Capa: O colégio fotografado quando ainda era administrado por seu fundador, padre José Maria Jacobs, em 1885, como Colégio São Paulo e, atualmente, como Colégio Bom Jesus Santo Antônio, com uma configuração espacial diferente, dentro de um sítio modificado e também com ideário e metas educacionais diferentes, onde sequer a lembrança do legado de padre José Maria Jacobs está presente.
Apresentação
Em 2018 visitamos o Colégio Bom Jesus Santo Antônio, com o olhar de pesquisadora e com o desejo de tentar encontrar o legado do padre José Maria Jacobs no local.
A entrada foi muito difícil. Explicamos, na recepção, que nosso trabalho se constituiria em coletar dados no local para registro histórico. Foi difícil o acolhimento e, diante de nossa insistência, a direção designou uma pessoa para nos acompanhar pelos longos corredores do colégio, recentemente pintado e com mobílias novíssimas. Somente o edifício por si, por sua volumetria, lembra que ali haveria um cenário muito histórico para a cidade de Blumenau. Porém, com nosso olhar atento não conseguimos vislumbrar nada que “contasse’ um pouco da história do Colégio Santo Antônio, sobre o trabalho e a obstinação de seu fundador, padre/professor José Maria Jacobs, que aceitou Blumenau como uma missão, mesmo diante de propostas outras infinitamente melhores para exercer seu trabalho missioneiro.
Assim, resolvemos que em um momento futuro escreveríamos esta história para a História, antes que a perdêssemos totalmente. E o momento chegou.
Tivemos ajuda de uma pessoa que testemunhou nossa frustração no dia da visita ao Colégio Bom Jesus Santo Antônio, a qual ficará em nossa lembrança e que tem nosso agradecimento. Encaminhou-nos livros maravilhosos. Muito obrigada.
Apresentamos a história de uma obra que congregou pessoas de várias regiões de Santa Catarina e também de fora do Estado, em torno do ensino. Para realizar essa tarefa meritória, padre José Maria Jacobs chegou até a abrir mão de seu sustento em prol do fortalecimento de seu projeto. Talvez o primeiro lugar ecumênico da história de Santa Catarina, embora seu fundador tenha passado pela “intolerância religiosa”. O espaço por ele criado era frequentado por crianças de todos os credos, nacionalidades e classes sociais.
Foi fiel às suas convicções. Permaneceram: sua obra – o Colégio São Paulo (hoje Bom Jesus Santo Antônio) – e o seu nome – padre José Maria Jacobs, embora nem sempre lembrado.
O Colégio Santo Antônio, o mais antigo estabelecimento de ensino secundário de Blumenau e um dos mais antigos e tradicionais do Estado de Santa Catarina, atual Colégio Bom Jesus Santo Antônio, foi fundado pelo padre alemão José Maria Jacobs.
O colégio foi o primeiro internato de Blumenau designado pela paróquia de Blumenau como “Coleginho São Paulo”. No marco da fundação foram oficialmente matriculadas 16 crianças. A iniciativa do padre Jacobs aconteceu somente 4 meses após a sua chegada à sede da Colônia Blumenau. Ele chegou à região em 16 de setembro de 1876 e fundou sua escola em 16 de janeiro de 1877, exatos 4 meses após. Padre Jacobs sabia muito bem o que fazia e quais eram seus objetivos, estes muitas vezes não compreendidos.
Sua memória e legado não são devidamente lembrados nos dias atuais, por diferentes grupos que o poderiam fazê-lo, inclusive – no âmbito da religião católica, seria um forte nome à beatificação, se lhe fosse feita justiça. Certamente, pela trajetória de sua vida, não era isso que buscava.
O início
Quatro meses após a chegada do primeiro pároco da igreja católica à Colônia Blumenau – padre José Maria Jacobs – ele funda o Coleginho São Paulo na pequena construção de madeira da paróquia localizada na “Wurtstrasse”– atual Rua XV de Novembro. Tomou essa decisão, após ter visitado seus fiéis no interior da Colônia Blumenau e constatado a precariedade das muitas famílias católicas e inexistência de instrução destinada às crianças. Em apenas 4 meses iniciou seu projeto para modificar esta realidade.
O Colégio Santo Antônio considera como data de sua fundação o memorável dia 16 de janeiro de 1877, em que o R. P. José Maria Jacobs, encarregado, pouco antes, da cura d’almas dos católicos dispersos pela vasta zona da Colônia Blumenau, inaugurava sua modesta escola paroquial, sob o nome de “Colégio São Paulo”.
Percebera o zeloso vigário, logo à primeira vista, o grave perigo que corria a formação religiosa dos filhos dos colonos, espalhados pelas linhas coloniais ainda sem estradas e sem escolas, se ficassem, assim, abandonados à ignorância. Teria de reuni-los na sede da paróquia, para doutrina-los e ensinar- lhes as primeiras letras. Comissão Colégio Santo Antônio 75° aniversário de fundação.
O Colégio e a Igreja Católica de Blumenau ficavam afastados da então centralidade de Blumenau, Stadtplatz da Colônia Blumenau, onde estava a igreja luterana, religião da elite blumenauense da época e do próprio fundador Hermann Blumenau, a Igreja do Espírito Santo, presente na paisagem até os dias atuais, o primeiro Boulevard, a Palmenalle ou rua Hermann Wendeburg – Rua das Palmeiras, onde estavam localizadas as principais casas comerciais e residências do primeiro período histórico e o porto fluvial, porta de entrada à Colônia Blumenau, a partir do porto marítimo de Itajaí.
Lembramos que foi o diretor interino da Colônia Blumenau, Hermann Wendeburg, quem solicitou a Hermann Blumenau, que se encontrava na Europa nesse momento, sobre a necessidade de contratar um capelão para a Colônia. Da Europa, Hermann Blumenau entrou em contato com o Imperador D. Pedro II, que tomou providências para a vinda do primeiro pároco de Blumenau.
O Imperador do Brasil conhecia o padre José Maria Jacobs.
O primeiro local de funcionamento do colégio foi na própria sede da Paróquia, que era uma pequena capela de madeira, a primeira de Blumenau, e com as despesas custeadas pelo próprio padre Jacobs.
Administrativamente, para garantir o funcionamento e dar continuidade de sua obra educacional, o padre Jacobs, como é comum na Alemanha, mediante qualquer grupo de pessoas organizadas com o mesmo objetivo, criou uma sociedade que se chamou – Associação Protetora da Infância Desamparada. No início dos trabalhos, emitiu um material de propaganda do colégio, no qual pedia àqueles que pudessem contribuir, com auxílio financeiro à comunidade para que os alunos que não possuíssem condições financeiras e os órfãos pudessem frequentar o colégio, que tinha gastos. Objetivo não eram os lucros, pois o salário do padre era todo destinado à escola.
Como o padre Jacobs chegou à Colônia Blumenau?
Antes de prosseguir, vamos compreender como o padre chegou à Colônia Blumenau, cuja igreja estava submetida à jurisdição espiritual de Gaspar.
Existiam alguns conflitos entre as duas comunidades, Blumenau e Gaspar. O Pároco de Gaspar atendia as duas igrejas e não estava sendo muito fácil mediante desentendimentos entre o pároco e as duas comunidades – motivado, também pelos desentendimentos entre católicos e luteranos. E havia uma terceira, e talvez, mais importante causa. Hermann Blumenau tinha planos para tornar a vila/colônia em município, e na época do Império, para isso era necessário existir um curato. Diante deste quadro, Blumenau entrou em contato com D. Pedro II. Esta ação foi confirmada pela existência do documento oficial abaixo, assinado por Hermann Wendeburg.
Transcrição de Correspondência
Colonia Blumenau 16 de maio de 1867.
Illmo e Exmo. Sr.
Consta-me que o padre da Freguezia S. Pedro Apóstolo Im. Gattone, também vigário desta colônia mudando para a colônia Itajahy haja de ser incumbido com o engajamento de outro padre em seu lugar. Venho por isto respeitosamente rogar a Va. Exca. Digne-se encarregar com esta comissão, de escolher outro padre para a dita Freguezia e para os catholicos desta colônia, o Im Dr. Hermann Blumenau, o que ainda demorando em Allemanha, me parece o mais apropriado para escolher hum sacerdote que tem bastante tolerância, prucencia e benignidade para poder administrar com feliz sucesso o seu emprego importante, em uma colônia onde tanto depende do bom entendimento entre catholicos e protestantes, que devem morar e viver uns perto dos outros e onde a intolerância do padre não deixa de tornar-se muito pernicioso e de grande inconveniência.
Deus guarde a Va. Exca.
Ilmo e Exmo. Sr. Albuquerque Lacerda
Digmo Presidente da Provincia
Etc. etc. etc.
Diretor Interino
H. Wendeburg
Em setembro de 1868, ainda no governo de Hermann Wendeburg, foi colocada a pedra fundamental da Igreja Matriz projetada por Heinrich Krohberger, no mesmo local da atual Catedral São Paulo Apóstolo. Estava localizada a uma certa distância do Stadtplatz, onde estava a Igreja luterana, igreja das lideranças da Colônia Blumenau, da época e que não conviviam muito bem com os católicos.
Em 1869 foi contratado o padre alemão Wilhelm Friedrich Clemens Röer, conhecido no Vale do Itajaí como Guilherme Röer (nascido em Warendorf, em 29 de setembro de 1822) Este tivera licença de seu superior para permanecer no Brasil por somente três anos, o que não aconteceu e está sepultado no Memorial de Braço do Norte. O padre Röer não permaneceu em Blumenau.
Passando esse tempo, a situação da Colônia Blumenau retornou ao que era antes e novamente foi integrada à jurisdição espiritual de Freguesia de São Pedro Apóstolo de Gaspar. Nesse tempo, o padre Gattone já havia sido transferido para a Colônia de Brusque. Em seu lugar estava o padre polonês, Antônio Zielinski.
Em 1870, construíram uma nova igreja temporária na Colônia Blumenau – a segunda igreja no lugar da igreja de sarrafos/madeira, onde, mais tarde, funcionou o primeiro coleginho do padre Jacobs. Foi construída com a técnica construtiva enxaimel com fechamento de taipa e coberta feita com ramos e galhos. Era maior que a primeira e com o passar do tempo foi melhorada com a troca das telhas, tendo também ampliado a sua área.
A construção da terceira igreja, projeto de Heinrich Krohberger, prosseguia respeitando o projeto no estilo neogótico.
A terceira igreja católica foi construída em alvenaria autoportante, com tijolos maciços rebocados, com janelas coroadas com o característico arco ogival, planta retangular, e um campanário frontal inserido no corpo da igreja. Tinha muita semelhança com a igreja de Gramado – RS.
Por motivos políticos, Hermann Blumenau desejava que a Colônia Blumenau se tornasse município, com isso a administração da Colônia Blumenau custeou a construção da igreja católica. Era importante para conseguir o Curato, o que facilitaria adquirir este status. A população de católicos de Blumenau, nessa época, era de aproximadamente 853 pessoas.
Em 31 de julho de 1873, o Governo Provincial sancionou a Lei N°694, criando a Freguesia de Blumenau, sob a invocação de São Paulo Apóstolo.
A nova igreja ainda não estava terminada. Hermann Blumenau tinha, há algum tempo, o interesse para que isto acontecesse, pois era importante para a tramitação para que a colônia fosse elevado à município, o que aconteceu em 1880. Nessa época, a Colônia Blumenau tinha seis capelas: Badenfurt; Testo Salto; Rio do Testo; Encano Baixo, Rio Morto e a da sede.
Com a retirada do Vigário de Gaspar, a colônia recebia visitas periódicas do Vigário de Joinville – padre Carlos Bögershausen e do Jesuíta sediado em Nova Trento, padre J. Maria Cybeo.
Para que a Freguesia pudesse ser legalmente instalada, teria que ser referendada pelo poder eclesiástico, este ocupado pelo Bispo Diocesano que ficava no Rio de Janeiro – Capital do Império. Esta ação só foi efetivada depois de três anos – Blumenau possuir o Curato. Lembramos que o Brasil era uma monarquia e o Imperador D. Pedro II era católico, sendo que o poder político e religioso tinham a mesma força no poder. Hermann Blumenau sabia disso muito bem.
A população de católicos teve um aumento considerável em 1875, quando vieram grupos de imigrantes tiroleses, austríacos, poloneses e italianos. Surgiram inúmeras capelas em diversos núcleos urbanos que floresciam em várias partes da Colônia Blumenau. O trabalho dos religiosos aumentou muito, acelerando as ações para que a povoação de Blumenau tivesse o seu próprio pároco, o que aconteceria algum tempo depois, por iniciativa de Hermann Wendeburg, no seu governo, enquanto Hermann Blumenau estava na Europa havia 4 anos.
Em 1876, então, chegou na Colônia Blumenau, o padre José Maria Jacobs que passou a residir em uma edificação enxaimel construída no terreno localizado junto à Igreja Matriz. Como ele veio para o Brasil está contemplado mais adiante, em sua breve biografia.
Logo que se instalara em Blumenau, padre Jacobs foi conhecer o território de sua jurisdição, que era muito grande. Conheceu as condições precárias em que viviam os católicos de sua nova comunidade. Nesse momento, se convenceu da necessidade prioritária de uma escola em que os filhos dos colonos do interior da colônia pudessem receber instruções religiosas preparatória para a “Primeira Comunhão”, durante no mínimo um ano, estudando, simultaneamente, o ensino primário.
