Apresentamos uma análise feita pelo Arquiteto Urbanista Hans Broos, dentro de uma série publicada em diferentes datas no Jornal Santa Catarina JSC – Blumenau, no ano de 1990.

Arquiteto Hans Broos

Somente foi possível esse compartilhamento teórico – texto de autoria de uma das referências na Arquitetura Nacional, porque o arquiteto e professor Vilmar Vidor (que partiu em novembro de 2015) tinha em seu acervo pessoal – organizado e catalogado – não somente esse artigo, mas outros tantos. Recebemos esse material de sua mãe – Maria Irani Vidor, o qual compartilhamos aqui com intuito de compartilhar material tão importante e também, em memória dos dois arquitetos: Hans Broos e Vilmar Vidor.
Hans Broos dispensa apresentações. Ousamos afirmar, que o arquiteto continuaria sua crítica, se sua análise se chegasse aos dias atuais – sob uma administração pública de Blumenau desprovida de planejamento urbano e da coordenação da unidade de setores afins, onde o que há, é uma cidade gerenciada por segmentos segregados com ações aleatórias e isoladas. Com isso, é evidente a degradação sistemática do espaço urbano, com conflitos de toda natureza tomando conta desse, dentro de um processo, que pode ser irreversível.

Este material é de grande importância aos pesquisadores da área de Urbanismo e Geografia que estudam a cidade de Blumenau, onde poderão referenciar este grande teórico, além de arquiteto que foi Hans Broos.

Este artigo do arquiteto Hans Broos – em sua parte conclusiva – até a década de 1990 – antevê de maneira suave, o processo atual da cidade de Blumenau e destaca a importância do resgate da identidade cultural. Apresentamos uma parte deste estudo, onde estão definidos os períodos históricos de acordo com o quadro abaixo.

As ilustrações do texto foram feitas por nós, que o fazemos igualmente, como arquiteta.

Página do encarte do Jornal de Santa Catarina.
“As formas arquitetônicas de Blumenau antiga e moderna – Por Hans Broos.

Com a intenção de sistematizar os últimos 150 anos de desenvolvimento arquitetônico e urbanístico de Blumenau, podemos esquematizar sua evolução no seguinte quadro de épocas:

Resumo de todo o artigo de Broos. Neste artigo está a primeira parte.

As duas primeiras épocas, a de colonização e de consolidação, são históricas e mais significativas, a primeira por razão do sistema específico de implantação e a segunda como ponto de partida físico espiritual da cidade industrial de hoje. As épocas posteriores, de 1930 a 1990, consequência das primeiras, proporcionaram a expansão da cidade em aproveitamento dos vazios deixados pelo sistema colonial.
O segundo período, a consolidação, destaca-se por razão das obras significativas realizadas, do ambiente da ação, da estrutura administrativa e seus reflexos à arquitetura e ao urbanismo da cidade. A arquitetura da colonização, ou seja, “O Estilo enxaimel” e seus efeitos, analisaremos no final do trabalho.

Heinrich Krohberger e sua época – 1870 -1930

O período de 1870 até 1930 consideramos como o auge da evolução da arquitetura antiga de Blumenau. Destaca-se pela realização de um maior número de prédios importantes, que documentam a satisfação da população e do governo pelo sucesso da colônia e por sua consolidação no novo ambiente. Expressam a confiança no futuro e o espírito do progresso da sociedade de então, que levaria o desenvolvimento à cidade industrial de hoje. A época da colonização, a partir da fundação da colônia em 1850 pelo dr. Blumenau, até aproximadamente 1875, compreende 25 anos de sacrifícios caracterizados na arquitetura da colônia pelo rancho de palha e pela casa de enxaimel. A construção comum que correspondia ao desafio das novas condições de vida na colônia de Blumenau, era o rancho de palha, que servia, em geral, durante os primeiros anos, como modelo de moradia, estábulo, salão de reuniões, Igreja, escola, etc.

Casa do Primeiro balseiro de Südarm – antiga Colônia Blumenau. Fonte: Arquivo Público Histórico de Rio do Sul.

O trabalho exaustivo ao ar livre, no campo, no mato, encontrava a recompensa do descanso e a proteção merecida neste simples refúgio financeiramente alcançável. O enxaimel, nesta época, representava o sistema de construção sólida e de qualidade.
Após 25 anos de sacrifício, surgiu no limiar do período da colonização, a partir de 1870, como arquitetura de transição, um novo tipo de construção, chamado por Theodor Hansen de a Casa do Fundador, a “Gründerhaus” (Estilo dos colonizadores após a revolução de 1871). São obras construídas ainda sobre o pano de fundo dos ranchos de palha e das casas de enxaimel, porém, com estrutura de alvenaria, telhadas de madeiras cobertas por telhas chatas. As casas são rebocadas, com requadrações perfiladas nas aberturas de portas e janelas, representam uma arquitetura mais refinada, expressando o desejo de uma vida mais organizada, mais confortável, com mais prazeres e participação nos anseios da época pelo progresso.

Rua XV de Novembro – Blumenau SC. Blumenau, 2015. Fonte: Blog Brasiliana Fotográfica Digital.

Ao observar esse fato, os critérios de nossos dias, as dimensões destas obras arquitetônicas, seu volume físico e sua imponência não são importantes. O que devemos considerar é o cotidiano da colônia, que era de luta e de concentração ao trabalho. Na época da consolidação, deu-se um importante passo para a saída das limitações aos novos anseios.

1930 – época da Nacionalismo em Blumenau e região – Buling oficial contra a cultura local – O arquiteto Hans Broos percebeu os reflexos e consequências desse fato histórico no espaço da cidade, mas não entrou nos detalhes.

No estilo do ‘Gründerhaus’ foram construídas: A sede administrativa da colônia, em 1875, o Hotel Holetz, casas residenciais, fábricas e outros. Nessa época, mudou o panorama da povoação de então, as fileiras de casas de enxaimel ganharam em pontos estratégicos e de destaque, prédios representativos. Estas obras mudaram o ambiente arquitetônico e urbanístico por abrirem novos espaços urbanos que refletiam a evolução.

Suas formas influenciaram a fisionomia arquitetônica da cidade até a passagem do século XX. (A análise arquitetônica formal das construções foi feita de forma excelente pelo dr. Theodor Hansen em seu livro ‘Planejamento Urbano e Formas Arquitetônicas no Nordeste de Santa Catarina’, Universidade Aachen, de 1985). A análise dos detalhes históricos da arquitetura para nosso tema é de segunda importância, sendo essencial o fato básico que a colônia após 25 anos de limitação ao absolutamente necessário e de concentração ao trabalho, economicamente consolidada, dispunha de personalidades, de organização e de espírito de ação para realizar, ainda numa natureza selvagem, obras de caráter simbólico animador e progressista. Suas formas são de origens diferenciadas, cuja análise é tarefa de historiadores. O porquê de sua escolha em determinados momentos históricos e sua adequação às circunstâncias é o que nos interessa. As formas arquitetônicas a partir de 1875, expressam a visão e a confiança no futuro da colônia e representam o início de uma época para a construção de Blumenau. Seu caráter orientador se estendeu rapidamente pela cidade e agiu até 1930. 

Ao realizar, no ano de 1875, a sede administrativa da colônia (as duas igrejas, a matriz e a igreja protestante, já existiam desde 1868), o governo colonial conscientemente passou, na concepção da obra, para além do funcionamento necessário e economicamente razoável. Seu propósito era de alcançar o novo, o sólido, o promissor. O mesmo comportamento pode-se observar em outras construções antigas daquela época, por toda a cidade, como a fiação de 1898 e a costura de 1896 da Cia Hering. Justamente esse ato de coragem e de visão ao novo e promissor, representa o ponto de partida para o futuro da cidade.

É importante considerar que a comunidade, na época, dispunha de personalidades na vida pública e particular com espírito, preparação profissional e educação a altura do desafio, para incentivar e dirigir as obras e o desenvolvimento urbano. A construção da sede da colônia, é um marco, razão pelo qual considero essa obra e o ano de sua construção – 1875 – como o fim da época da colonização e o início da consolidação. 

Este limite é teórico, serve apenas para uma melhor sistematização, a construção enxaimel, por exemplo, continuaria sendo usada na época da cidade e de vez em quando até os nossos dias.

1° estação ferroviária de Passageiros – de Blumenau – atual local da prefeitura municipal de Blumenau. WITTMANN, 2010.

