Trabalho na roça, fogão a lenha e pés descalços: conheça família que mantém tradições rurais em Blumenau

Família Trapp é símbolo da cultura alemã no distrito de Vila Itoupava

Com os pés sempre descalços e um sotaque alemão carregado, a família Trapp é uma das poucas que ainda vive praticamente da mesma forma que os colonizadores que chegaram em Blumenau.

Apesar de contarem com algumas tecnologias – como eletricidade, internet e televisão – os quatro moradores da rua Herman Trapp raramente saem do interior. “Às vezes vou pra área urbana da Vila Itoupava comprar algo e pagar contas. Mas como só estudei até a quarta série, não sei ler e não tenho carteira, então vou sozinho”, conta Wigolt Trapp, de 60 anos.

Ele é neto de Herman, filho de um alemão que construiu a casa centenária de número 2618 da rua que leva seu nome. O idioma, inclusive, é o único que se ouve dentro de casa. O filho Henrique, de 12 anos, só aprendeu a falar “brasileiro”, como a família chama, quando foi para a escola.

Os mais velhos conseguem se comunicar em português, mas com limitações. O pai de Wigolt, Arno, está com 85 anos e, apesar de mancar de uma perna, não abre mão de ir para a roça cuidar das plantações, onde começou a trabalhar aos sete.

Alice Kienen/O Município Blumenau

A esposa de Wigolt, Ivonete, tem 50 anos e é natural de Massaranduba. Como o município vizinho é mais próximo da propriedade da família Trapp do que o Centro de Blumenau, o casal acabou se encontrando na Vila Itoupava.

Mesmo sem ter aprendido a fazer cálculos, além dos mais básicos, a família vive da venda dos vegetais que planta. Milho, aipim e batata-doce estão entre eles. O ovo caipira também já foi muito procurado pelos vizinhos, mas Wigolt conta que poucos são vendidos atualmente.

“Ficou muito difícil nos últimos anos. Hoje em dia quase ninguém compra mais. Adubo tá muito caro. A gente plantava mangarito (também conhecido como taioba), mas morreu tudo. É uma pena, porque não tem no mercado”, lamenta.

Alice Kienen/O Município Blumenau

Até dois anos atrás a família tinha um ajudante, mas atualmente cuidam da área de mais de um hectare sozinhos. Eles comentam que gostam de manter a atividade, mesmo com a rotina puxada e a distância da cidade.

“Tamo acostumado assim, é melhor ficar mais afastado. Mas é cansativo o dia todo na roça, ainda mais nesse calor. Sábado e domingo que conseguimos descansar um pouco”, dizem.

Futuro da propriedade

Quando o pai de Arno construiu a casa enxaimel, há cerca de um século, ainda não havia uma estrada cortando o terreno. Por isso, a varanda ficou virada para os fundos, com vista para o pasto da família. Foi a região que se desenvolveu ao redor da residência Trapp.

Alice Kienen/O Município Blumenau

Apesar do legado, a vontade de Wilgot e Ivonete é que o filho Henrique não siga o mesmo caminho. Segundo eles, o adolescente pede para ajudar o pai e adora ir junto para a roça. Como estuda à tarde, de manhã ele costuma auxiliar a família.

“Hoje em dia não é todo mundo que gosta, até porque não compensa mais. Acho que ele tem que trabalhar em firma, ter dinheiro no fim do mês. A gente às vezes não tem nada”, desabafa o pai.

A maior dificuldade que a família enfrenta é o tempo, seja de muito sol ou muita chuva. Ainda assim, Wigolt reforça: “se ninguém plantar, um dia vai faltar comida”.

Veja mais fotos:

O casal Wigolt e Ivonete. | Foto: Alice Kienen/O Município Blumenau
Plantação de milho da família. | Foto: Alice Kienen/O Município Blumenau
Propriedade tem quatro cachorros e três gatos, além dos animais silvestres. | Foto: Alice Kienen/O Município Blumenau
Alice Kienen/O Município Blumenau
Alice Kienen/O Município Blumenau
Galinheiro da família. | Alice Kienen/O Município Blumenau

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