Nas eleições municipais de 2020 a mobilidade urbana até foi um dos assuntos discutidos pelos 12 candidatos a prefeito, mas pouco se trouxe de novo sobre o tema e a grande maioria se ateve em transporte público mais barato e obras que não vão resolver o fluxo de veículos na cidade.
Até a duplicação da ponte Adolfo Konder, no Centro, não é vista como uma grande obra capaz de melhorar o trânsito na região do bairro Ponta Aguda, pois não elimina um traçado que já é feito pelos motoristas de Blumenau há muitas décadas.
Eu nasci em Blumenau e conheço essa cidade desde a década de 70 e já vi aqui um transporte público de qualidade que funcionava, onde muita gente deixava o carro em casa para ir trabalhar de ônibus ou de bicicleta porque havia a condição para essa escolha.
Com o passar dos anos, foi se dando muito mais importância para o carro e se esqueceu que muitos trabalhadores usam o transporte coletivo como forma de locomoção. A bicicleta ainda é um meio de transporte que, dependendo de onde você mora, dá para usar, mas a maioria acabou fazendo as contas e viu que comprar uma moto era muito mais vantajoso do que continuar andando de ônibus em Blumenau.
O jornal O Município Blumenau publicou uma matéria no dia 15 deste mês mostrando que Blumenau já tem, de acordo com os números de 2020 do Detran-SC, 274 mil veículos para uma população de 361 mil moradores e que tem hoje 172 mil carros, o que dá quase um carro para cada duas pessoas.
Então tá mais do que na hora de discutir esse assunto, pois daqui a quatro anos, quando tivermos uma nova eleição para prefeito, vamos ter que discutir um rodízio e decidir em qual dia a placa par e a placa impar poderá circular na cidade.
Depois da sugestão da Agir de colocar a passagem a R$ 6,27, veio à tona a discussão sobre a Blumob, mas com a Prefeitura de Blumenau decretando o valor da passagem a R$ 4,50, parece que, mais uma vez, as coisas se acalmaram e tudo ficou na mesma.
É fato que o lucro da empresa Piracicabana, por regra de contrato, não pode ser menor do que 9,6% do total arrecadado e se isso não acontecer, também por conta do contrato, a municipalidade se obriga a fazer aportes para cobrir o rombo.
Mas tirando isso, o que se pretende fazer para melhorar a mobilidade na cidade? Quais alternativas estão planejadas, a médio e longo prazo, para que a população decida deixar o carro em casa para usar outros meios de locomoção?
O ex-prefeito João Paulo Kleinubing (DEM), que está fazendo um doutorado na área, escreveu na sua rede social que “devemos discutir o modelo de prestação do serviço, não apenas o valor da tarifa ou qual empresa vai prestá-lo. A pandemia não é causa do problema, apenas acelerou a perda de usuários. Transporte público de qualidade exige tarifa adequada; conforto, que em Blumenau significa ar condicionado e ampliação de horários para evitar superlotação e eficiência com o retorno das estações de pré-embarque, menor tempo de espera nos terminais e integração com outras formas de transporte, como taxi, Uber e bicicletas. Mas todas estas ações são incompatíveis com um modelo de financiamento do transporte público onde a tarifa é a única fonte de receita”.
JPK disse também que “Não podemos olhar para o ônibus sem buscar integração com aplicativos e o uso da bicicleta. Mas acima de tudo é preciso rediscutir o modelo de financiamento. Nas cidades com transporte eficiente a tarifa é responsável por metade dos custos. Existem várias alternativas de receita usadas com sucesso pelo mundo: desde aluguel de espaço em terminais até tarifas cobradas de usuários de carros para financiar o transporte público. O que é preciso é coragem para iniciarmos esta discussão e analisar com transparência e participação da sociedade quais podem ser aplicadas na cidade. Devemos usar este momento de crise provocado pela pandemia como oportunidade para pensarmos na cidade que queremos. Não há mais espaço para improvisos ou pequenas ações. É a hora de pensar grande, de ousar”.
Gostando ou não dele, não há como discordar. Tá na hora de discutir sobre esse assunto e essa discussão está na porta da Câmara de Vereadores de Blumenau, que tem a obrigação de, pelo menos, rever o contrato com a empresa que explora o transporte coletivo na cidade.