Moro em Blumenau desde que nasci e já vi muitas enchentes e enxurradas que fizeram milhares de pessoas passarem por momentos difíceis, como ocorreu com meus pais quando perderam tudo na enchente de 1983. Só quem passa por uma tragédia como essa sabe da importância de ter a informação correta nos períodos de chuva intensa como o que ocorreu na última semana na região do Vale do Itajaí.

Para aqueles que não correm o risco de sofrer com as enxurradas ou enchentes, esse tipo de preocupação pode ser banal e até se dá o direito de pensar que pode protelar qualquer investimento nessa área para o mês que vem.

E é isso que está acontecendo na região que concentra quase um terço de toda a geração de riqueza do estado de Santa Catarina e parece que nenhum prefeito do Vale do Itajaí tem a capacidade de tomar a frente para resolver um problema que atinge a todos. Segundo informações das próprias prefeituras, é necessário pouco mais de R$ 1 milhão para trocar todo o sistema de monitoramento do rio Itajaí Açú e evitar que gastem infinitamente muito mais para consertar os estragos desses “eventos” que ocorrem por aqui há décadas.

Na última sexta-feira, 22, tivemos um blackout na medição do rio em Blumenau. A régua física localizada na cabeceira da ponte Adolfo Konder, que já era um paliativo, está desativada por conta da duplicação daquela ponte. A régua da ponte de ferro, próxima a Prefeitura de Blumenau, não é confiável porque sofre com a interferência do ribeirão da Velha. O CEOPS da Furb estava desatualizado desde o dia 18 de dezembro do ano passado, o sistema do AlertaBlu fica horas para ser atualizado e, para piorar, as 16 estações telemétricas que “servem” para monitorar os rios e as chuvas no Vale do Itajaí estão desativadas.

Um verdadeiro voo cego na hora de monitorar uma situação que aflige todo blumenauense. Para terem uma ideia, na enxurrada que ocorreu no ano de 1990 no bairro Garcia, precisou de apenas algumas horas sem a devida informação para que várias casas da região da rua Antônio Zendron fossem destruídas pelas águas da chuva.

Situações como a de 1990 só ocorrem por conta da negligência e do amadorismo de quem é eleito para fazer o óbvio, mas prefere arriscar a vida da população porque sabe que esse tipo de investimento só é lembrado em dias de chuva, mas depois ninguém mais dá importância e sequer fica sabendo que uma cidade como Blumenau, que historicamente é atingida por enchentes, não tem o mínimo de estrutura para monitorar um rio que corta toda uma região.

Nós vamos ficar esperando e monitorando os nobres colegas para ver quem será o primeiro a se mexer para ir atrás do investimento necessário para a troca de todo um sistema que hoje já não serve mais para nada.

Mas só espero que nenhuma outra tragédia ocorra antes da instalação dos novos equipamentos e depois apareçam os salvadores da pátria para dizer que tudo isso é um absurdo, pois o absurdo já está instalado antes mesmo de tudo acontecer.