Sacrifícios, fé e união: conheça a luta de uma família blumenauense para que jovem possa voltar a enxergar
Maria Eduarda Gonçalves tem 12 anos e possui hipoplasia de nervo óptico bilateral
Maria Eduarda Gonçalves, a Duda, é uma adolescente de 12 anos que nasceu em Blumenau e é moradora de Gaspar. A menina é portadora de uma doença congênita chamada hipoplasia de nervo óptico bilateral que a deixa com uma visão muito baixa.
Duda possui apenas 15% de visão no olho direito e nenhuma no esquerdo, além disso, a menina também sofre com nistagmo, que consiste em movimentos involuntários e repetitivos dos olhos.
A família sempre buscou alternativas para melhorar a condição de Duda, porém o único tratamento possível na região eram estimulações visuais realizadas no Centro de Estimulação Visual (Cevap) em Blumenau.
Os especialistas diziam que não havia o que fazer para curá-la e que até ela completar 10 anos, a situação poderia progredir ou regredir. Conforme o tempo passava, a menina perdia o pouco de visão que tinha.
Uma esperança
No ano de 2020, a mãe de Duda, Taynara Cristina Bruno, durante uma manhã em que assistia ao programa Encontro com Fátima Bernardes, conheceu a história de um menino da cidade de Tijucas que também possuía hipoplasia do nervo óptico e iria fazer um tratamento com células-tronco na Tailândia, com a esperança de poder enxergar.
A partir disso, a Taynara entrou em contato com a mãe do menino, que explicou um pouco sobre o tratamento. Posteriormente, a família contatou um representante da Beikebiotech, empresa chinesa responsável por realizar o tratamento, para entender mais detalhes.
Após a realização de vários exames, a Duda recebeu uma carta, a qual informava estar apta para realizar o procedimento. Porém, o custo do tratamento era de R$ 180 mil, e a família não tinha condições de arcar com o valor.
Aos olhos da Duda
A família da menina iniciou uma campanha on-line chamada “Aos olhos da Duda”, e começaram a compartilhar a situação no Instagram, para mobilizar as pessoas a colaborarem com a causa.
Uma vaquinha foi realizada e eventos beneficentes em prol do tratamento da Duda foram organizados. O primeiro deles foi uma macarronada, que aconteceu no começo de 2020, na cidade de Ilhota, situada no Médio Vale do Itajaí.
Porém, logo em seguida, a pandemia de Covid-19 iniciou. Por conta dos decretos, os eventos tiveram que ser cancelados, e o que era a principal fonte de arrecadação de fundos precisou ser interrompida.
Em um post no Instagram, familiares de Duda compartilharam: “Tivemos que cancelar toda nossa programação de eventos e nos readaptar para podermos dar continuidade na campanha da Duda, afinal, os sonhos não morreram, só tiveram que ser adiados”.
A campanha durante o isolamento social
Durante o isolamento social, a família precisou se reinventar para conseguir dar continuidade à campanha. O primeiro evento durante este período foi uma feijoada na capela Santa Terezinha, em Gaspar, no dia 27 de junho de 2020, organizada apenas para retirada no local, com o intuito de evitar aglomerações.
No dia 4 de julho de 2020, foi feita uma “Live do Bem”, com show do cantor Alisson Anorte. A transmissão ocorreu do Fazzenda Park Hotel e foi realizada pela TV Gaspar.
Segundo Mayara Andreza Bruno, tia da Duda, a live teve um papel imprescindível, sendo uma das principais ações responsáveis por arrecadar a quantia que precisavam.
Complicações por causa da pandemia
Após atingirem o valor necessário, o tratamento foi agendado para novembro de 2021. No entanto, por conta da pandemia de Covid-19 e o fechamento das fronteiras, a viagem precisou ser remarcada para fevereiro de 2022.
Segundo Mayara, as passagens já estavam compradas para novembro, e para realizar a alteração da data, a família teve um prejuízo de R$ 15 mil.
Com o intuito de conseguirem o valor, no dia 5 de fevereiro realizaram mais uma macarronada, também na capela Santa Terezinha, em Gaspar. Com o evento foi possível arrecadar o dinheiro necessário e a data das passagens foi modificada.
Tratamento
O tratamento da Duda começou no dia 7 de março. O procedimento foi realizado a partir de oito bolsas de células-tronco, o método mais completo fornecido pelo hospital. Foram aplicadas três injeções retrobulbares e cinco intravenosas.
As células começam a trabalhar a partir da primeira aplicação e atingem o pico máximo entre o terceiro e sexto mês após o procedimento. Apesar do tratamento não garantir uma cura absoluta, a família afirma que Duda já está apresentando melhoras.
“Já estamos notando melhorias, e qualquer porcentagem de avanço que ela tiver com o tratamento já vai nos deixar muito feliz”, afirma a tia Mayara.
De acordo com a família, o tratamento precisa continuar no Brasil. A partir de estimulação visual, terapia ocupacional, exercícios físicos, alimentação saudável e entre outros fatores importantes para estimular as células.
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Além das bolsas de células-tronco, o pacote do tratamento incluiu terapias de suporte personalizadas, incluindo fisioterapia, estimulação magnética transcraniana, acupuntura, terapia aquática, ocupacional, nutricional e terapia de oxigênio hiperbárico.
Dia 19 de março foi o último dia de tratamento e em 22 de março a família já embarcou de volta ao Brasil.
“Foi maravilhoso saber que tinha uma solução, achávamos que jamais iríamos conseguir fazer com que a Duda pudesse realizar o sonho de enxergar. Até hoje a ficha não caiu que possibilitamos o tratamento para ela”, afirma Mayara.