Em 16 de janeiro de 1877, padre Jacobs abriu o coleginho ao qual chamou de São Paulo. Este foi instalado na antiga capela de madeira, em desuso desde a inauguração da igreja matriz, em 24 de dezembro de 1876. A ser instalada a paróquia de São Paulo Apóstolo, em 2 de junho de 1878, o padre Jacobs se tornou o vigário oficial da comunidade católica de Blumenau – Cura de Blumenau, e recebia o pagamento de 60 mil-réis por mês – o qual transferia, em sua totalidade, para o sustento da escola por ele fundada.
Na sequência, o registro de parte do trabalho do padre Jacobs em Rio do Cedros, como fazia em todas as comunidades católicas pertencentes a Blumenau. Sua caligrafia diferia muito da caligrafia do fundador. Era perfeitamente legível e bem desenhada. Publicamos algumas páginas, também para listar nome de famílias contemporâneas ao seu trabalho e parte de sua comunidade.
Em 1916, frei Estanislau Schaette, diretor do Curso de Formação de Professores do Colégio Santo Antônio, escreveu по livro da Crônica do Convento de Blumenau, volume de 1913, página 111-116, alguma coisa relevante sobre a história inicial do Colégio, descerrando o período entre o ano da fundação, 1877 até 1890. Frei Odorico Durieux traduziu o material, que originalmente estava escrito em alemão, para o português.
Logo após sua chegada a Blumenau, o padre Jacobs reconheceu a necessidade da fundação de escolas católicas, devido à maneira de colonização tão desfavorável aos católicos, não podiam surgir dentro dos limites da colônias escolas católicas, por isso ele abriu no dia 16 de janeiro de 1877, exatamente 4 meses depois da sua chegada, o Colégio Central de São Paulo. Usou como prédio a antiga capela de madeira que desde 24 de de dezembro se tornara supérflua, e que então passava a ser como internato por um professor e 16 filhos de colonos pobres. Ali deveriam os alunos ser instruídos em religião e nos conhecimentos mais necessários à vida.
Nas horas livres de tarde ocupavam-se em trabalhos de agricultura. No ano de 1879 o padre Jacobs chamou de Treves para a sua escola professor João Batista Pies, formado por Escola Normal, era este um irmão do vigário Pies, muito perseguido no Kulturkampf, várias vezes encarcerado. O vigário Pies passou muito tempo em São Pedro de Alcântara como estimado cura, viera para o Brasil afim de escapar duma pena de prisão de vários meses que lhe fora imposta pelo governo prussiano, por causa da administração da sua paróquia. Antes disso já cumprira várias condenações à prisão). Frei Estanislau Schaette – SANCEVERINO, 1972.
O padre Jacobs reuniu 16 crianças, que foram seus primeiros alunos. Seria muito bom saber o nomes desses meninos. As meninas ficaram alojadas na casa de uma vizinha da igreja. As crianças faziam pequenos trabalhos agrícolas, ao mesmo tempo que o padre Jacobs lançava a pedra fundamental do novo colégio e também fundava a sociedade Associação Protetora da Infância Desamparada para que pudesse angariar fundos para a obra da escola e sua manutenção. Até então ele arcava com todos os gastos e também, com o trabalho.
Apesar das contrariedades deparadas pela frente, a que não era estranha a distancia em que moravam os colonos católicos da sede, o Colégio São Paulo florescia e de tal forma que 1879 contava já com 60 alunos, o que fez o diretor pensar na maneira de solucionar a necessidade premente que se apresentava da construção de uma nova casa. Nesse mesmo ano o padre Jacobs recebeu o auxilio do professor João Baptista Pies, natural de Trier, na Alemanha, que uniu seus esforços aos do diretor, para o progresso do estabelecimento. Ao Colégio o padre Jacobs deu o que pôde, física, moral e pecuniariamente. Despojava-se mesmo do necessário para vê-lo progredir. Não era pequeno o numero de pobres que vestia, alimentava e instruía. Victor Konder
Em 1879, a escola idealizada e materializada por padre José Maria Jacobs contava com 60 alunos e o edifício escolar, inaugurado em 1885, era um dos mais monumentais da Colônia Blumenau e região. Nele o padre Jacob ministrava as disciplinas de Religião, Línguas (Literatura Portuguesa e Alemã), Geografia, História Universal e do Brasil, História Natural, Aritmética e Matemática, Desenho, Escrituração Mercantil, Canto e Trabalhos Manuais. Eram facultativas as aulas de Inglês, Francês, Latim, Grego, Piano, Violino e Bordados.
O padre José Maria Jacobs recebeu auxilio da Família Imperial do Brasil.
Também o Visconde de Taunay, Presidente da Província, era amigo pessoal do padre Jacobs e protetor do Colégio.
Não cabe nestas poucas linhas a enumeração dos serviços do padre Jacobs à causa de Deus e do Povo, em Blumenau. Inteligente, conhecedor de varias línguas, ativo empreendedor, lançou pouco depois de sua chegada a este município, as bases do estabelecimento que é hoje arvore frondosa, à cuja sombra centenares de jovens bebem a luz de uma instrução solida, moral, Esse empreendimento fora a primeira preocupação, do padre Jacobs ao pisar, terras blumenauenses, Quatro meses depois de sua chegada, lançou a pedra fundamental do Colégio e durante a edificação deste, reunia as 16 primeiras crianças numa Capela de madeira. A essa escola deu a denominação de Colégio São Paulo. Ao incipiente estabelecimento dedicou esforços sobre-humanos, fundando, pouco depois, uma sociedade que, congraçando elementos e atividades, o auxiliasse no nobre intento. Conseguido isso, elaborou um programa de ensino mais vasto. Eis a circular que ele fez publicar nessa época. Victor Konder
A Escola São Paulo, de Blumenau, que até aqui ministrou o ensino primário e catecismo, procurara, d’ora avante, dar instrução superior aos jovens de ambos os sexos. O programa deste curso abrangerá:
(1) Curso superior de Religião:
2) Literatura e Língua alemã:
3) Literatura e Língua portuguesa;
4) Grafia;
5) Historia Universal:
6) Historia do Brasil;
7) Historia Natural;
8) Desenho;
9) Matemática;
10)Aritmética;
11) Escrituração Mercantil (partidas simples e dobr.);
12) Canto;
13) Ensino de costura e trabalhos manuais (para meninas);
A pedido dos senhores pais e pagamento extra se leccionará:
14) Piano;
15) Violino;
16) Inglês;
17) Francês;
18) Latim;
19) Grego;
20) Bordados e outros trabalhos finos (secção femin.).
E como os professores pretendem auxiliar quanto possível os mais pobres, está o diretor resolvido a fazer o preço para pensão (inclusive lavação de roupa) e ensino a 80$000 anuais para os pobres e 150$000 para os mais abastados, sendo o primeiro trimestre pago adiantadamente. (N. B. Os primeiros receberão alimentação forte, como nas colônias, diariamente carne, e os segundos comerão à mesa do diretor. Para poder-se continuar o caridoso costume de dar agasalho e instrução inteiramente grátis ás crianças realmente pobres, pedem os abaixo-assinados às almas caridosas, algum óbolo para que os pobres e órfãos da colônia possam cursar as aulas.
A inauguração do Colégio dar-se-á pelos fins deste ano em data que será previamente publicada. Pede-se aos que desejam matricular seus filhos, fazê-lo mais breve possível.
Blumenau, 10 de Junho de 1877.
Padre J. Maria Jacobs, Diretor do Colégio.
Augusto Sutter, presidente da Communidade Escolar.
H Zunmermann, secretario.
Xavier Bugmann, tesoureiro.
Com isso o padre recebia de subsídio para seus trabalhos 1.000$000 do governo imperial por ano, aumentado para 1.200$000 em 1884. Nesse mesmo ano de 1884, em 15 de dezembro, foi quando o Conde D’Eu visitou o Colégio São Paulo e constatou o trabalho ali desenvolvido até então, colocou o seu nome como “sócio” na Associação Protetora da Infância Desamparada criada pelo padre, tendo doado a ela o valor de 300$000.
O Colégio de São Paulo contava então 60 alunos e 2 professores desde aquela data tomou um considerável surto.
Dos alunos internos alguns não pagavam nada, outros 20 a 40 mil reis por ano. O padre Jacobs entregava à Escola, os seus vencimentos como Vigário. O governo lhe concedera, de 1880 a 1884 a subvenção escolar de 1:000$000(um conto), aumentava em 1884 раrа 1:200$000. O número de alunos era de 121. No dia 22 de fevereiro de 1885 padre Jacobs lançou solenemente a pedra fundamental do Pensionato Central para o ensino elementar e médio. O documento dá o número de 126 alunos e 4 professores.
A princesa Dona Isabel e seu еsроsо о Conde D’eu favoreceram essa fundação. Por empenho deles, recebeu o padre Jacobs da Associação Protetora da Infância Desamparada e no dia 4 de agosto de 1885, a nomeação de sócio honorário e o segundo premio de 300$000 para seu Estabelecimento. Frei Estanislau Schaette – SANCEVERINO, 1972.
Em 1884 o colégio contava com 126 alunos, com ensino secundário, sendo o primeiro em Blumenau e com matrículas de crianças católicas e luteranas, um dos primeiros momentos ecumênicos na colônia, quando as comunidades não tinham uma boa convivência.
Em 22 de Fevereiro de 1885, de acordo com o relato de Victor Konder foi lançada a pedra fundamental para a construção destinada ao Pensionato Central de Ensino Elementar e Superior do Colégio São Paulo de maneira muito solene. Junto a essa pedra foi colocado um documento com o seguinte conteúdo:
A 22 (vinte e dois) de Fevereiro de (1885) mil oitocentos e oitenta e cinco, depois de Christo, reinando S. M. D. Pedro Segundo, sendo Presidente do Conselho Ministerial o Conselheiro Manoel Pinto de Souza Dantas, sob o governo do presidente da nossa província, s. excia o Dr. Jose Lustosa da Cunha Paranaguá, dirigindo a diocese o exmo. snr. Bispo D. Pedro Maria de Lacerca, foi, solenemente, às 3 horas da tarde, lançada a pedra fundamental do Pensionato Central para Ensino Elementar e Superior, do qual foi fundador o vigário desta vila, o Revdo. padre José Maria Jacobs. e seus auxiliares os professores senhores João Pies, Hugo José von Garnfeld, Germano von Koppy e Francisco Demmer. Depois da benção da pedra fundamental, à qual assistiram grande numero de famílias aqui residentes, de todas as nacionalidades brasileiras, alemãs, italianas, as, polacas, inglesas e francesas foi a mesma pedra colocada no fundamento. Nesta pedra foram postos, juntamente com o presente documento, os seguintes objetos:
matricula atual da escola que conta 126 alunos;
1 exemplar do. Der Immigrants, jornal local:
1 exemplar do Flumenauer Zeitung, também local;
1 exemplar d’A Regeneração (Desterro);
1 exemplar Germania (Berlin);
1 exemplar do Schwarze Blätter;
1 exemplar d’ O Apostolo (Rio de Janeiro);
1 exemplar do Baltimorer Volkszeitung (Est. Unidos);
1 moeda de cobre de 20 réis (cunhagem nova);
1 moeda de cobre 20 reis (cunh. anh. antiga);
1moeda de cobre de moeda de 40 réis (cunh. nova);
1moeda de cobre de moeda de 40 reis (cunh. antiga):
1 moeda de nickel de 100 réis:
1 moeda de nickel de 200 réis:
1 moeda de prata de 200 réis:
1 moeda de prata de 500 réis.
E para honra da s. Religião Católica, Apostólica, Romana, e bem da mocidade, para que este estabelecimento foi levantado, e para conhecimento das gerações futuras, fez-se este documento que vai assignado pelo diretor, professores e pessoas que, convidadas, testemunharam o ato.
São Paulo, Blumenau.
Padre José Maria Jacobs, vigário.
Após esse momento, de acordo com o histórico elaborado pelos freis do colégio, em 1984, vieram tempos não muito fáceis para o padre José Maria Jacobs e seu colégio. Com as dívidas da construção do novo prédio, houve o golpe de estado chamado de República e com isso perdeu uma das parcerias que auxiliava na manutenção – Família Imperial do Brasil. Entre os 66 alunos internos de 1884, um era cego, três órfãos e 25 de famílias sem condições de auxiliar nos gastos e que necessitavam de auxílio para vestir as crianças. Em 1889, o número de matriculados no colégio caiu para 88 alunos, por inúmeras causas, entre elas: perseguição política e intolerância religiosa muitas vezes por parte de pessoas influentes em Blumenau que professavam a religião luterana.
Dentro desta movimentação social surgiu a Neue Deutsche Schule, também, de certa maneira, como represália à escola de padre Jacobs, espaço ecumênico, o primeiro de Blumenau – que recebia a todos, independentemente da religião que a família professava. Melhor detalhado na parte que descera sobre sua vida, adiante na leitura.
Neste meio tempo o padre Jacobs, preocupado em fornecer acomodações dignas também às famílias católicas que residiam no interior de Blumenau e que se deslocavam para eventos da igreja; assim, em 1884 criou a Casa São José – Josephshaus junto com a comunidade residente próximo a matriz.
