Democratização da informação: conheça a história da Rádio Comunitária Fortaleza, a mais antiga de Blumenau

Rádio Comunitária Fortaleza existe há mais de 15 anos

A Rádio Comunitária Fortaleza Adenilson Teles 98,3 FM existe há mais de 15 anos e é a rádio comunitária mais antiga de Blumenau. Com pautas voltadas a movimentos sociais, integração da comunidade e divulgação cultural, o espaço funciona como meio de expressão dos interesses da população.

De acordo com Valmor Schiochet, professor da Universidade Regional de Blumenau (Furb) no Departamento de Ciências Sociais e Filosofia, e membro do Conselho de Comunidade da Fortaleza, o principal fundamento e objetivo da rádio comunitária é democratizar a informação, não apenas possibilitando o acesso ao conteúdo, mas também o produzindo.

“Em uma rádio comunitária, são as organizações do local que produzem a informação e utilizam da rádio como uma forma de estabelecer a comunicação com a comunidade. A questão fundamental é a democratização do acessoà informação”, explica o professor.

Panfletos de divulgação da Rádio Comunitária Fortaleza Adenilson Teles. Foto: Kamile Bernardes.

Quando se trata do impacto social de uma rádio comunitária, Valmor acredita que consiste no fato de ser um meio com a capacidade de reunir, mobilizar e discutir sobre diversas esferas sociais.

“Temos aqui experiências do movimento sindical, da organização da comunidade, coletivos que atuam nas pautas das mulheres, juventude e saúde mental. Todas essas organizações têm na rádio comunitária um espaço de integração e articulação”, afirma.

Programas

Atualmente a Rádio Comunitária Fortaleza conta com 13 programas semanais, todos escolhidos com o objetivo de manter uma programação integrada aos movimentos coletivos e organizações atuantes no bairro.

Um dos programas é o “Mentes e Vertentes”, que existe desde 2008 na rádio. É um programa focado em saúde mental, cujos entrevistadores são usuários e profissionais dos serviços da Rede de Atenção Psicossocial de Blumenau, especificamente dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS II e CAPS AD III) e da associação Enloucrescer (Associação de Familiares, Amigos e Usuários).

Banner de divulgação. Foto: Kamile Bernardes/O Município Blumenau.

A rádio conta também com alguns programas organizados por sindicatos, como o Sintraseb (Sindicato Único dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Blumenau), em defesa do Serviço Público, e o Programa Sintrafite, em prol dos trabalhadores têxteis de Blumenau, Gaspar e Indaial.

O feminismo também é uma pauta abordada na rádio através do programa “Barulho delas”, que consiste em um coletivo de mulheres falando sobre questões de gênero. A programação completa pode ser conferida através do site da Rádio Comunitária Fortaleza.

Como surgiu?

De acordo com Valmor, por volta da década de 80, o bairro Fortaleza possuía várias organizações comunitárias, pastorais e muita atuação da comunidade.

Em 1997, surgiu a proposta de criação de uma rádio comunitária, e a Associação de Rádio Difusão Comunitária Fortaleza passa a existir, na sede da Associação de Moradores do Bairro Fortaleza. No mesmo ano, a diretoria enviou o projeto para a legalização, no entanto, o processo demorou 10 anos para ser concluído.

Associação de Moradores do Bairro Fortaleza, sede da Rádio Comunitária Fortaleza. Foto: Anna Coirolo.

A rádio foi ao ar pela primeira vez em 2001, porém, neste meio tempo foi fechada e teve todos os equipamentos apreendidos pela Polícia Federal. Até que, finalmente, em 2007, receberam a outorga e começou a funcionar oficialmente, de acordo com a legislação.

Um dos idealizadores e maiores atuantes do projeto era Adenilson Teles, um jornalista sindical, morador do bairro da Fortaleza. Adenilson faleceu aos 33 anos, após um acidente de carro no dia 28 de outubro de 2007. A rádio comunitária leva o nome de Adenilson em homenagem.

Características de uma rádio comunitária

As rádios comunitárias precisam seguir uma série de regras para se veicularem como um meio de comunicação. Uma vez que o intuito deste tipo de rádio é disseminar informações locais e dar voz aos moradores de determinado espaço, a rádio comunitária precisa partir de associações e fundações que não tenham fins lucrativos.

Ao contrário das rádios comerciais, este tipo de rádio não pode emitir propagandas e financiar privadamente as atividades. Ou seja, o funcionamento da rádio comunitária se dá por meio das contribuições de organizações apoiadoras e pela realização de projetos para captação de recursos, como rifas e eventos.

Além disso, pelo fato de a legislação prever uma atuação de fato comunitária, a rádio também possui restrição de ondas. A cobertura costuma ser restrita a um raio de 1 km,  a partir da localização da antena transmissora. Porém, atualmente com a internet e a possibilidade de ouvir on-line, existe uma maior abrangência.

Na Rádio Comunitária Fortaleza, há uma relação muito forte com a Associação de Moradores do bairro, já que o projeto surgiu ali e até hoje a rádio funciona em sua sede.

Associação de Moradores do Bairro Fortaleza (AMOFORT). Foto: Kamile Bernardes/O Município Blumenau.

A Furb também possui grande participação, com mais de 15 anos de colaboração. A rádio funciona para os alunos da universidade como um projeto de extensão, devido ao trabalho educativo e informativo que carrega. Atualmente, os alunos do curso de Jornalismo costumam prestar apoio técnico para o funcionamento da rádio, além de haver a possibilidade de estágio no local para os mesmos.

“A rádio comunitária tem o objetivo de garantir que a população tenha um meio de comunicação mais próximo da comunidade, que organize a atividade de informação e comunicação na perspectiva comunitária”, destaca o professor Valmor.

Desafios

Dentre os desafios enfrentados pela rádio, Valmor explica que manter o caráter comunitário é um dos mais difíceis. “A comunicação é cada vez mais importante na comunidade e existem interesses ao redor dela. Portanto, é um desafio manter este viés democrático, plural e de construção coletiva”.

Segundo Valmor, manter a capacidade operacional da rádio também é uma das maiores dificuldades. Atualmente o estúdio é mantido com apoio voluntário das organizações e dos movimentos. “Manter a estrutura é sempre um desafio, vamos trabalhando sempre com muitos limites de infraestrutura”.

Em 2010, a rádio perdeu todos os equipamentos devido às cheias. Por isso, tiveram que reorganizar todo o material utilizado para as transmissões.

Reestruturação da comunicação

O professor Valmor também destaca o período de reestruturação tecnológica da comunicação que está acontecendo nos últimos anos. Movidos pela acensão das redes sociais, atualmente a diversidade de meios de comunicação é muito grande. Portanto, fazer com que a rádio tenha um espaço significativo e carregue sentido para as organizações que apoiam é também um desafio.

“Estamos em um processo de manter o caráter da rádio comunitária em um contexto de mudanças tecnológicas na comunicação. É um desafio, mas estamos com uma diretoria bastante atuante e organizações participativas. Sempre vamos procurando maneiras de enfrentar as dificuldades e manter essa experiência da rádio como algo importante para comunidade e para Blumenau”, compartilha Valmor.


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