A dupla Carlos Moisés e Daniela Reinerh durou apenas seis meses em um governo que foi eleito com mais de 70% dos votos válidos nas eleições de 2018. Todos descarregados pela popularidade do candidato à presidência, Jair Bolsonaro, na época ainda no PSL, fazendo do 17 o número mais lembrado de Santa Catarina.

O tempo passou Moisés e sua vice assumiram o governo, e começou aí a miopia do governador, que primeiro renegou o presidente da república por ele não ter lhe agradecido pela votação que teve no estado, quando na verdade o caminho deveria ter sido o inverso. E segundo por começar a afastar Daniela Reinehr de todas as decisões do governo, chegando ao ponto de pedir que ela se retirasse de uma reunião por falta de cadeira na sala.

Agora, com quase um ano de afastamento entre os dois, a vice-governadora Daniela Reinehr dá o tiro de misericórdia, enviando uma carta de cinco páginas ao governador dizendo, entre outras coisas, que em 2018, o povo catarinense deixou uma clara a mensagem de insatisfação e desejo de mudança.

Disse também que na época da eleição, ambos eram “completos desconhecidos” e que ganharam os cargos porque o eleitor acreditou naquilo que mostraram ser, os únicos candidatos de Bolsonaro em SC.

Daniela fez questão de dizer a Moisés que ele tem a “incapacidade de sentir gratidão e de gerar empatia”, tendo ela presenciado pessoas que os ajudaram literalmente sendo descartadas após a vitória.

Num outro trecho a vice-governadora escreve “Lamento que vossa gestão tenha chegado a este ponto e que Santa Catarina esteja sofrendo tanto pelas notícias de falta de ética e de moral. Não há mais confiança, não somos mais uma dupla”.

Daniela Reinehr termina a carta dizendo que cada respirador feito por catarinenses a emociona, mas que chora mesmo ao pensar que R$ 33 milhões poderiam salvar tantas vidas.

Depois de algum tempo calada, a carta encaminhada na quarta-feira, 24, ao governador Moisés, mostrou que ela não aceita mais a submissão e deixou um recado muito claro para os deputados estaduais, de que está pronta para assumir o governo caso um dos processos de impeachment contra o governador se confirme.

O grande problema é que o impeachment mais perigoso contra Moisés, que é o pedido apresentado pelo defensor público Ralf Zimmer Junior, por improbidade administrativa por conta do aumento dado aos procuradores do estado de forma administrativa, coloca também Daniela Reinehr no mesmo balaio.

Talvez Carlos Moisés tenha chegado num ponto em que ele não queria chegar, que é de estar nas mãos dos deputados estaduais, com quem vem mantendo uma queda de braços desde o início de 2020.

O fato é que a vice-governadora decidiu atacar e agora só nos resta esperar as próximas mexidas no tabuleiro desse xadrez, que promete ter decisões muito significativas para todo o estado de Santa Catarina.

Hoje, Carlos Moisés tem mais gente contra do que a favor e talvez nem mesmo o chefe da Casa Civil, Amandio João da Silva Junior, que também foi citado na CPI dos respiradores da Alesc, consiga salvar a pele de um governador que preferiu renegar os que o ajudaram, para proteger aqueles que o colocaram na maior enrascada desse governo.

Coronel Araújo Gomes é descartado por Bolsonaro

O governador Carlos Moisés, na visita do ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, ao estado, reiterou a sua vontade de ser recebido pelo presidente da república, Jair Bolsonaro.

Essa solicitação de audiência já tinha sido feita semanas antes ao gabinete do presidente, mas parece difícil Bolsonaro querer receber Moisés depois do que o governador fez, ignorando o presidente e até o vice, Hamilton Mourão, quando ambos estiveram em SC em 2019.

E a sinalização disso se deu quando o próprio presidente Bolsonaro vetou o nome do Coronel Araújo Gomes para assumir o comando da Secretaria Nacional de Segurança Pública, que estava no governo Moisés e solicitou a sua ida para a reserva da polícia militar só para assumir a secretaria, coisa que acabou não acontecendo.

Araújo Gomes foi convidado para assumir a pasta pelo próprio ministro da Justiça, André Luiz Mendonça, e tinha inclusive o apoio da Frente Parlamentar de Segurança Pública da Câmara Federal, mas pessoas ligadas a Bolsonaro começaram a mostrar descontentamento pela proximidade de Gomes com Moisés, que foi eleito por causa do presidente, mas que acabou batendo de frente com Bolsonaro.

O fato é que o Coronel Araújo levou uma rasteira e agora vai ter que se contentar com a aposentadoria forçada por conta de uma briga política que sequer teve culpa.

Realmente Moisés conseguiu afastar todos aqueles que o fizeram governador de Santa Catarina e agora essa conta começa a chegar à Casa da Agronômica.


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