Capa: Simon Gramlich não era somente construtor como já ouvimos alguns afirmarem, do contrário não teria o documento do Conselho de Engenharia e Arquitetura – CREA SC, no Brasil. Era um arquiteto engenheiro e também atuou como construtor alemão.

Em setembro de 2014, estivemos representando Blumenau, palestrando, registrando e auxiliando nos trabalhos do XII CAAL- Encontro das Comunidades de Língua Alemã na América Latina – na cidade de Nova Petrópolis RS. Durante a Programação do XII CAAL conhecemos obras projetadas pelo Engenheiro-arquiteto alemão Simon Gramlich no Rio Grande do Sul.

A seguir, duas de suas obras que encontramos em Venâncio Aires-RS, durante a citada programação.

Edificio Storck – Venâncio Aires RS – Atual Museu Venâncio Aires e lojas comerciais. Projeto de Simon Gramlich – Arquitetura Eclética – reflete o período de transição da arquitetura predominante do século XIX até as primeiras décadas do século XX apresentando um “mix” de estilos arquitetônicos anteriores para a criação de uma nova linguagem arquitetônica. Observamos que não demorou muito para que os novos trabalhos do arquiteto apresentassem uma linguagem Art Déco.
Igreja de Venâncio Aires – Igreja Matriz de São Sebastião Mártir. Projeto de 1927 e entre os gaúchos é considerada a maior igreja no estilo neogótico da América Latina.

Simon Gramlich também deixou uma obra vastíssima construída no estado de Santa Catarina e no Paraná, em um intervalo de tempo de pouco mais de quatro décadas.

Tipologia característica do imigrante alemão com linhas ecléticas, localizada no bairro do Salto, Blumenau – Rua Bahia.

O que despertou ainda mais nossa curiosidade sobre a obra e a vida do arquiteto foi quando conhecemos suas obras, também nas cidades de Rio do Sul, Apiúna, Gaspar, Itajaí, São Bento do Sul, Ilhota, Concórdia, Sombrio, Rio do Oeste, Brusque, Ituporanga, Ascurra, José Boiteux, Ibirama e também Blumenau, onde residiu por mais de 3 décadas.

Colégio Dom Bosco e Catedral São João Batista – Rio do Sul. Colégio – reforme recente – descaracterização da obra de Simon Gramlich.
Colégio Dom Bosco e Catedral São João Batista – Rio do Sul. Colégio – reforme recente – descaracterização da obra de Simon Gramlich.
Catedral São João Batista – Rio do Sul.
Igreja Matriz Sant’Ana – Apiúna SC .
Igreja Matriz São Pedro Apóstolo – Gaspar SC – Fonte: Lillá Arquitetura.
Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento – Itajaí SC. Projeto modificado.

Quem foi Simon Gramlich? Por que nenhum contemporâneo escreveu sobre sua vida e obra? Por que não fizeram fotografias do arquiteto em ação?

Quase não encontramos fonte primária que apresentasse mais informações sobre esse profissional da arquitetura do Sul do Brasil, que trabalhou por 46 anos na área. Fez projetos com a linguagem de períodos distintos da História da Arte, produzindo em muitas linguagens artísticas, com esmero e qualidade de técnica.

Aparentemente, não teve o devido reconhecimento, sendo que foi lembrado somente meio século após a sua morte. Sua contribuição vai além do Urbanismo, como é lembrado em manifestações atuais nas quais é mencionado. Sua contribuição foi e aconteceu na arquitetura local, de Blumenau, da região e do Sul do Brasil.

Simon Gramlich

Foi um Engenheiro-arquiteto nascido na cidade de Herbolzheim – estado de Baden Würtemberg – Alemanha, em 7 de agosto de 1891. Pouco, muito pouco registro sobre sua vida privada e profissional a não ser sua vasta obra executada em muitas cidades do Sul do Brasil, composta de projetos com características ecléticas da virada do século XIX para o século XX, Art Decó, neogótico, neoclássico e moderno – que variam desde residências de todos os tamanhos, fábricas, escolas, espaços comerciais e muitas igrejas, obras das quais listaremos algumas. Impressiona é que não houve registros – ocasionado talvez, por “ecos” do Nacionalismo impetrado em solo brasileiro após a década de 1930, com reflexos até os anos de 1980. Devido a esse clima político, talvez tenha tido problemas no Rio Grande do Sul – o que o fez mudar-se para Blumenau SC, deixando a obra da Igreja de Santa Cruz do Sul inacabada.

A Igreja de Santa Cruz do Sul construída aos fundos da igreja com linhas renascentistas lusas. Houve muito desentendimento entre o arquiteto e a Cúria – o que fez com que se mudasse para Blumenau-SC, antes do término de construção da igreja.

Observando a região de sua cidade natal e conhecendo o local dentro do estado de Baden-Württemberg, buscamos por familiares da família Gramlich. Encontramos dois nomes que estavam na lista das vítimas da 1° Guerra Mundial.

Através as descrições comportamentais do arquiteto e determinadas características conhecidas de pessoas que estiveram na guerra, afirmamos que o arquiteto Simon Gramlich também esteve em campo de batalha – daquele conflito mundial.

Encontramos esta lista feita na cidade natal do arquiteto, a qual apresenta uma relação de nomes da cidade que firam de vítimas da guerra. Entre os nomes listados, estão presentes, os nomes de pessoas com o nome de sua família – que poderiam ser de seus irmãos.
São nomes de soldados que partiram por conta da 1° Guerra Mundial – conforme quadro abaixo. Mais especificamente: Adolf Gramlich (*29/06/1882 – + 19/08/1914) e Ludwig Gramlich (*18/10/1988 – + 03/09/1921). Pretendemos verificar esta informação na Alemanha.

Dentre as poucas informações sobre o arquiteto Simon Gramlich, que no Brasil erroneamente o chamam de Simão, uma poderá dar a pista de que ele também foi combatente na 1° Guerra Mundial que teve início no ano de 1914, quando o mesmo contava com 27 anos e terminou no ano de 1918.

Essas características existiam em outros ex-combatentes – dos quais temos relatos.  De acordo com as pessoas que trabalharam com o arquiteto, ele era descrito como uma pessoa de difícil trato, tinha audição prejudicada, sendo apontado inúmeras vezes como deficiente auditivo –  surdo. Tinha pouca paciência e era muito calado.

Suas características comportamentais nos fazem concluir que também, Simon Gramlich esteve em combate na 1° Guerra Mundial e Adolf e Ludwig poderiam ter sido seus irmãos ou primos, pois possuíam quase a mesma idade.

Após a partida dos dois Gramlich cujos nomes estão na lista mencionada anteriormente, o arquiteto com a tristeza da guerra impregnado em si, através das sequelas, por algum motivo, partiu para o Brasil, em dezembro de 1921. Em Rio do Sul SC, por comunicação verbal, soubemos que viajou junto o pai de Germano Purnhagen e com isso, teve contato para realizar os projetos do Colégio e da então, Igreja Igreja Matriz. Faz sentido.
Gramlich chegou no porto de Pernambuco em 22 de janeiro de 1922, com o Vapor HOL. Tinha 35 anos de idade e viajou para Pernambuco para cumprir um contrato de construção com a Ordem Franciscanos dos Beneditinos. Não se deu bem com o clima, mudou-se então para o Rio Grande do Sul no mesmo ano, em 1922.

Simon Gramlich chegou ao Porto de Recife em janeiro de 1922 – rumando depois para o Rio Grande do Sul.

Seguiu então para o Sul do Brasil, onde fixou residência na cidade de Bom Princípio (Vale do Caí) – no Estado do Rio Grande do Sul – tendo trabalhado em algumas obras religiosas.

Após algum tempo, por um pequeno período, trabalhou na capital gaúcha, Porto Alegre, quando em 1927, mudou-se para a cidade de Santa Cruz do Sul, ocasião em que projetou duas grandes igrejas – a da cidade de Santa Cruz do Sul e a de Venâncio Aires, construídas praticamente juntas. Aparentemente sua esposa Gertrud permaneceu na capital gaúcha, pois a partir de um documento de óbito, localizado em Porto Alegre, pesquisado no Site FamilySearch, concluímos que Gramlich migrou para o Brasil casado e estava estabelecido em Porto Alegre, onde Gertrud sempre viveu. O arquiteto se casou na Alemanha com Gertrud Franziska May, que era filha de Josef May e de Josefina May. Gertrud tinha a mesma idade de Gramlich. Ela faleceu somente em 1974 em Porto Alegre, quando ele já residia em Blumenau ha muito tempo. O casal teve 3 filhos: Rosa, Francisco e Luiz (Rose, Franziskus e Ludwig). Aparentemente Gramlich se mudou para Blumenau sem a esposa (1932), pois se casou novamente, antes desta falecer (1974), portanto não era viúvo quando contraiu as segundas núpcias.

Registro de óbito da primeira esposa de Simon Gramlich, localizado na cidade de Porto Alegre, com a data de 1974. Ela foi registrada como “viúva” do arquiteto que a precedeu na morte, portanto oficialmente era sua esposa.

