Os deputados estaduais que fazem parte da CPI dos Respiradores da Assembléia Legislativa vararam a madrugada com o depoimento do ex-secretário da Casa Civil, Douglas Borba. A sessão começou às 17h20 de terça-feira, 2, com o depoimento da ex-superintendente da secretaria de saúde, Márcia Geremias Pauli, que acabou dizendo as mesmas coisas que disse no depoimento que dei para a Deic e também da entrevista que concedeu para a NDTV, no mês de maio deste ano.

Os dois momentos mais importantes do depoimento de Márcia foram quando ela disse que, no dia que foi publicada a matéria da compra dos respiradores no site do The Intercept Brasil, “eu nunca vi tanto celular quebrar e tanta mensagem apagar na minha vida”, informando também que neste dia ela procurou os órgãos reguladores do governo do estado para entregar seu celular para se isentar da culpa de todo o processo.

Num segundo momento, Márcia Pauli disse não saber o nome do deputado estadual que ligou para ela, numa ocasião no mês de março, perguntando qual o problema para se liberar um passaporte para o empresário Onofre Neto, da empresa Exxomed, para a compra de respiradores na China.

Segundo ela, a deputada Ana Paula Silva (PDT), líder do governo, estava sempre ali”, mencionando que a deputada Paulinha estava sempre próxima, pois ela fazia parte do grupo de atuação do COES (Centro de Operações de Emergências em Saúde).

Por volta das 21h30 iniciou o depoimento de Helton Zeferino, ex-secretário da saúde do governo de SC, e ele foi firme na maioria das respostas feitas pelos deputados, tendo como informação mais importante que foi Márcia Pauli quem assinou o recebimento dos respiradores, que todos sabem que não chegou, e por isso eles foram pagos. O ex-secretario da saúde, a todo o momento, jogava a culpa da compra dos respiradores na ex-superintendente e em Douglas Borba, afirmando ter sido contrário ao hospital de campanha de Itajaí.

Helton disse também que em nenhum momento autorizou qualquer pagamento antecipado enquanto esteve à frente da secretaria da saúde e que as empresas dispostas a fazer qualquer venda de produtos para o governo do estado vinham, via mensagem de WhatsApp, para Márcia Pauli.

Douglas Borba fala na CPI

 

Reprodução / Transmissão TV Alesc

Já na quarta-feira, 03, por volta das 1h25, teve início o depoimento mais esperando da noite, que era o de Douglas Borba, ex-chefe da Casa Civil. Já no início ele disse, tanto em depoimento da Deic quanto na própria CPI, que recebia pressão de deputados estaduais, mas acabou dizendo não lembrar o nome “dos deputados” e que precisaria de seu celular para informar os nomes.

Neste momento o deputado Ivan Naatz disse “como não lembra Douglas de alguém que liga no teu celular, o senhor conhece a Assembléia, não fiu eu, não foi o João Amin, o Milton Hobus, como o senhor não lembra de qual deputado ligou?” e completou dizendo “a Márcia disse também que não lembra e quando saiu tinha deputado esperando para abraçar ela”.

Douglas Borba também não soube explicar seu envolvimento com o advogado Leandro Barros, que tem envolvimento no processo de compra de EPIs da secretaria de saúde, na tentativa de montagem do Hospital de Campanha de Itajaí e também na compra dos respiradores da Veigamed.

Depois de ver todos esses depoimentos da CPI, o deputado Kennedy Nunes (PSD) sugeriu ao presidente da CPI, deputado Sargento Lima (PSL), que se faça uma acareação entre Márcia Pauli, Helton Zeferino e Douglas Borba.

A briga de João Amin e Ivan Naatz

Pra quem ficou até o final dos depoimentos da CPI dos respiradores da Assembléia, como eu, pôde assistir a melhor parte da participação dos deputados estaduais. O deputado Ivan Naatz (PL) solicitou ao presidente, deputado Sargento Lima (PSL), através de um requerimento, que fosse transferida a acareação entre os três depoentes de terça-feira, 02, que estava prevista para acontecer já na quinta-feira, 04, justificando que ele, como relator, não teria tempo hábil para prepará-la em virtude de todo o material produzido nos depoimentos e por não se julgar preparado para definir as regras que seriam usadas nesse processo.

O deputado João Amin (PP) pediu a palavra e disse não concordar com a transferência da acareação. Iniciou sua fala dizendo “eu achava desnecessário fazer o uso da palavra pra ter que discutir pela quarta vez o mesmo assunto… eu hoje pacientemente ouvi o relator, que acho que não estava preparado para os depoimentos (se referindo a Ivan Naatz)…”.

João Amin continuou falando que “há um compromisso, pelo menos é o que diz a imprensa, de apresentar o relatório em julho, antes das eleições… quem disse que eles não vão conseguir uma liminar para impedir a acareação, quanto mais a gente retardar isso, mais chance a gente vai dar de eles conseguirem essa não acareação…”.

Mas o mais impactante na fala de Amin foi quando ele acusou Ivan Naatz: “… a gente consegue listar todas as contradições, se quiserem. …se quiser não fazer a acareação, quem vai decidir somos nós, não vai ser o relator… o relator vai ter que fazer em julho o relatório e não sei se vai ter tempo hábil para cumprir a promessa que tá falando pra caramba para a imprensa, anda falando muita besteira pela imprensa também e tá deixando o pessoal pensando que vai dar em pizza… eu te ouvi cinco horas cara e te ouço mais, hoje eu tô com paciência… agora porque tu não tais querendo fazer a acareação? Isso é uma falta de respeito tu esperar todo mundo sair… todo mundo já sabia que tu ia colocar isso aí, menos eu. Quando o Kennedy falou que era necessário fazer a acareação, a tua assessoria olhou assustada. O que tem de interesse por trás disso em gente, o que é esse interesse hein?”.

Ivan Naatz respondeu que não queria pegar uma responsabilidade, com seis advogados extremamente competentes e um desembargador, colocar na sua frente e fazer uma acareação na qual não se encontra preparado para fazer, para depois fazerem uma ação contra ele e contra a CPI e acabar com a CPI porque um deputado quer fazer.

Os ânimos foram se acalmando e a famigerada acareação acabou ficando para a terça-feira, 9, onde novamente Márcia Pauli, Helton Zeferino e Douglas Borba serão ouvidos pelos deputados da CPI dos respiradores.