Capa: Tipologia monumental, parte do patrimônio histórico arquitetônico regional. Outrora, parte do grande território da Colônia Blumenau, foi condenado pela ausência de um estudo maior sobre o impacto na paisagem, por aqueles que executaram a construção da rodovia à frente dele.

Como acontecia com muitos que transitavam na antiga estrada construída para chegar até a Colônia Dona Francisca, a partir da rede de caminhos construídos pelos pioneiros da Colônia Blumenau no século XIX, vislumbramos uma monumental construção que chamou nossa atenção. Paramos para fazer, sem conhecer detalhes, um registro para a história. Porém, quando estudamos com mais apuro, descobrimos que o patrimônio se encontrava condenado.

Lembramos que este caminho foi construído por iniciativa de Hermann Bruno Otto Blumenau – fundador da Colônia Blumenau, que pretendia interligar sua colônia ao porto de São Francisco e à Colônia Dona Francisca – atual cidade de Joinville. Parte desta estrada antiga até a Colônia Dona Francisca, é a atual SC 110, que liga Pomerode à nucleação que se desenvolveu às suas margens, quando ainda era estrada colonial – Timbó.

Também relembrando, que a nucleação urbana de Pomerode, na época denominada Pommer Oder, cujo nome foi trocado na época do Nacionalismo e posteriormente resgatado como Pomerode, foi estrategicamente fundada no caminho para o porto marítimo de São Francisco do Sul, o qual passava pelas Colônias de Itapocu, Humbold e Dona Francisca.

Mapa feito por José Deeke em 1905, que foi utilizado pelo pesquisador alemão e engenheiro Wettstein e parte de sua publicação de 1907. O mapa ilustra o território da Colônia Blumenau, que até 1934 somava 10.610 km². Atualmente Blumenau tem 519,8 km² de área. Observar, também, a presença da ferrovia – rumo ao porto – até onde chegava a estrada – intermodalidade.

Timbó teve início, mais precisamente, em 12 de outubro de 1869, 19 anos após a fundação da Colônia Blumenau, quando chegaram ao local da foz do Rio dos Cedros no Rio Benedito, as primeiras famílias de imigrantes alemães. Chegaram para ocupar os lotes coloniais da região. Todo este trabalho foi coordenado a partir do Stadtplatz da Colônia Blumenau. Entre estas famílias que chegaram, estava a família de Friedrich Donner, que se tornou uma liderança local e é considerado o seu fundador, dentro da história da Colônia Blumenau.

Neste caminho histórico encontramos o casarão com uma arquitetura monumental que despertou nossa atenção pela beleza plástica arquitetônica – aparentemente, nesse momento, em 12 de fevereiro de 2019, já se encontrava sem uso – localizado em uma região sem muitas outras construções, configurando um quadro paisagístico muito bonito e que nos permitiu delinear o cenário do recorte de tempo, no qual foi construído.

A arquitetura tem linhas características da casa do imigrante alemão, construída, mais ou menos no início do século XX, década de 20 e 30, com o aproveitamento do sótão, a partir de um determinado tipo de mansarda criada pelos franceses, muitas vezes construída com estrutura enxaimel, em outras vezes, autoportante.

Observamos que a mansarda – tem dois pavimentos. É uma tipologia muito comum em determinadas regiões da Alemanha – até mesmo, no presente, considerando também, que o aspecto histórico das tipologias arquitetônicas vem sendo, neste país, repassado de uma geração a outra sem grandes mudanças.

O Mansarddach é encontrado na região do Vale do Itajaí, tanto em casas com acabamentos mais caros e ricamente adornadas, como também, em casas mais simples, construídas totalmente com o material abundante e mais em conta, na época – a madeira.
A cobertura do casarão, provavelmente é de estrutura de madeira (como se fazia no período em que foi construída) coberta com telhas planas ou germânicas. As aberturas são de madeira. Volumetria marcada com a presença da tradicional varanda, onde a família apreciava estar, ao final do dia, para contemplar, descansar e conversar, após um dia de trabalho.