Sua segunda esposa nasceu em 14 de janeiro de 1910, portanto, era 20 anos mais jovem que Simon e Gertrud. Em Santa Catarina, sua segunda companheira, Elisabeth Gramlich  auxiliava o arquiteto com as traduções necessárias. Não falava  português.

Em Venâncio Aires, também projetou a Casa Storck – único projeto residencial no estado do Rio Grande do Sul. O arquiteto não acompanhou estas obras até o final de sua execução. Por problemas não muito bem esclarecidos, surgido entre as partes – coordenadores das obras, cúria e o arquiteto – este mudou-se para Blumenau, estado de Santa Catarina, em 1932, onde trabalhou e produziu arquitetura, até falecer, em 14 de fevereiro de 1968, aos 77 anos de idade. Está sepultado no Cemitério da Rua Bahia – na ala luterana.

Profissionalmente era um exímio conhecedor das técnicas construtivas, com as quais tinha experiências com o uso de materiais e tecnologias mais avançadas do que aquelas em uso no Brasil, com isso teve que se adequar aos materiais disponíveis na região – cimento era, ainda um material acessível para poucos, sendo que usavam barro e cal na argamassa. Também era um erudito e teórico acima da média regional.

Suas obras, como já foi mencionado, variavam entre os estilos ecléticos do final do século XIX, ao Art Déco, Neogótico, Neoclássico e Moderno – além da construção vernacular – inserida em uma determinada cultura.

Bom Princípio RS – Não é mencionado em nenhum lugar o nome do arquiteto dessa igreja – Reconhecemos traços do arquiteto em sua forma.

Permaneceu 10 anos no Estado do Rio Grande do Sul. Entre seus trabalhos neste estado, se destacaram os projetos da Casa Storck – Venâncio Aires, Igreja São Sebastião Mártir Venâncio Aires e a Catedral São João Batista – Santa Cruz do Sul (Último trabalho no Rio Grande do Sul) e responsável pela mudança do arquiteto para Santa Catarina – cidade de Blumenau, onde chegou no ano de 1932, iniciando outro período de seu trabalho no Brasil.

Blumenau SC.. Fonte: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva.

Entre os anos de 1932 e 1934, os projetos de Gramlich foram realizados em parceria com Gustav Bleicker, na empresa “Gramlich e Bleicker: Arquitetos e Engenheiros”, com escritório na Rua 7 de Setembro – cidade de Blumenau. Gustav, que também era alemão, era genro de Simon Gramlich, esposo de sua filha Rosa.

Neste tempo as obras que mais se destacaram foram os projetos residenciais de Frederico Rabe, Frederico Vetterle, projetadas no ano de 1932 e localizadas na Rua XV de Novembro. Em algumas fontes atribuem a autoria somente ao seu genro e sócio Gustav Bleicker.

O engenheiro Gustav Bleicker, genro de Simon Gramlich, foi contratado pela Empresul para construir ou ampliar a usina hidroelétrica do Bracinho nos anos 40 e 50. Os Bleicker moraram na rua Visconde de Taunay e mais tarde numa das casas da Empresul na rua Lages em Jonville. A minha família também morou na Visconde nessa época. Já com uns 10 ou 12 anos éramos amigos de três dos filhos dos Bleicker : Horst, Guinther e Werner. Anos depois o engenheiro Bleicker e a família mudaram-se para a Bahia. Otto L. Kiehn – Redes Sociais

Angelina Wittmann –  acrescento que naqueles anos em que os Bleicker moraram em Joinville, a vó materna (esposa de Gralmich) morava com eles. Otto L. Kiehn Redes Sociais – 23/11/2023

Arquiteto Egon Belz.

Em 1933, Simon projetou a residência de Wilheim Belz, pai do arquiteto Egon Belz, que também foi desenhista do arquiteto Hans Broos. Egon Belz viveu nessa casa até partir. Ela foi sede do IAB de Blumenau e também Museu Egon Belz. Em 2023, de acordo com matéria de Bianca Bertoli publicada em NSC Total em 25 de outubro de 2023, após ser vendida, será restaurada.

Casa dos Belz, construída em 1933.
Casa do Arquiteto Egon Belz , do escritório IAB SC, onde funcionou como espaço coletivo, coworking, aberta para arquitetos, comunidade e movimentos sociais que necessitassem de local para realizar suas atividades. Funcionava de segunda a sexta, das 08h00 às 12h00; e terça, quarta e quinta das 14:00 as 20:00hs.

Desse momento em diante, Simon Gramlich não parou de trabalhar. Projetou fábricas, escolas, edifícios comerciais e residenciais, assim como igrejas, muitas igrejas.
Faleceu na cidade de Blumenau em 1968.

As perguntas que ficam?

