No século XIX, o canto coral passa a ser disciplina obrigatória nas escolas de Paris. Nessa mesma época surge a ideia dos Festivais de Música. A prática coral passa a ter um caráter e compromisso mais social. No século XX, acontece o aprimoramento de determinadas práticas e ocorre o retorno às origens de cada estilo, procurando através da pesquisa, delinear o espírito de cada época, na qual cada obra foi criada. A obra de arte passa a ser um espelho de sua época.

Em épocas passadas, os coros eram mantidos por mecenas e incentivadores que geralmente eram os reis, o Clero e pessoas da elite e nobreza. As sociedades de cantos na Europa, Estados Unidos se proliferaram e contribuíram para que o canto coral se desenvolvesse e novas sociedades surgissem em novas colônias, como em Blumenau, onde também o canto coral é uma tradição atemporal e presente até a atualidade.

A tradição do Canto Coral é uma das heranças deixadas pelos antepassados dos blumenauenses. O gosto pela musicalidade das vozes foi cultivado em toda região do Vale do Itajaí. Era quase um hábito familiar de pais, filhos e pessoas interessadas. Nessa reunião, entre uma conversa e outra, o canto se manifestava. Foi o começo da formação de grupos de cantores que se apresentavam nas igrejas, eventos sociais e o encontro de corais. Gesang Verein Blumenau foi o primeiro coral que surgiu na cidade em 1863. Assim, em cada localidade do grande Vale do Itajaí, o canto coral tornou-se uma presença marcante e organizada, como é o caso da imagem que ilustra esta memória com o Gesang Verein Lira. (Fonte: Secretaria Municipal de Cultura de Blumenau / Arquivo Histórico José Ferreira da Silva / Acervo Iconográfico: Fundo memória da cidade – Lazer – Música – Banda – Cantores – Coral – Diversos cla 9.1.2.2.1ª) Memória Digital.

O canto coral foi trazido pelos imigrantes oriundos da região banhada pelo Mar Báltico, para a região da Colônia Blumenau, principalmente a tradição do coro masculino – Männerchor.

No Brasil é muito comum se planificar a cultura do imigrante alemão como algo uniforme, até mesmo, entre descendentes e estudiosos da arte desse imigrante, concluindo que todo o imigrante alemão que chegou à Colônia Blumenau cantou o canto coral na forma de lazer, em coro masculino. Nas primeiras décadas, chegaram à região, pomeranos e prussianos, que naturalmente eram luteranos – da região Norte do que viria a ser a Alemanha, mais tarde, em 1871. O Sul do país a ser formado – Alemanha – tinham práticas culturais e religiosas, como também, geografia diferentes. Então essa cultura em Blumenau tem ralação direta com a origem das primeiras famílias que assentaram e ajudaram a organizar a comunidade blumenauense, das primeiras décadas de história. Talvez, uma das causas, que justifique a existência do Coro Masculino Liederkranz, com mais de 115 anos, contando com a presença de gerações, em sua história contada até o tempo presente.

Coro Masculino Liederkranz em 1962.

Como toda essa movimentação e muitas sociedades de cantores, não somente em Blumenau, mas na região, em 17 de fevereiro de 1952 foi fundada a Liga Cultural e Recreativa Vale do Itajaí, com o objetivo de promover o Encontro dos Cantores, ou atual Encontro de Corais. Sua primeira Diretoria foi:

  • Oswald Buerger – Presidente;
  • Maurício Germer – Vice – Presidente;
  • Arno Metzger – 1° Secretário;
  • Ralph Kock – 2° Secretário;
  • Carl Lindemann – 1° Tesoureiro;
  • Alfredo Hardt – 2° Tesoureiro;
  • Germano Banati – Orador;
  • Francisco Baumgart – Regente Oficial.

O primeiro evento da Liga Cultural e Recreativa Vale do Itajaí foi registrado em um livreto que encontramos “pendurado” no mural na antiga sala de ensaio do Coro Masculino Liederkranz, aos fundos do palco do salão principal do C.C. 25 de Julho de Blumenau, contendo a programação da Primeira edição de Festa dos Cantores de Blumenau – 18 de maio de1952, 3 meses após a fundação da Liga Cultural Recreativa Vale do Itajaí.

Poema da Liga:
Letra de Alice Bertoli
Música de Francisco Baumgart

Auri-verde pendão Brasileiro
Tu da Pátria Glória e Penhor
A Pátria Nosso Hinos e Cantos
Que entoamos em teu louvor

Capa do livreto da Primeira Festa dos Cantores organizado pela Liga Cultural e Recreativa Vale do Itajaí – Ano de 1952.

