A primeira referência pública sobre a importância de se preservar as montanhas íngremes e geologicamente frágeis da Serra do Itajaí partiu não de um ambientalista de carteirinha, mas, sim, do respeitado empresário blumenauense Udo Schadrack (1910 – 1983).

Foi participando de caçadas que o jovem Udo percebeu, ano após ano, o declínio da fauna nativa que sumia a olhos vistos, já no começo do século passado. Parou de caçar. Aos 22 anos, herdou a propriedade de seu pai, localizada no ribeirão Caetés, no morro Spitzkopf, em Blumenau.

De caçador, Schadrack transformou-se em ferrenho defensor da fauna e da flora. Sua primeira providência foi encerrar as atividades da serraria herdada do pai em 1932. Adquiriu mais 100 hectares vizinhos, totalizando 500 hectares que passaram a englobar toda a face Norte do morro. Participou da fundação do Spitzkopf-Clube, um dos mais antigos clubes de excursionismo do país. Até falecer em dezembro de 1983 foi incansável na defesa de nossas florestas.

Em 28 de julho de 1979, Schadrack publicou no extinto jornal A Nação o que já vinha comentando em conversas particulares alguns anos antes: um contundente artigo intitulado ALARMA, no qual denunciava a devastação que se iniciava nas matas das cabeceiras do rio Garcia em Blumenau. O mesmo artigo também foi publicado na página da Acaprena, no Jornal de Santa Catarina, em 5 de agosto do mesmo ano.

“Para provar como é seria e sincera a minha preocupação com o assunto em foco, faço aqui, em público, a seguinte proposta: prontifico-me a fazer a doação ao governo de grande parte da minha propriedade sita no lugar Ribeirão Caetés (…) na condição “sine-qua-non” de constituir a aceitação de tal doação o começo de fato da implantação de um Parque Nacional na referida região”.

E foi assim que começou a ideia de se criar o que, em 4 de junho de 2004, passou a se chamar de Parque Nacional da Serra do Itajaí, um dos primeiros do país a ter seu Plano de Manejo aprovado dentro dos 5 anos depois de sua criação. A regularização fundiária das terras que compõem esse Parque Nacional havia começado relativamente bem, pois, a maioria das pouquíssimas famílias residentes dentro de seu perímetro já foi indenizada. Esse processo, infelizmente, quase cessou no governo Dilma/Temer e, no governo Bolsonaro, andou para trás.

Atualmente, ambientalistas unem-se aos proprietários no quesito indenização mais célere e justa de suas terras, condição fundamental para a implantação definitiva desse Parque Nacional, algo que pode voltar a acontecer no atual governo. Que se resolva também, a questão da ocupação do parque por parte de um grupo indígena, alocando-se-os em lugar mais adequado, fora do Parque.

O Parque Nacional da Serra do Itajaí, dada sua privilegiada localização geográfica, paisagens espetaculares, inúmeros atrativos e vocação total para a preservação e não para outros usos, tem o potencial de ser um dos mais visitados do país, ajudando a alavancar a economia regional, principalmente, das comunidades do entorno.

Que seus 20 anos a serem comemorados no ano que vem sirvam de motivação para alavancar sua definitiva implantação, pois, defender esse Parque significa defender o interesse maior de toda a sociedade, de todas as etnias.

Fac-simile parcial da capa do Jornal A Nação, de Blumenau, contendo parte de artigo publicado por Udo Schadrack em 28 de julho de 1979. Observar o segundo parágrafo da coluna à direita.


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