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Um ano de Covid-19 em Blumenau: relembre momentos impactantes da pandemia na região

Dos primeiros decretos até a vacinação, confira os percalços que a cidade passou ao longo do período

Neste sábado, dia 20 de março, será completado um ano da primeira confirmação da disseminação da Covid-19 no município de Blumenau. Os primeiros meses de pandemia na cidade foram de muitas incertezas, desespero e medo do vírus. A verdade é que, mesmo após tantos meses de combate, informações desencontradas e dúvidas ainda são mais do que comuns.

Mais de 2 mil notícias e reportagens sobre o assunto foram publicadas neste site. Para relembrar os principais acontecimentos destes últimos 365 dias, O Município Blumenau preparou este especial listando alguns dos momentos mais críticos da pandemia na cidade.

Após o que pareceu um fim de semana normal na vida dos catarinenses, apesar dos tímidos indícios do vírus chegando ao estado, o governo de Santa Catarina decretou as primeiras medidas restritivas no dia 18 de março de 2020.

Foi quando começou a discussão do que é serviço essencial e o que não é. Debate que continua fervoroso até hoje, com adaptações nas restrições atuais. Profissionais liberais foram os primeiros a retornar, no dia 5 de abril.

O comércio de rua ficou fechado até o dia 13. Já restaurantes, shoppings, academias abriram as portas no dia 22. A reabertura do Neumarkt repercutiu internacionalmente após aglomeração gerada pelos clientes. O Ministério Público chegou a investigar o caso.

Transporte coletivo, aulas presenciais e eventos também foram cancelados, como a Oktoberfest. A prefeitura chegou a cogitar realizar a festa no fim de 2020, mas a pandemia apenas se agravou na cidade. O Campeonato Catarinense 2021 precisou se adaptar após ter jogos suspensos.

Ainda neste início, a sensação ainda era de exagero por boa parte da população. Um passageiro chegou a brincar com o lockdown na rua XV de Novembro no primeiro dia do decreto gritando “olha o coronavírus” pelo teto solar. Já outras brincadeiras pediam para as pessoas ficarem em casa, como morte que chamou atenção no Garcia.

Reprodução/Instagram @sargentojunkes

Os supermercados logo ficaram lotados e a venda de produtos como papel higiênico, galões de água e comida não-perecível foram às alturas. Equipamentos de segurança como máscaras e álcool gel chegaram a sumir das prateleiras blumenauenses. Preços abusivos também eram registrados com frequência pelo Procon.

Logo, a aglomeração em mercados e farmácias passou a ser controlada. Hospitais pararam de permitir visitação e cirurgias eletivas foram canceladas. A Polícia Militar passou a fiscalizar a limitação dos espaços e funcionamentos clandestinos. As fronteiras do país também foram fechadas.

Para garantir que as pessoas respeitassem o distanciamento, carros de som passaram pelas ruas de Blumenau alertando sobre os perigos do coronavírus. Pessoas em situação de rua, foram abrigadas pela prefeitura.

As eleições, adiadas por um mês por conta da pandemia, tiveram horário ampliado, não contaram com a biometria e registraram um recorde de abstenções em Blumenau. Mais de 27% dos eleitores não foram às urnas.

O primeiro resultado positivo de Blumenau foi divulgado no dia 17 de março. Porém, o teste realizado em um laboratório particular não foi contabilizado até chegada da contraprova do laboratório oficial, no dia 24. A jovem de 21 anos havia acabado de voltar da Espanha. No mesmo dia, o primeiro brasileiro morreu em decorrência da doença. O homem de 62 anos morava em São Paulo.

Antes disso, na manhã do dia 20, uma quinta-feira, a confirmação: dois casos positivos na cidade. Um homem de 72 anos, que estava na UTI, e uma mulher de 29, também internada. A prefeitura desistiu de esperar pelos resultados oficiais e passou a contratar laboratórios para realizar os exames. Poucas horas depois, o Senado declarava calamidade pública no país.

A notícia também veio acompanhada dos sistemas de barreira nos principais acessos da cidade. Em Blumenau, elas foram apenas orientativas. Porém, alguns municípios da região chegaram a controlar a necessidade do tráfego entre limites. Um dia depois, o Brasil já havia ultrapassado os mil casos confirmados.

Em 26 de março, o primeiro catarinense vítima do coronavírus faleceu. O homem de 86 anos morreu em São José. Um dia depois, a Prefeitura de Blumenau anuncia a Vila Germânica como centro de atendimento para casos suspeitos da doença. Já em Timbó, o hospital Oase se tornou referência exclusiva de atendimento a pacientes com coronavírus no Vale do Itajaí.

