As florestas e as enchentes
No distante ano de 1947 o respeitado botânico Alarich Schultz, profundo conhecedor da vegetação gaúcha, proferia uma aula magna na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “A influência das matas sobre o ciclo das águas é extraordinária”, dizia o grande mestre. “As copas frondosas com suas densas ramagens e raízes retém as gotas de chuva, diminuem a velocidade de escoamento, evitando o perigo da erosão e regulando o nível dos rios e riachos”.
O Dr. Schultz citou em seguida o exemplo que ele observou entre 1920 e 1930 no município de Ijuí, no vizinho estado: “naquela época o desmatamento ainda não tinha ocorrido de forma tão violenta e as cheias do Rio da Ponte eram observadas em média 3 a 4 dias depois das chuvas copiosas, mantendo-se elas mais ou menos pelo período de duas semanas. Atualmente a cheia começa no dia da chuva ou no dia seguinte e termina 3 ou 4 dias depois, deixando o leito do citado rio abaixo do nível outrora normal …”
No livro texto de Ecologia, na Furb, aprendi que as copas das árvores de florestas resinosas, ou seja, composta por pinheiros em geral de folhas em forma de agulhas, interceptam cerca de 2/3 das chuvas fracas e 1/5 das chuvas fortes. O autor, Roger Dajóz, porém, alerta que essa proporção é ainda muito maior nas florestas formadas por árvores de folhas largas, caso da Mata Atlântica Brasileira que ocorre em nossa região.
O grande botânico catarinense (embora nascido no RS) Roberto Klein e de quem tive a felicidade e a honra de ter sido aluno, confirma, num capítulo de sua tese de doutorado publicada em 1980: “As florestas naturais como as artificiais agem de forma minimizadora das cheias, retardando o avanço das avalanches, bem como permitindo a infiltração de maiores quantidades de água no solo, diminuindo assim, consideravelmente, o volume das águas que se dirigem para os rios.”
O professor Klein fez uma minuciosa descrição de como as florestas contribuem para a minimização das cheias periódicas e seu foco de estudos foi o problemático Vale do Itajaí, tão assolado por enchentes. Dizia que “um rio de floresta primitiva apresenta flutuações mais suaves em sua vazão, transborda menos e nunca seca”.
Foi assistindo uma palestra dele, antes da publicação de sua tese de doutorado, que me entusiasmei pelo assunto. Assim, fiquei curioso em saber se havia, para as nossas florestas, dados quantitativos que demonstrassem em números aquilo que ele e o Dr. Schultz descreviam tão bem.
A primeira surpresa foi a de que o assunto já era bastante estudado, embora pouco divulgado. A segunda surpresa foram os resultados obtidos por nós aqui na região do médio vale, em Ilhota, Blumenau e Brusque, que comprovaram sobejamente o que diziam Schultz e Klein e que consta na literatura especializada. Por questão de otimização deste espaço, apresentaremos esses resultados, se possível, já na próxima semana.
A menor interferência humana sem os devidos cuidados resulta em degradação ambiental. Estes dois riachos de volume de água parecidos que aqui se encontram depois de uma chuva, nascem no morro Spitzkopf, em Blumenau, em terrenos de topografia, geologia, altitudes, clima, solos e floresta semelhantes.
A única diferença é que o vale onde nasce o ribeirão Goldbach, da esquerda, de águas barrentas, sofreu um pouco de desmatamento e teve estradas de acesso rasgadas nas encostas, enquanto o de águas cristalinas da direita, ribeirão Caetés, já tinha seu vale preservado desde 1932. A diferença visual das duas águas, embora não tão intensa, é perceptível até hoje.
Foto Lauro E. Bacca, em 08/02/1980.
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