Onde residiu?
Qual sua religião?
Por que veio para o Brasil?
Foi combatente da 1° Guerra Mundial?
Onde estudou?

Entre outras tantas perguntas que pairam e aguçam nossa curiosidade de pesquisadora, a partir de uma personalidade intrigante, mesmo com tão poucos dados sobre si.

Quando se completam 50 anos de sua morte – em 2018 – foi homenageado e recebeu o título de o Arquiteto das Catedrais, mesmo que tenha feito inúmeros outros projetos, com outros programas de necessidades. Desconheciam sua obra por inteiro.

Em 2019, tomamos conhecimento do trabalho da “Exposição Itinerante ‘Simão’ Gramlich: percursos arquitetônicos em Blumenau” que foi exposto no Mausoléu Blumenau nos meses de maio a junho. A exposição foi aberta ao público em 30 de abril de 2019 e o seu encerramento foi em 1º de julho. Estivemos no local e conhecemos um dos netos de Simon Gramlich.

Esse projeto foi proposto por Iara Claudineia Stiehler Coninck no Edital Prêmio Herbert Holetz com a participação da pesquisadora e arquiteta Thayse Fagundes.

Thayse Fagundes e o neto do Arquiteto Simon Gramlich – Jurival da Veiga.

Também 2019 aconteceu uma Caminhada Cultural em 7 de maio – para observar algumas das obras de Simon Gramlich na Rua XV de Novembro – centralidade da cidade de Blumenau. Em um universo de aproximadamente 500 projetos na cidade, foram destacadas menos que 10 exemplares durante o momento da caminhada, da qual participamos.

Amostra da Obra de Simon Gramlich no Sul do Brasil

1) Rio Grande do Sul – Venâncio Aires – Matriz de São Sebastião – Neogótica com duas torres

No ano de 1927 foi organizada uma comissão encarregada de construir uma nova matriz de Venâncio Aires.
A pedra fundamental foi lançada em 1929, apenas um ano depois da construção da catedral de Santa Cruz, e as obras prosseguiram até 1934, sendo que Gramlich também não acompanhou a obra até o final. Em 1934, já residia em Blumenau havia dois anos.

Em 1934, as obras foram interrompidas, ficando as torres inacabadas. Retomadas em 1952, quando foram terminadas as torres, as quais atingiram a  altura de 65 metros.

2 – Rio Grande do Sul –  Sinimbu – Matriz Nossa Senhora da Glória – Neogótica com uma torre.

A igreja matriz da cidade foi construída a partir de 1927, sendo dedicada a Nossa Senhora da Glória.

3)- Rio Grande do Sul – Venâncio Aires – Casa Storck – Arquitetura Eclética.

Dados retirados do Fichário do IPHAE – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado

Nome Atribuído: Casa de Cultura de Venâncio Aires
Localização: R. Osvaldo Aranha, n° 1021 – Venâncio Aires-RS
Número do Processo: 158-1100/96-2
Portaria de Tombamento: 09/2012
Livro Tombo Histórico: Inscr. Nº 108, de 20/07/2012
Publicação no Diário Oficial:17/02/2012
Descrição: A Casa de Cultura de Venâncio Aires, sediada no Edifício Storck, é composta por arquivo (que abriga periódicos, fotografias, entre outros documentos), biblioteca, discoteca e o Museu de Venâncio Aires, “o museu de muitos donos”, uma referência para os museus comunitários por sua origem. O museu é hoje intitulado dessa forma porque sua compra foi possível através de um pagamento voluntário parcelado por empresas privadas e por moradores da cidade. A proposta foi apresentada através de uma carta convite enviada pelos representantes do Núcleo de Cultura de Venâncio Aires (Nucva).
O local em que se localiza a Casa de Cultura pertencia inicialmente à família do farmacêutico Goswino Storck. Construído em 1929, foi o primeiro prédio de Venâncio Aires com mais de um pavimento. O responsável pelo projeto e construção foi Simon Gramlich, arquiteto alemão.
Goswino Storck desejava inicialmente que o prédio sediasse uma clínica médica e um laboratório, visto que o atendimento médico mais próximo era na Vila de Taquari. Quando as obras estavam quase concluídas, as dependências também foram ocupadas à medida que a família se ampliava com o nascimento dos filhos de Goswino e de sua esposa, Dolores.
O edifício passou por uma desocupação a partir de 1996 e, em 1998, foram concluídos os pagamentos da compra do imóvel pelo Nucva, negociação essa que ocorria desde 1994. A partir deste momento, estava totalmente assegurado um local definitivo para abrigar os objetos adquiridos pelo Nucva e as doações pessoais ao Núcleo, resultantes de uma campanha empreendida na comunidade antes mesmo da aquisição da casa.
Em 26 de outubro de 2001, a pedido do Nucva, o Edifício Storck foi declarado “Patrimônio Histórico Municipal de Venâncio Aires” pelo Decreto nº 3049, tornando-se o primeiro patrimônio do município.
Em suma, o tombamento contempla a Casa de Cultura de Venâncio Aires, os bens móveis e integrados, e o acervo do Museu. O imóvel tem alto valor histórico e arquitetônico que justificam o seu tombamento. Trata-se de um testemunho da história local, através de seu processo de constituição como museu comunitário, preservado pelo esforço e participação coletiva. Fonte: IPHAE.