Sítio

O sítio no qual estava assentado o patrimônio ainda apresentava indícios do layout original da propriedade colonial da família do pioneiro alemão, contando com a presença dos ranchos, espaço do jardim (espaço entre a casa e a estrada – característico afastamento), da horta, pomar e mais distante, da roça.

Layout aproximado da propriedade colonial na região, espaço para o plantio, estocagem e produção de alimentos a partir do aproveitando da matéria prima excedente da propriedade, como embutidos, conservas, queijos, nata, doces variados, etc

Não temos muitas informações da história desse patrimônio histórico-arquitetônico da cidade de Timbó, antiga Colônia Blumenau. Seu construtor foi  Alvin Starke. Pela publicação de sua fotografia nas redes sociais e de acordo com a historiadora da cidade de Timbó – Jucélia Rocha Barbosa, a edificação estava localizada no bairro São Roque.

Também de acordo com o depoimento da indaialense Zenita Henkels, o violinista Valter Anklam (1918 –  – ), residia na casa, quando era vivo. Valter era nascido em uma família residente de Timbó e provavelmente fazia parte da Comunidade luterana de Mulde Alta. Seus pais foram Carl Anklam (1883 – 1958) e Minna  Anklam (1891 – 1971), solteira Wochholz.

Documento de nascimento de Valter Anklam.
Carl Anklam, nascido em 6 fevereiro 1883 e falecido em em 16 setembro 1958. Minna Anklam nascida em 21 de novembro de 1890 e falecida em 10 de março de 1971. Cemitério Luterano Bairro São roque – Timbó SC. Fonte: Bilion Graves.

Há muitas lacunas vazias nessa história. Até aqui, apresentamos uma pequena amostra – que poderá receber mais contribuições.

Em 29 de setembro de 2023 recebemos o seguinte depoimento:

“… o Sr. Alvin Starke, meu avô por parte de mãe, foi que construiu a casa na rua Pomeranos que depois virou propriedade do Sr. Valter Anklam, casado com Úrsula Starke, filha do Sr. Alvin Starke. Ele tinha uma padaria nesta localidade, plantava arroz e criava gado.” Ingelore Laemmel

Quanto à edificação, além de sua beleza plástica arquitetônica e histórica, há a presença de elementos do entorno, na paisagem, como lembrou o pesquisador indaialense Luiz Carlos Henkels – e como anteriormente apontado, está a estrada.

Na época de seu traçado pioneiro, foi um dos importantes caminhos projetados e idealizados pelo fundador da Colônia Blumenau – Hermann Blumenau, para interligar as duas colônias – Blumenau e Joinville e também, criar um acesso à outra porta marítima à região que é o porto de São Francisco, por onde chegaram centenas de imigrantes para se fixar em localidades de toda a região.

São Francisco do Sul – Século XIX.

Aconteceu – sob o aspecto cronológico

Em 2 de fevereiro de 2020 foi detectada uma movimentação de pessoas no entorno do Patrimônio Histórico Arquitetônico regional que nesse momento, já se encontrava sem portas e janelas. Movimentação de pessoas, também na propriedade.
Em 3 de fevereiro de 2020 – Ingelore Laemmel confirmou que a casa está localizada na comunidade de Pomeranos e que seu avô Alvin Starke foi quem a construiu. Informou, que por estes dias, foi vendida, o que explica a movimentação em torno da mesma.
Em 8 de fevereiro de 2020, Juliana S. passou na frente da casa, quando se deslocava de Timbó para Pomerode, e observou que ela estava alterado. Juliana S. parou e fez registros fotográficos que nos encaminhou posteriormente. Seu registro mostra a casa sem aberturas e também, sem o assoalho – nesse tempo, considerado material nobre. De acordo com informações que recebemos, o assoalho foi duramente comprometido pelas águas retidas no terreno. Alguma coisa foi modificada no sítio.

