A pandemia serviu também para mostrar quem é quem na política estadual, bagunçando a vida de muito administrador público para o bem e para o mal. Muito provavelmente o que mais sentiu negativamente tudo isso foi o governador Carlos Moisés, que no início fechou tudo, segurou o contágio, mas o caso do hospital de campanha de Itajaí, a compra dos EPIs e finalmente o caso dos 200 respiradores, o jogaram na lona e desmantelaram uma estrutura de governo que parecia sólida.
A partir daí Moisés se perdeu, deixou o medo tomar conta e acabou politicamente só, pois no anúncio da continuidade, por parte da Assembleia Legislativa, do seu processo de impeachment, nem mesmo a líder do governo, deputada Paulinha (PDT), ousou em fazer qualquer protesto contra o ato do presidente Júlio Garcia (PSD).
Já os prefeitos que sempre criticaram o governador por decidir tudo sozinho, sem conversar nada com ninguém, acabaram conseguindo que o governo do estado os deixasse decidir o que deve ser feito nas suas cidades. A maioria decidiu, por conta do aumento significativo de contaminados e mortes, e também acabaram sentindo o peso da opinião pública que leva mais em consideração o lado econômico do que o lado da saúde.
Prefeitos como o de Florianópolis, Gean Loureiro (DEM), de Tubarão, Joares Ponticelli (PP), de Criciúma, Clésio Salvaro (PSDB), e de Blumenau, Mário Hildebrandt (Podemos), sempre tiveram boas aprovações até o mês de junho deste ano, quando apenas administravam o que o governo do estado definia como prioridade.
Mas agora que está em suas mãos determinar o que abre e o que fecha se veem entre a cruz e a espada, pois são levados a contrariar muitos setores, antes aliados, que agora rugem por não poderem abrir seus estabelecimentos.
Protestos em Blumenau
Em Blumenau, os responsáveis por comércio de rua e as academias estão fazendo mais barulho, pois entendem que estão pagando uma conta que não é deles, pois o grande problema do aumento de casos na cidade se deu por causa, principalmente, das festas particulares e da liberação de idosos e de pessoas com conformidades poderem andar livremente pela cidade.
O núcleo de Atividades Físicas da Associação Comercial e Industrial de Blumenau (Acib), fez uma pesquisa com frequentadores de academias em Santa Catarina, entre os dias 1º e 8 de julho, para levantar dados de como estão os protocolos de segurança aplicados e qual o risco de contágio nesses estabelecimentos.
A pesquisa não tem base científica, mas responderam o questionário 2.605 pessoas, onde 39% voltaram para a academia há cerca de 30 dias, 33% em torno de 60 dias, e 17% há mais de 60 dias. Do total, 91% se dizem satisfeitos ou muito satisfeitos com os protocolos de segurança das academias a que frequentam.
Quando perguntados se foram contaminados pela Covid-19 no período em que estão frequentando a academia, 96% responderam que não e apenas 14 pessoas responderam que sim, o que representa 0,54% das 2.605 pessoas.
Outro fator gerador de conflito entre os profissionais desse setor é a lei 17941/2020, do deputado estadual Fernando Krelling (MDB), que reconhece a prática de atividade física e do exercício físico como atividade essencial para a população de Santa Catarina.
Mas o próprio deputado explica que, no 2º parágrafo da lei, consta que qualquer fechamento pode ser feito apenas se justificado tecnicamente e cientificamente por parte da administração pública municipal ou estadual como, por exemplo, o aumento dos casos ou taxas de ocupação de leitos, como é o caso da cidade de Blumenau.
Para o Supremo Tribunal Federal, segundo Fernando, essa é uma prerrogativa dos prefeitos quando for o caso.
O fato é que os profissionais de academias dizem estar “pagando o pato” pela irresponsabilidade e falta de consciência da própria população e também pela falta de fiscalização de eventos clandestinos que acontecem em Blumenau.
Carreata no Centro da cidade
Na noite de quarta-feira, 22, um grupo de comerciantes de todos os bairros da cidade fizeram uma carreata para protestar contra o fechamento do comércio de rua em Blumenau. Entidades como CDL, Fecomércio, ACIB e Sindilojas emitiram notas contrárias ao decreto assinado pelo prefeito Mário Hildebrandt na última segunda-feira, 20.
Dizem que “o comércio passou a ser considerado um dos grandes culpados pela disseminação do coronavírus no município”. Mas afirmam que, desde o início da pandemia, todos estão se esforçando ao máximo em seguir todos os protocolos de prevenção e higienização para o atendimento dos clientes.
Segundo as entidades, se existe descontrole nas aglomerações, estas não acontecem no comércio, mas mesmo assim eles são os que pagarão o preço mais alto pelas medidas adotadas pela prefeitura.
Por conta de todo esse barulho, não só o prefeito Mário, mas muitos outros prefeitos de diversas cidades de Santa Catarina, já se veem pressionados em abrir alguns setores, mesmo com os números de casos nas alturas.
O fato é que, com esse vírus não se brinca, pois ele complica não apenas a vida das pessoas infectadas, mas também pode complicar muitas candidaturas de prefeitos que não tiverem a confiança extrema da população da sua cidade.