4) Rio Grande do Sul – Santa Cruz do Sul – Catedral São João Batista – Neogótica com duas torres.

A Catedral São João Batista é considerada a maior igreja em estilo neogótico tardio da América Latina. O início da construção foi em 1928. Em 1931 foram interrompidas as obras por falta de verbas e pelo não cumprimento das exigências feitas na adequação da planta. Existiam conflitos de diversas naturezas em torno desta obra – também de aspecto étnico/cultural. Acontecia o início do Nacionalismo no Brasil. Simon Gramlich estava com algumas diferenças com a Curia. Em 1932, mudou-se definitivamente para Blumenau SC.
Em 1934 quem assume a obra é a Empresa Schutz e Matheis para dar continuidade aos trabalhos. Foi inaugurada quando ainda não estava acabada em 24 de dezembro de 1939, véspera de Natal. A construção foi concluída em 1977, quando ficaram prontas suas torres maiores, que alcançam 82 metros. Suas dimensões são: 80 metros de comprimento, 38 metros de largura, 26 metros de altura na nave central. Desde 1959, com a criação da diocese de Santa Cruz do Sul com jurisdição sobre diversos municípios, a igreja passou a chamar-se Catedral São João Batista. As pinturas internas e os vitrais que detalham a arte sacra foram feitos por imigrantes alemães.

5) Santa Catarina – Brusque – Santuário de Azambuja – Eclético.

Igreja/capela
A pedra fundamental foi lançada em 8 de dezembro de 1939. Suas paredes foram construídas em volta do Santuário anterior – sendo este é o terceiro. A torre final do projeto prevê uma altura de 40 metros de altura e uma nave central de 45 metros de comprimento por 16 metros de largura com uma altura de 20 metros. Mesmo sendo usado desde 1943, somente em 26 de maio de 1956 Dom Joaquim Domingues de Oliveira oficia a consagração do Templo. Antes dela, existiram duas capelas: uma construída pelos pioneiros, em 1884 – com 3×6 metros e a seguinte, idealizada pelo Pe. Antônio Eising, entre 1892 e 1894, com 10 metros de largura por 12 de comprimento. Que pena que não existam mais – relíquias históricas igualmente.

6) Santa Catarina – Itajaí – Igreja Matriz de Itajaí – Paróquia Santíssimo Sacramento – Eclético.

A Comissão de Construção contratou Simon Gramlich, mesmo não havendo unanimidade entre os responsáveis pela escolha. Alguns achavam que o projeto de Gramlich era muito dispendioso com um alto custo e a necessidade de um longo tempo para sua construção. O projeto apresentado pelo arquiteto alemão ao Arcebispo Dom Joaquim Domingues de Oliveira era muito elaborado, rebuscado e caro para ser executado, ao contrário daquilo que ele pessoalmente idealizava, fazendo com que, em um determinado momento, Gramlich chegasse a ser descartado como opção para tocar o projeto. O Arcebispo gostou de outro projeto, este assinado por Buendgens – engenheiro da EFSC. Mas foi a Comissão Construtora da Igreja que conseguiu convencer o Arcebispo de que o projeto de Gramlich era o que a comunidade queria. A Comissão preferia o projeto de Gramlich e convenceu o Arcebisto a construir este, por sua monumentalidade e detalhes decorativos. Solicitaram a redução e fizeram algumas observações ao arquiteto, mas ele desconsiderou todos. A obra foi executada seguindo os desenhos originais, embora percebamos que algumas coisas foram alteradas e descaracterizadas, pela busca de maior monumentalidade, além daquela proposta no projeto original. Há características nos elementos externos da igreja que mostram a não execução do projeto original e de que este não aconteceu plenamente. Prevaleceu a vontade da comunidade que pretendia ter uma igreja como um novo ponto focal dentro de Itajaí e propulsora do crescimento da malha urbana no seu entorno. Explicaremos na sequência.

Fonte: Centro de Documentação e Memória Histórica (CDMH) / Arquivo Público de Itajaí.