Depois da arquitetura de transição, ou a “Gründerhaus”, apareceu o estilo de prédio da cidade, o “Stadthaus” que é um estilo similar ao do europeu de fim de século, derivado do “Gründerhaus” com elementos de estilo “Noveaux”, com uma série de obras modelo no que se refere a sua implantação, qualidade arquitetônica e de execução (deverão ser feitas análises de plantas, uso e concepção dos espaços e suas consequências em trabalho separado).
Nessa época, surgiram estabelecimentos comerciais e industriais, cujo surto maior data, conforme Ingo Hering, de 1880 – 1890. Em 1910 foi implantada a Estrada de Ferro e suas obras auxiliares como pontes, estações de parada e galpões. Seguia a geração de energia elétrica pela ‘Força e Luz’ em 1914, e, em consequência desse desenvolvimento foram construídos mais equipamentos urbanos, estabelecimentos comerciais e residenciais.

Força e Luz – 1914 – Primeira Usina Hidrelétrica de Santa Catarina. WITTMANN, 2010.

A cidade se encontrava em pleno desenvolvimento. As obras expressivas, da época, até 1930 foram prédios comerciais, industriais, residenciais com formas e plantas derivados do ‘Gründerhaus’ e do enxaimel. Apareceriam prédios com a modulação do enxaimel construídos em alvenaria, com aberturas abobadadas e arcadas; sistemas de madeira, transformados em alvenaria com a respectiva perfilação e decoração. Nas formas dos telhados apareceram as mansardas e ‘Krüpelwalm’ como consequência da arquitetura europeia, aparecem os elementos do estilo ‘Noveaux’ e foram aplicadas réplicas do estilo gótico (vide igreja evangélica, deduzidos de estruturas de madeira). Outrossim, durante toda época de colonização reflete na concepção arquitetônica a influência colonial brasileira da zona, como se observa no uso de varandas e de largos beirais.

Blumenau – Rua XV de Novembro – aos fundos – a antiga igreja católica. Fonte: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva.

Toda essa diversidade de influências e estilos deve ser interpretada a “posteriori” como a procura de identificação e como resposta a um desafio, cujo resultado em tão curto prazo e dentro de um desenvolvimento tão acelerado, não podia ser puro e claro. O caldeirão da vida permanece em ação até encontrar a resposta cultural a longo prazo. Por esta razão, estamos mais interessados nas forças interiores que levaram a estes resultados: o espírito da época, sua filosofia e a estrutura da ação. Estas forças se encontram documentadas no visual dos diferentes prédios da cidade.
A figura principal e modelo desta época na arquitetura, é engenheiro Heinrich Krohberger, que serve de exemplo para apreciar as demais áreas da vida pública, nas quais agiam personalidades de gabarito similar. A personalidade do engenheiro Henrique, sua capacidade profissional e sua maneira de agir, nos permitem uma mais exata interpretação do ambiente.
De acordo com o texto publicado no Calendário de Blumenau de 1935, pg 38, o engenheiro Heinrich Krohberger veio ao Brasil em 1858 e ‘passou a exercer o cargo de auxiliar técnico do dr. Blumenau’, então diretor da colônia. Os serviços confiados a Krohberger, compõe um relatório impressionante que provoca respeito e consideração no que se refere ao volume e diversidade, considerando-se o desafio da situação histórica. O calendário relata como obras projetadas e dirigidas pelo engenheiro Heinrich Krohberger, o prédio administrativo da colônia, o Hotel Holetz, igrejas, escolas, pontes, abertura de estradas, serviços exaustivos de topografias e fiscalização e em 1896 e 1897 o engenheiro Henrique passou a ocupar-se da carta topográfica do Estado, conforme ordenara o governo, resultando deste trabalho o valioso mapa de Santa Catarina de 1900, voltando após, ao seu lugar de auxiliar técnico do Dr. Blumenau e auxiliar técnico da Comissão de Terras e Colonização.
O calendário é único documento por mim encontrado, pelo qual o engenheiro Henrique figura como autor responsável pela construção da Prefeitura, reforçando, desta forma, a teoria já anteriormente defendida, na qual não somente é autor da sede administrativa da colônia de 1875, obra característica da época de transição, mas também da prefeitura. Sua 1° etapa (a Casa de Câmara) foi construída em 1900 e 2° etapa a partir de 1911, (Krohberger faleceu em 1914).

refeitura de Blumenau – projeto de Heinrich Krohberger. Fonte Gilberto Gerlach, 2019.

