Testemunha afirma ter sido intimidada por advogados de Evanio Prestini
Defensores do motorista do Jaguar teriam feito contatos na casa, no trabalho e em hotel onde estava homem que diz ter visto o acidente
Colaborou Bianca Bertoli
Uma das principais testemunhas do acidente entre um Jaguar e um Palio na BR-470, em fevereiro, diz ter sido intimidada por advogados de defesa de Evanio Prestini, acusado de matar duas jovens e ferir outras três. Ele dirigia embriagado e teria invadido a pista contrária.
A testemunha é um motorista que estava a caminho de Blumenau e teria presenciado a cena do acidente. De acordo com a declaração dele à promotora de Justiça Andreza Borinelli, advogados o teriam procurado para convencê-lo a mudar o depoimento. Eles estariam alegando que o motorista prestou falso testemunho.
O homem, que não será identificado pois disse à Justiça estar com medo, procurou o Fórum de Gaspar na segunda-feira, 24, para relatar a suposta intimidação. Primeiro, advogados teriam ido à residência dele, em Barra Velha, mas não o encontraram. Depois, no dia 14 de junho, o advogado identificado como Edson Rodrigues da Cruz o procurou no hotel em que estava hospedado, a trabalho, em Jaraguá do Sul.
Três dias mais tarde, Cruz e o advogado Gilmar Krutzsch, defensor de Prestini, visitaram a empresa em que o motorista trabalha e conversaram com o chefe dele.
A testemunha apresentou ao Ministério Público fotos, vídeos e conversas via WhatsApp como provas da tentativa de intimidação.
Encontro no hotel
Edson da Cruz já havia prestado serviços de advocacia à empresa em que a testemunha trabalha. Conforme o relato do motorista, na visita ao hotel o advogado teria afirmado que estava no local a pedido do chefe da testemunha. A empresa estaria preocupada com sua imagem (informação que seria desmentida mais tarde).
A promotora entregou o material à Vara Criminal de Gaspar, alegando que “o Ministério Público não compactua com qualquer tipo de depoimento que não seja verdadeiro, contudo, caso a defesa possua alguma prova de que a testemunha tenha faltado com a verdade em seu depoimento, deve juntá-la aos Autos e não procurar a testemunha da forma como fez”.
Por conta da insistência dos advogados, a testemunha declarou estar se sentindo ameaçada. Ele teme pela influência dos advogados sobre a empresa em que trabalha e contou ter mudado a rota para casa com medo de ser seguido durante a madrugada.
Contraponto
O advogado Edson da Cruz não aceitou se declarar por telefone, mas disse que estaria em Blumenau durante à tarde e que a repórter deveria ligar às 14h30 para combinar uma entrevista pessoalmente. A equipe ligou quatro vezes e enviou mensagem via WhatsApp, mas Cruz não atendeu ou respondeu a nenhuma das tentativas.
A reportagem entrou em contato pela manhã com o escritório onde Gilmar Krutzsch trabalha. A secretária disse que ele não estava, mas que avisaria sobre a ligação. Sem retorno, uma nova chamada foi feita pela tarde. Nessa, a atendente informou que o advogado não falaria sobre o assunto.
Julgamento de Evanio
Evanio Prestini, o motorista do Jaguar, irá a júri popular. Até a data do julgamento, que ainda não foi definida, ele deve permanecer no Presídio Regional de Blumenau. Evanio será julgado por dois crimes de homicídio e outras três tentativas de homicídio, além do crime de trânsito de dirigir embriagado.
Nesta quinta-feira, 27, um novo pedido de habeas corpus de Evanio Prestini será julgado pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina. O Ministério Público pediu à Vara Criminal de Gaspar que informe aos desembargadores sobre as denúncias da testemunha. O objetivo é demonstrar que o réu estaria tentando interferir no processo e, portanto, deve ser mantido preso.
O acidente
Evanio Prestini dirigia um Jaguar que, em 23 de fevereiro, invadiu a pista contrária da BR-470, atingiu um Fiat Palio, de Blumenau, provocou a morte de duas jovens e feriu outras três. De acordo com o teste de bafômetro feito pela PRF, ele havia ingerido bebida alcoólica antes de dirigir.
O Jaguar foi filmado minutos antes do acidente trafegando em zigue-zague pela BR-470, entre Ascurra e Indaial. O autor do vídeo denunciou a conduta à Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Blumenau, mas Prestini não foi interceptado no posto de Blumenau. Por causa disso, três agentes da PRF estão sob investigação.
Conforme a perícia feita no Jaguar, o veículo estava acima da velocidade permitida no momento em que ocorreu o acidente. Morreram na tragédia Suelen Hedler da Silveira, 21 anos e Amanda Grabner, 18. Thayná Cirico, 20, e Thainara Schwartz, 21, e Maria Eduarda Kraemer, 25 anos, ficaram feridas.
A defesa de Prestini alega que ele não pode ser responsabilizado pelo acidente, uma vez que teria invadido a pista contrária apenas momentaneamente para desviar de imperfeições do asfalto.
Na versão do motorista, o acidente foi causado pela inexperiência da motorista do Palio, que teria se assustado com a manobra e desviado para o lado esquerdo.