Teve início a confusão com distribuição de cloroquina, não recomendada para prevenção. O uso de máscaras, hoje obrigatório, só passou a ser exigido por atendentes no dia 10 de abril. Dez dias depois, o uso geral passou a ser essencial em Blumenau.

No dia 5 de maio, foi anunciada a primeira morte na cidade. Vanessa Neuber Salm, de 34 anos, era servidora pública e estava internada na UTI em estado grave desde o começo de abril. Ela sofria de uma doença autoimune.

Em julho, a prefeitura chegou a anunciar que multaria pessoas que trafegassem pela cidade sem máscaras. No fim das contas, o valor da multa nunca foi definido e fiscais passaram a orientar as pessoas e oferecer o equipamento.

Somente em setembro a cidade começou a acompanhar possíveis casos de reinfecção, como Leocadia da Silva, que faleceu aos 59 anos na segunda vez que pegou Covid-19. Até hoje, a prefeitura não conseguiu contabilizar os casos pela dificuldade de comprová-los.

Também no início de julho, o município se posicionou sobre o uso de medicamentos como hidroxicloroquina, cloroquina, azitromicil e ivermectina. Pesquisas realizadas até mesmo em Blumenau não encontraram comprovação da eficácia do chamado “tratamento precoce”.

Apesar de ter anunciado que não realizaria um protocolo oficial de combate à doença, a prefeitura de Blumenau adquiriu 36 mil comprimidos de cloroquina para que o medicamento não faltasse caso os médicos optassem por prescrevê-lo. Porém, as caixas ficaram sobrando nas prateleiras correndo o risco de serem desperdiçados.

Um ginecologista de Blumenau chegou a instalar uma mesa em frente à Vila Germânica para oferecer receitas de ivermectina. Por questões sanitárias, o “consultório” foi removido pela Secretaria de Saúde.

Facebook/Reprodução

Na mesma época, trabalhadores informais e pessoas em situação de vulnerabilidade receberam notícia do auxílio emergencial, inicialmente apelidado de coronavoucher. Inicialmente, os R$ 200 seriam distribuídos por três meses.

O valor passou para R$ 600 nove dias depois. Enquanto trabalhadores intermitentes lutavam para conseguir o benefício, chegando passar necessidade, esposas de dois vereadores de Blumenau sacaram o valor mesmo sem ter direito ele.

Outra medida provisória também definiu que empresários poderiam reduzir o salário dos trabalhadores pela metade, desde que as jornadas também fossem cortadas ao meio. Acreditando se tratar de algo passageiro, grandes indústrias aproveitaram o período para férias coletivas.

Um pacote de medidas para micro e pequenas empresas também foi anunciado pelo governo estadual. Energia elétrica, água, esgoto e gás foram proibidos de serem cortados até o fim do ano e contas puderam ser parceladas. Grandes bancos também permitiram suspensão de duas parcelas de pagamentos de carros e casas.

O grupo Almeida Júnior, responsável por dois shoppings de Blumenau, chegou a oferecer respiradores em troca da abertura dos estabelecimentos. Grandes empresas como Brandili, Altenburg e Haco realizaram demissões em massa. Negócios da cidade precisaram se reinventar para sobreviver. Outros, decretaram falência e fecharam as portas.

Inicialmente, a loja Enxame retomou atendimento apenas pela janela. Foto: Especial O Município Blumenau

Jair Bolsonaro chegou a tentar suspender salários por quatro meses, mas logo revogou medida provisória. Preocupados com o retorno ao trabalho, blumenauenses realizaram um buzinaço na cidade no dia 27 de março. Em menos de dois meses do início da pandemia, mais de 530 mil catarinenses já haviam perdido o emprego.

Em Blumenau, a prefeitura fundou um fundo para o combate à pandemia. O município fez um aporte inicial de R$ 1,5 milhão e a Câmara de Vereadores doou cerca de R$ 8 milhões. Em agosto prefeitura anunciou medidas de retomada econômica após um segundo período de restrição de funcionamento de comércio e serviços.

Em Gaspar, todos os funcionários do transporte coletivo municipal foram demitidos. A BluMob também tentou demitir mais de 100 funcionários em Blumenau, mas justiça impediu que eles fossem desligados.

O momento de desespero acabou abrindo espaço para altruísmo e bondade. Diversos casos de caridade foram registrados na região, como doação de marmitas para caminhoneiros. Projetos como a Cozinha Comunitária do Padre João Bachmann, precisaram de ajuda para se manter. Já novos surgiram para distribuir alimentos para pessoas em situação de rua.

Polícia Rodoviária Federal ajudou a organizar marmitas para caminhoneiros. Foto: PRF/Divulgação

Empresas e instituições de ensino se mobilizaram para produzir álcool gel, máscaras e roupas para profissionais de saúde e doar produtos para hospitais. A WEG, de Jaraguá do Sul, chegou a fabricar respiradores artificiais.