Neste documento é possível observar o envolvimento de vários segmentos da comunidade de Blumenau e de outras cidades da região, em torno da Festa de Cantores, coros. Esses recebiam patrocínios de casas comerciais e industriais da cidade e região, cujas marcas estampavam as páginas do livreto, como também recebiam o apoio de autoridades locais, regionais e estaduais. Havia o desfile oficial de todos os participantes, que aconteceu na Rua João Pessoa, entre o comércio de Emil Fischer e o Vasto Verde.
Abaixo uma fotografia do mesmo evento ocorrido anos depois, cujo desfile aconteceu na Rua XV de Novembro.

Informações publicadas – Festa dos Cantores – 1952

Sociedade Desportiva Vasto Verde – Velha – Domingo – 18 de maio de 1952.
Festa dos Cantores realizada pelos grupos de cantores filiados à Liga Cultural e Recreativa Vale do Itajaí, sob o patrocínio dos Grupos de Cantores do Clube de Caça e Tiro “Concórdia”.

Coro Misto Warnow e Coro Misto Benedito Novo.

Maestro Heinz Geyer – nesse ano ainda trabalhava na Sociedade Dramático-Musical Carlos Gomes.

Casarão Gropp – Afinação de pianos. Demolida.

Um professor da Bavária, região onde não se era comum os coros masculinos. Frequentava a Casa São José e deixou um livro maravilhoso para a pesquisa, com dados da Comunidade Altona: Crônica do Vilarejo Itoupava Seca – Altona.
Com relação ao comercial “Pianos Gropp”, é o endereço da casa demolida no bairro Vorstadt – Casa Gropp, para locar um estacionamento.

Programa

  • 8h – Depósito solene de coroas nos túmulos do ex-presidente do Sängerbund Itajahytal, Dr. Hans Pape, do Cel P. C. Feddersen e de G. Arthur Koehler.
  • 9h – Recepção na Estação da Estrada de Ferro (Coros deveriam chegar de trem, como o de Ibirama).

  • 9h30 – Desfile festivo, partindo do negócio Emil Fischer (pai de Vera Fischer), para o Estádio “Curt Hering” (Vasto Verde – atual).

  • 10h – Homenagem a todos os cantores falecidos.

Prólogo

  • Saudação pelo Coro Misto Warnow.
  • Discurso de saudação proferido pelo Sr. João Durval Mueller.
  • Homenagem aos jubilares.
  • Início do Canto dos Coros Religiosos (Língua portuguesa e estrangeira)
  • “Gott zum Gruss” – Encerramento pelo Coro “Concórdia”.

12h – Almoço

Programa
II Parte

  • 13h – Início das apresentações.

Execução de canções populares de autores e compositores brasileiros.
Execução de canções de língua estrangeira.

Grupo de Coro que provavelmente viajou de trem – para estar no Encontro.

Programa
Parte III

  • 20h – Baile.

Abrilhantado pelo Conjunto Musical “Wollinger” (E não se tocava música “gaúcha”)

A partir desta publicação de 1952, conseguimos corrigir nomes da primeira diretoria da Liga Cultural Recreativa Vale do Itajaí, que nos foi passada oralmente e se encontrava com uma composição um pouco diferente desta registrada.

Pelo material impresso, pareceu-nos um evento bem organizado, por uma entidade que acabou de ser fundada e que ainda está em plena atividade no tempo presente – a Liga Cultural Recreativa Vale do Itajaí.

É interessante destacar que nesta data, 18 de maio de 1952, não existia a sociedade  C.C. 25 de Julho de Blumenau; Heinz Geyer regia o grande Coro Misto na Sociedade Dramático-Musical Carlos Gomes e o trem transportava pessoas do interior do Vale do Itajaí para participar de  momentos culturais e de lazer em Blumenau.

Registro para a História.

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
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@AngelWittmann (Twiter)

Referências

  • Liga Cultural Recreativa Vale do Itajaí. Festa dos Cantores 18 de maio de 1952.
  • Memória digital: A tradição do canto coral. Disponível em:https://www.blumenau.sc.gov.br/secretarias/fundacao-cultural/fcblu/memaoria-digital-a-tradiacaao-do-canto-coral78 . Acesso em: 27 de fevereiro de 2024, 16h46.

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