O início da obra aconteceu em 19 de fevereiro de 1941, com a mobilização de uma equipe formada por seis pessoas lideradas pelo pedreiro espanhol Manoel Dono Morgado, contando com ele próprio – equipe aprovada pelo arquiteto. O padre da paróquia, José Locks acompanhava a sua execução.

Ao observar as fotografias da obra, neste tempo, registramos que sua estrutura era de paredes de tijolos maciços, autoportantes com um trabalho muito bem acabado e munida, desde esta etapa, com a presença dos detalhes do decorativismo, moldados durante esta fase da construção.

Fonte: Centro de Documentação e Memória Histórica (CDMH) / Arquivo Público de Itajaí.

Em 1947, a construção da igreja matriz prosseguia em um ritmo mais lento, devido a carência de recursos, mas sem interrupções. O pároco agora era o Padre Vandelino Hobold. Fazia-se a cobertura do presbitério e das sacristias e também das duas torres frontais. Este padre mudou drasticamente o projeto de Simon Gramlich, de forma que, em um primeiro olhar sobre a igreja acabada, dava a impressão que a obra estava inacabada. Pela ausência do alinhamento do espigão do telhado com a ponta superior da empena mais alta. Na qualidade de profissional da arquitetura e conhecedora da história da arte, sabemos como deve ser a forma do telhado de uma tradicional igreja assinada por um arquiteto como Simon Gramlich. Conhecemos sua obra e modo de conceber e ver arquitetura, a partir dos inúmeros estilos de arte, principalmente aqueles com elementos góticos e românicos. Estes detalhes não são encontrados na Igreja do Santíssimo Sacramento da Itajaí atual.

Projeto original do arquiteto Simon Gramlich foi descaracterizado durante a obra. Observando as proporções e conhecendo sua obra e os períodos da arte, ousamos dizer que há mais elementos “criados” além daqueles existentes no projeto de Gramlich.

7) Santa Catarina – Gaspar – Igreja Matriz São Pedro Apóstolo – Eclético.

A pedra fundamental foi lançada no dia 1° de abril de 1944 e a igreja foi inaugurada no dia 3 de maio de 1956, com a presença do Bispo de Joinville – D. Inácio Krause. As obras e a nova igreja de Gaspar estiveram sob coordenação de Frei Godofredo.

8) Santa Catarina – Rio do Sul – Catedral São João Baptista – Eclético.

Após a emancipação do município, mais precisamente no ano de 1949, foi lançada a pedra fundamental da Catedral São João Batista e no dia 5 de julho de 1950 – foi iniciada a sua construção.
O responsável pela obra foi o engenheiro Gino Alberto de Lotto. A nova igreja foi consagrada no dia 28 de dezembro de 1957.
A Catedral completa um conjunto com o Colégio o Dom Bosco, também projeto de Gramlich, Praça Ermmembergo Pellizzetti e o monumento do Cristo.

Agressão visual ao patrimônio a partir da instalação de várias redes de fios expostos no entorno imediato. A fotografia registra os que vemos quando passamos na frente do templo.

9) Santa Catarina – Apiúna – Igreja Matriz Sant’Ana – Neogótico.

A Igreja Matriz Sant’Ana de Apiúna foi inaugurada em 1961.

10) Santa Catarina – São Bento do Sul – Igreja Matriz Puríssimo Coração de Maria – Art Decó.

12) Santa Catarina – Ilhota – Matriz São Pio X – Eclético.

Construída em 1939, e somente considerada Matriz em 1954.

13) Santa Catarina – Indaial – Matriz Santa Inês – Neogótico.

Construída em 23 de abril de 1951 e inaugurada em 1957.

14 – Santa Catarina – Concórdia – Hospital São Francisco Art Déco.

Dia da inauguração – Art Déco.

15) Santa Catarina – Blumenau – Patrimônio do Colégio Bom Jesus – Art Déco.

Localizado na Rua XV de Novembro, Blumenau – atualmente é patrimônio do Colégio Bom Jesus que pretendia demoli-lo – ato impedido pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural Edificado (Cope) de Blumenau que rejeitou o pedido de demolição do prédio que por 20 anos fora sede da Feira de Artesanat. Foto de Fresard.
Obra iniciada em 1955 e a missa inaugural foi realizada no ano de 1956.

16) Santa Catarina – Blumenau – Fábrica de Chapeu Nelsa – Art Déco.

O arquiteto fez a nova fachada do antigo edifício da Fábrica de Chapéus Nelsa que seguia as linhas do Art Déco. Sua intervenção aconteceu entre as décadas de 1940 e 1950. É um dos edifícios não religiosos que receberam o trabalho do enigmático “arquiteto das catedrais” Simon Gramlich. O edifício da antiga fábrica foi consumido pelo fogo, em 28 de dezembro de 2019.

