FOTOS – Conheça o blumenauense que está viajando de bicicleta para a Terra do Fogo, na Argentina

Local é conhecido como "o fim do mundo" por ser o mais extremo sul do planeta

Arroz, lentilha e ovo. Isso é o que basta para Luis Felipe Bittencourt sair viajando pela America Latina de bicicleta. Lufe, como é conhecido pelos amigos o jovem blumenauense, tem 24 anos e, depois de algumas mudanças da vida, resolveu que iria conhecer o “fim do mundo”, ou melhor, Terra do Fogo, na Patagonia Argentina, no extremo sul das Américas.

A aventura começou em 2020, durante a pandemia da Covid-19, quando ele resolveu comprar uma bicicleta para poder se locomover na cidade. Lufe usava a bicicleta para ir trabalhar em um postinho de saúde e para a Universidade Regional de Blumenau (Furb), onde estudava Psicologia, até que resolveu começar usar o veículo como lazer. 

Com o passar do tempo, o jovem decidiu que não iria mais fazer faculdade. Saiu do lugar onde morava e resolveu se aventurar pelo mundo com uma mochila. Morou em um acampamento em Rio dos Cedros por cinco meses, depois se mudou, e morou por quatro meses entre praias de Santa Catarina.

Durante estas mudanças, ele conheceu diversos canais de viajantes. Um deles foi o Expandindo Mundos com Luciano e Gustavo, que virou uma inspiração e um incentivo para ele viajar mais longe.

Encontrando caminhos 

Quando saiu de casa para viver essas aventuras, Luis não sabia qual seria o destino final ou por onde passaria. Foi em um dos acampamentos por onde passou que decidiu que, em 27 de janeiro de 2022, iria começar sua aventura, durante uma conversa com um escalador que conheceu. A conversa, junto com o incentivo de primos que também viajavam mundo, acendeu uma chama no jovem, e ele então decidiu que seu destino seria a Terra do Fogo, na cidade de Ushuaia, na Argentina. 

“Meus primos publicaram fotos lindas da Patagonia, o escalador tinha muitas histórias de lá, das montanhas que havia escalado. Mas ir para lá não foi nada planejado. Nunca cheguei a pesquisar os lugares por onde ia passar ou onde queria ir. Queria viajar e conhecer os lugares, esse era meu principal objetivo, não era chegar em algum lugar. As pessoas falavam: ‘lá é bonito e lá é legal’, então eu vou para lá”, explicou Felipe.

Foi assim que ele saiu de Balneário Piçarras e seguiu em direção a Argentina, sem saber qual seria o roteiro que seguiria e sem estar preparado para o rigoroso frio que enfrentaria e outras dificuldades. Ele tinha também um desafio ainda maior, já que não sabia falar espanhol fluentemente. 

De cidade em cidade

Como seguiu a viagem sem muitos planejamentos, Luis passou por diversas dificuldades até se acostumar com a rotina. Nos primeiros dias, passou muito frio por não ter levado roupas suficientes, e sentiu muita vergonha em pedir ajuda, de fazer a própria comida, de tomar banho e de dormir nos lugares, mas como eram necessidades básicas, ele começou a tomar coragem. 

“Eu tinha muita vergonha, mas como morei no acampamento, sabia minimamente como montar barracas e fazer minha própria comida. Os postos de combustíveis viraram meus melhores amigos nessa jornada, já que lá foi onde passei o maior tempo dormindo, lavando roupas e fazendo comida”, conta. 

Ainda no Brasil, Luis tinha um sonho de conhecer a Cidade Escola Ayni, em Guaporé, no Rio Grande do Sul. Sua primeira parada foi na cidade, onde passou 15 dias fazendo um voluntariado no local e desenvolvendo com as crianças e familiares uma forma nova de aprendizado conectada com a natureza. 

Depois foi para Porto Alegre e, dormindo em igrejas, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e rodoviárias, Lufe foi passando de cidade em cidade, até chegar no Uruguai. Lá passou as maiores dificuldades, já que chegou no país sem dinheiro, sem entender a língua e os dialetos falados e sem saber onde iria dormir.

