Ele voltará
Começou na política em 1969, quando o então prefeito Felix Theiss o convidou para ser procurador do município. É advogado, foi professor e vice-reitor da Furb por dez anos. Foi prefeito de 1977 a 1982, e de 1993 a 1996. Teve três mandatos como deputado federal e secretário de Estado no governo de Luiz Henrique da Silveira.
Essa é a trajetória de Renato de Mello Vianna, que também foi muito conhecido em Blumenau como “O pai dos pobres”. Estava morando na cidade de Itapema, mas decidiu voltar para Blumenau para trabalhar como advogado no escritório que está montando na Alameda Rio Branco, e quer voltar a contribuir para a cidade que tanto importância tem para sua vida.
Entrevistei Vianna por mais de uma hora, e abaixo você pode conferir os principais trechos da nossa conversa.
Houve uma época que se dizia que Blumenau tinha que estar junto com o governador, pois a cidade nunca foi favorecido por Amin, Pedro Ivo e Paulo Afonso. O senhor acredita que, a partir daí, o município ficou submisso dos governadores, como nos dois mandatos de Luiz Henrique da Silveira?
“Não faço essa avaliação, porque depois tivemos a oportunidade de termos o governador daqui, como no caso do Vilson Kleinubing, fortalecendo muito o PFL. Na verdade nós nunca fomos favorecidos pelos governadores porque todo mundo achava, como Joinville, que Blumenau era um município rico (Blumenau arrecadava 4,7% da riqueza do Estado e Joinville arrecadava 4,5%).
Na época, devido aos incentivos fiscais que criamos, começamos a atrair para cá as grandes multinacionais, como a Albany e a Johnson & Johnson, e éramos também o segundo maior pólo têxtil da América do Sul”
No seu segundo mandato, por não ter reeleição, o senhor lançou Dalírio Beber (PSDB) como candidato a prefeito para sucedê-lo. Por ele ter um baixo índice nas pesquisas, é verdade que o senhor apoiou o candidato Décio Lima (PT) para não deixar o Wilson Wan-Dall (PFL) vencer aquela eleição?
“Não é verdade. Na época o Vilson Souza era o meu vice e nós tínhamos um compromisso de apoiar o candidato do PSDB a prefeito, mas ele teve um atrito com o partido e o candidato acabou sendo o Dalírio. Apesar de o meu governo ter mais de 84% de aprovação, não tinha a reeleição, coisa que veio a acontecer apenas quatro anos depois.
Nunca apoiei o Décio em 1996, acho até que era o momento da mudança, pois o PMDB ia completar 20 anos no poder e a gente sentia que a população queria a mudança.
Depois do seu segundo mandato, o PMDB ficou sem rumo.
O senhor acredita que isso ocorreu porque o PMDB, mais tarde, entrou no governo do PT de Décio Lima, já que o criticava nos primeiros anos do governo?
Acho que sim, isso desgastou muito o partido. O PMDB sempre foi muito forte em Blumenau pela sua tradição, pelos seus filiados que sempre lutaram pelo PMDB e naquela época o partido ficou sem rumo, perdeu um pouco a sua identidade.”
Como prefeito, o seu maior legado foi a transformação do trânsito da cidade de Blumenau?
“Foi um deles. Muita gente não se lembra, mas foi nossa administração que criou o Seterb. Nós duplicamos a rua 7 de setembro, fizemos a rodoviária, começamos a fazer a integração do transporte coletivo, construindo os primeiros terminais urbanos, como o do Aterro e do Garcia, mas também fizemos muitas obras que não aparecem.
Criei a primeira Secretaria do Meio Ambiente, que obrigou todas as tinturarias de Blumenau a tratarem seus dejetos, que até então eram jogados no Rio Itajaí Açú. Criamos a Promenor, que deu para as crianças a possibilidade de estudar, se alimentavam e praticavam esporte e ainda tinham a possibilidade de fazer a iniciação profissional.
Com o Samae construí as ETAs 3, na Nova Rússia, e a ETA 4 na Vila Itoupava e fomos nós que implantamos os primeiros quilômetros do esgoto sanitário em Blumenau com recursos a fundo perdido do Bid. E não posso deixar de mencionar a criação do Parque Ramiro Ruediger e a humanização do Centro da cidade, com o incentivo fiscal para quem privilegiasse o estilo enxaimel e europeu nos prédios do Centro.
Enfim, nós tínhamos uma equipe muito competente e trabalhadora”
Como o senhor analisa a política em Blumenau?
“Nós temos que fazer a reforma política. Hoje o partido é apenas um abrigo temporário para que se possa garantir um espaço político. Nós não podemos continuar com 36 ou 37 partidos. Eu defendo a fidelidade partidária, a cláusula de barreira e os mecanismos que fortaleçam os partidos, e em Blumenau não é diferente.
Hoje nós temos as eleições feitas pelas redes sociais, mas o PMDB ainda tem uma história aqui em Blumenau e no Brasil.