Prosseguindo a história do colégio, sob a direção do padre José Maria Jacobs, o Colégio São Paulo prosperou e a cada ano aumentava o número de alunos internos, até acontecer o golpe militar “Proclamação da República” – quando houve mudanças drásticas na estrutura social, política e econômica do Brasil e também em Blumenau, gerando muitos problemas ao benfeitor e fundador do Colégio São Paulo. Padre Jacobs tinha que lidar com a falta de recursos para mantê-lo, enfrentando a ausência dos subsídios que recebia do governo monárquico, de D. Pedro II (embarcado forçosamente para a Europa na madrugada da tomada do poder) e a perseguição de lideranças de Blumenau, alinhadas aos novos tempos políticos, que sabiam que o padre Jacobs compreendia o que houve e que, ciente do golpe, também era uma ameaça política, além de ser um católico. Não facilitaram a vida do padre/professor, o que agravou muito seu estado de saúde, em função dos anos de trabalhos intensos e contínuos em várias frentes.
Os Franciscanos – Mudaram a “essência” que moveu padre Jacobs a fundar o Colégio – o espírito era outro
De acordo com Victor Konder, a crise foi passageira no Colégio, mas ficou sem a presença de seu fundador e benfeitor. Em 1892, o padre Jacobs renuncia a Paróquia São Paulo Apóstolo de Blumenau e a entrega para Ordem dos Frades Menores (OFM), juntamente com o colégio que fundou – o Colégio São Paulo. A direção do Colégio e a docência passaram, então, a serem exercidas pelos frades franciscanos e essa passou a ser a primeira ação educativa dos frades, após a restauração da Ordem dos Frades Menores OFM no Brasil. A partir de então, dá-se início à ação franciscana na educação catarinense após a restauração da Ordem Franciscana no país.
De 1896, o número de matrículas sistematicamente foi aumentando. Em 1914, o Colégio possuía 168 alunos matriculados, em 1920, 226 e em 1927, 324 alunos matriculados.
Colégio somente como Seminário
Victor Konder afirma em seu pequeno histórico sobre o Colégio, que 1895, o aumento de matrículas aconteceu em consequência da admissão dos seminaristas europeus da Ordem Franciscana, que estudavam, até então, em Olinda, em um total de 30. Rompendo definitivamente com o trabalho do padre José Maria Jacobs, em 1897, o Colégio passou a se chamar de Colégio Santo Antônio – nome do santo padroeiro da Ordem Franciscana, que possuía o mesmo ideário de padre Jacobs – no que tange a atender os menos favorecidos, não como ideologia, mas como algo a ser feito de maneira prática – como uma escola.
Nesse momento o Colégio Santo Antônio foi destinado somente para os estudos dos jovens que se dispunham à carreira eclesiástica, como Franciscanos. Foi por este motivo, de acordo com Konder, que foram chamadas as Irmãs da Divina Providência. Passaram a dirigir uma escola paroquial e não somente o ensino das meninas como publicado em um texto feito pelo Colégio, em 1984. Essa situação se manteve até 1904. O ambiente de educação para os filhos dos colonos, objetivo primeiro, que tanto motivou o trabalho de padre Jacobs, deixou de ser importante.
Evidenciou-se, porém, que tal simbiose com aspirantes a vocações e carreiras profanas contrastavam com a vocação sacerdotal dos seminaristas. Por isso, ficou a ala junto ao convento abrigando apenas estes últimos, passando os demais a ocupar o prédio junto a igreja matriz. Em virtude dessa transformação, as Irmãs da Divina Providência, chegadas a Blumenau em 1895, se encarregaram da escola das meninas e, depois de 1899, também do curso elementar dos rapazes, até que, em 1904, os frades reassumiram este setor, aumentando a escola paroquial de duas classes para quatro. E assim permaneceu por oito anos. FRADES DE PESQUISA, 1984.
Colégio e Seminário
Em 1904, os Franciscanos voltaram atrás, quanto ao ensino somente para os seminaristas, sem uma explicação pontual e retomaram a administração do Colégio, aumentando a escola paroquial de duas classes, para quatro. Isso durou até 1912. Por quê?
Porque em 1911, o Bispo de Santa Catarina, D. João Becker possuía ambições para o Colégio fundado pelo padre José Maria Jacobs há apenas 34 anos, contando somente com sua vontade de levar instrução aos filhos de colonos do interior da Colônia Blumenau. Que diz Victor Konder:
O então Bispo de S. Catharina, D. João Becker, chamando frei Estanislau Schaette, encarregou-o da elaboração de um programa de reforma escolar, programa que devia ser apresentado á Conferencia de Bispos do Sul do Brasil. Dispondo de muita pratica e competência, frei Estanislau deu cabal desempenho á missão, sendo, então, o programa adaptado também ao Colégio S. Antônio. O fim principal a que se visava então, era a formação de bons professores para as escolas primarias nas colônias do interior do município que delas bem precisadas estavam. A direção do Colégio foi então confiada ao Pe. Gabriel Zimmer, capaz de orienta-lo para o fim colimado. Em 1912, porém, foi frei Gabriel transferido para Lages, passando a direção do Colégio a frei Estanislau, que nela permaneceu ate 1921. O tempo, porém, viera demonstrar que mais acertado fora ter dado ao Colégio uma orientação que melhor consultasse o interesse geral. Victor Konder
Nesse tempo, o Colégio possuía banda de música, orquestra, grupos teatrais. Nesse período se formaram no colégio: frei Justino (Silvestre Girardi), frei Celestino (Antek Mlodzianowski), D. frei Inocêncio (Francisco Engelke), Marcos Konder, Adolfo Konder, Victor Konder, Odilon e Benjamin Galotti, Artur Rabe, Eugen Müller, Crispim Mira, Heinrich Rupp, (…).Destes alguns deixaram depoimentos que fazem parte deste artigo.
Banda de musica
Possuía ainda o Colégio uma banda de musica de mais de vinte figuras. Para organizar e dirigir essa charanga fora contratado um leigo, o sr. charanga Wolff, conhecido mestre de filarmônica das colônias e, nas horas vagas, ventríloquo exibidor de bonecos falantes (Kasperltheater). O sr. Wolff pôs logo mãos á obra, escolhendo a dedo os seus futuros músicos, que em poucas semanas já se a- presentavam garbosos na tocata de um hino marcial. Se é sempre incomoda a vizinhança de uma casa de ensaio musical, mais esta inconveniência se avoluma a ponto de se transformar num verdadeiro suplicio, quando se trata de músicos novatos que pegam pela primeira vez num trombone, num clarinete ou num pistão. Assim se deu no ensaio inicial da nossa banda. À principio começa vamos a soprar nos fundos do Colégio, mas o pandemônio era tamanho que Padre Zeno viu- se obrigado a nos desterrar para os morros vizinhos. Lá, em plena mata, exercitávamos á vontade as nossas faculdades sopradoras, atroando os ares com os berreiros e guinchos estridentes e animalescos que punham em fuga toda a passarada e infundiam terror a todos os bichos, mansos ou ferozes.
As tendências musicais da família
Falei na primeira pessoa, porque também fui um dos heróis daquele ensaio e um dos esteios gloriosos daquela charanga. Manejava um dos instrumentos maiores e mais pesados da banda, o bom bordão ou baixo. Era sempre impando de orgulho que me apresentava na formatura, abraçando-me a um helicoide de metal, maior do que a minha pessoa, e munido de um bocal, maior do que a minha boca.
Os irmãos Konder estavam aliás todos representados na filarmônica: Arno tocava pistão, Adolfo trompa e Victor um outro canudo qualquer. Estas tendências musicais da família haviam de manifestar-se mais tarde noutro campo, cabendo a três deles tocar por sua vez um instrumento na charanga politica do Estado. Marcos Konder
Escola Normal
De acordo com Victor Konder, frei Estanislau Schaette, enviado pelo Bispo D. João Becker, de Florianópolis, ficou encarregado de elaborar o programa de reforma escolar, que deveria ser apresentado à Conferência de Bispos do Sul do Brasil.
De 1911 a 1925, o agora Colégio Santo Antônio, também disponibilizava um curso de formação de professores, a pedido do Bispo. Foi, também para isso, o Bispo convocou o frei Estanislau Schaette para dirigir o Seminário/Colégio. Os professores, formados no colégio atenderiam à demanda nas escolas do interior do estado – escolas das cidades mais destacadas e também supririam as vagas de outros colégios franciscanos.
De acordo com Victor Konder, frei Estanislau Schaette, enviado pelo Bispo D. João Becker, de Florianópolis, ficou encarregado de elaborar o programa de reforma escolar, que deveria ser apresentado à Conferência de Bispos do Sul do Brasil.
De 1911 a 1925, o agora Colégio Santo Antônio, também disponibilizava um curso de formação de professores, a pedido do Bispo. Foi, também para isso, o Bispo convocou o frei Estanislau Schaette para dirigir o Seminário/Colégio. Os professores, formados no colégio atenderiam à demanda nas escolas do interior do estado – escolas das cidades mais destacadas e também supririam as vagas de outros colégios franciscanos.
O frei Schaette elaborou um programa de reforma escolar para ser apresentado durante a Conferência dos Bispos do Sul do Brasil. Foi nesse momento que se iniciou a Escola Normal no Colégio Santo Antônio sob a direção do frei Gabriel Zimmer.
Em 1915, após conversas com o inspetor escolar Orestes Guimarães, houve nova mudança na estrutura de ensino do colégio e foi acrescentada a formação para o comércio. Compunha-se de 4 classes, subdividida em seções. A primeira, de língua portuguesa abrangia 3, em 1916 e daí por diante 4 anos de curso. A segunda, também de língua portuguesa, era a continuação da anterior em mais 2 anos de curso. A terceira, a secção teuto-alemã, tinha 6 anos de curso, e mais dois, para aperfeiçoamento do português e alemão, constituindo estes dois últimos anos a quarta secção. Nesse ano havia 175 alunos matriculados, dos quais 23 internos. Dez destes destinavam-se ao magistério, os restantes ao comercio.
Em 1916 foi construído um novo edifício muito próximo da igreja matriz, contendo quatro salas e um alojamento. Nesse período os internos ocupavam para dormitórios, as salas do segundo piso que dá para o convento. A ala do edifício anexada ao convento era ocupada pelo seminário menor da Ordem, o Colégio Seráfico de São Luiz de Tolosa.
Durante o período das Guerras
O Colégio Santo Antônio fechou as portas quando o Brasil declarou guerra à Alemanha em 1917. Em 1918 reabriu com a matrícula de 198 alunos. A gripe espanhola fez com o colégio fechasse novamente, antes do término do ano letivo. Em 1919, reabriu com a matrícula de 213 alunos, destes 35 eram internos.
Em 1920, com a reforma do ensino decretado pelo governo, verificou-se falta de professores, crise que só com grandes dificuldades foi resolvida, mas que encontrou solução satisfatório com a entrada de frei Laetus Höttges, para o corpo docente e como prefeito do internato. Esse sacerdote Victor Konder
Em 1920, ano atípico confirmado no texto de Victor Konder. Frei Laetus Höttges estabeleceu inovações e regulamentos. Seu sucessor foi frei Joaquim Adams que exerceu a prefeitura por seis anos consecutivos, permanecendo no cargo até 1927. Em 1921 o Colégio Santo Antônio contava com a matrícula de 221 alunos, dentre os quais 50 internos. Continuava funcionando em regime de internato masculino e externato misto, mantendo três cursos: primário, médio e secundário que funcionava com as cinco primeiras séries ginasiais. Oferecia também o Curso Colegial e Comercial, Básico e Técnico de Contabilidade. Para obter a licença da Divisão de Ensino Secundário do Departamento Nacional de Educação havia procedimentos a seguir. Muitos foram os relatórios que os dirigentes do Colégio produziram para obter a licença preliminar e também a permanente. Nestes relatórios, os itens mais frequentes eram os relacionados ao processo de nacionalização. Um exemplo disto pode ser observado no relatório para obter a inspeção permanente:
O Colégio Santo Antônio é mantido pela Província Franciscana do Sul do Brasil. O Diretor é sacerdote da mesma Ordem Franciscana, brasileiro nato. Os professores são sacerdotes da Ordem ou leigos contratados para o magistério, brasileiros natos ou naturalizados. (…) O Colégio Santo Antônio é indubitavelmente o mais importante fator para a nacionalização desta zona, habitada por imigrantes alemães e seus descendentes. Por esse motivo tem dificuldades especiais a vencer.
De acordo com a matéria especial do JSC, pela passagem dos 100 anos do Colégio Santo Antônio, era de conhecimento público que os freis franciscanos eram bons estrategistas e estes conseguiam burlar a vigilância tanto das autoridades como das pessoas que pudessem ter alguma influência nos meios jornalísticos. O que se nota é que os dirigentes buscavam sempre se adequar às normas para que não fossem alvo direto de retaliações dos órgãos governamentais. Paz e boa vizinhança.
