Gincana Cidade de Blumenau: conheça a história da competição que mobiliza blumenauenses há quase 30 anos

Com uma trajetória marcada pela diversão e empatia, a GCB é uma tradição para centenas de moradores

A Gincana Cidade de Blumenau (GCB) nasceu em 1993, a partir da iniciativa do jornalista Fabrício Wolff. Com quase 30 anos de história, a GCB é referência quando o assunto é provas, diversão e mobilização social.

A gincana se tornou uma tradição que acontece anualmente, sempre em um fim de semana próximo ao dia 2 de setembro, data de aniversário da cidade. Em suas 27 edições, a GCB foi feita por pessoas de Blumenau e para as pessoas de Blumenau.

Apesar de o fim de semana oficial ser o mais esperado, os gincaneiros trabalham durante todo o ano para a realização do evento. Com forte intuito beneficente, cultural e de lazer, a GCB é um dos maiores orgulhos dos blumenauenses.

Gincaneiros em 1993 cumprindo a prova do “Casamento de cabra”. Foto: Arquivo pessoal

Como tudo começou

Fabrício Wolff é natural de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, porém, durante a infância ele se mudou para Lages. Na cidade, costumava participar de uma gincana forte e famosa entre os moradores, organizada pelo Colégio Franciscano Diocesano.

Quando tinha 18 anos, Fabrício veio morar em Blumenau. Em 1993 ele assumiu a Assessoria de Assuntos da Juventude, na prefeitura, e já possuía o intuito de criar uma gincana para a cidade, inspirada na que existia em Lages. No mesmo ano, a ideia foi colocada em prática.

Para tirar a gincana do papel e finalmente concretizá-la, Fabrício contou com a ajuda de seu irmão Nico Wolff, que também trabalhava na prefeitura, e do amigo Cláudio Peixer, que ajudava na confecção de tarefas. Durante os quatro primeiros anos de história, eles foram os principais responsáveis pelos assuntos da gincana.

Em 2003 foi criada a Liga Blumenauense dos Gincaneiros, e a partir de 2004, os assuntos da GCB passaram a ser organizados pela Liga. Composta por um membro de cada equipe participante, a Liga é uma organização de direito privado, sem fins lucrativos e com duração por tempo indeterminado.

A gincana ainda acontece em parceria com a Prefeitura de Blumenau, no entanto, a Liga foi criada para que a GCB pudesse se perpetuar no tempo e, com o apoio do poder público, ter mais liberdade em sua realização.

Nico Wolff, Fabrício Wolff e Carlos Alberto, organizadores da GCB em 1993. Foto: Arquivo pessoal.

As primeiras provas

As primeiras edições costumavam contar com cerca de 30 provas, elaboradas por Fabrício, Nico e Cláudio, além de amigos e familiares que costumavam ajudar com sugestões. As reuniões para construção dos desafios tinham cerca de quatro horas de duração e, segundo Fabrício, aconteciam à base de pizzas, cervejas e muitas risadas.

O jornalista lembra que algumas coisas não saíram como o esperado nas primeiras provas, afinal, não possuíam a experiência necessária para prever o que poderia dar errado. Porém, a cada erro eles se aperfeiçoavam ainda mais e deixavam a Gincana Cidade de Blumenau mais profissional.

Equipe Viracopos durante uma prova da GCB em 1993. Foto: Arquivo pessoal.

Uma das memórias mais engraçadas que Fabrício guarda das primeiras gincanas é a prova do patinete, que aconteceu em 1994. No desafio, as equipes tinham que escolher um dos participantes para dar cinco voltas de patinete na rua Humberto de Campos, que na época não passava carros. Porém, para dificultar, a cada volta que a pessoa dava, tinha que virar um copo de cerveja.

Fabrício conta que o vencedor vomitou ao final da prova. Com isso, perceberam que misturar álcool com as provas não era uma boa ideia. Outro marco dos primeiros anos da gincana foi a prova em que as equipes tinham que colocar a maior quantidade de participantes possível dentro de um Fusca. O recorde foi de 16 pessoas no carro.

“Tentávamos equilibrar o estilo das provas, mas tudo que desse para se divertir, tivesse um intuito beneficente ou histórico, nós fazíamos”, explica Fabrício.

Gincaneiros na Prova do Bebê Gigante em 1993. Foto: Arquivo pessoal.

O objetivo por trás da diversão

Com a idealização, Fabrício visava unir a juventude para assumirem responsabilidades. Ele queria que gincana pudesse divertir as pessoas, mas também desejava que fosse um instrumento capaz de ajudar no desenvolvimento dos participantes e de Blumenau.

O jornalista relembra o quanto se dedicava para que ao fim de cada gincana as equipes  tivessem a sensação de dever cumprido e pudessem afirmar que são capazes de fazer um evento daquele tamanho.

Equipes vendendo artesanato em frente ao Teatro Carlos Gomes em 1993. Foto: Arquivo pessoal.

As primeiras equipes

Na primeira edição, havia cerca de 350 participantes, divididos em nove equipes. São elas: Ecossistema; Capitão Caverna; Viracopos; Blu 143; Por Pouco; SOS; Solimarcha; Bel’água; e Os Piratas.

Nas gincanas posteriores algumas equipes deixaram de existir, ao mesmo tempo que novas surgiam. No entanto, apenas uma equipe original de 1993 se mantém ativa até os dias atuais, participando de todas as edições da gincana.

Equipes reunidas na GCB. Foto: Arquivo pessoal.

Equipe Capitão Caverna

Inicialmente, a Capitão Caverna era apenas um grupo de amigos que promoviam encontros semanais para descontrair. O nome originou-se da aparência de um dos integrantes, que lembrava o personagem principal de um desenho animado.

