Josué de Souza

Cientista social e professor, é autor do livro Religião, Política e Poder, pela EdiFurb.

“Educação no Brasil e em Santa Catarina vive tempos difíceis”

Colunista comenta sobre decisões de Bolsonaro e Moisés para a educação

Balbúrdia na educação

Fevereiro é marcado pelo início do calendário escolar. No Brasil em que o presidente tem como guru um astrólogo que orgulha-se de ter fugido da escola no quarto ano do ensino fundamental, o ano letivo é incerto. A realidade do Ministério da Educação é o retrato do governo Bolsonaro na área. Sob o governo do mito, MEC reduziu-se a um campo de peleja ideológica. Uma espécie de cruzada contra a esquerda. A chamada guerra contra o marxismo cultural. Tudo isso com inspiração nos delírios do guru da Virgínia.

Não é preciso ser um especialista para saber que é através da educação que uma sociedade transmite para as próximas gerações seus valores e conhecimentos socialmente produzidos. É claro que a educação brasileira sempre teve dificuldades.

Porém, a narcotização ideológica bolsonarista tem levado a área mais importante do estado brasileiro à inércia e destruição. Uma balbúrdia. O exemplo latente foi a incapacidade do governo federal em realizar com êxito o Exame Nacional do Ensino Médio.

A importância do exame não está apenas no fato que a nota é utilizada por estudantes para entrada no ensino superior. Ele é uma excelente forma de avaliação do desempenho da política pública. Segundo os próprios servidores do MEC, os resultados da prova de 2019 não são confiáveis. Para justificar sua incompetência, o governo chegou a falar em sabotagem da prova.

O que mais preocupa é que 2020 é um ano decisivo para a educação. Neste ano o congresso terá como uma das principais pauta a necessidade de renovar o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Esse fundo, foi criado em 2006, e tem como objetivo aumentar os recursos na educação. Sua importância é tamanha que sete, em cada 10 municípios tem mais de 60% dos seus gastos em educação financiados pelo fundo.

Graças ao Fundeb, por exemplo, foi possível ao presidente anunciar o aumento de 12,84% para os professores da educação básica. O aumento que foi cantado em prosa e verso pelo presidente em uma de suas transmissões ao vivo. Sim, a única medida positiva do governo Bolsonaro para a educação não foi ele que fez. Até agora, o governo não mandou a proposta para o congresso de renovação do Fundeb e os sinais que tem emitido é que deve extinguir ou alterar o modelo. Especialistas e profissionais da área temem a não continuidade da medida.

Aqui em Santa Catarina o cenário não é diferente, mesmo distanciando-se politicamente de Bolsonaro, o governador Moises, trata a educação com desdém. Enquanto compra carros de luxo para uso dos técnicos da Secretaria da Educação, o governador alega que não tem condições de repassar o aumento da lei do piso aos professores. Somando a ausência de reposição de 2019, a categoria amarga mais de 16% de defasagem salarial. Dias difíceis para a educação. Não por acaso, proliferam-se no país medidas de censuras a livros.

O antropólogo Darcy Ribeiro, dizia que a crise na educação brasileira não é uma crise, mas um projeto. No governo dos milicianos, esse projeto alarga-se. A ausência e projeto é o próprio projeto. Um governo eleito com base em Fake News e delírios ideológicos só pode ser contra o saber. O passivo deste descaso será alto. Um triste saldo para atual e futuras gerações.

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