Com isso houve um relacionamento harmônico com o exército, que se instalou em Blumenau para a manutenção da “Ordem”. Entretanto, tinham problemas com as autoridades que fiscalizavam as escolas, os inspetores. Ficou evidenciado esse problema, nos documentos encontrados, que foi solucionado pelos dirigentes. Um exemplo foi encontrado no documento assinado pelo inspetor Escolar Adriano Mosimann:
Da rápida visita feita, nesta data, no Colégio Santo Antônio de Blumenau, levei muito boa impressão: seu ensino é ótimo e as disposições legais referentes à nacionalização estão sendo cumpridas escrupulosamente. (…) Todo o ensino é ministrado na língua vernácula; apenas a doutrina cristã para os teutos e as aulas de alemão em geral são dadas na língua de Goethe, ao todo seis aulas semanais. (…) O Sr. Diretor e todos os seus dignos auxiliares conhecem e falam, fluentemente, a língua vernácula. Desta forma, pode-se dizer que o processo de Nacionalização foi muito bem articulado pelas autoridades do governo e seguido, na maioria das vezes, pelos estabelecimentos de ensino, pois caso contrário, muitos correriam o risco de fechar suas portas. DIEGOLI, 2005.
Da visita que o Dr. José Boiteux, então secretario do Interior e Justiça, fez ao Colégio Santo Antônio, resultou a publicação de um decreto oficial, admitindo á matricula no Instituto Polytechnico, de Florianópolis, independente de exame, os alunos que concluíssem o curso secundário. Desse ato resultou, naturalmente, a necessidade de uma reforma do programa adoptado até então. Sendo, por esse tempo (1921), substituído na direção do Colégio frei Estanislau, por frei Ernesto Emmendörfer. Victor Konder
Em 1921, o frei Ernesto Emmendörfer assumiu a direção do colégio. Houve mudanças nos cursos destinados ao comércio, com o acréscimo das disciplinas de Escrituração Mercantil, Estenografia e Datilografia. O Colégio tinha convênio com o instituto Comercial do Rio de Janeiro e por isso os formandos recebiam o Diploma de Guarda-Livros, na conclusão do curso.
Em 1922, o Colégio Santo Antônio passou a ocupar também o edifício abandonado que era ocupado pelo Colégio Seráfico, transferido para Rio Negro. Foi amplamente reformado, com novas matrículas e surgiu o Ginásio’, de forma oficial.
De acordo com informações publicadas por Victor Konder, o ensino, primário e complementar, não sofreram alteração. Continuaram o primário em 4 classes e o complementar em 2, com curso de 3 anos. O superior, continuou para formação de professores e para os que se destinavam ao comércio, juntando-se, para estes, matérias novas, como sejam escrituração mercantil em partidas simples e dobradas, estenografia e datilografia.
Também houve dificuldades para resolver.
Frei Marcello Baumeister, sempre incansável, entretanto, para tudo tem encontrado solução e continua a prover, dispondo, como dispõe, de grande pratica e acertado tiro, a tudo quanto se relaciona com a parte material da obra magnifica do Pe. Jacobs. Victor Konder
Em 1922, foram aumentadas as salas de aulas e a ala sul, em que existia a carpintaria, foi desocupada. A antiga edificação também foi transformada em salas de aula, para estudos e teatro. Com essa reforma, puderam ser também instalados gabinetes de Física e Historia Natural, providos de aparelhos físico-químicos, coleções de moedas, amostras de zoologia, arqueologia, etc.
Em 1926, foi instalada uma estação receptora de radiotelefonia. As matriculas aumentaram. Em 1925, foram 337 alunos matriculados, dos quais, 104 eram internos. O numero de professores somou nove. Dos alunos matriculados, 242 eram naturais de Blumenau, os demais de várias regiões de Santa Catarina, do Paraná e do Rio Grande do Sul.
O programa foi o mesmo de 1921, porém, foram introduzidas várias questões do ensino prático.
Em 1923, houve a primeira formatura dos alunos do curso comercial, e os formandos receberam o diploma de guarda-livros, reconhecido pelos governos federal e estadual.
Do corpo docente, frei Estanislau Schaette é o mais antigo professor que tem prestado inestimáveis serviços ao Colégio. Frei Ernesto Emmendörfer, desde 1921, está na direção do Colégio, exercendo também o magistério. Auxiliando o frei Genésio Hausen, desde 1919, frei Dionysio Mebus, frei Tarcísio Schreheuberg, como professor de canto e prefeito do internato. Mais cinco professores leigos trabalham com os padres franciscanos: Pedro Weinand, professor do curso comercial, Max Kreibich, José Venancio Finger, Marcellino Bona e Alex Schmidt.
Não deve ficar esquecido o nome de frei Cesario Elpel que trabalhou no Colégio de 1893-97. Esse sacerdote organizou um estudo de taquigrafia pelo sistema Gabelsberger que foi mais tarde publicado pelo padre jesuíta Benoit. Frei Zeno Wallbröhl, um dos primeiros professores do Colégio, faleceu em 1926, com soma inestimável de serviços que certamente o Colégio Santo Antônio nunca pagará. Victor Konder
Em 1932 aconteceu a inspeção desta parte de colégio de maneira preliminar e em 1938 de maneira permanente. Um dos inspetores federal que frequentemente visitava o Colégio Santo Antônio foi aquele que décadas depois foi prefeito de Blumenau e responsável por criar veículos de resgate da história da cidade através da criação do Arquivo Histórico e a publicação da revista Blumenau em Cadernos, uma de nossas fontes primárias – José Ferreira da Silva. Neste período Ferreira da Silva contava 35 anos de idade.
Por ser uma cidade colonizada por imigrantes alemães, durante o período do Nacionalismo, Blumenau foi uma das cidades mais vigiadas do estado. O Colégio Santo Antônio, dirigido por religiosos alemães, sofria uma vigilância muito grande. De acordo com a publicação Caderno Especial do JSC, com relação à guerra, muitas providências foram tomadas, pautadas em 4 questões principais:
a) a proteção dos alunos;
b) a continuidade do ensino;
c)a preservação do arquivo escolar (que atualmente não existe mais);
d)a previsão da mobilização escolar.
Por precaução, após tudo devidamente explicador ao corpo docente e discente, foi a descrição das instalações e primeiros socorros que o colégio forneceu caso “o pior pudesse suceder”. O Colégio instalou um posto de primeiros socorros não só para os alunos como também para as pessoas da cidade que necessitassem. Também professores receberam formação para prestar os primeiros socorros. Interessante que foram levantadas questões a serem sondadas, tais como inscrever o diretor ou professor no Curso de Defesa Passiva Antiaérea; confeccionar sacos de areia para servir de abrigo antiaéreo; afastar as salas de laboratório para lugar seguro; organizar turmas de costura para os soldados abertas ao sexo feminino; entre outras.
O documento que apontava estas questões chamava atenção para que essas observações não fossem motivo de alarme, mas sim que servissem para que os estabelecimentos de ensino “constituíssem centros de socorros e auxílios materiais à comunidade.
(…) e que irradiem pela propaganda sadia, pelo exemplo do trabalho e pelo fervor patriótico o incentivo moral que aos educadores compete transmitir à população civil”. Vale ressaltar que em todos os documentos referentes ao esforço de guerra vinha um apelo ao “entusiasmo cívico”, a “união”, ao “empenho”, ao “patriotismo” e a “defesa nacional”. DIEGOLI, 2005
De acordo com DIEGOLI, 2005, os freis eram extremamente cuidadosos ao tomar as providências necessárias em relação ao período que se chamou na região, de Nacionalismo. Os alunos não chegavam a notar mudanças drásticas no cotidiano escolar. A proibição de falar alemão era o que mais radicalizava, o que não ocorria na cidade, onde os assuntos giravam, além do Nacionalismo, também da guerra.
Já na cidade, quando passeávamos pelo centro, todos conversavam sobre a guerra, falávamos sobre os que tinham sido presos, sobre os que tinham que tomar cuidado Eu até participei de uma passeata em 1945 contra a guerra. Nós não fomos pelo colégio, mas o Colégio incentivou que fossemos, tinham muitas bandeiras brasileiras. Ex-aluno do colégio – período de 1942 a 1948, DIEGOLI, 2005
Em 1941, frei Odo Rosbach assume a direção do Colégio. Como mencionado, Colégio era muito vigiado. Boa parte dos professores religiosos eram alemães. O convento teve suas instalações vasculhadas em busca de radiotransmissores e o colégio também ficou sob a mira da investigação. Frei Fernando Fiene, professor de Física e Química foi preso e transferido para Florianópolis, onde havia um campo de concentração. Mesmo assim, os freis mantinham bom relacionamento com os representantes do 23BI.
O batalhão andava sempre pelo colégio, eles davam instrução militar para os formandos. Era chamado “Centro de Instrução Pré-Militar” e eram dois tenentes que nos davam treinamento (apenas para os internos). Na minha época tinham dois freis alemães e eles se davam muito bem com o pessoal do Batalhão. Deve ser por isso que ninguém os incomodava. Ex-aluno, DIEGOLI, 2005.
Diante de todo esse quadro, decidiu-se entregar a direção do Colégio Santo Antônio a um religioso brasileiro. Assumiu o frei Odorico Durieux (1908 – 1997). Nós chegamos a conhecer o frei Odorico, pois permaneceu, por mais de 40 anos no colégio. Além de dirigir o colégio, sua área de conhecimento abrangia d literatura portuguesa e francesa e também a a oratória.
Nas gestão do frei Odorico aconteceu a Reforma Capanema, que substituía o quinto ano ginasial por três anos colegiais. Havia a opção entre o curso clássico e científico.
Durante o período da guerra foram tomadas medidas, principalmente com os professores naturais da Alemanha e da Itália, que deveriam seguir orientações externas e eram observados, sem que com isso os trabalhos com o ensino pudessem sofrer algum dano.
Escola de Comércio
Criada para atender à demanda de mão de obra técnica na área do comércio, pois, mesmo sendo formados, os formados não conseguiam colocação por não possuírem diploma específico na área. Após reivindicações para que fosse instituído o diploma, em 1943 o colégio abriu a Escola de Comércio Santo Antônio, de maneira oficial e com o status de ensino superior. Posteriormente, não conseguindo transformar-se em uma Faculdade, como nível técnico, se transformou na Escola Técnica de Comércio Santo Antônio. Até a década de 1980, haviam se formado no curso mais de 1700 contabilistas.
Ainda na gestão do frei Odorico, em 1947, a guerra já havia terminado, foi confiada ao Colégio Santo Antônio a abertura do curso do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), o primeiro de Santa Catarina. Posteriormente o SENAC se instalou em sede com administrações próprias.
Em 1948 assumiu novamente o frei Ernest Emmendoerfer. Na sua gestão foi construído o novo edifício com três pavimentos, no meio da ala do internato, onde foram instaladas todas as séries ginasiais e colegiais.
Os internos permaneceram no outro pavilhão, com salas de estudo, recreio, biblioteca, refeitório e no segundo piso , dormitórios para 154 internos. Quando o novo edifício estava recém concluído, antes de mais nada, foi o espaço para Parque de Exposição Industrial do Centenário de Blumenau. Foi um acréscimo físico que contribuiu e muito para o aumento de recursos do colégio.
Em 1961, frei Odorico retorna à direção do Colégio Santo Antônio. Foi criado o Clube de Ciências Naturais. O colégio tinha quase mil alunos matriculados.
Em 1965, assumiu como diretor o frei Apolônio Weil, que também foi diretor do Colégio Diocesano de Lages e do Colégio de Bastos e do Seminário de Agudos. Na sua gestão, os esportes receberam espaço.
Em 1968 assumiu frei Wilson Steiner. Criou os jogos internos – JINCOSA e oficializou as exposições de científicas. A banda musical recebeu instrumentos musicais novos.
Na década de 1970 a atenção foi focada no centenário do Colégio Santo Antônio, amplamente comemorado. Havia muita coisa para ser feita. Do velho edifício ao Salão Nobre. Foi formada uma comissão por iniciativa de Karl Heinz Rischbieter que foi presidida por Adolfo Luiz Altenburg.
O Colégio Santo Antônio passou por uma ampla reforma. A ala do antigo internato foi transformada em 14 salas de aulas, biblioteca, sala de professores, Coordenação Pedagógica e Religiosa, Ambulatório, Sanitários para funcionários e professores, espaço para atividades artísticas, nos porões, cujo pé-direito foi ampliado com afundamento do solo, que também rendeu espaço para laboratório de ciências do 1° grau, depósito, sala de mimeografai, cantina e refeitório para o café dos professores, Orientação Educacional e um ambiente para a computação. Também foi instalado um sistema central de som. O Salão novo recebeu novo piso de tacos e novas poltronas, sala de projeções de filmes e slides, vestiários masculinos e femininos entre outros ambientes. Os pátios receberam revestimentos de concretos e o antigo edifício das irmãs, transformados em sala de aula, depósito de limpeza, almoxarifado central e depósito de lenha. Também outros ambientes foram readequados e receberam manutenção ampla.
Quanto ao centenário do Colégio Santo Antônio, houve duas datas comemorativas. A primeira em 16 de janeiro de 1977, comemorada internamente com os envolvido da casa e a segunda aconteceu em 13 de junho, envolvendo a comunidade blumenauense e foi um evento oficial, contando com a presença de autoridades do estado e da região. Nos dois eventos foi cantado o hino do centenário do Colégio Santo Antônio, cuja letra é de Eduardo Tavares e a música é do frei José Luiz Prim.
Não encontramos oficial homenagem ao fundador do Colégio Santo Antônio, nos eventos de seu centenário.