O apoio psicológico também foi muito importante neste período, sendo oferecido gratuitamente por escolas de psicologia e universidades da região. Músicos da região organizaram eventos online para manter o entretenimento da população.

Universidades, escolas técnicas e instituições de ensino também abriram cursos gratuitos online para quem tivesse interesse em reforçar os estudos. Grupos de mães se reuniram para produzir máscaras para doação.

Uma ciclista de Indaial percorreu nove cidades do Vale Europeu em 24 horas para arrecadar fundos para o hospital da cidade. Já para os músicos de bandas típicas, um evento relembrando Oktober de forma online foi realizado para levantar doações.

Para garantir que todas crianças abrigadas de Blumenau ficassem em segurança, as Famílias Acolhedoras foram vitais para que não houvesse aglomeração. Além disso, o número de adoções na cidade foi acima da média.

Em compensação, um índice negativo subiu neste período: o de violência doméstica. Em Blumenau, a prefeitura passou a receber cinco vezes mais chamados do que antes da pandemia.

No fim de maio, teve início um escândalo que perdura até hoje: os R$ 33 milhões pagos em respiradores que nunca foram enviados para Santa Catarina. O caso levou o governador Carlos Moisés a responder a um segundo processo de impeachment.

O primeiro a ser afastado foi o secretário de Estado da Saúde na época, Helton de Souza Zeferino. Em seguida, o ex-chefe da Casa Civil do Estado, Douglas Borba, foi preso após destruir e ocultar provas. Em junho, o processo foi para o Superior Tribunal de Justiça, já que havia indícios de participação do governador Carlos Moisés na compra e, por ser governador, ele tem foro privilegiado.

No fim do mesmo mês, o novo secretário de Estado da Casa Civil, Amandio João da Silva Junior, foi exonerado por também estar envolvido na investigação. No fim das contas, dois processos de impeachment foram julgados, um referente ao reajuste salarial dos procuradores do estado e outro envolvendo os respiradores.

O primeiro foi aprovado e Daniela Reinehr assumiu o governo estadual no fim de outubro. Porém, pouco mais de um mês depois, ele foi absolvido e voltou ao cargo. Já quanto ao segundo, ele foi inocentado pelo Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina, mas ainda será julgado pelo Tribunal Especial Misto em 26 de março.

Um vídeo que circulou pelas redes sociais não ajudou a imagem do governador. Enquanto decretava medidas restritivas em todo estado, Moisés foi flagrado sem máscara conversando com outras pessoas em uma festa no Fazzenda Park Hotel, em Gaspar. O caso chegou a ser investigado pelo Ministério Público.

Frente a brigas judiciais entre sindicato e empresa responsável pelo serviço, o retorno do transporte coletivo foi marcado por incertezas. Liberados no início de junho pelo governo estadual, os ônibus voltaram a rodar em Blumenau no dia 15.

Os terminais foram desinfectados, regras foram definidas e os trabalhadores foram testados. Ao todo, 35 deles estavam contaminados, contabilizando 3,33% dos funcionários. Apesar de o primeiro dia ter sido marcado pela tranquilidade na visão da prefeitura, não demorou para que ônibus lotados fossem flagrados.

Guilherme de Morais/Facebook

No dia 22 de junho, o transporte intermunicipal retornou, com ônibus de Indaial, Gaspar e Pomerode circulando pela cidade. Poucos dias depois, a justiça obrigou a prefeitura de Blumenau a permitir que idosos utilizassem o transporte coletivo mesmo sendo grupo de risco. Porém, voltou atrás no início de julho após a morte de muitas pessoas deste grupo e manteve proibição.

O serviço foi novamente suspenso em 3 de agosto por conta do agravamento da pandemia e só retornou no dia 25. Poucos dias antes a BluMob já havia declarado que não conseguiria manter o funcionamento com a queda de arrecadação.

Após voltar a tentar demitir centenas de funcionários, ficou definido pela justiça que a prefeitura cobriria os prejuízos. Isso fez com que o município repassasse mais de R$ 10 milhões à empresa.

Um dos debates mais acalorados do período de restrições envolve o retorno das aulas presenciais. Enquanto os alunos permaneceram no formato online, prefeitura distribuiu kits alimentação para os estudantes do município.

Como as aulas não retornavam, o Ministério Público de Santa Catarina passou a recomendar que as escolas particulares ajustassem os valores das mensalidades, já que os espaços físicos não estavam sendo utilizados.

Enquanto isso, representantes das instituições privadas realizaram manifestações pedindo apoio financeiro da prefeitura por conta da evasão escolar e pais de alunos organizaram protestos pedindo pela volta às aulas.