Com o lançamento da primeira gincana, em 93, o grupo decidiu participar, apenas pela diversão. Todavia, com o passar dos anos, novos integrantes chegavam e cada vez mais o espírito competitivo ia tomando conta dos participantes.

A Capitão Caverna é Heptacampeã da GCB e tem Ricardo Pelegrini, apelidado de Braço, como coordenador da equipe. O gincaneiro participa desde 1999 e, no ano de 2010, ganhou a responsabilidade de organizar os demais integrantes.

Para Ricardo, o melhor da gincana são os encontros com os amigos e as festas. Porém, ele se mantém focado no objetivo de ganhar a competição.

“Tenho dentro dessa equipe minha segunda família, com certeza. Adoro os amigos que fiz e as festas, mas estaria sendo hipócrita se dissesse que meu objetivo não é ganhar”, comenta Ricardo, aos risos.

Equipe Capitão Caverna atualmente, com 150 integrantes. Foto: Arquivo pessoal.

Organização profissional

A organização das equipes era uma das coisas que mais o impressionava Fabrício Wolff durante os anos que coordenava o evento. Ainda que nos primeiros anos não fosse tão organizado como é atualmente, as equipes já demonstravam um nítido profissionalismo.

Fabrício conta que, a fim de se tornarem mais fortes para a competição oficial, as equipes criavam mini-gincanas. Por isso que, até os dias atuais, há atividades durante o ano inteiro, não da gincana em si, mas das próprias equipes.

“As equipes perceberam que para vencer, tinham que se organizar. Com isso, a coisa tomou um rumo fora do comum. Eles faziam esses treinamentos o ano inteiro para se auto-desafiar e conseguir o melhor resultado na gincana oficial”, conta Fabrício.

Gincaneiros em reunião em 1993. Foto: Arquivo pessoal.

A competição pela competição

No primeiro ano que a gincana aconteceu, os organizadores foram surpreendidos com o apoio e patrocínio de uma empresa local, que ficou responsável pelos prêmios. A premiação motivou ainda mais aqueles que tinham interesse em se tornar gincaneiros, uma vez que a grande recompensa para quem conquistasse o primeiro lugar era uma lancha, e uma motocicleta para a segunda colocação.

Entretanto, no ano seguinte, a empresa faliu e a GCB ficou sem o patrocínio principal. Os coordenadores, preocupados em fazer com que a gincana continuasse, realizaram uma reunião com os líderes de cada equipe participante, para verificar se os gincaneiros teriam interesse em participar da edição de 1994, mesmo sem premiação para os vencedores.

Gincaneiros competindo em uma das primeiras edições da GCB. Foto: Arquivo pessoal.

Porém, de acordo com Fabrício, as equipes queriam participar da gincana de qualquer forma, independente da premiação. No fim, os próprios participantes se uniram para conseguir um novo patrocínio e levantar o dinheiro para haver um prêmio para os vencedores.

Em 94 a premiação foi menor que no ano anterior, em contrapartida, a animação e força de vontade dos gincaneiros aumentava a cada prova.

“O maior estímulo é a competição pela competição. Nunca foi pelo dinheiro, mas sim pela vontade de poder dizer que ganhou, pela sensação de dever cumprido. A realização do gincaneiro é conseguir cumprir as provas”, afirma Fabrício.

Equipe Viracopos na GCB de 1993. Foto: Arquivo pessoal.

De geração para geração

Em 29 anos de história e 27 edições, a GCB divertiu os blumenauenses, construiu amizades e ajudou muitas pessoas. De acordo com Fabrício, em muitas famílias da cidade, o título de gincaneiro é passado de geração para geração.

“Tem muita gente que participou da gincana e depois os filhos e netos também participaram. Muitas famílias blumenauenses contam com pelo menos três gerações envolvidas na GCB”, conta o jornalista.

Equipes da GCB reunidas em uma das primeiras edições da competição. Foto: Arquivo pessoal.

Motivo de orgulho

Fabrício fala sobre a gincana com o ânimo e paixão de alguém que acabou de realizar um sonho. Apesar de terem se passado quase três décadas de sua criação, a GCB continua sendo um dos assuntos preferidos do jornalista. Para ele, ter a gincana ativa na cidade, acompanhar as mobilizações das equipes e perceber o sucesso que se tornou é motivo de muito orgulho.

“Eu sempre brinco que a Gincana de Blumenau é como um filho, afinal, vimos ela nascer e trabalhamos muito para que acontecesse da melhor forma possível. O resultado disso tudo é a própria história e sucesso da gincana nesses quase 30 anos”.

Participantes da GCB em 1993. Foto: Arquivo pessoal.

Homenagem

Para os gincaneiros assíduos, não tem como falar sobre a história da GCB sem mencionar o nome Gilson Soares. Gilson faleceu em 2021. Ele era integrante da equipe Lambda Lambda, ajudava na organização e teve uma atuação muito importante no início da Liga dos Gincaneiros.

Gilson era conhecido por todos os gincaneiros, que guardam seu nome na lembrança com muito afeto e gratidão. Ele construiu muitas amizades durante os momentos de integração da gincana e era muito importante para a organização e descontração do evento.

Gilson Soares, participante da GCB. Foto: Arquivo pessoal.

“O Gilson era uma personalidade dentro da gincana. Uma pessoa de bem com a vida e que tinha amigos em todas as equipes. Ele com certeza fazia com que a gincana fosse um momento ainda mais legal de se participar”, afirma o vice-presidente da Liga dos Gincaneiros, Ricardo Caresia.

 

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