Cidade de carros: Blumenau oferece poucas alternativas de transporte para o cidadão
Sem opções sobre trilhos ou projetos hidroviários, cidade peca até na estrutura para bicicletas
Quando as pessoas discutem a qualidade do transporte público de uma cidade, geralmente elas focam as atenções no serviço oferecido pela empresa que opera os ônibus do município. Mas o transporte público vai muito além deste modal. Cidades planejadas e que pensam a mobilidade de forma ampla não investem apenas em vias boas para carros e motos ou em ônibus. Elas pensam na mobilidade de forma integrada, envolvendo transporte fluvial, por trilhos e favorecendo o uso de bicicletas. Confira, nestas reportagens que fazem parte do capítulo 6 do especial “Transporte Público Collab”, como Blumenau já trabalhou estas possibilidades de transporte e o que o município planeja para o futuro.
Reportagem: Pedro Museka, Cristóvão Vieira e Jotaan Silva
Em cidades desenvolvidas, carros e ônibus são apenas duas opções de transporte entre diversas outras alternativas disponíveis para a população. Veículos sobre trilhos, metrôs, transporte fluvial e ciclovias são comuns em cidades com transporte estruturado, interligado e planejado, cada modal contribuindo para a locomoção da comunidade.
Nesta parte do projeto “Transporte Público Collab”, vamos apresentar informações sobre outros meios de transporte com o objetivo de esclarecer o contexto histórico deles em Blumenau e de discutir sobre que alternativas poderiam ser adotadas pela governança municipal.
Embora estejamos falando da terceira maior cidade do estado de Santa Catarina, o desenvolvimento irregular do município tornou a mobilidade um dos grandes desafios da sociedade civil organizada. Esse cenário faz com que exista uma cobertura considerada adequada para certos tipos de transporte em algumas regiões da cidade, enquanto a maior parte da cidade carece de alternativas de meios de transporte.
A grande questão é que, em um município, os bairros e vias precisam se conectar de forma satisfatória, permitindo o fluxo de pessoas de forma dinâmica. Em Blumenau, todos os dias, os cidadãos saem das mais diferentes localidades, grande parte em sentido à região central, e encontram gargalos e barreiras pelo caminho.
Quem deseja fazer o deslocamento com uma bicicleta, por exemplo, encontra parte da cidade com local seguro para trafegar com o veículo, seja ciclovia, seja ciclofaixa, mas outra parte da cidade não oferece essa estrutura. Quando o local para bicicletas termina, o morador de Blumenau precisa tomar a perigosa atitude de dividir espaço com automóveis, caminhões e outros veículos.
Em Blumenau não há mais espaço para trens, como outrora, e não existem projetos para transporte sobre tilhos ou utilizando os rios que cortam parte do município. A cidade, que já fez parte da história do desenvolvimento da malha ferroviária nacional no século passado, passou a priorizar os carros e deixou de planejar a mobilidade com outros modais.
Atualmente, pedaços dos trilhos da antiga Estrada de Ferro Santa Catarina (EFSC) resistem apenas como artefatos históricos por baixo da vegetação, em alguns grotões da cidade.
O mesmo acontece com o transporte fluvial. O rio Itajaí-Açu, que corta parte importante da cidade, não é aproveitado para o transporte, assim como outros ribeirões e rios do município. A utilização do Itajaí-Açu como meio de transporte foi fundamental para a fase inicial da cidade. Nas últimas décadas, alguns projetos que vislumbraram aproveitar o rio foram elaborados e engavetados.
Você vai conhecer, nas reportagens que fazem parte deste capítulo da nossa série especial, alternativas interessantes para compor o transporte público da cidade, como os Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs), presentes em nove capitais brasileiras e que transportam centenas de pessoas de uma só vez. Você conhecerá também como funciona o conceito do Bus Rapid Transport (BRT), que apresenta modelos de ônibus com grande capacidade e que operam em faixas completamente segregadas do restante do trânsito.