Em 9 de fevereiro de 2020, um dos vizinhos do casarão histórico, nos encaminhou um depoimento que esclareceu algumas questões sobre sua história e apontou ações definitivas e determinantes para seu futuro.
A casa ficou seriamente comprometida após a pavimentação asfáltica da rodovia SC 110, construída mais alta do que a mesma. A execução não previu a drenagem e escoamentos das águas fluviais, acumulando a mesma no terreno onde a edificação estava edificada. O processo de deterioração foi imediato. Com isto a casa, sempre foi invadida pelas águas quando a vasão não era suficiente, comprometendo o assoalho de madeira e também de outros elementos arquitetônicos.

Quem será responsabilizado pelo mal feito? Há outras obras regionais com essa escala, em execução no presente momento, que têm o mesmo método e impacto no entorno. Não é considerada a paisagem natural e muito menos, a paisagem histórica anteriormente construída. O fim justifica os meios. Você, que está atento às movimentações nas cidades na região, responda: que obra regional lhe vem à memória nesse momento, com essas características?
Em 28 de outubro de 2021, retornamos à edificação histórica, para observar o impacto da rodovia SC 110 no patrimônio e de como este se encontrava. Seu estado estava em processo de ruinificação.

Corrigindo a afirmativa do vídeo – está localizada entre Timbó e Pomerode, em território de Timbó.

Imagens – dentro de uma cronologia – via Google

2011

Floreiras sem flores. Ribeirão que abastecia a propriedade para a irrigação – característica da propriedade rural.
Presença dos ranchos, pomar e o pinheiro de Natal na frente – característica da casa do pioneiro alemão e de seus descendentes, na região do Vale do Itajaí – antiga Colônia Blumenau.
Ranchos em uso e o pomar no lado esquerdo da casa.

2017

Ainda é verificada a presença dos ranchos.
Flores na floreira.
Sem o pinheiro e com as flores na floreira. Ainda é verificada a presença dos ranchos.

2021

Sem a presença dos ranchos e a casa está em célere processo de ruinificação, sem as aberturas de madeira e sem o assoalho – madeira nobre.

Nossos registros em 28 de outubro de 2021.

Nossos registros em 20 de setembro de 2023 (hoje)

Retornamos ao local do patrimônio e também, visitamos o cemitério da Comunidade de Mulde Alta, Timbó, em 20 de setembro (hoje) para encontrar mais informações sobre os Anklam.

O patrimônio – Casarão Anklam – literalmente estava no chão e não encontramos nada sobre os personagens dessa história no cemitério.

Cemitério Mulde Alto

Um Registro para a História.

Referências

      • Artigo (PDF): CASA SALINGER: um estudo de caso para a integração entre o ensino, a pesquisa e a extensão. Silvia Odebrecht; João Francisco Noll; Sheila Elisa S. Klein; Ralf Klein; Universidade Regional de Blumenau – FURB
      • HUMPL, Max, 1877 – Méri Frotscher Kramer e Johannes Kramer (orgs.). Crônica do vilarejo de Itoupava Seca : Altona: desde a origem até a incorporação à área urbana de Blumenau / Max Humpl ;- 1.ed. – Blumenau (SC) : Edifurb, 2015. – 226 p. : il.
      • VIDOR, Vilmar. Industria e Urbanização no Nordeste de Santa Catarina /Vilmar Vidor. -Blumenau : Ed. da FURB, 1995. – 248p. :il.

Clicar sobre o título escolhido

  1. Kulturverein – Die Kolonie Blumenau – Cooperativismo
  2. Mansarddach – Uma tipologia de telhado trazida pelo imigrante
  3. Leopold Franz Hoeschl
  4. Arquitetura – Análise do Casarão Hoeschl – Warnow – Indaial SC 
  5. Mansarddach – Uma tipologia de telhado trazida pelo imigrante
  6. História comum entre as Colônias Blumenau, Pommerroder, Itapocu, Humbold e São Bento – José Deeke
  7. Arquitetura – Apresentação e análise da Casa Salinger – Blumenau SC – Sul do Brasil
  8. A História da Fundação de Blumenau

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
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