O retorno das aulas presenciais começou a ser planejado no município em maio e foi anunciado para 26 de outubro. Porém, após ameaças de greve dos professores, foi adiado e oficializado apenas em 16 de novembro com uma volta gradual. Entretanto, com região do Médio Vale do Itajaí novamente na matriz de risco gravíssima, as aulas presenciais da rede municipal só voltaram mesmo em 8 de fevereiro.

Jotaan Silva/Arquivo O Município

Em um mês de aulas presenciais, 272 casos de Covid-19 foram registrados dentro das escolas da cidade. O número contabiliza professores, servidores e alunos da rede pública e privada. Dentre os infectados, 201 são professores.

A primeira brasileira vacinada no país foi a enfermeira Mônica Calazans, em São Paulo. A cena foi televisionada logo após a Anvisa liberar a vacina de Oxford e a Coronavac, no dia 17 de janeiro. Poucos dias antes, Blumenau já havia anunciado que planeja imunizar cerca de 70 mil pessoas.

Em Santa Catarina, os primeiros imunizados foram um enfermeiro, um líder indígena e um senhor de 81 anos. Um enfermeiro também foi escolhido como o primeiro vacinado em Blumenau, no dia 19.

Fauzer Mendez atua na Vila Germânica. Foto: Prefeitura de Blumenau

Após a priorização dos profissionais de saúde, idosos com mais de 90 anos puderam agendar a imunização a partir do dia 9 de fevereiro. Por conta de poucas doses serem enviadas ao município, o agendamento já chegou a encerrar em menos de uma hora em março deste ano.

Por conta da extensa lista de trabalhadores da saúde autorizados a se vacinarem, incluindo treinadores físicos, nutricionistas e psicólogos, o promotor Odair Tramontin chegou a questionar a prefeitura. Até fevereiro, o número de jovens até 25 anos vacinados era sete vezes maior do que o de idosos. Porém, o MP-SC concluiu que vacinação seguiu a legalidade, mesmo não concordando com as diretrizes repassadas pelos governos estadual e federal.

Como o número de doses enviadas pelo Ministério da Saúde é insuficiente para controlar a pandemia neste momento crítico, diversas prefeituras e instituições se articularam para comprar vacinas. Entre eles, o Blumenau Convention Bureau, a Ammvi e o Sindilojas.

Entretanto, após o governo federal sancionar a lei que permite a compra de doses por municípios, estados e empresas, a Prefeitura de Blumenau firmou parceria com o Consórcio Nacional de Vacinas Brasileiras.

Municípios como Gaspar e Indaial, que não contavam com o atendimento de Unidades de Tratamento Intensivo, conseguiram instalar dez leitos de UTI em cada instituição. O espaço, que seria temporário, acabou tendo que ser dobrado no início deste ano para dar conta da pandemia.

A primeira lotação de UTI Covid em Blumenau foi registrada no Hospital Santa Catarina, no fim de novembro. Por ser privado, ele não entra na conta do governo do estado. No início de dezembro, Indaial, Gaspar e Timbó enfrentaram a falta de leitos.

Com o agravamento da pandemia em Santa Catarina, a região Oeste enfrentou uma calamidade que levou os pacientes a serem transportados para outros municípios. Por decisão do governo estadual, quatro pacientes foram internados em Blumenau.

O auge da lotação na região foi no fim de fevereiro. No dia 24, todos os hospitais de Blumenau e dos municípios vizinhos estavam sem leitos de UTI Covid. O diretor do hospital Oase, referência no atendimento a pacientes com o vírus no Vale do Itajaí, chegou a ir à Câmara de Vereadores de Timbó desabafar sobre situação e alertou que a unidade corria o risco de fechas as portas.

Após idas e vindas nas medidas sanitárias no estado e no município, hoje Santa Catarina segue liberando apenas atividades essenciais aos fins de semana. Apesar de o Ministério Público e outros órgãos terem sugerido que restrição seja ampliada para os dias da semana por 14 dias, o governo estadual acredita que as medidas atuais já são “duríssimas”.

Já Blumenau está com restrições nos horários de funcionamento de atividades noturnas, especialmente restaurantes, academias e lojas de conveniência, e com parques e áreas públicas fechados até 19 de março. A Furb voltou a suspender as aulas presenciais, porém as escolas seguem funcionando.

Março está sendo o segundo mês mais letal da pandemia. Até este domingo, 15, 353 óbitos já foram registrados. Agosto foi o mês em que cidade registrou o maior número de mortes: 78. Em fevereiro deste ano, a cada seis falecimentos, um foi por Covid-19. Blumenau já contabilizou 44.998 casos confirmados da doença.


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