Luis Felipe Bittencurt/Arquivo Pessoal

Por sorte do destino, o jovem encontrou 1 mil pesos uruguaios, equivalente a R$ 100, e assim conseguiu continuar a viagem até a próxima cidade. Lá, ele conheceu pessoas que lhe deram hospedagem, para que ele pudesse se organizar e que lhe ensinaram um pouco do idioma, assim como o aplicativo Duolingo, onde ele fez cursos de espanhol. 

Dessa forma, o blumenauense começou a vender artesanatos na cidade e conseguir dinheiro para alimentação, além de conhecer pessoas que ajudaram com lugar para ficar também. Após 20 dias no país, Luis seguiu a viagem, descendo para a Terra do Fogo. 

Nesse grupo de amigos, Luis conheceu Martina, uma uruguaia que resolveu se juntar na aventura de bicicleta até fim do mundo. Para Lufe, a mudança foi muito grande, mas está sendo ótimo poder compartilhar as belas paisagens com alguém.

“Quando eu viajava sozinho, refletia e digeria as coisas de uma forma diferente Fazia isso sozinho. Eu dormia onde dava. Arroz, lentilha e ovo bastavam para mim, mas também não tinha com quem compartilhar as minhas experiências. Agora, precisamos pensar juntos e nos comunicar melhor, para não gerar nenhum conflito. Sempre precisamos entrar em consenso. É muito mais divertido e alegre compartilhar a viagem com alguém”, relata Luis.

Tendo passado por muitas cidades, Luis optou viajar sempre pelo litoral, de bicicleta, mudando a rota apenas três vezes. A primeira vez, quando foi pela serra do Rio Grande do Sul, quando precisou usar um barco para atravessar Colônia do Sacramento, no Uruguai, até Buenos Aires, na Argentina.

Além disso, quando precisou ir Buenos Aires a Bariloche, precisou usar ônibus, trem e caronas, pois não havia levado roupas suficientes para aguentar o frio. Confira o trajeto que está sendo feito por Luis:

Trajeto que está sendo feito na viagem | Google Maps/Reprodução

Aprendizados e o futuro 

Para Luis Felipe, a viagem está sendo de muitos aprendizados. Desde conhecer pessoas, viajar junto e ter que aprender sobreviver com diferenças, aprender outra língua, na prática, está sendo o maior aprendizado.

Para ele, a ficha da aventura que está fazendo, só caiu, quando ele passou o limite de divisão de fronteiras entre Uruguai e Argentina, então ele ainda tem muitas emoções e experiencias para digerir e processar. Por conta disso, o jovem blumenauense tem se debruçado na escrita para conseguir expressar tudo que sente.

 

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Muito perto de chegar ao destino final, ele e Martina já estão planejando o futuro e as próximas viagens. Logo que chegarem ao fim do mundo, os dois voltarão ao Brasil, para poder planejar tudo. “Preciso parar, ter minha cama para pensar, ter um tempo para digerir tudo o que aconteceu e poder compartilhar com as pessoas toda a minha jornada, quero me aprofundar mais em meus textos, talvez escrever um livro”, relata Luis.

Como registrou muitos vídeos e fotos durante o seu longo trajeto, o jovem quer se empenhar mais em utilizar a internet, Youtube e Instagram, como meio de trabalho, já que não quer parar de viajar tão cedo. Ele e Martina planejam montar um motorhome, ou uma casa sobre rodas, com banheiro, cozinha e tudo que uma casa precisa, para poder fazer trajetos ainda mais longos.

“Fazer viagens muda a perspectiva de vida. Quero fazer muitas ainda, conhecer a Ásia, fazer viagens mais longas. Mesmo que eu vá voltar para o Brasil, quero ficar pouco tempo parado, quero colocar o pé na estrada o mais rápido possível”, finaliza.

Confira registros de Lufe pelo mundo:

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