O deputado federal Gilson Marques, de Pomerode, foi o autor do pedido de expulsão de João Amoêdo do Novo. Fundador do partido, Amoêdo anunciou que irá votar em Lula no segundo turno das eleições 2022 e desde então vem sendo muito criticado pelos principais nomes e lideranças do grupo político.

A Comissão de Ética Partidária do Novo aceitou o pedido e desta forma aprovou a suspensão de Amoêdo. Agora, ele terá direito a responder e a expulsão definitiva será discutida.

Gilson e Amoêdo não falam a mesma língua há bastante tempo. No ano passado, por exemplo, discutiram publicamente pelas redes sociais, sobre as decisões que a bancada do Novo estava tomando, principalmente referente a questão de não fazer oposição ao governo Jair Bolsonaro (PL).

Conversei com o deputado com domicílio eleitoral em Pomerode, que falou sobre as motivações que o levaram a pedir a expulsão.

“A denúncia tem vários argumentos e pontos negativos. Mesmo saindo de qualquer cargo no Novo, porque ele não faz mais parte de nenhuma diretoria e sequer foi candidato, é inexplicável como a imprensa dá relevância ao que ele fala. E desta forma, o que ele diz se confunde com o posicionamento do Novo, o que está errado, porque ele é apenas um filiado (…) Como ele já tem um histórico ruim, de várias situações, afirmar que vai votar no Lula foi a gota d’água, foi o que me motivou a fazer o pedido” afirmou Gilson.

Pelas redes sociais, Amoêdo falou sobre a suspensão e processo de expulsão do partido. Ele alegou que o partido havia liberado os filiados a votarem de acordo com a consciência e que existe uma Diretriz Partidária colocando o Novo como oposição a Bolsonaro, e que desta forma, não entendia o pedido. Além disso, ele ainda reafirmou que votará em Lula neste domingo, 30.

Questionei Gilson sobre a resposta. O deputado afirmou ter lido e foi mais uma vez crítico. “Além de tudo, só demonstrou que não sabe interpretar texto. A liberação que o partido publicou não era para fazer campanha para o Lula, porque não faz sentido para os valores do Novo. Os filiados estavam apenas liberados para apoiar Bolsonaro”, afirmou.

A “liberação” que ambos falam é referente a uma nota que o partido divulgou no dia 3 de outubro, um dia após o primeiro turno das eleições 2022. Confira abaixo a nota:

“Diante do cenário eleitoral do segundo turno, o partido se vê na obrigação de reforçar seu posicionamento institucional histórico, totalmente contrário ao PT, ao lulismo e a tudo o que eles representam, e libera seus filiados, dirigentes e mandatários, para declararem seus votos e manifestarem seu apoio de acordo com sua consciência e com os valores e princípios partidários”

Leia também a nota publicada por João Amoêdo, na íntegra:

Recebi com surpresa e indignação a suspensão da minha filiação ao NOVO e o pedido para minha expulsão do partido por ter declarado o voto em Lula no segundo turno. A Comissão de Ética Partidária, por 4 votos a 3, aprovou a suspensão e me concedeu 10 dias para apresentar a defesa no processo de expulsão. Três dos quatro membros que votaram pela minha suspensão foram incorporados à Comissão de Ética nas duas últimas semanas. 

Todos os mandatários que assinaram o pedido de suspensão e a expulsão declararam voto em Bolsonaro no segundo turno, e um deles é coordenador estadual de campanha do presidente. O pedido dos mandatários solicitava que a suspensão fosse efetivada antes do pleito de domingo.

O NOVO, ao final do primeiro turno, mencionou em nota que não iria se posicionar nessas eleições e que os filiados eram livres para votarem de acordo com a sua consciência. O partido tem uma Diretriz Partidária, em vigor, que coloca a instituição como oposição ao governo Bolsonaro nas eleições de 2022. 

Desde março de 2020, quando renunciei à Presidência do NOVO, não exerço qualquer cargo no partido, sendo apenas filiado. Faço questão de frisar, em todas as entrevistas e declarações, que minha opinião não representa o pensamento oficial do partido. Após a minha declaração de voto, sofri ataques do partido, de alguns mandatários e do presidente da instituição. Esses são os fatos.

Difícil, portanto, não concluir que as manifestações públicas do partido quanto ao meu posicionamento, a elaboração da denúncia por aliados do presidente Bolsonaro, a nomeação dos novos integrantes para a CEP e o pedido para uma definição imediata antes de domingo não seja um movimento arquitetado para constranger outros filiados do NOVO a não declararem os seus votos e para garantir a minha expulsão, em um processo autoritário que remete à atuação de Bolsonaro. 

Apresentarei a minha defesa no Comitê de Ética do partido e tomarei as medidas jurídicas adequadas para garantir o meu direito, e de todos os filiados, de se manifestarem de acordo com a legislação brasileira e as regras internas do NOVO. Esse é o ambiente que espero para o NOVO e para o País. Por isso, reafirmo meu voto em Lula no próximo domingo.

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