No banquete do dia 13 de junho foi a figura oficial o Dr. Antônio Carlos Konder Reis, que se auto apelidou ‘ex-aluno’, porquanto seu irmão, o poeta Marcos Konder Reis, aqui estudara, não tendo ele, governador de santa Catarina, tido essa sorte, por mudança da família.
Os Lions Clubes ‘Blumenau Sul”, Cidade Jardim’ e ‘Blumenau Garcia’ proveram a ereção dum marco comemorativo projetado por Egon Belz. Em torno do marco, sobre blocos de superfície polida, o granito rosa conserva as estrofes do poema ‘Meditação de São Francisco em Blumenau no pátio do Colégio Santo Antônio num dia qualquer’ composto no estilo moderno da época pelo ex-aluno Lindolfo Bell. Na inauguração foi lavrada uma ata. As principais personalidades levaram de lembrança um medalhão de cromo níquel confeccionado em Caxias do Sul. FRADES DE PESQUISA, 1984.
Após a reforma e a mudança de layout, o colégio dispôs de mais salas de aula, e, com isso, ofereceu mais opções de ensino profissionalizante em turno noturno, com as opções de Técnico em Administração e de Habilitação Básica em Química. Não prosperou.
O antigo campo de futebol foi transformado em um ginásio de esportes coberto, contendo 3 quadras polivalentes com capacidade para 1200 torcedores, com ambientes necessários afins, como sanitários, vestiários, pronto socorro, ambientes de material esportivo, etc., inaugurado em 1° de junho de 1984.
Nome das personalidades e respectivas funções, dos ex-alunos do século XX
Professor Oswaldo Furlan a partir do cf. Centenário de Blumenau, p. 300, “Colégio S. Antônio”, de frei Ernesto Emmendoerfer.
No setor de administração pública:
- Adolpho Konder, ex-governador de SC;
- Victor Konder, ex-ministro da Viação e Obras Públicas;
- Francisco Hoeltgebaum, coordenador atual da 4a região do Ministério da Agricultura;
Félix Theiss, prefeito de Blumenau, eleito a 15-11-72; - Aldo Pereira de Andrade, deputado estadual e candidato à Prefeitura de Blumenau em 1972;
- Hercílio Deeke, ex-prefeito de Blumenau, ex-deputado e ex-secretário do Governo;
- Carlos Curt Zadrozny, ex-prefeito de Blumenau; um dos atuais diretores da ARTEX com o irmão Júlio.
- Júlio Zadrozny, ex-presidente da CELESC e co-diretor da ARTEX;
- José Germano Schaefer, prefeito de Brusque até 1972;
- Horst Otto Domning, prefeito de Timbó até 1972;
- Pedro Paulo Colin, presidente de Partido em Joinville e Deputado Federal;
- Moacir Bértoli, prefeito de Taió, até 1972;
- Jorge Hardt, vice-prefeito de Indaial, eleito em 1972;
- Desiré G. da Silva, ex-senador pelo Pará;
- Deriel Rainoldo da Silva, fiscal do Imposto de Consumo, residente em São Paulo;
- Pedro Alcântara Pereira Filho, fiscal do Imposto de Consumo, residente em Florianópolis.
No setor de economia, indústria e comércio
- Bernardo Wolfgang Werner, presidente da Federação das Indústrias de SC;
- Paulo de Freitas Melro, da SUDESUL;
- Marcos Henrique Buechler, diretor da Electro-Aço Altona, Blumenau;
- Roberto Buechler, engenheiro-chefe da General Motors, SP;
- Jorge Buechler, diretor da Empresa Industrial Garcia, Blumenau;
- Klaus Adelmann, gerente do Banco do Estado de SC;
- Lothar Stein, gerente do Banco do Estado de SC;
- Aurélio Rochadel, contador-chefe da COBAL, Brasília;
- Amo Hering, diretor da Cia. Hering, filial São Paulo;
- Rolf Kuehnrich, diretor da Tecelagem Kuehnrich, Blumenau;
- Gerd Egon Vida I, diretor da COBAL, Brasília;
- Wittich e Egon Freytag, diretores da fábrica Consul, Joinville;
- Josef Thiemann, químico da Pfizer, SP;
- Percy Straetz, químico da Samrig, SP;
- Waldemar Schloesser, diretor-preso da Cia. Ind. Schloesser;
- Ralf Karsten, diretor-presidente da Firma Karsten, Rio do Testo;
- Klaus Zoellner, engenheiro, com estudos nos USA, residente em SP;
- Hildegard Thiemann, médica, em São Paulo;
- Siegfried Wahle, químico, em SP;
- Aderbal Schaefer, da Empresa de Onibus Brusquense;
- Heinz Schwarz e Jayme Beduschi, altos funcionários do Banco do Brasil;
- Álvaro Alcârtara Pereira, chefe de um dos setores da NASA, nos USA.
No setor do ensino e da educação
- Dr. Rivadávia Wollstein, diretor da Fac., de Fil., Ciências e Letras da FURB;
- Pe. Orlando Murphy (1 ano), reitor da FURB;
- Martinho Cardoso da Veiga, ex-diretor da Fac. de Ciencias Economicas da FURB;
- Dr. Victor Sasse, diretor da Comissão de Planejamento da FURB, e candidato à Prefeitura de Blumenau em 1972, e prefeito da cidade em 1990;
- Glauco Beduschi, diretor da Fac. de Ciências Econômicas da FURB;
- Arão Rebelo, ex-inspetor federal de ensino, também do S. Antônio;
- Max Kreibich, 46 anos prof. no Colégio e formado no S. Antônio;
- João Mosimann, decano dos prof. do S. Antônio; desde 1-8-38.
No setor do ministério eclesiástico
- Dom Inocêncio Engelke: falecido bispo de Campanha, Minas;
- Frei Virgílio Berri, franciscano, na Penha, ES;
- Frei Silvério Weber, de Rio do Testo, com ordenação sacerdotal marcada para 9-12-72, na matriz S. Paulo Apóstolo de Blumenau.
Atividades educacionais até 1972 – Frei Oswaldo Furlan
De acordo com frei Furlan, em 1972 a matrícula total atingiu 1051 inscrições, distribuídas nos seguintes cursos:
-
- Ginasial – 413;
- Científico – 265;
- Técnico de Contabilidade – 373;
- Escola Paroquial, com curso primário (desde 1963) -152 alunos, passou a funcionar no Colégio Santo Antônio plenamente em 1973 (Lei 5692) ao lado dos cursos do Científico e Contabilidade.
O Colégio incentiva o método da Criatividade Comunitária, em favor do qual já ofereceu aos professores dois treinamentos de 40 horas. Nos últimos 16 anos, isto é, de 1956 a 1972, o total de matrículas subiu de 610 para 1051, crescendo na média de 20 alunos por ano. O aumento é insignificante, mas não deixa de revelar a cotação firme do S. Antônio porque o Governo concorreu entrementes com a gratuidade do ensino, abrindo ginásios em todos os bairros e o grande Pedro lI, com o Científico e Normal, bem no centro da cidade. Oswaldo Furlan, 1972
Ainda de acordo com frei Oswaldo Furlan em sua publicação de 1972, na passagem dos 95° aniversário, o colégio Santo Antônio tinha uma equipe formada por 36 professores, destes, 6 eram padres. Eram eles:
-
- Frei Odo Rossbach: Decano da equipe, e em 1972 trabalhava no Colégio desde 1940, somando 33 anos. Foi co-fundador do Curso Técnico de Contabilidade, Secretário e Administrador dentro da equipe.
- Frei Odorico Durieux: Chegamos a conhecer pessoalmente o frei Odorico. Em 1972 tinha contava com 23 anos de serviços (além de 8 anos prestados ao Colégio Diocesano de Lages). Em 1972, ocupava os cargos de vice-diretor, professor e animador do Grêmio Monte Alverne que fundou.
- Frei Ervino Bentler: Chegou ao grupo do colégio em 1955 como professor e, desde 1956, orientador do Internato.
- Frei Wilson Steiner: Em 1972, era professor desde 1966, e Diretor desde 1968.
- Frei Pascoal Fusinato: Também conhecemos o frei Pascoal e foi orientador educacional desde que chegou ao colégio, em 1959.
Freis da História das primeiras décadas do Colégio Santo Antônio
Alguns nomes de freis franciscanos – dentro da história do Colégio Santo Antônio que trabalharam no local, destacados por José Ferreira da Silva no livro “História de Blumenau”, sendo que antes de listá-los, Ferreira lembrou do primeiro, padre José Maria Jacobs, quase não lembrado na história do colégio.
Os freis são:
a) Os que chegaram ao Colégio Santo Antônio em 13 de março de 1892:
- Frei Zeno Wallbroehl;
- Frei Lucínio Korte, Ministro Provincial;
- Frei Amando Bahlmann, Bispo de Santarém.
b) Frei Estanislau Schaette
Trabalhou no Colégio Santo Antônio entre os anos de 1912-1932). Foi um autor destacado, com muitas publicações no Vale do Itajaí. Quando completou 50 anos de vida religiosa, em 1946, e residindo em Petrópolis RJ, a comunidade de Blumenau o convidou para vir à cidade, receber homenagens pelo jubileu. Faleceu e foi sepultado, em 1960, em Petrópolis. Foi homenageado novamente, quando seu nome foi colocado em uma rua de Blumenau: “Rua Frei Estanislau Schaette”.
c) Frei Ernest Emmendoerfer
Foi diretor do Colégio Santo Antônio entre os anos 1921 e 1941 e entre os anos de 1948 e 1962. Trabalhou no colégio por 40 anos. Foi uma dos principais responsáveis pelo conteúdo da publicação “Centenário de Blumenau”, com mais de 500 páginas contendo texto e fotografias. Foi Presidente da Sub-Comissão do Livro e autor dos capítulos:
– Exportação e Importação p. 210-222;
– Meios de Comunicação p. 249-260;
– Vida Católica em Blumenau (com frei Estanislau Schaette), p. 277-283;
– O ensino particular em Blumenau, p. 283-298;
– Colégio S. Antônio, p . 298-301,
– Introdução
Também organizou o acervo fotográfico da obra.
Nos últimos anos, frei Ernesto Emmendoerfer prestou assistência religiosa em um Sanatório na Alemanha.
d) Frei Fulgêncio Kaup
Trabalhou no Colégio Santo Antônio entre os anos 1940 e 1968, quando faleceu. Em 1963, ano de jubileu sacerdotal de frei Fulgêncio e do frei Brás Reuter foram homenageados no Teatro Carlos Gomes com sessão solene de orquestra, coro e recitação. Também a Câmara de vereadores, em sessão conjunta, extraordinária e pública, conferiu a ambos, o título de “Cidadão Blumenauense”.
Durante 28 anos seguidos Frei Fulgêncio dedicou-se a Blumenau. Foi educador exímio, um verdadeiro modelador de caracteres, um orientador seguro e eficiente. Escondia, sob uma modéstia quase exagerada, sob uma humildade verdadeiramente franciscana, um caráter reto, uma formação de rara nobreza, uma intellgencia peregrina e, ainda, uma cultura variada e profunda. Foi um e um sábio. Noivos e esposos tiveram sempre nele um conselheiro prudente, um guia sábio e caridoso, um amigo sincero, um verdadeiro pai. Vereador José Ferreira da Silva – 1968.
e) Frei Brás Reuter
Foi vigário na paróquia centro de Blumenau, por durante 12 anos, responsável pela construção da nova igreja projetada pelos arquitetos dos arquitetos Dominikus Böhm e de Gottfried Böhm e demolição da antiga projetada por Heinrich Krohberger.
f) Frei Eusébio Paulus
Orientador do colégio entre os anos de 1932 a 1955, isto é 23 anos.
g) Frei Fortunato Nieweler
Trabalho no colégio entre os anos de 1912 e 1957. Em 1946, por ocasião de seu de ouro, a Câmara de vereadores oficiou “um voto de reconhecimento” pelo trabalho dedicado.
h) Frei Gaudêncio Angelhardt
Trabalho no colégio entre os anos 1920-22 e 1935-1954. Teve destaque na pesquisa da mineralogia itajaiense. Também foi um reconhecido compositor musical.
Madama Murphy – o braço direito do padre Jacobs
O nome verdadeiro de Madama era Mary Anne O’Brien e de seu falecido esposo, Cornelius Murphy. Mary e Cornelius se casaram em 1854 na Irlanda. Migraram para Blumenau com seus filhos. A família vivia em uma casa provisória construída de palmitos, na povoação de Altona. Em 9 de Novembro de 1879 à noite, um tigre invadiu a casa e feriu gravemente Cornelius. No dia seguinte, foi levado para Blumenau, onde faleceu. Nesse momento o padre José Maria Jacobs levou as crianças para o Colégio e deu trabalho e casa para Mary. Ficou conhecida como Madama e tornou-se o braço direito do Padre Jacobs, principalmente quando este precisava se ausentar do colégio por conta dos compromissos nas capelas. Praticamente todas as semanas, a cavalo ou de carro, padre Jacobs visitava suas diversas capelas do interior da Colônia Blumenau. Deixava a sede paroquial e o colégio sob a responsabilidade de Madama, até que de fato, passou a direção do Colégio para ela. Madama também era chamada de Mistress Murphy. A Madama, era, de fato, a diretora ou reitora do Colégio. Também não encontramos seu nome em registros oficiais.
