Filhas de vítima quebram silêncio após 73 anos de uma das mortes mais misteriosas de Santa Catarina
Em entrevista exclusiva ao jornal O Município, herdeiras do industrial comentam os acontecimentos após a tragédia
Neste sábado, 30 de julho, completam-se 73 anos da morte de Ivo José Renaux, um dos industriais mais emblemáticos da história de Brusque. Ivo foi encontrado morto em sua casa, e a então esposa, Dagmar, foi acusada de assassinato, mas absolvida em julgamento.
Em entrevista exclusiva ao jornal O Município, as três filhas do empresário, Kika, 77 anos, Christina, 76 e Viviane Renaux, 76, quebram o silêncio pela primeira vez à imprensa.
Em entrevista concedida por escrito, na qual as três assinam as respostas às perguntas da reportagem, elas comentam sobre o rumo que a família tomou após a morte do pai e lembram, com tristeza, a dura batalha enfrentada pela mãe, Dagmar Sylvia Krüger (à época dos fatos, Dagmar Renaux), que sempre foi considerada inocente pelas filhas e parentes.
Na época aos 23 anos, Dagmar foi a principal suspeita da morte de Ivo. Porém, após enfrentar 16 horas de julgamento, foi absolvida por unanimidade por sete jurados. O caso foi concluído no dia 30 de novembro de 1950, encerrado por falta de provas. A outra hipotese levantada para a morte foi a de suicídio.
Morte do patriarca
No dia 30 de julho de 1949, às 9h30, Ivo, à época com 32 anos recém celebrados, foi encontrado morto em sua cama na famosa Villa Ida, mansão localizada dentro do terreno da Fábrica de Tecidos Carlos Renaux, em Brusque.
A morte causou espanto entre os moradores de Brusque e foi capa de jornais de todo o Sul do Brasil. A esposa de Ivo na época dos fatos, Dagmar Renaux, foi acusada de ter matado o marido com um tiro na cabeça (ferimento causador da morte).
O jornal O Município detalhou a tragédia em uma matéria publicada no dia 30 de julho de 2020, ocasião em que foi lembrado os 71 anos da morte de Ivo José Renaux.
Memórias e lágrimas
As filhas comentam que o cenário em torno da morte do pai abalou a família e carrega, até hoje, lembranças e memórias ruins. Afirmam que a história foi distorcida diversas vezes e que isso sempre será motivo de tristeza.
“Para nós, a Oma (Dagmar) sempre será inocente e sabemos que para Brusque ela não é. Ela foi uma mãe e avó maravilhosa, muito culta, uma mulher admirável. Para quem conheceu ela e conviveu com ela, sabe que seria impossível ela fazer algum mal para alguém”, diz Monica Renaux, filha de Kika e neta de Dagmar.
A família acredita que o fascínio das pessoas pelo caso nunca foi saciado, o que permitiu distorções da história ao longo dos anos. Elas afirmam que as pessoas buscam resolver um mistério que, para a família, nunca existiu.
Lembranças e vida antes da tragédia
As recordações antes da morte do patriarca não são longas, mas contam um período feliz de uma das famílias mais conhecidas do município. As filhas, que tiveram uma infância privilegiada, relembram momentos vividos na famosa mansão.
“Nós tínhamos entre três e quatro anos, éramos muito novas. A fábrica era na área do fundo da casa e lembramos de encontrar o pai no caminho enquanto voltava do trabalho. É fácil recordar dele brincando com o nosso cachorro e do gramado com canteiros repletos de flores que a mãe adorava cuidar”, recordam as três.
Ivo é neto de (Karl) Carlos Renaux e foi herdeiro do império industrial da família. Lembrado com orgulho pelas filhas, ele é tratado como um homem à frente do seu tempo. Segundo as herdeiras, o legado continua e permanece crescendo no âmbito familiar.
“O pai carregava um nome muito importante e estava ligado a uma das primeiras e principais indústrias têxtil do país. Ele realmente esteve à frente de uma importante etapa da Revolução Industrial do Brasil. Nos deixa saudades e seu legado é perpétuo”, disseram.
Um lugar para recomeçar
No mesmo ano em que Ivo faleceu, a família se mudou para Curitiba. Dagmar, que é natural da cidade paranaense, voltou ao estado com o objetivo de morar com a família. Após 10 anos no Paraná, a família se mudou para Campinas (SP), onde permanece até hoje.
Dagmar morreu aos 80 anos em 2007, deixando três filhas, um filho de um segundo casamento, 10 netos e sete bisnetos, além de uma tataraneta. É lembrada pela família como uma mulher forte, lutadora e protetora. Eles reiteram que não há dúvida de sua inocência.
“Seu legado se perpetua até hoje, com ensinamentos que continuam passando de geração em geração. Uma mulher linda, de fibra, mas que sofreu muito. No entanto, conseguiu dar a volta por cima e formar uma linda família”, dizem as filhas.
Fim das raízes
Construída entre 1910 e 1920, a Villa Ida foi residência da família de Otto Renaux até o ano de 1947, ano em que ele ficou doente e se afastou da empresa. A partir daí, a casa passou a ser residência de Ivo José Renaux, até o ano de sua morte.
Dos anos 1960 até o encerramento das atividades da empresa em 2013, a mansão dos Renaux foi utilizada como ambulatório da Fábrica de Tecidos Carlos Renaux.
O centro industrial da empresa ficou ligado à família até o ano de 2013, quando foi adquirida pela Havan. Conhecida por ser o cenário de tragédia, a casa foi restaurada em 2019.
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