“Estamos vendo desonestidade no setor privado também, não só no setor público”

Promotor diz que empresários envolvidos em fraude de energia elétrica podem responder por furto qualificado

Os empresários que participaram de fraudes em medidores de energia elétrica para pagar menos à Celesc podem responder pelo crime de furto qualificado. Frigoríficos, padarias, indústrias têxteis, mercados, empresas médias e pequenas de confecção estão na mira da operação Meia Conta, do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco).

Segundo o promotor Alessandro Argenta, coordenador do Gaeco de Chapecó, que liderou a investigação, as empresas que aderiam à fraude oferecida por uma quadrilha obtinham vantagem ilícita, o que prejudicava a livre concorrência.

“O empresário que frauda tem um benefício em relação aos concorrentes de mercado. Era uma grande vantagem financeira. Estamos vendo desonestidade no setor privado também, não só no setor público”, disse Argenta, em alusão às grandes operações contra a corrupção no Brasil.

Em três meses de investigação foram identificadas cerca de 40 empresas, mas há a certeza de que “diversos outros estabelecimentos” estão envolvidos. Cada estabelecimento responderá a um processo criminal individual.

As informações foram detalhadas em uma entrevista coletiva na sede do Gaeco de Blumenau. Além do promotor de Chapecó, participaram o major da Polícia Militar de Chapecó, José Schelavin, e o delegado da Polícia Civil Paulo Koerich, da região de Blumenau.

10% fraudam

Conforme o gerente regional da Celesc, Cláudio Varella, a estatal vinha percebendo o problema desde o ano passado, quando começou um trabalho de fiscalização. De 800 empresas verificadas na região de Blumenau (16 municípios), 10% tinham irregularidades.

“A gente está identificando cada vez mais. Pessoal entende que a energia está cara e fica adulterando o relógio de energia elétrica para pagar menos. Isso aqui virou uma indústria da adulteração de medidor, tem empresa aí ganhando R$ 50 mil para adulterar medidor de empresas”, protestou Varella.

Servidores da Celesc e do Instituto Geral de Perícias (IGP) estão colaborando com a operação Meia Conta. De acordo com o promotor Alessandro Argenta, ainda não há comprovação de envolvimento de funcionários públicos no esquema, mas as investigações prosseguem.

Prisões

Em Blumenau, foram presas duas pessoas preventivamente, nos bairros Progresso e Velha. Também houve uma prisão em Jaraguá do Sul e outra em Chapecó. O Gaeco não divulgou os nomes dos envolvidos.

Na casa do Progresso e em Indaial, foram encontrados mais de 30 medidores ilícitos e 250 lacres. Todos os detidos são pessoas que executavam a fraude. Além de furto qualificado, eles devem responder por associação criminosa.

Os criminosos cobravam valores que chegavam a até R$ 20 mil. Geralmente, a cobrança era proporcional à economia obtida pela empresa na primeira fatura de energia após a adulteração no medidor. Em alguns casos, o pagamento era feito de forma parcelada.

Durante a investigação, o Gaeco monitorou criminosos fazendo alterações em estabelecimentos. Nesta quinta-feira, durante a operação, novas fraudes foram identificadas. A associação, composta por pelo menos sete integrantes, atuava há mais de dois anos em Santa Catarina.

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