Dr. Kato (PCdoB) fala sobre saúde, mobilidade urbana e a importância de ouvir a comunidade
Médico concorre a cargo político pela primeira vez e defende educação como base para mudar futuro da cidade
Idade: 46 anos
Naturalidade: São Paulo (SP)
Profissão: Médico
Grau de instrução: Ensino Superior completo
Número na urna: 65
Confira o perfil completo do candidato.
Paulistano criado em Cascavel, no Paraná, mudou-se para Curitiba aos 11 anos, após a morte do pai. Aos 21, se mudou para Pelotas (RS) para cursar Medicina. Desde 2008, mora em Blumenau, no bairro Velha. Integra o Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público de Blumenau (Sintraseb) e o Conselho Municipal de Saúde, além de atuar no Centro de Saúde do Odoso e em consultório particular.
Médico sanitarista, já atuou como microempresário, médico do Samu e tenente médico no Exército Brasileiro. Há três anos, leciona na Furb. Concorrendo a um cargo político pela primeira vez, compõe a chapa do PCdoB com a advogada blumenauense Gianini Maria Morastoni.
Se preferir, ouça a entrevista no podcast do jornal O Município Blumenau no player abaixo:
Em sua entrevista, o médico falou sobre as propostas para a saúde dos blumenauenses, a importância de uma educação pública de qualidade e sua visão sobre as obras da cidade. O candidato também trouxe ideias para a retomada econômica e para o combate às desigualdades sociais.
“Quero ser primeiro na economia, mas também na saúde e educação. Precisamos de uma cidade para todos, não só para carros ou para o Centro. Acreditamos que Blumenau pode se transformar. Com uma gestão ousada, porém simples e eficiente”, denfede.
Assista à entrevista na íntegra:
De que forma seu governo atuaria para recuperação econômica da cidade? Especialmente para conseguir mais vagas de emprego formal.
Já estamos há mais de três anos que o Brasil tem tido um crescimento pífio de 1% em média ao ano, quase recessão técnica. Durante a pandemia, quando fizemos aquela falsa escolha entre salvar vidas ou a economia, não salvamos nenhuma das duas. Frente ao dólar, o real é a moeda no mundo que mais perdeu valor no mundo.
Entendemos que temos três andares da economia. O primeiro é a economia formal, das indústrias e empresas estabelecidas. Mas para isso precisamos de um salto de inovação. Por isso entendemos que o primeiro ponto é uma integração importante com o distrito de inovação da Furb, que irá gerar novas tecnologias. A prefeitura precisa incentivar, diminuir burocracias e dar estrutura para as start ups.
Junto a isso, precisamos de um programa investimento fiscal. Desonerando impostos, mas com uma contrapartida. Para as empresas receberem esse incentivo, elas precisam comprar insumos em Blumenau. Ela não pode receber uma série de incentivos do município e comprar matéria prima de outros estados.
No andar inferior nos preocupamos com os empregados. Imaginamos que incentivando a estruturação de cooperativas, consigamos promover trabalho e renda. E no andar do meio, precisamos incentivar as micro e pequenas empresas com parcerias importantes com as cooperativas de crédito.
Até acho que nos próximos dois anos deveríamos isentar as micro e pequenas empresas de pagar a taxa de abertura. Precisamos estimular a criação de novas empresas e a prefeitura pode abrir mão dessas taxas.
No seu plano de governo, você afirma que “Blumenau não contempla as desigualdades sociais e viver em Blumenau é um privilégio apenas para uma parcela da população”. Muitas pessoas vêm para a cidade de diversas regiões do país. Você acredita que quem vem para cá não tem chances de prosperar? E por que continuam vindo?
Blumenau é uma cidade muito boa para se viver. Estou na cidade há 12 anos e gosto muito daqui. Trabalhar aqui é muito bom. Mas quando você vai para o alto dos morros e vê a condição de moradias que eles têm, ruas que não chega luz, água ou ônibus. As pessoas têm que andar um quilômetro no meio do barro para chegar a um ponto de ônibus. Isso mostra uma desigualdade muito grande.
Apenas a Alameda passou por três reurbanizações nos últimos anos. Nada contra, mas quando você vai para bairros não tem calçada ou rua. Temos que olhar para todos os lados da cidade. Para os bairros mais periféricos. O sistema de transporte hoje não atende todo mundo. Os serviços urbanos não focam na população como um todo, por isso é desigual.
O senhor quer criar o Conselho Geral da Cidade, entre outros conselhos, para discutir políticas públicas da cidade. Isso não faz com que assuntos urgentes levem muito tempo para serem definidos?
Eu faço parte do Conselho Municipal de Saúde. Temos também o de Segurança, Educação, Assistência Social… O problema dos conselhos que temos hoje é que falta representação da comunidade, ela não tem sido ouvida. O Conselho Geral da Cidade é super importante, porque o município faz reuniões com Acib e CDL para definir políticas públicas.
Essas entidades são super importantes e precisam ser ouvidas, mas falta escutar trabalhador, sindicato, associação de bairro… Precisamos escutar todos, mas lógico que ainda precisamos ter agilidade na construção de programas. Na pandemia, por exemplo, a prefeitura acatou o pedido das entidades e liberou o comércio, mas sem transporte público para o trabalhador.
Aqui em Blumenau discutimos muito a alimentação das crianças nas escolas. Você quer incluir o cardápio vegetariano nas escolas. Você acredita que essa é uma opção viável e saudável?
Esses cardápios já estão bem organizados. Hoje temos uma infinidade de alimentos que substituem a carne. Inclusive faltou no plano de governo falar que também pretendemos trazer a alimentação vegana, para incluir as famílias que optam por esse estilo de vida. Queremos dar essa opção.
E quanto à orientação nutricional, temos todos os nutrientes que não vão faltar para uma boa saúde. Também queremos usar muito da agricultura familiar e orgânica nos cardápios. Apenas nos últimos dois anos, o que foi liberado de agrotóxico no Brasil, é uma monstruosidade. A maioria deles são banidos na Europa, EUA e oriente. Sabemos como isso está relacionado a câncer, doenças degenerativas, desenvolvimento neurológico das crianças… Uma dieta um pouco mais saudável para as crianças é essencial para que possamos ter uma cidade mais saudável a longo prazo.
Um dos seus itens no plano de governo é realizar a construção de moradias a partir de uma política municipal no âmbito das políticas habitacionais do governo federal e estadual. Qual seria o papel da prefeitura e como esse projeto seria viabilizado?
Primeiro que a questão de moradia é essencial. Precisamos discutir os planos diretores porque vemos muita especulação imobiliária. Às vezes tem regiões que não entram na regularização. É empurrado com a barriga por muito tempo, os terrenos perdem valor, as empresas compram barato e depois de expulsar os moradores começam empreendimentos imobiliários.
Você pode usar programas federais para estabelecer moradia. Não adianta tirar alguém do Morro do Concórdia e jogar num conjunto habitacional lá na Nova Rússia. Naquele local ele viveu a vida dele, tem amigos, vizinhos, família. Podemos fazer como as incorporadoras, que constroem prédios em terrenos da cidade e dão unidades para o dono do terreno. Mas trazer os moradores da região, desocupando os topos do morro que são áreas de risco.
Na nossa cidade e região há um forte movimento conservador e uma rejeição pela esquerda. Como ter suas ideias e projetos ouvidos e levados em consideração?
Primeiro que o movimento de extrema direita que vemos no Brasil hoje já existia. Assim como na Europa, nos Estados Unidos e no restante do mundo. Infelizmente as ideias fascistas existem em todo lugar. O que aconteceu nesse momento foi que eles saíram do armário. Se há muito tempo era uma vergonha ser considerado nazista, hoje vemos o pai da atual governadora se declarando nazista e nada acontece.
O que acredito que seduziu muita gente, pois é um discurso simplório e fácil. Mas quando vamos ver o que as pessoas querem, elas não são isso. Quando dialogo com as pessoas na rua, elas se dão conta de que defendemos as mesmas coisas. Defendemos educação, saúde e segurança públicos. Estamos tendo que aprender a fazer novamente política de verdade. Estar junto com movimentos sociais, sindicatos e defendendo o trabalhador.
No seu plano de governo você fala em “criar o Programa Municipal de Urbanização, regularização fundiária participativa com objetivo de empoderar as comunidades e permitir um futuro autossuficiente”. O que isso quer dizer?
Quando vamos fazer o programa de moradia, não posso tirar as pessoas de um bairro e jogar em outro. Quando ele se sente empoderado e participa dessa discussão, ele vai falar se pode mudar daquela região para outra, se prefere ficar lá e colocar o que considera melhor. Precisamos entender que a população é muito sábia. Não podemos chegar com um projeto pronto e empurrar goela abaixo.
Por isso que existem tantos conselhos, para que possamos escutar as pessoas. E quando falamos de regularização fundiária, é sobre discutir o plano diretor para ver onde realmente precisamos fazer a reurbanização. Muita gente é retirada de áreas de risco contra sua vontade, mas um arranha céu foi construído às margens do rio mesmo diversos laudos do meio ambiente dizendo que não era adequado.
Precisamos mesclar os interesses da população e de quem vai investir, pois ele também precisa do ganha pão. Quando pensamos nos modelos que estamos estudando, todos precisam ganhar. O empresário tem sua importância, mas quem vive no bairro há décadas precisa ser escutado.
O senhor é médico e defende que a cidade deve seguir um modelo de clínica ampliada para as diretrizes da cidade. Qual a diferença do modelo que é usado hoje?
A clínica ampliada é um conceito de saúde pública muito antigo. O que temos hoje na saúde é uma forma de queixa-conduta. O paciente traz os sintomas e o médico receita um medicamento. A clínica ampliada busca procurar o que causa estes sintomas, incluindo condicionantes externas para compreender o processo de doença e tratar melhor.
Há muitos anos tive uma senhora com dor no ombro, que tinha 1,5 metros e operava uma máquina alta. Orientei ela a colocar um tablado na frente da máquina e a dor passou. Ela já tinha passado por dez consultas e ninguém investigou isso. O remédio muitas vezes não cura.
O trade turístico está preocupado com o futuro após o impacto da pandemia. De que maneira seu governo poderia colaborar para a recuperação do setor de eventos?
Eu acho que o setor de turismo e eventos vai ter um problema ainda no ano que vem. Porque quando pensamos na Covid-19, sabemos que a vacina não vai atingir um grande número de pessoas até o meio do ano. Mas esse setor é essencial. Precisamos de um Centro de Convenções aqui em Blumenau. Eu acho que devemos rever a construção de um completamente novo, pois talvez podemos adaptar a Vila Germânica de forma mais barata.
Assim, podemos abrir um calendário enorme durante todo o ano para congressos médicos, de engenharia, direito… Mas precisamos também ativar o turismo regional. Com a questão da pandemia, grandes viagens serão reduzidas, preferindo o carro ao avião. Precisamos estimular os roteiros que temos na região. Ecológicos, históricos, de aventura, de cerveja.
Precisamos reestruturar os museus e criar um roteiro com todas atrações catalogadas. O turista fica mais tempo na cidade, ativando hotéis, bares, restaurantes e toda a cadeia produtiva que dá suporte para esses setores, além do comércio. O turista ele gasta mais dinheiro que o morador da cidade.
Outro projeto seu para a Saúde é o de criar policlínicas regionais. De que forma isso diferencia do que é realizado pelos AGs? E financeiramente isso é viável para o município?
Primeiro que o AG é um modelo ultrapassado financiado pelo município, de quando não tinha ESF. O ESF tem financiamento federal e municipal, mas só 60% do município tem ESF. Tem que chegar a 100 para dar conta de toda atenção básica. Aí o AG perde a função e pode se tornar uma policlínica regional.
O Ministério de Saúde tem um programa chamado Núcleo de Apoio à Saúde da Família. O NASF tem psicólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais e uma série de outros profissionais. Mas você também pode ter especialistas, como ginecologistas, pediatras, cardiologistas, ortopedista. Assim o paciente não precisa ir para o Centro e facilita a integração entre a equipe, além de melhorar a mobilidade urbana.
Quais obras viárias você considera mais urgentes?
O mais importante é terminar o que já começou. Fico pensando que hoje a prefeitura se tornou uma mera Secretaria de Trânsito. Abandonou a saúde, educação e foca apenas em obras, como se a cidade fosse ocupada apenas por carros. Precisamos pensar em obras para pessoas.
Não adianta encher a cidade de pontes e novas ruas, mas não ter um transporte coletivo de qualidade. É o primeiro passo para uma mobilidade urbana de qualidade. Prefiro usar o dinheiro de uma ponte para construir dez escolas, porque é a ponte pro futuro. Carro é importante, mas a educação é muito mais.
Qual modelo de transporte coletivo o senhor pretende implantar na cidade? O senhor vai continuar com a BluMob?
Eu defendo um transporte coletivo multimodal. Não só carro, não só ônibus. Temos que pensar também nos pedestres e ciclistas operando de uma forma integrada. Precisamos rever o contrato da BluMob. É muito estranho. Imagina se eu alugo uma sala comercial e cobro prejuízo do proprietário da sala.
Não adianta apenas ter o terminal, é preciso saber interligar com inteligência. Ter ônibus constantemente ligando eles. Ter vans para chegar no topo dos morros ou ruas muito estreitas. Precisamos redesenhar o sistema, aumentando linhas e horários, e a BluMob não vai dar conta. Podemos fazer uma nova licitação para novas empresas, ou até criar uma empresa pública de transporte. Isso reduziria também os valores da empresa.
Uma das suas propostas é criar o Hospital Regional de Pronto Socorro nos moldes do de Porto Alegre. Como viabilizar?
Ele é fora do orçamento da prefeitura, mas não é fora da responsabilidade do prefeito. É um diálogo que precisa ser feito com os deputados e governo do estado. É inadmissível sejamos a única região que não tem um hospital regional. Atendemos diversos municípios da região e muitas vezes governo estadual esquece da gente.
O hospital não precisa ser grande, mas poderíamos atender todos os traumas da BR-470 e deixar que os hospitais focarem nas especialidades deles. O Santo Antônio com a oncologia e o Santa Isabel com os transplantes, muito mais rentáveis para eles, que não têm uma estrutura adequada para pronto socorro. Ajudaria os hospitais e a população.
No seu tópico sobre água e esgoto, você afirma que haverá o fim da cobrança da tarifa mínima. Como seria a cobrança?
Eles falam que a cobrança mínima é importante porque é o custo para implantar a rede. Até acredito que as novas instalações precisam ser cobradas, mas na minha casa a rede foi implantada há mais de 40 anos. E eles continuam cobrando a taxa mínima. Quando eu consumo 5 m³ e pago 10, eu me questiono pra que economizar água. Mas se todo mundo consumir 10, vou precisar aumentar a estrutura da Samae.
Além de criar uma cultura de desperdício. Precisamos entender que logo a água vai valer mais que o ouro. No início do ano estávamos atravessando o rio Itajaí-Açu a pé. Logo passaremos pela era dos extremos climáticos e um problema de abastecimento. Precisamos criar uma cultura de economia de água e parar de penalizar as famílias mais carentes.
Qual será sua contribuição para a segurança pública?
Assim como a questão do hospital regional, entendo que não é uma atribuição do prefeito, mas uma responsabilidade fazer isso. Fui militar por três anos como médico do Exército e a gente sabe dos pequenos atritos que existem. As forças trabalham de forma integrada, mas existem rixas entre elas. Precisamos de uma autoridade isenta para chamar todas as forças para conversar e integrar as ações.
As pessoas precisam ser tratadas todas da mesma forma, com rigor e respeito. As blitzes estão sempre concentradas na periferia. Nas quartas e quintas, quando a classe média faz encontro com seus grupos para beber e comer, não vemos blitz no Centro.
Em 1994, o vice-prefeito Vilson Souza queria implantar o trem de superfície aqui em Blumenau. Ele viabilizou todo o projeto, mas pelo alto custo e por conta das enchentes desistiu desse projeto. Mas o senhor quer voltar como ele. Como o senhor pretende implantar isso em Blumenau?
Queremos ser indutores de um projeto regional. Ele não seria apenas de Blumenau. Na questão de mobilidade, muitos moradores dos municípios vizinhos precisam vir para cá todos os dias. Ou passar de carro por aqui para chegar no trabalho. Precisamos pensar nesse projeto para levar para o governo federal. Se ninguém buscar esse financiamento, isso nunca vai acontecer.
O senhor acredita que Blumenau pode ter sua própria indústria de reciclagem?
Deveria ter. O lixo é uma coisa importante e a reciclagem é essencial. Não existe “jogar fora”. O planeta é nossa casa, não tenho como jogar fora. Tudo vai para algum lugar. Precisamos reciclar o lixo seco e pensar numa destinação correta para o lixo orgânico, como a compostagem. Precisamos de uma estrutura de cooperativas e campanhas de educação para as crianças.
Por que o Hospital Universitário da Furb não é usado pela população?
Imaginamos que o hospital da Furb poderia ser a sede desse hospital regional. Já tem uma estrutura adequada, já está construído para isso, precisaria de um financiamento muito menor do estado e seríamos grandes parceiros. Estando em ativa, o hospital ajuda muito também a Furb, pois um hospital escola é essencial para uma boa formação em Medicina.