O PMDB em Blumenau se enfraqueceu por algumas ações do diretório e talvez até pelo meu afastamento da política local, pois nunca fui político profissional. Então, em Blumenau abriu-se oportunidades para que surgissem novas lideranças, mas ainda não temos alguém com a força para fazer de Blumenau o que já fomos em outras épocas”
O senhor foi deputado federal junto com o presidente Jair Bolsonaro?
Sim, por oito anos estivemos juntos na Câmara dos Deputados e ambos fazíamos parte do baixo clero. Eu sempre participei de comissões, fazia meus pronunciamentos no plenário, fui relator do primeiro PPA, mas na época o Bolsonaro não era tão atuante.
Também dividi o plenário com o José Dirceu, com o Genoíno, com o Mercadante e nunca imaginei que eles fossem fazer o que fizeram. Tiveram uma grande chance de mudar o Brasil pra melhor; pra mim foi uma decepção muito grande.
O senhor, na década de 80, teve a oportunidade de ter sido o candidato a governador pelo PMDB. Por que não aceitou?
“Eu não aceitei porque era novo e na época tinham Jaison Barreto e o Pedro Ivo Campos. Como o Jaison era senador e tinha o domicílio eleitoral aqui, eu apoiei o Jaison. Ele acabou perdendo para o Esperidião Amin, mas aquela eleição foi muito suspeita.
Teve o voto carbonado, a televisão saiu do ar na apuração, teve município, como Imaruí e Celso Ramos, que o Amin teve quase 100% dos votos. Naquela época eu estava recém chegando no MDB e se eu tivesse o respaldo do partido, talvez tivesse aceito.
Eu sairia de Blumenau com 180 mil votos sem fazer campanha, mas eu sempre respeitei muito o domicílio eleitoral.
O que eu sentia era que o catarinense queria mudança e aí ganhou o Esperidião Amin, que na época também era novo e era o prefeito nomeado de Florianópolis.”
O senhor acha que o prefeito Mário Hildebrandt está fazendo um bom governo?
Eu tenho acompanhado o Mário pelas redes sociais. Ele divulga muito as obras estruturais, obras no sistema viário, ele é muito participativo. Pelo menos ele não demonstra um radicalismo, ele é um homem de bom senso, tem assegurado os recursos em Brasília e já tem uma vivência como presidente da Câmara. Como membro do Cerene, tem uma vivência social muito grande.
Mas quem vai fazer a avaliação da administração é o eleitor. Hoje ser prefeito é muito difícil.
Se o MDB pedisse para o senhor se candidatar a prefeito de Blumenau, o senhor aceitaria?
“Não! Veja bem, quando a gente exerce um cargo desse, tem que se doar 24 horas por dia. Quando fui prefeito, eu tinha o comando administrativo, o comando político e tem também os compromissos sociais. Por dez anos a minha família foi sacrificada, fiz da prefeitura a extensão da minha casa.
Você tem que sentir a cidade, o sucesso de um bom administrador é aquele que demonstra amor a sua cidade e eu estou com 76 anos. Não tenho mais condições. Eu prefiro participar como membro do conselho de ex-prefeitos, de dar opinião e sugestões para a cidade.”
O que é esse núcleo de ex-prefeitos?
“Ele foi lançado num aniversário de Blumenau, num evento lá no Mausoléu. Participam desse grupo eu, o Sasse (Victor Fernando Sasse), o Felix Theiss, o Dalto dos Reis, o Kleinubing (João Paulo Kleinubing) e o Napoleão.
A gente se reuniu algumas vezes, mas depois parou. Precisamos voltar a nos reunirmos fisicamente para dar uma contribuição para a cidade. Deveríamos formar um grupo organizado, com prazos, rotatividade de presidentes, uma pauta de discussão de assuntos que beneficiem a cidade, poderia ser um órgão de assessoria do prefeito.”
O senhor foi jogador de futebol do Olímpico e do Avaí e gostava de futebol. O senhor tinha um projeto de um estádio municipal para a cidade. Por que não saiu do papel?
“Eu mandei fazer uma maquete baseada no estádio de Goiás, o Serra Dourada e tinha a intenção de fazer o estádio municipal onde hoje é o Terminal do Aterro. E na época eu politicamente estava muito forte e o governador Jorge Bornhausen sentiu isso.
Eu já tinha feito a Rodoviária e a Prefeitura Municipal, e aí a política inviabilizou o estádio. Nós tínhamos um distanciamento político e o Jorge poderia ter colocado 5 milhões nessa obra, mas hoje me dou muito bem com o Jorge Bornhausen. Se naquela época tivéssemos passado por cima disso, Blumenau teria um estádio municipal”.
O Beto Carrero e o Parque Unipraias poderiam ter vindo pra Blumenau no seu governo. Por que não vieram?
“Eu conversei com os empresários que queriam colocar o teleférico no antigo Frohsin e cheguei a contatar com uns italianos para fazer um estudo de viabilidade, mas depois acharam que o espaço não era adequado e a distância do morro também não era viável.
O Beto Carrero também esteve lá na Itoupava Central, depois comprou um terreno em Gaspar, mas acabou em Penha. Mas eu acho que o Beto Carrero ainda contribui muito com Blumenau.”