A vida e obra do engenheiro Henrique Korhberger representa, neste relato, um detalhe histórico e de justiça pessoal que também ajuda esclarecer a estrutura administrativa da época e sua influência na qualidade de obras.
Em suas mãos foram concentrados os assuntos de planejamento e de execução de obras, criando-se as construções de caráter simbólico da cidade modelos de implantação, organização e fiscalização, como a sede administrativa da colônia em 1875, a igreja evangélica e a igreja matriz e 1868, o Hotel Holetz, etc. O valor histórico dos 50 anos de atuação do engenheiro Henrique reside no fato da continuidade como dirigente técnico e de planejamento.
A comunidade de então dependia, para o seu desenvolvimento cultural, da ação de personalidades singulares. Os cargos eram determinados em função da capacidade reconhecida; o expediente do voto da maioria não substitui nem a capacidade nem a responsabilidade. O nosso trabalho diário nos ensina que a qualidade arquitetônica ou urbanística, em grande parte, é resultado da correspondência filosófica entre os parceiros de ação, tanto em obras particulares e mais ainda nas realizações públicas. Cada obra está exposta a duas áreas de influência: a direta entre os parceiros de ação e a do espírito da época (pública).
Elas não se manifestam, em geral, de forma sincronizada. Como na área interna de ação, também as condições culturais externas apresentam defasagens temporárias. São raras as ocasiões com boa sincronização, nas quais as regras de comportamento estão sincronizadas em um objeto filosófico que serve como ponto de referência para a sociedade e o indivíduo, onde complementam-se as intenções de cada participante.
Situação favorável, neste sentido, encontramos na sociedade de Blumenau no período de 1850 até 1930 da colônia até a época da cidade. O governo colonial era representado pela figura do dr. Blumenau que era o responsável direto do empreendimento. A área técnica era confiada ao engenheiro Henrique Krohberger e as demais áreas às personalidades com convicções similares e comportamento coordenado.
A responsabilidade incluía a visão e a abertura ao futuro. No início, eram assuntos a decidir sobre um fundo selvagem onde nada havia de definido, além do plano geral de venda dos lotes. A implantação, a interligação das vias, a concepção dos prédios, tudo necessitava de definição, não existia um modelo a seguir. Nesta época, a colônia, não dispunha nem de ajuda nem de orientação do governo no que se refere ao planejamento de obras urbanas e sua execução. Aqueles homens baseavam-se apenas nos seus conhecimentos, sua tradição e sua visão no futuro, alimentados pela convicção da necessidade, da obrigação e da qualidade e incentivados pela companhia dos correligionários, da mesma forma convencidos e responsáveis nas demais atividades. Esta presença e a correspondência de espírito, representa a mais alta motivação, sendo complementada pelo contato com amigos, parentes e observadores de fora. Fazer jus às pessoas da história e respeitá-las somente é possível, levando-se em consideração todo o contexto dos fatos de então.

A falta de comunicação direta com o resto do país fizera com que as forças tradicionais fossem originalmente mais expressivas do que as influências do novo país, cuja grandeza não chegou a ser percebida pelos colonos. Somente na época da cidade, os industriais e comerciantes, chegaram a ter contato com as reais dimensões, com a generosidade e enormidade da nova pátria. As preocupações diárias e de sobrevivência obrigaram a maior parte da população a se concentrar no cotidiano, ficando a vida organizada dentro dos limites da tradição.