Era de sua responsabilidade manter a ordem interna do colégio, como também, prover a subsistência e as demais responsabilidades do local. Também lhe cabiam o julgamento e a execução das infrações disciplinares menos graves, ficando reservada ao padre Jacob a punição das faltas maiores. Madama, ao longo da semana, cuidava das faltas menores e as maiores anotava, para repassar ao padre Jacobs, para que esse conhecesse no seu regresso de suas excursões semanal.
Madama exerceu o seu cargo até 1892, passando depois para a casa de seu filho Willy Murphy, que se casou em 12 de janeiro de 1897 com Catharina Baader. Mary Anne (O’Brien) Murphy faleceu em 10 de março de 1923, em Indaial e na cidade era chamada de Marianne Brien.
Aos sábados era, portanto, o dia de juízo dos grandes pecadores e, diga-se a verdade, o padre Jacob não costumava tratar com luvas de pelica os alunos necessitados de correição. Verdade é também que entre os culpados alguns justos pagaram o mal não feito. Mas, isto apenas confirma a imperfeição de todos os governos humanos, principalmente quando eles são orientados por criaturas cheias de caprichos, como são ás vezes certas mulheres. :/ Marcos Konder
De acordo ainda com a descrição feita por Marcos Konder pela passagem de 50 anos do Colégio, a Mistress Murphy não faltavam boas qualidades. De acordo com o ex-aluno, ela era virtuosa e diligente, incansável mesmo no seu mister de dona de casa, mas para dirigir um estabelecimento de educação exigia-se mais alguma cousa. Seu espírito de mulher inculta carecia de senso pedagógico e das menores noções de psicologia infantil. Será?
O fundador – Padre e Professor José Maria Jacobs
O padre José Maria Jacobs
Por Gertrudes Hering Gross – Filha de Hermann Hering
Foi o primeiro vigário da paróquia de São Paulo Apóstolo de Blumenau.
Foi, também, o fundador do Colégio São Paulo, atual Santo Antônio e do respectivo internato.
Sua batina negra assentava bem na sua alta figura; seu rosto denotava profunda seriedade.
Lembro-me dele ainda muito bem. Meus pais chegaram a conhecê-lo durante a enchente de 1880 e, desde então, vez por outra, fazia uma visita à nossa casa. O fato deu-se assim: Quando, em julho de 1880, o tio Bruno Hering e minha mãe, em companhia de cinco filhos (os dois mais velhos tinham vindo com papai, no ano anterior), chegaram a Blumenau, vindos da Alemanha, aqui chovia muito e, dentro em pouco, o Itajaí ultrapassava as suas margens.
Papai não acreditava que houvesse uma grande enchente e procurava tranquilizar minha mãe. Até que uma manhã, a água estava em nosso quintal e continuava a subir. Só então, papai, com o auxílio de seu irmão Bruno, começou a transferir móveis e utensílios para o sótão. Mas o novo tear, que foi o começo do desenvolvimento da nossa indústria, não pôde mais ser desmontado. Teve que ser deixado aos azares da sorte.
Enquanto as águas continuavam subindo sempre, mamãe, com as crianças (eu era levada ao colo) foi rua acima, ainda não tomada pelas águas, a procura de um asilo mais seguro. É fácil imaginar o desespero de mamãe, diante da maneira com que os céus haviam preparado a nossa recepção numa terra estranha. E foi, com voz quase desesperada, que exclamou para o vigário, de pé, ao alto da escada que levava ao adro da igreja: – Senhor padre, nós morreremos todos afogados!
– Nem tanto, senhora Hering. Suba com as suas crianças. Na nossa igreja ainda há muito lugar!
Ele nos acompanhou até ao alto. Já muitos moradores haviam procurado abrigo na igreja e o seu número ia aumentando de instante em instante. Como um pai, o padre Jacobs cuidava de todos. Ele mandou cozinhar um panelão de feijão preto e assar pão de milho. Ninguém precisou passar fome e as suas palavras de confiança contribuíram para levantar o ânimo de todos. Somente as noites, sobre os duros bancos e sobre o chão de pedras, deveriam ter sido medonhas, agravadas com a lembrança de como estariam correndo as coisas em casa.
Apesar de tudo, não faltou o lado cômico. Assim numa noite em que eu, deitada num banco, sob o qual o dentista Hertel se acomodara, de tanto rolar-me, caí-lhe sobre a cabeça e ele, assustado, gritou: – Céus, agora é que as gotas engrossaram! Tais momentos de humor concorreram para desanuviar o ambiente.
Aqueles dias de desgraça, criaram laços de amizade entre os refugiados e o padre Jacobs.
Assim é que, ainda anos depois, ele visitava meus pais, entretendo-se, com estes, sobre literatura e a situação mundial, assuntos de sua preferência. Ele tomava-me, então, sabre os joelhos, ocasião em que eu lhe observava atentamente as suas feições. Seus traços deixaram-me impressão tão profunda que eu poderia, ainda hoje, pintar o seu rosto grande e amorenado, os seus olhos escuros e a sua boca pequena. E porque duas das minhas irmãs frequentassem a “Escola do padre Jacobs” os contatos tornaram-se mais respeitosos, sem perder a franqueza alegre. Nós, com as crianças maiores, ficamos conhecendo as salas de aula, quando eram representadas pequenas peças teatrais, em que as nossas manas tomavam parte. Também conhecemos o professor Pies e o professor Hermann e, igualmente, a madama Murphy, a caseira do padre Jacobs e, ao mesmo tempo, prefeita do internato. Ela morava em companhia da cega Regina, uma órfã, na antiga capela de madeira. Essa Regina, que apesar da sua cegueira, sabia bordar e costurar, tinha um ouvido muito afinado. E graças a ele, pôde, certa vez, evitar um roubo na igreja. Seu ouvido sentira o fraco ruído e, dado o alarma, o ladrão fugiu.
Madama Murphy era viúva de um inglês que, à beira do mato, nas proximidades de Blumenau, foi atacado por um tigre, à noite, morrendo em consequência dos ferimentos recebidos. O rancho que ele, a mulher e o único filho habitavam, fora construído com muitas frestas e o tigre (certamente idoso, que dificilmente, encontrava presas no mato) meteu a pata pelas frestas, através das quais farejara a vítima, e apanhou o homem, que dormia sossegadamente e com tanta infelicidade que o mesmo veio a falecer pouco depois.
“Madama”, como a viúva era conhecida pelos alunos e pelos maiores também, encontrou acolhida, com o filho, na casa paroquial, e passou a exercer os encargos que lhe foram atribuídos, sempre taciturna, em completa misantropia. Nunca a gente a viu sorrir. O susto que tomou, quando o marido foi apanhado, dormindo ao seu lado, ficou-lhe para sempre estampado no rosto.
Como, naquele tempo, o morro da igreja, com a escola, o internato e as demais construções, não estivesse ainda murado, podia-se ver a grande e severa figura da viúva, movimentando-se da igreja para a capela e desta para a casa paroquial, sempre daqui para ali.
A pequena casa paroquial não ficava muito distante da rua, num jardim algo agreste, junto ao qual estava o apiário. Padre Jacobs era também apicultor. Certa vez, queixou-se ele de que os seus católicos eram cantores medíocres e como aproximava-se uma grande festividade religiosa, perguntou ele a meu pai se alguns dos membros do “Saengerchor” não poderiam também comparecer na sua igreja.
Papai foi ao encontro dos seus desejos e uma parte da Sociedade de Cantores (entre os quais ele mesmo e o tio Bruno) apresentou-se no domingo, na igreja, cantando, com os demais, no coro, os versos latinos do Te Deum e o “Ora pro nobis” que, uma semana mais tarde, foi repetido na sua igreja evangélica também, em louvor de Deus, como faziam frequentemente. Tais relações de cordialidade entre fiéis de crenças diferentes, não detiveram, entretanto, o padre Jacobs de, no domingo seguinte, trovejar, do púlpito, contra Lutero. Isso, entretanto; os protestantes não lhe levavam a mal, certos de que ele estava cumprindo o seu dever, sem faltar-lhes com a lealdade com que sempre os tratara.
Esqueci-me de mencionar, ainda, que o padre Jacobs, pouco depois da enchente de 1880, encomendou ao meu irmão Paulo Hering, um trabalho importante: pintar a crucificação de Cristo para a igreja.
Paulo desincumbiu-se do encargo, tão a contento do padre Jacobs que, além de lhe pagar o preço convencionado, deu-lhe uma expressiva carta de recomendação para Roma, ao monsenhor de Val, no Vaticano, a fim de que o portador pudesse prosseguir, nas igrejas dali, os seus estudos de arte religiosa, como pretendia.
O que meu irmão, como rapaz de 20 anos, passou em Roma, foi, mais tarde, registrado nas suas memórias.
Quando veio a lei, proibindo a realização de casamentos religiosos, antes do ato civil, o padre Jacobs a ela se opôs tenazmente. As advertências de nada valeram e a autoridade policial (de cujo nome não me lembro mais) viu-se obrigada a agir. O hoteleiro W. Gross, que era, então, suplente do delegado, foi encarregado de prender o padre. Este, porém, escapara-se para Rodeio, homiziando-se entre os seus leais italianos.
Muito a contra gosto, Gross empreendeu a viagem até lá, acompanhado de policiais. Como se deu a prisão, eu não sei; W. Gross nada contou a respeito. Sei, apenas que, num dia, quando brincávamos diante de uma casa vizinha de W. Gross, vimos passar dois carros de mola e, num deles, estava sentado o padre Jacobs com os olhos parados. Não houve alvoroço popular, nem rostos curiosos. Dos olhos de mamãe, vi que as lágrimas corriam. Todos lamentavam o que acontecera.
O padre Jacobs agiu sempre lealmente pela sua religião. Embora, às vezes, violento, mostrou sempre força de caráter e pode ser tido como mártir.
Nós nunca o pudemos esquecer. Gertrud Hering Gross
A história da fundação e do desenvolvimento do Colégio Santo Antônio/Bom Jesus Santo Antônio, mesmo nada lembrado atualmente e como já mencionava Ministro de Aviação e de Obras Públicas do Brasil, Victor Konder, está diretamente ligada à de seu fundador, o padre José Maria Jacobs.
Para melhor compreensão, lembramos que Hermann Blumenau era luterano, como também, todos os imigrantes chegantes até 1854. Os primeiros imigrantes católicos, geralmente da parte Sul do território da Alemanha atual, chegaram a partir de 1854, em número inferior aos números de luteranos.
Os primeiros católicos de Blumenau frequentavam uma capelinha existente em Belchior. Dez anos depois, construíram na sede da Colônia Blumenau – no mesmo local da atual Catedral, uma capelinha de madeira e cobertura de folhas de palmito, inaugurada no dia 25 de janeiro de 1865, com uma missa solene celebrada pelo padre vigário da freguesia de São Paulo Apóstolo de Gaspar – padre Alberto Gattone.
O padre José Maria Jacobs chegou a Blumenau em 1876. Passou a morar no terreno localizado aos fundos da Igreja. Foi um personagem ativo que contribuiu com a comunidade da Colônia Blumenau, mesmo estando, politicamente, do lado oposto.
O padre José Maria Jacobs nasceu na cidade de Aachen – Renânia, na região da atual Alemanha, em 16 de maio de 1832. Seu pai foi Reinerio José Jacobs. Foi irmão, igualmente de dois padres. A placa colocada na igreja – diz ter nascido em Düren. Questão que ficará aberta à pesquisa.
Sua ordenação aconteceu em 31 de dezembro de 1854, com 22 anos de idade. Coincidentemente, no mesmo ano em que chegaram os primeiros católicos na Colônia Blumenau.
A Congregação dos Redentoristas é uma congregação religiosa católica fundada por Santo Afonso de Ligório, em Scala, perto de Amalfi, na Itália, com o objetivo de trabalhar entre os colonos abandonados em torno de Nápoles, em 1732. Talvez isso o aproximou dos colonos da Colônia Blumenau, pois percebemos que tinha outras opções para sua vida.
O primeiro trabalho como padre de Jacobs foi como um capelão em um castelo, na França. Nessa época foi professor dos filhos de Antoine d´Orleans – Duque de Montpellier (1824-1890), herdeiro do trono espanhol – na cidade de Paris – durante um período de 6 anos. Nesse tempo em que foi professor, conheceu as grandes e importantes cidades europeias, adquirindo cultura e domínio de idiomas. Falava fluentemente: o alemão, inglês, italiano, francês e depois, também, o português, como também escrevia com uma letra impecável, ao contrário de Hermann Blumenau, cuja letra era quase indecifrável.
Antes de vir para o Brasil, em 1860, com 28 anos mudou-se para os Estados Unidos como missionário em Baltimore, onde permaneceu por 16 anos. Tinha uma irmã sua que residia naquele país. Desejando ter mais liberdade para desbravar novos campos missionários, obteve a exclaustração, assumindo como padre secular. Isso significa que saiu da clausura religiosa.
Em fevereiro de 1876, o Papa Pio IX concedeu-lhe uma audiência, na qual lhe confiou a missão de ser o Pároco da Colônia Blumenau. Neste encontro, o padre Jacobs recebeu uma fotografia do Papa e escreveu no verso dela:
“Santíssimo padre, o sacerdote José Maria Jacobs, ao preparar a sua viagem para o Brasil, com o fim de evangelizar os pobres, pede, aos pés de Vossa Santidade, a Bênção Apostólica, para que, como bom pastor, possa congregar, com zelo incansável, as ovelhas errantes; e para que, com caridade paternal, possa apascentá-las e, com elas, um dia, chegar feliz aos prados celestes.”
O Papa escreveu: “A 1º de fevereiro de 1876. Deus vos abençoe”.
Padre Jacobs sempre considerou sua missão em Blumenau, como se fosse uma ordem papal. Chegou ao Rio de Janeiro, com 44 anos, em meados de 1876. Foi recebido pela Família Imperial brasileira. Pediram-lhe que ficasse no Rio de Janeiro, mas respondeu-lhes: “O Papa me enviou para a Colônia Blumenau”.
Antes de chegar à sua comunidade, parou em Joinville onde se encontrou com o padre Carlos Bögershausen, em cuja companhia, passou algumas semanas. O padre Bögerhausen o acompanhou e apresentou-o à comunidade de Blumenau – em 16 de setembro de 1876.
Neste tempo, Blumenau não possuía escola nas proximidades do Stadtplatz e padre Jacobs percebeu que também, muitas famílias de colonos que residiam afastados da centralidade, não possuíam nenhuma perspectiva de que suas crianças frequentassem escolas, independentemente da religião que professassem.
Nas andanças pelo território de sua jurisdição, conheceu as condições primitivas em que viviam os católicos dispersos pelas vizinhas colônias e convenceu-se da necessidade de fundar uma escola central onde os filhos dessas famílias pudessem receber instrução religiosa preparatória à Primeira Comunhão durante o mínimo de um ano, usufruindo ao mesmo tempo de ensino primário (FRANCISCANOS NA EDUCAÇÃO. p. 1)
Quando chegou à Colônia Blumenau, residiam poucos católicos na sua sede. Ao todo, eram 61 católicos e 539 protestantes. A maioria dos imigrantes católicos foi distribuída no interior da colônia, de acordo com o padre Besen. O que muito dificultou a formação comunitária e religiosa. A situação mudou, quando chegaram os imigrantes tiroleses, italianos e poloneses entre 1875-1876.
Quando chegou, o padre José Maria Jacobs foi para o interior, onde se encontrava a maiorias dos fiéis de sua comunidade.
Seu raio de ação levou-o a fundar as comunidades católicas de Pomerode, Timbó, Indaial, Ascurra, Rodeio e Rio dos Cedros. Como bom pastor, tinha consciência de que as comunidades de imigrantes necessitavam vitalmente de uma casa da comunidade, caso contrário se fragmentariam em desavença. Padre Besen.
Construiu capelas no interior e nomeia pessoas de cada comunidade para orientar o culto dominical. Tinha uma agenda cheia que sintetizava mais ou menos estas atividades: cedo, confissões e celebração da Missa; em seguida, primeira pregação; após o meio-dia, catequese para as crianças; o resto do tempo passava no confessionário; à noite, prolongada pregação, isso em 1876.
Em 16 de janeiro de 1877, quatro meses após a sua chegada em Blumenau e após sentir falta de Escola Paroquial, fundou-a na antiga capela de madeira de Blumenau quando fundou a “Colégio São Paulo”, futuro Colégio Santo Antônio, com objetivo em destinar a formação primária e religiosa aos filhos dos colonos católicos, em regime de internato.
O Colégio Santo Antônio nasceu duma preocupação pastoral. Seu fundador, padre José Maria Jacobs, ex-redentorista nascido na Renânia, (…), viera estabelecer-se na Colônia do Dr. Blumenau no dia 16 de setembro de 1876, engajado pelo Governo Imperial, como cura da igrejinha de São Paulo Apóstolo, capelania dependente da freguesia de São Pedro de Gaspar. Frades de Pesquisa – Colégio Santo Antônio – 1984.
Com o crédito pessoal e a qualidade do ensino, passou a receber subvenção estatal, às vezes suspensa por picuinhas e invejas locais que repercutiam na Capital. Promotor vocacional, viu três alunos serem ordenados padres no Rio de Janeiro em 19 de dezembro de 1881: Giacomo Vincenzi, Richard Drewitz e João Nicolau Alpen, os dois últimos ex-luteranos. Os três foram provisionados no Rio de Janeiro onde exercitaram fecundo ministério. Padre Besen
Enviou significativo número de jovens para o Rio ou para o Caraça, em Minas, dois centros de excelência pedagógica: retornando, tornaram-se importantes líderes na comunidade.
Além do seu trabalho espiritual, padre Jacobs se envolveu com várias frentes de trabalhos comunitários, desde pesquisas biológicas e palestras dentro do Kulturverein, a criação da casa São José (hotel, restaurante, salão de festas, a primeira rodoviária, entre outras funções), que desviou a centralidade do Stadtplatz da Colônia Blumenau para a rua XV de Novembro, com objetivo de bem acolher católicos das mais longínquas regiões da Colônia Blumenau, até a fundação de uma escola alemã primária, Colégio São Paulo (somente 4 meses após sua chegada).
Quando pôs em prática seu plano de fundar uma escola, em 16 de janeiro de 1877, funcionando na antiga capela de madeira em desuso desde a inauguração da igreja matriz em 24 de dezembro de 1876, ainda não era o pároco de Blumenau. Foi somente quando foi instalada a paróquia de São Paulo Apóstolo, em 2 de junho de 1878, que ele se tornou o vigário.
Pela Lei Provincial 694, de 31 de julho de 1873 foi criada a Freguesia São Paulo Apóstolo de Blumenau. Necessitava, porém, a instituição canônica, que veio em 8 de fevereiro de 1878, por Provisão de Dom Pedro Maria Lacerda, bispo do Rio de Janeiro. A paróquia foi instalada em 2 de junho de 1878 e, para alegria dos católicos, no mesmo ato o padre José Maria Jacobs foi nomeado seu primeiro pároco. O trabalho era sempre mais intenso e vasto. Padre Besen
O Colégio São Paulo, fundado pelo padre Jacobs, que depois se tornou Colégio Santo Antônio, foi o primeiro estabelecimento de ensino avançado em Blumenau. Frequentavam-no assiduamente também alunos luteranos.
No Colégio, o que não faltou foram inimigos para seu benfeitor e fundador. Encontramos um texto do frei Estanislau Schaette que aponta alguns nomes nesta história. Sua descrição inicia com o comerciante de Itajaí Asseburg, com quem trabalhou nomes da história local, como Salinger, Hoepcke, Weege, Teichmann, Hoeschl, entre outros. Também foram citados no relatório de frei Estanislau Schaette, os nomes de Bonifácio da Cunha (médico oriundo da Bahia, que se tornou político em Blumenau), Gustav Salinger, Hermann Baumgarten. Frei Schaette descreve:
No ano de 1886 o Sr. Asseburg de Itajahy foi eleito deputado provincial com auxílio do padre Jacobs, este era um político muito influente e comandava um grande número de eleitores católicos e protestantes, por isso, pediu Asseburg, seu auxílio para as eleições, em retribuição prometeu conseguir do governo uma elevação da subvenção anual para o colégio. Era a primeira vez que o padre Jacobs, acamado, entrava numa negociata desse governo, prometendo seu apoio ao candidato que lho pedia de joelhos. O candidato foi eleito, e como ingratidão é a paga dos maus, o sr. Asseburgo frustou no ano seguinte toda subenção estadual. O padre Jacobs comentou” Foi castigo justo, por ter eu vendido a independência política minha e dos meus amigos” Frei Estanislau Schaette.
Monarquista, teve dificuldades sérias com os republicanos, especialmente por causa da separação Igreja-Estado, de 1889. Nesse mesmo ano fundou o “Partido Católico”, ao qual aderiram 250 cidadãos. Respeitando a República, defendiam os direitos católicos na família e na organização social. Essa atividade trouxe-lhe muitos dissabores, críticas, perseguições (especialmente da atuante maçonaria e de imigrantes suecos), qualquer atitude sendo motivo de intriga. Em 1891-1892 foi três vezes levado aos tribunais, sendo o principal problema o matrimônio civil, introduzido pela República e que ele rejeitava. Não era tão simples a transição do regime de Padroado para o regime republicano, de cunho laicista. Padre Besen
Frei Estanislau Schaette comentou, em sua descrição sobre a fundação do colégio, sobre a resignação e determinação do padre Jacobs, para manter a casa de educação que tanto lhe custou. Teve inúmeros inimigos dentro da sociedade de Blumenau da época que não tiveram trégua com o padre. Inimigos como, como Gustav Salinger, o baiano Bonifácio da Cunha, Hermann Baumgarten e outros, como descreve em seu texto, abaixo.
Foi, pois por espírito de maldade e não por economia, que se retirou do Colégio São Paulo de Blumenau a insignificante subvenção de 1.200$000″. No ano fiscal seguinte o padre Jacobs dirigiu à autoridade provincial um requerimento em que pedia restabelecimento da subvenção, conseguida, porém grande descontentamento se apoderou dos inimigos e invejosоs daqui, principalmente o Dr. Bonifácio da Cunha e o negociante Salinger, que ocupava o cargo de inspetor escolar local sob o título de Delegado Literário. Em fevereiro de 1889 o padre Jacobs escreveu a J. Ramos de Souza Junior, funcionário do governo: O Delegado literário, Gustav Salinger, alemão, judeu e protestante, inimigo fanático do Colégio, por ser católico e meu, por ser sacerdote, está furioso, como a maior parte dos protestantes, por causa de restauração da subvenção.
Depois da festa de São Paulo daquela ano, foi iniciado e levado a cabo uma violenta campanha contra o padre Jacobs e o seu colégio, os protestantes retiraram os seus filhos e o Delegado Literário negava-se a assinar e a remeter a confirmação mensal do número de alunos, 88 que ainda sobravam, para que o governo deixasse de pagar a subvenção. Em carta de 19 de fevereiro de 1889 ao sr. Elísio da Silva, Desterro, o padre Jacobs comunica essa recusa do Sr. Salinger e denuncia o Sr. Hermann Baumgarten como autor da perseguição contra si.
Veio a República de novo os políticos procuraram privar o vigário do auxílio governamental. Procuraram e acharam motivos. Num dia Santo católico apareceu às 9 horas e 45 minutos o inspetor escolar local para realizar um exame no colégio, o padre Jacobs encontrava-se na Igreja e não podia nem queria atender à intimação do referido senhor de comparecer na escola. O culto só terminou às 11 horas e 30 minutos. Entrementes o Sr. inspetor se retirara contrariado e ofendido.
No dia 21 de abril, memória de Tiradentes, soube o padre Jacobs, soube o padre Jacobs só de noite às 9 horas que deveria ter sido observado o feriado, imediatamente seguiu para Desterro um ofício de acusação, e já no dia 28 de abril de 1890 o governo enviava ao padre Jacobs um ofício exigindo justificação, A resposta de 12 de maio de 1890 refuta as acusações de maneira concisa e Alara e conclui com a seguinte observação: Se me for retirada a subvenção do Estado, ver-me-ei forçado a demitir todos os meninos pobres e órfãos, que na maioria são brasileiros e nada pagam, nem pela alimentação e nem pelo ensino. Não serei neste caso eu o prejudicado, porque poderei guardar para mim os meus vencimentos, que até hoje tenho empregado totalmente na Escola. O Estado, porém terá um número maior de analfabetos. Frei Estanislau Schaette
Em um texto do professor Max Humpl, ele avaliza a proximidade entre Salinger e Asseburg.
A esperança de estabelecer em São Paulo o seu futuro fracassou para ele pelo contato com um comerciante descuidado e sem escrúpulo, o que infelizmente se reconheceu muito tarde, e novamente ele tomou a decisão de retornar a Blumenau. Aqui, entretanto Gustav Salinger, que durante muito tempo desempenhou as funções de procurista no negócio de Wilhelm Asseburg havia se estabelecido no Stadtplatz de Blumenau e mantinha um significativo comércio de produtos importados de todos os tipos e produtos da Colônia para exportação. Salinger tencionou abrir uma filial em Altona, onde o tráfego do e para o interior do distrito da colônia se desenvolvia cada vez mais, e escolheu Peter Christian Feddersen como gerente desse empreendimento. HUMPL, Max – página 169.
Em 1889 mesmo, fundou o Partido Católico, que tinha então 250 partidários.
A atividade política lhe trouxe muitos problemas, críticas, perseguições, principalmente, por parte da maçonaria e de imigrantes suecos. Qualquer atitude sendo motivo de intriga. Em 1891-1892 foi três vezes levado aos tribunais O principal problema era o casamento civil introduzido pela República e que não aceitava.
De acordo com o padre Besen, essa atividade lhe trouxe muitos contratempos. Nos anos de 1891-1892, foi três vezes levado aos tribunais.
Em 9 de fevereiro de 1892, foi condenado à prisão e escondeu-se em Ascurra, na Residência dos Buzzi.
Estivemos no local em 2016 e fizemos registros do local. Na época, foram lhe buscar com uma escolta de 100 soldados para prendê-lo.
