Josué de Souza

Cientista social e professor, é autor do livro Religião, Política e Poder, pela EdiFurb.

“Está na hora de fazermos um ‘reset’ na Câmara de Vereadores de Blumenau”

Para colunista, causou estranheza sessão da Câmara realizada em videoconferência, mas dentro dos gabinetes

No Brasil é comum o uso de estrangeirismos para explicar situações do cotidiano. Durante a pandemia não é diferente. Para conversar sobre o tema hegemônico do momento, precisamos dobrar a língua. Pior, a polarização já existente na sociedade passou a ser traduzida por estas palavras. Quem está em home office ou não. Quem é a favor do lockdown ou não. Quem recebeu o voucher, se tinha direito ou não.

Não quero aqui ser uníssono ao quixotesco com Major Quaresma de Lima Barreto. Até porque a pureza nacionalista é uma obsessão advogada pelo nosso chanceler em seu ufanismo olavo-bolsonarista. Aliás, um nacionalismo mequetrefe, já que Bolsonaro abandonou seus correligionários catarinenses para almoçar com o embaixador americano. Um almoço em comemoração à independência deles. Parece que o Brasil é acima de todos, mas Santa Catarina em meio a uma catástrofe ambiental, não!

Destaco estranheza com esse nosso costume de explicar coisas que já não são simples em termos estrangeiros, porque o home office virou assunto da política local. Na sessão do parlamento municipal da última quinta-feira, nossos edis votaram mudança do horário das sessões para o matutino, combinado com o retorno das sessões remotas. A medida foi justificada forma de combate ao crescente das contaminações de Covid-19.

A medida, por mais que seja coerente, causou estranheza, sobretudo, porque os funcionários e assessores vão continuar frequentando o prédio na rua das Palmeiras. Muito mais, porque, nesta terça-feira, 7, alguns vereadores participaram da sessão remota dentro dos gabinetes. Soou muito mais que os nobres vereadores querem mais tempo para dedicar-se à campanha de reeleição.

Na verdade, com raras exceções, a atual composição da Câmara de Vereadores se esforça para apanhar da opinião pública. O home office de faz de conta é apenas o capítulo do ocaso de uma melancólica legislatura. Durante esses quase três anos e meio, houve de tudo.

Traição e eleição polêmica para a mesa diretora; tentativa de censura a escolas e livros; cortes em direitos trabalhistas dos professores; proposta de grade em pontes para evitar suicídio; lei proibindo evento de zoofilia; sessão encerrada por falta de quórum. Sem contar a subserviência ao poder executivo.

Não sou partidário de patrulhamento aos vereadores, pelo contrário, penso que em tempos de manifestações antidemocráticas, defender a instituição do legislativo municipal é uma necessidade. E tenho feito isso aqui, sistematicamente.

Porém, nossos vereadores devem respeitar os cargos que ocupam. Está da hora de fazermos um reset na composição da Câmara de Vereadores de Blumenau.


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