O ambiente espiritual e visão do futuro, dependia do governo da colônia e dos cidadãos com visão mais ampla, para além do ambiente local. Estes chegaram de uma Europa, cujo espírito da época estava dominado pelo idealismo, pela veneração da inocência e pureza da natureza e de uma vida em seu contato. A idealização de tudo o que se referia à selva, ao índio e ao natural, está documentado pelos famosos viajantes e cientistas dos séculos anteriores e ainda influenciava a ação dos europeus recém-chegados no século XIX. Não somente os Jesuítas no Brasil agiram com intuito de construir neste país a sociedade ideal, os imigrantes não religiosos foram impulsionados por ideais similares.
É surpreendente o grande número de cientistas, filósofos e humanistas que se encontravam nessa época entre 1870 e 1930, reunidos numa pequena vila como Blumenau, com horizonte de ação universal dedicando-se às suas tarefas locais. Para somente mencionar o botânico Fritz Müller, que trabalhou em contato com Darwin e várias universidades europeias, José Deeke, o filósofo Padre Jacobs, que foi um dos mais reconhecidos filósofos da religião, etc. Dentro dessa comunidade, os governantes como Dr. Blumenau e os industriais como os Hering, os Jansen, Feddersen, etc. foram impulsionados além dos negócios, por uma visão idealista e de grande amplitude.
Encontramos, na época de consolidação a plena correspondência entre filosofia de ação, ou seja, a motivação, estrutura de ação, planejamento e execução, que representam os parâmetros da cultura tradicional. Estas forças representam para a esfera individual: dedicação, procura de qualidade a longo prazo e responsabilidade pessoal, forças em ação até o ano de 1930 (aos historiadores cabe corrigir e determinar a data exata).
Apresenta-se a pergunta: qual é o prazo de influência de uma estrutura tradicional e do seu parâmetro de qualidade? Uma geração ou duas? E por que sofre desgastes no decorrer do tempo? Pela idade da geração dos incentivadores, suas decepções individuais e humanas, como isso aconteceu com o Krohberger? (Os romanos conseguiram durante o seu império a institucionalização de sua filosofia através da estrutura administrativa, de forma que ela resistiu, apesar de governos incompetentes como Calígula, Nero, etc.).

Comentário: É o período do Nacionalismo na região – Angelina

O desgaste foi consequência do sacrifício e esforço da vida penosa diária que não encontraram suficiente recomposição pelas distâncias aos correligionários (Krohberger encontra seu consolo na bebida alcoólica), da perda do impulso espiritual e da sobreposição de uma outra cultura. A cultura brasileira em 1850 já tinha 350 anos de maturidade, outra forma de pensamento, outra dimensão, outra organização social e administrativa que se sobrepuseram à tradição germânica.

Dr. Blumenau und seiner Mitarbeiter

Emil Odebrecht, Hermann Wenderburg, Reinhold Freygand, Heinrich Krohberger, Dr. Blumenau, Theodor Klein, Heinrich Avé-Lallemant Blumenau e colaboradores. Fonte: Karl Foulquet -Blumenau, 1979.

A Época de 1930 a 1985

Rua XV de Novembro. Fonte: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva.

Este período que compreende a ‘Cidade” e a “Expansão’ testemunhou o crescimento do poder econômico, do número de fábricas e do volume de produtos. Efetivou-se a consolidação da colônia no ambiente nacional e internacional.

Banco do Sul do Brasil 1940. Fonte: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva.

Uma massa populacional e seus representantes passaram a substituir a ação das ‘personalidades’ singulares da época anterior com as consequências evidentes na arquitetura e no urbanismo.
As indústrias que conforme a tradição europeia tratavam os operários de uma forma mais humana e digna, provocaram a afluência de trabalhadores de todos os cantos do país, acelerando a sobreposição e assimilação cultural.
Em termos gerais aconteceram as seguintes modificações:
– diminui a ação da memória tradicionalista;
– diminui o contato com amigos e correligionários “idealistas”;
– diminui o sentimento forte de responsabilidade pessoal;
– aumenta a decisão por votos;
– aumenta a adaptação às possibilidades e às dimensões brasileiras;
– aumenta a pressão sobre os quadros tradicionais, causando insegurança por falta de definição.

Comentário: Ecos do Nacionalismo do governo de Getúlio Vargas percebido pelo Arquiteto Hans Broos, mas não detalhado. Angelina

Como consequência observamos a necessidade de definição de uma nova comunidade e sua identificação social.
– quais são os seus valores, intenções, parâmetros e ensaios e quais as consequências para o planejamento?
– quem o responsável pela sua introdução, sua estrutura e qualidade?
– quais são os valores tradicionais permanentes comprovadamente básicos e indispensáveis para o futuro e quais não?
Durante a época de 1930 a 1985, as forças disponíveis foram canalizadas à técnica de produção (máquinas, equipamentos, produção em massa) e esqueceu-se, na maior arte dos casos, os efeitos que teriam sobre a comunidade e o ambiente.
Apesar de todo o crescimento econômico e populacional, a ocupação urbana seguiu o antigo esquema colonial de retilineidade, sem se preocupar com uma solução nova e mais adequada ao desenvolvimento. Esta tendência persiste até hoje, a expansão representa o preenchimento dos vazios deixados pela implantação original.

