Um rio à espera do batismo definido

Se há uma bacia hidrográfica com personalidade e identidade toponômica, esta é a bacia do rio Itajaí. Para começar, num país com muitos topônimos (nomes de lugares) de origem indígena ou batizados pelos europeus aqui chegados, pode acontecer de diferentes rios possuírem o mesmo nome ou nomes parecidos. Encano, Lageado, Antas, Jacutinga, Cubatão, são nomes de rios que se repetem em diferentes lugares de Santa Catarina, por exemplo.

Com o nome Itajaí isso não acontece, ele é único. Pelo menos de acordo com a internet. Seu significado ainda não está bem claro. Vai desde “rio que corre sobre as pedras” até “pedra laminada” ou mesmo, “rio dos Taiás”, para não falar de deduções meio fantasiosas, como “Rio do Pássaro de Pedra”.

Na realidade, com o nome Itajaí, temos uma verdadeira “família fluvial”. Começa pelo rio Itajaí Açú, que é formado pela junção dos rios Itajaí do Oeste com o rio Itajaí do Sul, no Centro da cidade de Rio do Sul. Depois de despencar em espetaculares corredeiras em declive de uns 200 metros entre Lontras e Ibirama, nesta última cidade, o rio Itajaí Açu tem suas águas engrossadas pelo Rio Itajaí do Norte.

Nosso rio continua descendo em direção ao mar e sendo engrossado por centenas de afluentes de todos os tamanhos. É a cidade de Itajaí que testemunha a união de águas do último rio da família, o rio Itajaí-mirim. A partir dessa última união de águas e só ali, por apenas sete quilômetros e abrigando dois importantes portos, além do maior porto pesqueiro do país, o grande rio passa a se chamar simplesmente de Rio Itajaí, uma espécie de pai de todos ao contrário que não gerou ninguém, foi gerado pelos filhos.

Na grande “família fluvial do Itajaí”, consta um de nome até hoje indefinido. Trata-se do referido rio Itajaí do Norte que já constava no velho mapa desenhado por Emílio Sada em 1903 com a dupla identidade rio Itajaí do Norte ou rio Hercílio. Essa dupla identidade persiste em todos os mapas há 120 anos, portanto.

O nome Hercílio deve-se à tentativa de homenagear o político que foi três vezes governador do estado entre 1894 e 1924, Hercílio Luz, mas, convenhamos: esse governador, talvez com Celso Ramos, está pra lá de homenageado pelo Estado afora.

É praça Hercílio Luz prá cá, rua e avenida Hercílio Luz prá lá, estádio de futebol em Itajaí, clube de futebol em Tubarão, Aeroporto Internacional em Florianópolis, é Hercílio Luz prá tudo quanto é lado e em inúmeras cidades, culminando com um dos maiores ícones estaduais conhecido internacionalmente, a própria ponte Hercílio Luz.

Nada contra o grande governador e político que foi Hercílio Luz, mas, precisa também ser nome artificial de rio, quando já existe o mais natural e ancestral dos nomes, Itajaí? Que o IBGE defina de uma vez por todas e que se tomem as providências legais para que o nome oficial daquele importante formador do rio Itajaí Açu passe a se chamar, definitivamente, de Rio Itajaí do Norte, ou, simplesmente, rio Itajaí Norte, completando a grande e única família fluvial do pai gerado pelos filhos, o Rio Itajaí!

A seta vermelha indica a confluência do rio Itajaí-mirim com o rio Itajaí Açu em Itajaí. Somente a partir deste ponto, por sete quilômetros até chegar ao mar, o rio passa a se chamar de Itajaí. De quebra, observar nessa foto antiga que não é de hoje que o rio Itajaí lança toneladas de sedimentos ao mar, fruto do excesso de erosão sem controle em sua bacia. Observa-se ainda o quão rápido tem sido o processo de urbanização, pois, nesta foto, o aeroporto de Navegantes ainda aparece em meio a área quase nada urbanizada. Foto Lauro E. Bacca, 1980.


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Veja o antes e depois de moradora de Blumenau após transformação completa no visual: