Conhecer as grandes árvores, mas também os microscópicos ácaros. Ser responsável pela plantação e pela venda das hortaliças. Utilizar a natureza como inspiração e como ferramenta na hora de criar. O tripé sustentabilidade, arte e ciência é o que deu origem ao Projeto Macro no Centro de Educação Infantil (CEI) Marlise Theis.
Localizado no bairro Fortaleza, em Blumenau, o CEI já trabalhava com uma horta e um jardim sensorial desde 2016. Entretanto, a preocupação em tornar a conexão com o meio ambiente parte da pedagogia da instituição fez com que o tema se aprofundasse cada vez mais.
Algumas salas de aula passaram a abrigar o verde. No Jardim Sensorial, galinhas e coelhos dividem o espaço com as crianças. Além disso, há dois locais que captam a água da chuva para utilizá-la na hora de regar as plantas ou limpar o pátio do CEI.
As atividades feitas com as crianças foram enriquecidsa com a chegada da engenheira florestal Ana Glória Nunes, especialista em educação ambiental. Ela firmou uma parceria com a Fundação Fritz Müller no início deste ano e trouxe conhecimento técnico para reestruturar o ambiente.
“A gente fala em tantas ações voltadas para a estrutura da escola, mas na realidade a gente precisa aprender com a biodiversidade também. É muito legal tirar as crianças dessa área de coadjuvante e tornar ela personagem principal no cuidado do espaço escolar”, conta.
Para as educadoras, as crianças se transformaram desde que começaram a trabalhar com a natureza. Além de estarem mais conectadas com o meio ambiente, elas se demonstraram mais tranquilas, cuidadosas e independentes.
“A gente vai afetando, envolvendo e transformando o ambiente e as pessoas com isso. Se você ensina uma criança a cuidar de uma plantinha, ela aprende a cuidar de muitas outras coisas”, descreve a diretora do CEI, Rosana Odorizi.
Multidisciplinaridade
Desde os bebês até os alunos mais velhos, de 5 anos, estão envolvidos no processo. Para tornar a atividade parte do processo pedagógico, o Projeto Macro foi dividido em quatro subprojetos que estão diretamente conectados.
Após aprender sobre a importância da água, o artista Monet inspirou os pequenos a estudarem as flores. Em seguida, a personalidade analisada foi o pesquisador Fritz Muller. O último subprojeto envolve os animais.
Todos os conceitos científicos são trazidos com uma linguagem infantil e conectados com atividades artísticas. Como a criação de arte utilizando elementos da natureza, seguindo os princípios da land art.
Empreendendo desde cedo
Após todo o processo de plantio, cuidado e colheita, as hortaliças cultivadas pelas crianças se tornam mercadoria. Além das hortaliças tradicionais, as crianças também estão se familiarizando com as PANCs, as Plantas Alimentícias Não Convencionais. O que não é consumido nas merendas pelas quase 200 crianças, é vendido para os funcionários, pais e colaboradores do CEI.
Outro produto vendido à comunidade é o biofertilizante formado pela composteira que os alunos administram em conjunto com as professoras. O próximo passo do CEI é continuar investindo em abelhas sem ferrão, para ajudar na polinização e trazer um novo aprendizado para os pequenos.
A coordenadora pedagógica Sandra Maria Muller comemora os resultados: “Comparando com meu trabalho aqui em 2014 e com este ano, quando assumi, vejo que os alunos estão mais organizados e focados. As crianças estão diferentes no dia a dia, dá pra perceber a tranquilidade deles. Obviamente eles fazem traquinagem às vezes, mas os efeitos do trabalho com a natureza são perceptíveis”.