Para levar padre Jacobs de volta até Blumenau meu trisavô Giovanni Buzzi exigiu que seus filhos Ferdinando Buzzi, Tranquillo Buzzi e meu bisavô Giovanni Baptista Natal Buzzi, acompanhassem o religioso para garantir-lhe a integridade física. Mero Buzzi – 6 de fevereiro de 2024.
Muito a contra gosto, Gross empreendeu a viagem até lá, acompanhado de policiais. Como se deu a prisão, eu não sei; W. Gross nada contou a respeito. Sei, apenas que, num dia, quando brincávamos diante de uma casa vizinha de W. Gross, vimos passar dois carros de mola e, num deles, estava sentado o padre Jacobs com os olhos parados. Não houve alvoroço popular, nem rostos curiosos. Dos olhos de mamãe, vi que as lágrimas corriam. Todos lamentavam o que acontecera.
O padre Jacobs agiu sempre lealmente pela sua religião. Embora, às vezes, violento, mostrou sempre força de caráter e pode ser tido como mártir.
Nós nunca o pudemos esquecer. Gertrud Hering Gross
A pedido do grande número de pessoas, a prisão foi transformada em multa, e em seguida padre Jacobs foi inocentado e mediante a pressão, Hercílio Luz atendeu ao pedido. A mídia da época divulgou amplamente sobre a “contravenção” criando a manchete, mas o padre Jacob nunca cedeu e se humilhou: sabia o que fazia. Isso, de certa maneira irritava seus adversários. Em 2 de março de 1892, deste mesmo ano, livre, quando estava na igreja para celebrar a Missa de quarta feira de cinzas, não conseguiu terminar a cerimônia. Estava muito fraco e lhe saiu sangue pela boca.
A imprensa estadual e nacional deu notícia da arbitrariedade cometida. Nunca cedeu, nunca se humilhou: sabia o que fazia, e o fazia com caráter.
Em 2 de março, libertado, estava na igreja matriz para celebrar a Quarta-feira de Cinzas. Não conseguiu terminar a Missa: extrema fraqueza o prostrou e sangue escorria pela boca. Padre Besen
Para o padre Jacobs isto foi um sinal que deveria preparar a sua saída e deixar a comunidade assistida com pessoas ou grupo de pessoas que dessem prosseguimento a sua obra. O padre Francisco Topp, que tinha bom contato com padres estrangeiros e atendia aos imigrantes, conseguiu a vinda da Província de Santa Cruz da Saxônia para Santa Catarina. Padre Jacobs escreveu para o frei Amando Bahlmann, em Teresópolis, expondo-lhe a situação sobre a vinda dos franciscanos e recebeu resposta positiva. Em 13 de março de 1892, “Madama Murphy”, sua secretária, anunciou-lhe em seu dialeto: “Chegou visita de três pessoas; não sei se são homens ou mulheres”. Eram os três primeiros Franciscanos que chegavam a Blumenau, com suas características vestes e ela não conhecia. Eram eles: Amando Bahlmann, Zeno Wallbroehl e Lucínio Korte.
No 2º domingo da Quaresma, dia 13 de março de 1892, pouco depois das 9 horas, os três franciscanos – Frei Amando Bahlmann, Frei Zeno Walbroehl e Frei Lucínio Korte – fizeram parar as suas mulas, à porta da casa paroquial. A “madame” Murphy, idosa viúva de um irlandês dilacerado por um tigre a 9 de novembro de 1879, em sua choupana na Itoupava, passou a gerir a casa e cozinha do vigário, sendo seus dois filhos excelentes estudantes no ‘Colégio S. Paulo’; pois bem, a viúva nunca tinha visto frades franciscanos. Quando descobriu os primeiros à porta da canônica, foi pressurosa procurar o vigário, dizendo a volta alta: ‘Chegou visita de três pessoas; não sei se são homens ou mulheres’. O Pe. Jacobs adivinhou de que se tratava e recebeu os missionários com viva alegria. A 22 de maio, realizou-se a solene entrega dos cargos, ficando fr. Zeno vigário da paróquia e diretor do Colégio. Na festa do Corpo de Deus, a 16 de junho, quando a procissão do Santíssimo Sacramento começava a sair da Matriz, o vapor fluvial punha-se em movimento, levando a bordo o heroico vigário Pe. José Maria, esgotado e alquebrado, para o porto marítimo de Itajaí, para depois prosseguir para o Rio de Janeiro, onde faleceu. Estanislau Schaette
O padre Francisco Topp, conseguira a vinda de franciscanos da Província de Santa Cruz da Saxônia para Santa Catarina.
Em 13 de março de 1892, “Madame Murphy”, auxiliar na casa e no Colégio, anunciou-lhe em seu dialeto: os três primeiros Franciscanos para Blumenau: Amando Bahlmann, Zeno Wallbroehl e Lucínio Korte.
A despeito de toda a sorte de tropeços que encontrou, o padre Jacobs não conheceu desanimo; encorajavam-no o bom nome que o Colégio ia conquistando e o amparo da família imperial. Visitando, S. A. o Conde d’Eu, marido da princesa Izabel, em 1884, a 15 de Dezembro, Blumenau, pode pessoalmente constatar os grandes progressos do Colégio. Honrou S. A. o padre Jacobs, incluindo seu nome na Associação Protetora da Infância Desamparadas e oferecendo para Colégio um óbolo de 300$000.
(…)
Com a mudança do regime governamental (1889) o padre Jacobs viu surgirem novas dificuldades para manter sempre o mesmo plano o bom nome conquistado para o seu Colégio. Mais de uma vez teve que sustentar com o jacobinismo republicano, verdadeiros conflitos escolares, pois, conservador, muito afeiçoado ao regime deposto, não podia ver com bons olhos as inovações que iam sendo implantadas, brusca, arbitrariamente, na surpresa da repentina, inesperada transformação politica por que passou o País.
Em Abril de 1892, transferiu o padre Jacobs a paroquia e o Colégio aos padres Franciscanos, seguindo, como já se disse, cansado e doente para o Rio, onde faleceu. Designados pelo seu superior, frei Amando Bahlmann, hoje prelado de Santarém, no Pará, frei Licínio Korte assumiu as funções de vigário paroquial e frei Zeno Wał Ibröhl a direção do Colégio. Victor Konder
Tinha realizado a missão que lhe fora dada pelo Papa Pio IX. Uma breve existência de 60 anos, consumidos pelo povo que amou em 38 anos de ministério e, deles, 16 no Brasil, pátria onde foi sepultado. Padre Besen
Os 16 anos de sua vida na colônia, depois município de Blumenau, dirigindo os destinos de uma paroquia vastíssima, foram de verdadeira abnegação e sacrifícios inúmeros; incontáveis dificuldades encontrou por onde quer procurasse ele estender a influencia benéfica do ideal por que lutava. Não lhe faltaram inimigos; não se lhe poupou vaza para prejudica-lo, feri-lo, espezinha-lo, leva-lo até mesmo as grades do cárcere, pelo único crime de não dobrar-se a injunções politicas, de não bater palmas à vida desregrada de alguns que tinham na mão o poder. Doente, abatido pela enormidade dos desgostos, vitima de inomináveis ingratidões, procurou voltar á pátria, descansar algum tempo no lar paterno. Deus, porém, não o quis assim. Victor Konder
O Padre Jacobs, visitou a todas as capelas da comunidade da Colônia, como despedida e deixava algumas palavras às pessoas. Em 16 de junho de 1892 embarcou no vapor que o levou para o Rio de Janeiro, de onde pretendia retornar para a Alemanha.
Contraiu a febre amarela no Hospital da Gamboa, onde trabalhou e atendia contaminados de febre amarela voluntariamente. Faleceu em 1º de agosto de 1892.
Em 1892, com autorização episcopal, transferiu a paroquia aos padres franciscanos da Província da Imaculada Conceição e seguiu para o Rio de Janeiro, onde enfermou gravemente de febre amarela, algum tempo depois de ter entrado para o serviço do Hospital da Gamboa. Faleceu nesse hospital, a 1º de agosto de 1892. Victor Konder
Suas últimas palavras: “Blumenau! Blumenau!”. Foi sepultado no Rio de Janeiro. Os Franciscanos trouxeram seus restos mortais e estão sepultado sob esta placa de mármore branco (foto) na parede ao lado da porta central da Catedral São Paulo Apóstolo. Fato pouquíssimo divulgado.
Tinha realizado a missão que lhe fora dada pelo Papa Pio IX. Uma breve existência de 60 anos, consumidos pelo povo que amou em 38 anos de ministério e, deles, 16 no Brasil, pátria onde foi sepultado. Pe. José Artulino Besen
Em 24 de outubro de 1965, às 10h, no pátio da Igreja Matriz São Paulo Apóstolo, teve lugar a solenidade da inauguração do busto, em bronze do primeiro vigário de Blumenau, Padre José Maria Jacobs. Em dezembro de 1963, o busto havia sido inaugurado em gesso, juntamente com o jardim circundante da Matriz. Praticaram vandalismo e avariaram o monumento quando derrubaram de seu pedestal. O que sobrou dele foi encaminhado para a Fábrica de Porcelana “Condessa”. Ele foi fundido em bronze e recolado no local nessa data de 24 de outubro de 1965.
Em agosto 2024 – Aconteceu uma respeitosa manutenção no busto do Padre Jacobs.
Comemoração do centenário – Igreja Matriz de Blumenau
No Brasil, no Vale do Itajaí e em Blumenau, onde iniciou uma obra que se perpetua no presente e quase não é reconhecido e lembrado.
Epílogo
Em 1999, com a união dos colégios franciscanos, o colégio passou a fazer parte da Associação Franciscana de Ensino Senhor Bom Jesus, onde foi criado o Grupo Educacional Bom Jesus e está vinculado à Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. O grupo está presente no Paraná, em Santa Catarina, em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, com mais de 35 unidade, sendo que o colégio fundado pelo padre José Maria Jacobs é uma das. Foi criado o Núcleo de Relações Empresariais e é implantado o Programa Acadêmico de Iniciação Científica.
Em 11 de maio 2026, o Grupo comemora os 130 anos de atuação do Colégio Bom Jesus – e somente essa história voga. Nesse mesmo ano, o colégio fundado pelo Padre Jacob em Blumenau, comemorará 149 anos de existência. Foi ele, o padre Jacobs, que chamou os franciscanos para prosseguir sua obra. A História do Colégio São Paulo foi “diluída” nessa escala nacional. O trabalho do Bom Jesus iniciou no Paraná, em Curitiba e isso é que conta atualmente.
“Missão do Bom Jesus: Promover a formação do ser humano e a construção de sua cidadania de acordo com os princípios cristãos, sob a inspiração de Francisco de Assis, produzindo, sistematizando e socializando os saberes científico, tecnológico e filosófico.” Site do colégio Grupo educacional Bom Jesus
Nesse universo, onde está a História do Padre José Maria Jacobs?
A história foi planificada e durante a visita que fizemos às instalações do colégio, em fevereiro de 2018, locado no mesmo espaço onde esteve o trabalho do padre José Maria Jacobs, não encontramos a história e a essência daqueles pioneiros locais, o que nos motivou a registrar essa história para a História, quase seis anos após essa visita.
Atualmente, depois de se chamar Coleginho São Paulo, Colégio São Paulo, Colégio Santo Antônio, atualmente o colégio se chama Colégio Bom Jesus Santo Antônio, desprovido qualquer lembrança do padre professor que quis fornecer educação ao filho do colono que residia afastado da sede da colônia e não podia arcar com esse compromisso. Padre Jacobs acreditava que para ter uma sociedade melhor e justa era preciso formar os homens dessa sociedade através da educação.
Registro para a História.
Referências
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- RODRIGUES, Fabiano Batista. Memórias de Práticas Educativas no Colégio Santo Antônio (Blumenau-SC). Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Mestrando em Educação, apoio CAPES.
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SILVA, José Ferreira. História de Blumenau. -2.ed. – Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1988. – 299 p. - Suplemento JSC – Especial. O Secular Colégio. Colégio Santo Antônio pelo seu Século de Constante Cultura. Blumenau 16 de janeiro de 1977.
- VIDOR, Vilmar. Indústria e urbanização no nordeste de Santa Catarina. Blumenau: Ed. da FURB, 1995. 248p, il.
Leituras Complementares – Clicar sobre o título escolhido:
- Padre José Maria Jacobs – Primeiro Pároco de Blumenau
- Proclamação da República do Brasil – Golpe Militar no Governo Imperial brasileiro
- O impacto do Nacionalismo de Getúlio Vargas no Vale do Itajaí, antiga Colônia Blumenau
- Trabalho com texto descritivo do Frei Estanislau Schaette
- Padre José Maria Jacobs – Primeiro Pároco de Blumenau
- Josephshaus – Casa São José – Pousada/Hotel – 1° Rodoviária – Casa de espetáculos – Restaurante – Blumenau SC
- Heinrich Krohberger – Construtor – Mestre de Obras – Agrimensor – Cartógrafo – Politico e Artista – Literalmente ajudou a construir a cidade de Blumenau
- O Centro Histórico de Blumenau – Seu papel na cidade de Blumenau dentro dos períodos Históricos.
- Josephshaus – Casa São José – Pousada/Hotel – 1° Rodoviária – Casa de espetáculos – Restaurante – Blumenau SC
- Alfredo Werner Schossland – História da Colônia Blumenau em tempos distintos
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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