Cerca de 20 alunas da UFSC Blumenau denunciam servidor por assédio e importunação

Denunciado já foi alvo de operação da Deic em 2019

Um servidor do setor de Tecnologia da Informação (TI) da UFSC Blumenau foi alvo de denúncias de pelo menos 20 estudantes e ex-alunas da instituição. Todas elas receberam mensagens de cunho sexual e se sentiram importunadas pelo contato insistente.

Os dados das estudantes como e-mail, número de celular e até mesmo endereço foram acessados por ele através do banco de dados da universidade. Por trabalhar na área de TI, o homem de 47 anos têm acesso livre às informações.

Relatos

A maioria das vítimas é jovem, entre o fim da adolescência e início da vida adulta. A abordagem sempre inicia falando sobre o sistema de bolsas da universidade, pelo qual o técnico em tecnologia seria responsável e gostaria de tirar dúvidas. A partir daí, a conversa toma outro rumo.

Muitas contam que inicialmente mantinham o contato por vergonha ou receio de criar atrito com um servidor da universidade. Porém, mesmo quando tentavam cortar a conversa, ele insistia que fosse respondido e repetia as perguntas. Dentre elas o signo astrológico das estudantes, a idade com a qual perderam a virgindade e comentários sexuais.

Reprodução

Algumas chegaram a trancar o curso e sair da instituição por conta da insistência do servidor. Outras se formaram e seguem procurando meios de expor o caso. Mais de 20 meninas se uniram para formar uma comissão e levar o caso à reitoria, mas não ficaram satisfeitas com o resultado.

“Juntamos todas as provas, incluindo e-mails, prints de WhatsApp e até áudios dele. Chegou até a reitoria em Florianópolis, mas até agora nada aconteceu. Deixaram ele de férias remuneradas em casa por uns meses e já voltou. Chegaram a colocar as vítimas frente a frente com ele, dizendo que ele merecia a oportunidade de se defender das acusações”, relatou uma vítima.

A jovem é uma das que preferiu não registrar um boletim de ocorrência na Polícia Militar, como recomendado pela instituição, por ter medo de como ele pode reagir caso ela seja identificada. Porém, denúncias anônimas foram registradas no site da Polícia Civil.

Investigação em andamento

O servidor já foi alvo de investigações do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). Ele foi indiciado em 2019, após a Polícia Civil apreender o notebook e o celular dele. Por ser sigiloso, detalhes do inquérito não foram divulgados. Porém, ele já trabalhava na UFSC na época.

De acordo com o Ministério Público de Santa Catarina, ele foi alvo de um mandado de busca e apreensão pela 10ª Promotoria de Justiça de Blumenau. A 10ª PJ é responsável por casos de violência contra a mulher.

Servidor foi afastado, mas já voltou

Após as denúncias serem registradas na reitoria, a UFSC chegou a afastar o servidor por 60 dias. Em seguida, o prazo foi prorrogado e ele passou cerca de 4 meses afastado, mas retornou ao trabalho após o período. Durante o afastamento, ele seguiu recebendo o salário de aproximadamente R$ 3,4 mil. 

Em nota, a instituição afirmou que “realizou todos os procedimentos administrativos”. As alunas foram orientadas a registrar um boletim de ocorrência e um Processo Administrativo Disciplinar avaliou o caso, que foi encaminhado para a reitoria e aguarda decisão.

Confira a nota completa:

A Universidade Federal de Santa Catarina tem entre seus valores a construção de relações sociais harmônicas, o que implica seu compromisso com políticas de enfrentamento a todas as formas de violência, em especial a violência contra mulheres e grupos vulneráveis.

Ao tomar conhecimento das denúncias, a Direção do Campus de Blumenau realizou todos os procedimentos administrativos previstos em nossos estatutos e baseados em leis:

Encaminhar para a Corregedoria-Geral da UFSC e para a Comissão de Ética;

Oferecer acolhimento psicológico por meio de profissionais de saúde da UFSC;

Orientar as denunciantes que elas poderiam registrar boletim de ocorrência, considerando que as ações podem ser apuradas nas esferas administrativa e judicial (penal) de forma independente.

No que tange à esfera administrativa, a qual compete à UFSC, a corregedoria efetuou a abertura de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD). A comissão do PAD decidiu pelo afastamento preventivo do servidor por 60 dias, prorrogados por mais 60 dias – o período máximo permitido pela Lei 8112/90. O trabalho da comissão já foi finalizado, estando atualmente em fase final de julgamento. Por tratar-se de um processo que corre em sigilo, a Direção do Campus de Blumenau não tem acesso ao relatório final.

O nome das vítimas e detalhes sobre os assédios que cada uma sofreu não serão divulgados para proteger a identidade delas. Já a identidade do servidor será publicada apenas após o processo criminal ser instaurado.


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