Foi durante a pesquisa desse edifício e sua arquitetura, após o incêndio, que concluímos que o arquiteto só projetou a fachada da nova da fábrica. Para confirmar, fomos até o local do incêndio em dia 28 de dezembro e verificamos que partes do antigo edifício (construído no início da década de 1930) não haviam sido demolidas para a contrução de um “novo” projetado por Gramlich, como se suponha. O que vimos, foi uma reforma que recebeu adornos e elementos decorativos na fachada para aparentar “o novo” e atual estilo para época – art déco.

17) Santa Catarina –  Antônio Carlos – Igreja Matriz Antônio Carlos – Art Déco.

Construída entre 1960 e 1967.

18) Santa Catarina – Rio do Oeste – Igreja Matriz Nossa Senhora Consolata – Neogótica.

Projeto muito semelhante ao projeto original da Matriz de Itajaí.

19) Santa Catarina – São Bento do Sul – Buschle Irmãos – Cia. Fabril Polaris – Art Déco.

Construído em 1932 para abrigar o comércio atacado e varejo da fábrica de Chocolate Bueschle Irmão Ltda e toda a administração.

20) Santa Catarina – Brusque – Fábrica de Tecidos Carlos Renaux – Art Déco.

21 – Santa Catarina – Ituporanga – Igreja Matria

As obras da Igreja Matriz de Ituporanga iniciaram em 1950, ao lado da antiga matriz. Sua construção durou quatro anos e foi iniciada durante a permanência do Frei Arthur Klebba e finalizada na administração do Frei Achilles Kloeckner. Foi inaugurada em 1954.

22) Santa Catarina Ascurra – Colégio Salesiano São Paulo de Ascurra

Fizemos o registro do Colégio Salesiano São Paulo de Ascurra em dois momentos: 2016 e 2021. Sendo que neste intervalo de tempo o colégio modificou suas fachadas, através de cores e revestimentos.

Influência da nova estampa dos colégios da Rede Salesiana. Padronização, seguindo o decorativismo atual, desconsiderando a arquitetura e o local de cada colégio, muitas vezes construídos seguindo projetos de arquitetos renomados, com este e, de Rio Sul, ambos projetos por  Simon Gramlich.

23) Santa Catarina – Blumenau – Casa Spernau – Rua Bahia

A Casa Spernau foi construída por Harry Spernau em 1940 e foi demolida em 27 de maio de 2022 pela administração pública de Blumenau, justificando a construção de uma rótula (havia outras possibilidades – se de fato caberia uma rótula no local).

Era um exemplar de uso misto: residencial e comercial, projetada por Simon Gramlich. O patrimônio cultural de Blumenau estava localizado na Rua Bahia, sob o número 1281, esquina com a Rua Benjamim Constant.

Fotografia retirada do Projeto Mermovale, onde estava cadastrada.

24) Santa Catarina – José Boiteux – Capela Santo Antônio

Durante uma reforma na capela/igreja Santo Antônio realizada em julho de 2022, no município de José Boiteux. Durante esta reforma foi encontrada uma garrafa com um documento manuscrito em seu interior, datado em 12 de abril de 1959, no interior de uma das paredes da capela/igreja. Curiosamente não conseguimos encontrar qualquer registro sobre esta capela em lugar algum. No entanto, ela passou a fazer parte do importante acervo e produção projetual do arquiteto que assinou mais de 500 projetos na região e muitos outros, em outras regiões dos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.

No documento encontrado, estão registrados os nomes de todas as pessoas responsáveis pela construção da igreja, desde o padre, diretoria da comunidade e o nome do arquiteto que projetou a igreja – Simon Gramlich.
A partir deste documento, temos a informação que a construção da capela/igreja Santo Antônio iniciou em 19 de janeiro de 1959.

Teor do Documento

“Capela ‘Sto Antônio – Rio Gnesebach – Paróquia de José Boiteux.
Aos doze dias do mês de abril de mil novecentos e cinquenta e nove, de licença de sua Sr.ia. Dom Gregório Warmling. D.D. Bispo da Diocese de Joinville, foi solenemente benta a pedra fundamental da nova capela, localizada no antigo terreno doado para este fim pelo vigário da paróquia Pe Silvio Tron. Consta a população da localidade, de noventa famílias, sendo que cinquenta e cinco deram seu auxílio para a colocação do fundamento, iniciada a dezenove de janeiro de mil novecentos e cinquenta e nove. A capela será construída conforme projeto do arquiteto Dr. Simão Gramlich (Simon).
Capela Sto. Antônio, 12 de abril de 1959.
Vigário: Pe Silvio Tron
Presidente: Angelo bona
Tesoureiro: Rodolfo Bonetti
Secretário: Luiz de Olívio
Zelador: Manoel.”

