A extinção do Siga e a conta para os usuários

Por Giulia Godri Machado e Pedro Machado

A Piracicabana aterrissou em Blumenau em um momento caótico do transporte coletivo. Em janeiro de 2016, o município anunciava o rompimento do contrato de concessão firmado menos de 10 anos antes com o Siga. A incapacidade financeira das três empresas que formavam o consórcio de pagar funcionários resultou em paralisações em série a partir do segundo semestre de 2015. Sem salários em dia, motoristas e cobradores cruzavam os braços e se recusavam a sair das garagens.

O município chegou a fazer uma intervenção no sistema, que surtiu pouco efeito. Uma das conclusões tiradas à época, lembra Lairto Leite, diretor de Transportes do Seterb, era de que as empresas não conversavam entre si e não atuavam como consórcio – não faziam compras em conjunto, por exemplo, o que poderia baratear insumos básicos, como pneus e óleo diesel.

Depois de algumas etapas administrativas e jurídicas, a prefeitura acabou optando por cortar o vínculo com o Siga. Napoleão Bernardes, atualmente sem cargo eletivo, era o prefeito à época. Foi dele a canetada que decretou a caducidade do consórcio, um recurso tratado por ele próprio como “última hipótese”.

“Não é uma decisão que tenha um momento. É o conjunto da obra, de tantas e tantas paralisações e da falta de confiança no sistema que levaram ao rompimento do contrato. O consórcio não tinha mais condição de fazer a sua missão, que era transportar as pessoas”, justifica Bernardes.

Líder do consórcio, a Glória, que detinha 66% do sistema, era a empresa do trio com mais dificuldades financeiras e deixou dívidas que até hoje estão sendo pagas. Na época, muitos questionaram se a Verde Vale e a Rodovel não poderiam ter assumido fatia extra do sistema de transporte na cidade. Como o contrato era com o Siga, não havia a possibilidade de o município romper com a Glória e manter as outras duas empresas, afirma Leite.

“Na época, mandamos fazer uma consultoria e percebemos que o passivo da Nossa Senhora da Glória era o dobro do ativo, ou seja, a empresa não tinha como se sustentar. E as outras começaram a ir pelo mesmo caminho”, explica o diretor de Transportes do Seterb.

Napoleão admite que a prioridade, naquele momento, era reestabelecer o serviço com um prestador que pagasse regularmente os funcionários e garantisse ônibus passando no ponto no horário. Isso fez com que a nova concessão, após mais de um ano de serviço emergencial, prestado com ônibus velhos, avançasse pouco, ao menos na relação custo-benefício para o usuário.

O transporte seletivo (os conhecidos “vermelhinhos”, ônibus menores com tarifa diferenciada, sem cobradores e que paravam em qualquer lugar quando acionados) não foram contemplados na nova licitação. As estações de pré-embarque, que permitiam poupar o pagamento de uma tarifa, acabaram desativadas.

Os veículos novos que chegaram não tinham ar-condicionado, diferente de alguns carros do Consórcio Siga. A passagem de domingo, antes a R$ 1 e em alguns casos até gratuita, passou a ter o mesmo valor dos dias da semana.

Despesas que antes eram obrigação da concessionária, como a vigilância dos terminais, também foram assumidas pela prefeitura mais recentemente. Tudo isso pesa na conta final da operação, que ficou mais barata do que era antes.

Essas vantagens levam Éder Lima, presidente do Seterb durante a gestão do ex-prefeito Décio Lima (PT), nos anos 2000, a crer que o antigo consórcio poderia ter um destino diferente. “Se o Siga tivesse os benefícios que hoje a Blumob tem, ele teria condições de se manter”, avalia.

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