O sumiço da Prainha

A Prainha da Ponta Aguda era o pequeno grande balneário de Blumenau. Nos anos 1970, até guarda-vidas do Corpo de Bombeiros ali estavam a postos para a segurança das centenas de banhistas que a frequentavam no calor de Blumenau.

Na paisagem blumenauense ela era indissociável da mais icônica curva do rio Itajaí Açu. Fazia parte do último cenário que os imigrantes viam a bordo de balsas ou canoas, mais tarde do próprio vapor Blumenau, antes de desembarcar no porto de Blumenau, junto à atual Praça Hercílio Luz.

Nos anos 1960 a cidade que tinha apenas duas ruas no Centro, precisava de mais espaço para o trânsito. Implantou-se então o que prefiro chamar de Avenida Beira-Rio. Com os aterros para viabilizar essa obra, iniciava-se um insidioso efeito de estrangulamento do rio no Centro da Cidade.

O tempo passou sob sucessivas tentativas de tornar aquela ponta da Ponta Aguda algo mais atrativo para a cidade. Até fonte luminosa foi ali construída, a qual funcionou por vários anos. O velho vapor Blumenau que tantos serviços prestou ao desenvolvimento da cidade também ali foi colocado em forma de monumento histórico.

Nas grandes enchentes de 1983 e 1984 era visível para qualquer observador como significativa parte da forte correnteza era desviada por sobre a margem rebaixada que ficava atrás da Prainha, a partir da cota de 8 – 9 metros, demonstrando claramente ser ali um importante leito secundário do rio, aliviando a pressão da enchente justo na sua curva mais aguda.

Depois de 1984, vieram as obras de dragagem do rio, pretensamente destinada a aliviar as próximas enchentes, começando abaixo de Ilhota até Blumenau, inclusive, na área defronte à prainha.

O material dragado foi colocado ali mesmo, sobre o leito secundário do rio, trocando, em termos de controle de cheias, seis por meia dúzia, pelo menos nesse local. A fonte luminosa sumiu soterrada por este e por outros aterros posteriores, junto ao sumiço do leito secundário do rio.

Com a grande dragagem, por alguns anos, até voltar a ser assoreado, o rio fluiu mais livremente e adquiriu maior poder de erosão. Na altura da “pedra da fome”, a correnteza passou a ser desviada com mais força contra a margem esquerda, ameaçando a segurança da concha acústica ali construída e doada pela antiga empresa Artex ao povo blumenauense, palco de shows que chagavam a atrair milhares de frequentadores. Para solucionar o problema, foi feito um enrocamento, avançando sobre o rio, ao invés de se respeitar o seu novo equilíbrio.

Um projeto mais recente pretendeu fazer da margem esquerda um anacrônico espelho da margem direita concretada. Para isso, construiu-se ao longo do rio, entre a ponte de ferro e a prainha, um enrocamento de base perfeito. Perfeito para quem pensa em rio não como um rio, mas, como um simples canal de escoamento, danando-se para a paisagem natural.

As pequenas outras prainhas que existiam na margem esquerda antes da edificação da Av. Beira-Rio na margem direita, agora, com esse enrocamento, sumiram de vez, assim como o discutível enrocamento na curva da prainha acabou com o que restava da própria.

Em pleno século 21, com a Europa dos nossos ancestrais procurando renaturalizar os cursos d’água excessivamente retificados e canalizados, aqui na Blumenau pioneira em gestão ambiental, anda-se para trás.

Com total desrespeito ao natural, com total despreparo para unir o natural ao urbano, continuamos insistindo em fazer do rio o que nós queremos sem perguntar ao rio o que o rio quer. As consequências já se fazem sentir, como veremos em futura oportunidade.

A espetacular Prainha da Ponta Aguda, em Blumenau, hoje desaparecida, por conta da inépcia, falta de sensibilidade e falta de visão ambiental e turística de sucessivas administrações municipais. Acima da Prainha, no meio do rio, parte do que era chamado de “Pedra da Fome”, como que espiando a margem direita, ainda sem o gargalo fluvial da Avenida Beira-Rio. Cópia de foto clicada por Willy Sievert por volta do ano de 1950.


Assista agora mesmo!

Chiclete de camarão: chef ensina a preparar prato típico do nordeste: