Estágio no exterior: blumenauense conta como conseguiu vaga na BMW

Especialistas dão dicas de onde pesquisar e como se preparar para as seleções fora do Brasil

André Moeller Gabel não era do tipo de rapaz que conversava durante as aulas no ensino médio. Prestava atenção aos detalhes e não perdia o fio da meada. Conseguia separar o momento de foco nos estudos das horas de relaxamento e diversão.

Terminou o terceirão com excelentes notas e, aos 22 anos, cursando Administração na Udesc, em Florianópolis, decidiu dar um passo além. Depois de muito esforço e de um longo processo seletivo, André está em Oxford, na Inglaterra, fazendo um estágio de seis meses na fábrica da MINI, marca da montadora multinacional de automóveis BMW.

O jovem passou mais de três meses distribuindo cartas de motivação, currículos, preenchendo questionários e fazendo contato com empresas. A BMW era um sonho distante.

“Criei esse objetivo para mim. Passei a entrar nos sites das empresas que eu gostaria de trabalhar, utilizei o Linkedin, entrei em contato com outras pessoas para trocar uma ideia”, lembra.

Fez todo o processo de inscrição pelo site da multinacional, passou pelos testes e chegou à entrevista por Skype, a fase mais tensa e decisiva da seleção. André julgou o próprio desempenho como um desastre. Não conseguia ouvir bem o que os entrevistadores diziam. No mesmo dia ligou para os pais decepcionado.

A BMW não era a única opção. Tanto é que André foi aceito em outra multinacional, a alemã All4Labels (empresa à qual a gráfica Baumgarten se fundiu recentemente). O blumenauense estava no aeroporto, a caminho da Alemanha, quando recebeu uma ligação da BMW convocando-o para ir a Oxford, Inglaterra. Mas isso não fez com que ele precisasse abrir mão da oportunidade na Alemanha, e sim expandir ainda mais a experiência: pôde conhecer e trabalhar nas duas multinacionais.

O estágio

Na gigante automotiva, a função de André é garantir a segurança e a organização dos setores. Ou seja, ao longo da sua rotina de trabalho, faz auditorias nos locais de trabalho, observando quais são as condições dos serviços. Ele anota todas as alterações que precisam ser feitas, materiais que devem ser comprados, móveis que necessitam ser realocados, entre outras questões. O estágio é de 33 horas semanais.

O blumenauense conta que, assim como outras empresas europeias, a BMW sabe que atrai estagiários residentes bem longe da Inglaterra, e assumem custos altos para poder estar lá. A remuneração, portanto, precisaria dar conta das despesas.

“O meu salário de estagiário permite que eu viva bem em Oxford. O custo de vida na cidade é alto, mas as empresas sabem disso e pagam salários equivalentes”, explica.

Para conseguir hospedagem em Oxford, André novamente recorreu à internet. Ele conta que na Inglaterra há muitas opções de aplicativos para encontrar aluguéis. Não demorou muito para encontrar um quarto na residência de um casal nepalês.

“Acho que um dos principais motivos de eu ter colocado essa viagem como meta na minha vida é o aprendizado de poder mergulhar em uma nova cultura, e aprender muito com isso”, comemora.

Dicas do André

1 – Navegue nos sites das empresas que você admira e tem interesse em estagiar ou trabalhar. Estude as vagas, os processos seletivos e as empresas em questão.

2 – Capriche no idioma estrangeiro. Na hora da entrevista, os recrutadores vão tentar perceber se você é mesmo fluente.

3 – Antes de fazer uma entrevista por Skype, organize ideias e respostas. Assim, você não será pego de surpresa. Veja abaixo como o André se preparou.

Idiomas

Quem tem interesse numa experiência internacional precisa, em primeiro lugar, aprender um idioma estrangeiro. Como a maior parte dos processos seletivos ocorre a distância, via formulários e testes online, quando chega o momento de uma entrevista (por telefone ou Skype), a empresa quer ter noção do domínio do idioma – geralmente o inglês.

“De forma geral, eles costumavam fazer perguntas bem abertas. O que eu fazia era sempre tentar manter contato e, sobretudo, estudava as empresas e as vagas antes da entrevista”, relata André.

No momento decisivo, a entrevista por Skype, André espalhava na escrivaninha papéis com frases prontas. Assim, ensaiava as respostas e evitava “brancos” durante as conversas com os recrutadores.

Andre Moeller Gabel/Arquivo Pessoal

Agência federal alemã oferece oportunidades

A Bundesagentur für Arbeit (Agência Federal Alemã de Empregos) é um órgão do governo alemão que faz recrutamentos de profissionais qualificados em outros países, o que inclui o Brasil. A agência procura, sobretudo, engenheiros, trabalhadores da saúde (médicos, enfermeiros…) e com formação em tecnologia da informação.

Todos os anos alguns representantes da agência vêm ao Brasil para fazer um recrutamento. No ano passado o evento aconteceu em São Paulo, mas, de acordo com Sebastián Merle, chefe da equipe de agentes, há a possibilidade de o próximo, que acontece em julho de 2018, também ter seleção em Blumenau.

Pré-requisitos

Merle explica que as funções exigem alemão, além de formação superior na área. Por exemplo, os candidatos a funções de TI devem ter nível B1, de acordo com o Marco Comum Europeu, além de experiência na área. Já os engenheiros precisam de pelo menos nível B2.

Para quem trabalha em áreas da saúde, o processo é bastante burocrático, porque a Alemanha exige a homologação do diploma. O nível de alemão exigido é B2.

Como funciona a seleção

No dia do recrutamento, os agentes da Bundesagentur für Arbeit fazem uma apresentação falando sobre as funções e o amparo que o país dá aos imigrantes. Logo após iniciam as entrevistas.

Os candidatos precisam levar para o evento um currículo em alemão e documentos que comprovem a sua capacitação, como cartas de recomendação de empresas e certificados (principalmente de idiomas). Não há limite de idade para se candidatar.

No evento do ano passado, que aconteceu em São Paulo, 105 profissionais brasileiros foram recrutados, e 10% deles já estão trabalhando na Alemanha. Neste ano, o foco da seleção será trabalhadores com experiência e formação em tecnologia da informação. A data ainda não foi definida.

De acordo com Sebastián, o brasileiro que é contratado ganha um blue card, que é o visto para trabalho na União Europeia. Ou seja, todo o processo é legal, seguro e gratuito.

“Nossa primeira impressão é que encontramos muitos brasileiros motivados e com afinidade pela Alemanha. Os profissionais brasileiros são muito bem vistos no país”, afirma Merle.

Blumenauense conta como é a procura

Cláudio Leonardo Urban tem experiência com tecnologia da informação, trabalha em uma empresa da cidade, e realizou uma entrevista com a agência alemã. De acordo com ele, desde janeiro encaminham, por e-mail, algumas oportunidades de trabalho. Neste momento ele participa de seleções em duas empresas.

Além do conhecimento em alemão, Urban recomenda que o candidato busque aproximar-se do agente da Bundesagentur für Arbeit, para que ele saiba indicar as vagas que casam com o que a pessoa procura.

“É um processo de amadurecimento, como quando você entra em uma empresa e precisa conquistar as pessoas. Não é toda vaga que eu recebo que envio currículo, por exemplo”, explica.

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