Na arquitetura e no urbanismo de Blumenau, as formas são repetitivas e limitadas dentro do espírito do mais econômico, tendo uma obra a fisionomia da outra, faltando a supervisão, o pensamento integral comunitário e a procura da resposta mais ampla. Este processo é acompanhado pela falta de empenho governamental. Anteriormente o governo da colônia era o gerador da animação. Hoje, o governo limita-se meramente funcional e necessário, o governo perdeu o papel de liderança na organização dos espaços urbanos, na sua concepção e a animação ao futuro.

Somente nos últimos anos a arquitetura da cidade e da região se encontra em fase de uma certa reformulação, com obras de outras dimensões que traduzem novos anseios. Está se procurando a saída ao impasse da mera maquilagem dos detalhes de conceitos superados. Está se procurando, a partir de aproximadamente 1970, a nova identificação.

Para atingi-la necessita-se superar as limitações imposta pela tradição e pela antiga concepção e fazer jus a uma nova sociedade, ou seja, aceitar um novo desafio histórico.
A nova identificação social urbana exige uma nova imagem urbana, processo paralelo ao da procura da Identificação Brasileira Nacional.
Para o melhor domínio do processo, deve ser analisada as razões externas e gerais da dissolução do antigo parâmetro de qualidade e de visão integral de então:
– a perda da consciência histórica, através da qual a cada instante de evolução, novas condições reclamam um novo posicionamento.
O pensamento histórico faz parte da ‘visão integral’:
– o limite de horizontes impostos pela excessiva especialização ocidental, cuja influência é tanto maior quanto maior a influência da burocracia. A visão do ‘especialista’ ampliada a uma “visão integral”, levaria a um novo humanismo;
– o apoio da burocracia nas decisões tomadas através do voto sem consequências, destruindo a responsabilidade individual. A discussão sobre tal comportamento ganha maior destaque no mundo atual na destruição do meio ambiente.
A tradição que Blumenau pretende e deve cultivar, inicia com o espírito e a filosofia da responsabilidade da qualidade. Sendo assim, a diminuição da responsabilidade representa o mais grave ataque à tradição.
Blumenau entre 1930 e 1990 teve um novo incremento populacional onde os habitantes tradicionais são em muito menor número do que os novos. Para que a cidade possa progredir, necessita de identificação, de transmitir a filosofia de progresso e de possibilitar a assimilação da tradição.”

Comentário: Esse é o motivo pelo qual existe nosso trabalho – por acreditar nisso a partir de nossa Profissão – Arquitetura e Urbanismo. Angelina

Itoupava Seca – Blumenau – antiga comunidade de Altona. Mudanças na paisagem urbana, desprovido de estudo e plano.
Área central de Blumenau – vista da margem esquerda do Rio Itajaí Açu – precedente grave – onde a estrutura é a mesma colonial. Mencionada por Hans Broos. A cidade não foi redesenhada ou planejada para o adensamento e mudanças que estão permitindo fazer em seus espaços – por iniciativas privadas.

Referências

  • WITTMANN, Angelina C. R. A ferrovia no Vale do Itajaí: Estrada de Ferro Santa Catarina: Edifurb, 2010. – 304 p. :il.
  • WITTMANN, Angelina. Brutalismo de Hans Broos – Caminhada Cultural – Blumenau. Publicado em: 27 de junho de 2017. Disponível em: < https://angelinawittmann.blogspot.com/2017/06/brutalismo-de-hans-broos-caminhada.html> Acesso em: 15 de novembro de 2022 – 9:05h.
  • WITTMANN, Angelina. Hans Broos. Publicado em: 23 de agosto de 2011. Disponível em: <https://angelinawittmann.blogspot.com/2013/10/arquiteto-hans-broos.html> Acesso em: 15 de novembro de 2022 – 8:05h.
  • WITTMANN, Angelina. Passagem da Equipe do Documentário Arquiteto Hans Broos e parte de sua obra – Blumenau SC. Publicado em: 19 de maio de 2017. Disponível em: < https://angelinawittmann.blogspot.com/2017/05/passagem-da-equipe-documentario.html> Acesso em: 15 de novembro de 2022 –18:05h.

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
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Em breve – Estaremos lançando o livro: “Fragmentos Históricos – Colônia Blumenau” – inspirado nos artigos desta coluna. Aguardem.