Josué de Souza

Cientista social e professor, é autor do livro Religião, Política e Poder, pela EdiFurb.

“Discurso do presidente na ONU é nada mais que a expressão da política internacional de seu governo”

Colunista critica a postura de Jair Bolsonaro em discurso na ONU

Coices e relinches triunfais

Nesta semana o presidente Jair Bolsonaro foi à ONU deixar corado de vergonha a população nacional. Sim, qualquer patrício decoroso reprova as palavras proferidas pelo nosso presidente em sua estreia na Assembleia Nacional das Nações Unidas.

Bolsonaro errou em tudo, no tom do discurso, nas críticas desnecessárias a aliados importantes, e sobretudo pela quantidade de fake news que proferiu durante os pouco mais de 20 minutos que discursou.

Sim, ele conseguiu falar mais do que os 8 minutos, para nosso desespero. Aliás, o discurso do presidente é nada mais do que a expressão da política internacional do seu governo. Uma subserviência total ao governo Trump e ao capital americano e de um completo isolamento com o resto do mundo.

A história de Brasil acima de todos ficou perdido em algum momento de sua campanha eleitoral. Talvez nem lá, porque ainda em evento de campanha o capitão já estava batendo continência à bandeira americana.

A performance internacional muito lembra uma crônica escrita por Nelson Rodrigues em 1966. O cronista carioca analisa as posturas dos cronistas esportivos que fizeram a cobertura da Copa de 1966 e que, segundo ele, faziam um imperialismo às avessas.

“…ponha um inglês na Lua. E na árida paisagem lunar, ele continuará mais inglês do que nunca. Sua primeira providência será anexar a própria Lua ao Império Britânico. Mas o subdesenvolvido faz um imperialismo às avessas. Vai ao estrangeiro, e, em vez de conquistá-lo, ele se entrega e se declara colônia.”

A estes, Nelson Rodrigues dizia que não deveria ser permitido viajar: “Saiu daqui bípede e voltou quadrúpede. Desembarcou no Galeão soltando, em todas as direções os coices triunfais. Por aí se vê que o subdesenvolvido não pode viajar. Não pode nem ultrapassar o Meier, a partir de Vigário Geral já baixa uma súbita e incontrolável burrice.”

Ultrapassar o Meier é o problema central de Jair Bolsonaro. Enquanto destilava seu estilo violento, mentiroso e preconceituoso na controversa política carioca e nos corredores do baixo clero do congresso ele passava despercebido. Muitas vezes era tratado como piada e desdém.

O problema agora é que a grosseria e a truculência é na tribuna da Assembleia Nacional das Nações Unidas, na ONU. A piada agora, somos nós. Depois de seu discurso, Bolsonaro não recebeu aplausos. Aqui, com certeza não lhe faltará.

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