25) Santa Catarina – Ibirama – Hospital – Art Déco.

Em 12 de maio de 1935, a Associação de Caridade e Hospital de Hamônia lançou a pedra fundamental do prédio, dando assim início à construção do Hansahoehe, nome dado por seu idealizador, Dr. Friedrich Kroener.

26 – Santa Catarina  – Indaial SC – Igreja Católica de Encano.

Igreja católica de Encano – Indaial.

27 – Santa Catarina  –

Santa Catarina – Sombrio –   Paróquia Santo Antônio de Pádua
Foi instalada em 31 de maio de 1938 – Neogótica.
Paróquia Santo Antônio de Pádua – Sombrio SC

28) Santa Catarina – Rio do Sul – Farmácia Gemballa

“O que recordo de conversa com minha mãe , é que Simon , embora arquiteto de grandes obras, morava em uma casa modesta, e quando faleceu tinha muito poucas posses…” Membro da Família Gemballa

29) Santa Catarina – Blumenau – Vila Santa Terezinha

Vila Terezinha, construída no bairro de Blumenau, Vila Nova, foi outro projeto de uso misto, comercial/residencial assinado pelo o arquiteto Simon Gramlich. Apresentava volume limpo, com linhas retas e com a esquina marcada pela simetria da fachada.
A edificação era marcada pela presença de platibandas, escondendo planos de telhados cobertos pelas características telhas planas. Decorativismo com a presença de cimalhas em torno das janelas, portas e no alto da platibanda. O corpo do edifício era acabado com uma textura resultante do reboco, o que destacava da cimalha lisa e geralmente colorida com cor mais clara. Janelas tipo guilhotina e porta comercial em duas folhas.
Sobre a parte mais alta da porta, no alto do segundo piso o nome do edifício que marcou a esquina das ruas Theodoro Holtrup e Almirante Barroso do bairro de Blumenau – Vila Nova, por décadas. O patrimônio foi demolida em 2019 para ser ocupada por uma farmácia com arquitetura convencional.

Crescimento desordenado em um bairro que nasceu com perfil somente residencial dotada de casas com jardim e cercas de madeira.
Demolida em agosto de 2019. Blumenau.
Identidade do lugar se perdendo como consequência de ocupação de um crescimento desordenado. Substituída por uma arquitetura singular.

30) Santa Catarina – Revitalização do edifício da Primeira Prefeitura de Blumenau – 1939

Será que apagavam características da arquitetura alemã da paisagem e dos edifícios públicos. Este é uma tipologia do gótico alemão.

Antigo edifício projetado por Heinrich Krohberger.
Revitalização da Prefeitura de Blumenau – Antigo edifício projetado por Heinrich Krohberger
Material enviado pelo Professor Pisetta – do Alto Vale do Itajaí. Acervo Biblioteca Pública de SC. Florianópolis.

Um registro para a História.

Referências

  •  GAZ. Palestra sobre arquiteto que projetou a Catedral é nesta quinta. Publicado em 2 de outubro de 2018. Disponível em http://www.gaz.com.br/conteudos/variedades/2018/10/02/130904-palestra_sobre_arquiteto_que_projetou_a_catedral_e_nesta_quinta.html.php. Acessado em 24 de abril de 2019 – 23:00h.
  • GHISLANDI, Emerson – DIARINHO. Um monumento que está impregnado n’alma. Publicado em 27 de novembro de 2017. Disponível em https://diarinho.com.br/blogdoemerson/tag/simao-gramlich/. Acesso em 25 de abril de 2019
  • IPHAE – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado. Casa de cultura de Venâncio Aires. Disponível em: http://www.iphae.rs.gov.br/Main.php?do=BensTombadosDetalhesAc&item=43204. Acessado em 24 de abril de 2019 – 23:00h.
  • NOTAS À HISTÓRIA DO MEIO OESTE E OESTE CATARINENSE E REGIÃO DO CONTESTADO. Concórdia: Simão Grämlich, o arquiteto do Hospital São Francisco – agosto de 2014. Publicado em 7 de maio de 2017. Disponível em http://wielandlickfeld.blogspot.com/2017/05/concordia-simao-gramlich-o-arquiteto-do.html. Acessado em 24 de abril de 2019 – 23:30h.
  • VIEIRA, Juliana Poli. A Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento e a Constituição da Cidade de Itajaí. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico, Programa de Pós Graduação em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade – Florianópolis SC 2016.

Leituras Complementares – Clicar sobre o Título escolhido:

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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